– o menino que chora porque partiu o seu carrinho preferido…
- a menina lavada em lágrimas porque um amiguinho lhe
chamou feia…
- o adolescente desiludido porque a garota da sua vida não
lhe dá bola…
- a jovem adolescente porque teve uma zanga feia com o
namorado…
Com ar protector, como de quem já viveu a vida e sabe que isso não tem a mínima importância, passamos a mão pela cabeça, tentamos consolar, e com um quase indiferente - “não ligues, isso passa!” – voltamos a atenção para assuntos «realmente importantes».
Erro grave, dos adultos! Os sentimentos, de alegria ou tristeza, são vividos por cada um de nós com igual intensidade, quer tenhamos cinco anos ou oitenta.
E é assim que:
O “dia mais feliz da minha vida” a breve trecho origina “O maior desgosto da minha vida”.
A BONECA
Nos meus tempos de menina não havia a quantidade e qualidade de brinquedos que vemos hoje em dia.
Agora as crianças vivem atulhadas dos mais diversos
brinquedos a que, na maioria das vezes, só prestam atenção nos primeiros cinco minutos. Depois, põem-nos de parte, e já estão a desejar coisas novas.
Nós, os adultos, temos a maior parte da culpa por este estado de coisas.
Queremos dar-lhes tudo o que nós próprios não tivemos. Para reforçar a nossa vontade, já de si exagerada, em épocas festivas – por exemplo no Natal – a televisão entra-nos pela casa publicitando tudo o que de mais moderno existe. As crianças fazem listas enormes, e lá estão os pais e os avós, correndo de loja em loja, para satisfazer os caprichos dos meninos.
Mas deixemos este tema por agora. Voltemos aos tempos antigos.
Nesse tempo a variedade escasseava, e, muitas vezes,
também o dinheiro. A mentalidade era outra – havia que poupar – quem sabe o que é o dia de amanhã?
Um brinquedo em dias especiais era mais que suficiente!
Assim as crianças eram obrigadas a puxar pela imaginação. Na verdade divertiam-se mais, por mais tempo.
Ainda me lembro dos telefones que fabricávamos com as tampas das latas de graxa e um fio preso a cada uma delas…ouvia-se lindamente. Não sei bem se o som era propagado através do fio ou do ar, dada a curta distância a que estávamos uns dos outros…mas que funcionava, lá isso funcionava!
E as bolas, feitas de meias velhas cheias de trapos…as camas das bonecas, armadas com caixas de sapatos!
Um sem fim de pequenos objectos que faziam as nossas delícias, e com que ocupávamos as nossas brincadeiras.
Eu tinha um tio, também padrinho, que era oficial da Marinha Mercante. Nessa qualidade corria meio mundo. Numa das suas viagens aos Estados Unidos, trouxe para a afilhada uma boneca, daquelas que ainda não se vendiam cá.
As que conhecíamos eram de pano. Na melhor das hipóteses, tinham a cara e as mãos em porcelana. Mas com essas só se podia brincar sob o olhar atento das mães, não fossem partir-se. As outras, as de todos os dias, eram todas elas em pano, até as carinhas e as mãos.
A boneca que o meu padrinho me ofereceu era a coisa mais linda do mundo! Toda, todinha, num material que parecia carne verdadeira - o cabelo também do mesmo material, que ignoro o que fosse - celulóide, talvez.
Muito rosada, lábios encarnados, cabelo castanho…uma verdadeira beleza! E sapatinhos com meias brancas.
Quando a recebi, tinha eu oito anos, senti-me a pessoa mais feliz do mundo. Aquele era, sem dúvida, o dia mais feliz da minha vida!
Na nossa casa havia um grande pátio, com algumas árvores, onde brincávamos. Daí partia uma larga escadaria, ao cimo da qual existia a porta de acesso à casa.
Uma tarde, depois de ter desfrutado ao máximo da companhia da minha boneca, e apetecendo-me fazer umas correrias, fui colocar, cuidadosamente, a boneca junto à porta, para não se estragar.
Rapidamente a noite desceu, chegou a hora do jantar, e fui a correr para casa. E a pobre boneca ficou esquecida lá fora.
Só no dia seguinte, ao acordar, notei a sua falta. Num pulo estava junto dela, que não se encontrava onde a deixara, mas num dos degraus da escada.
Apertando-a com força, chorei convulsivamente. De noite, o nosso cão tinha-lhe roído o nariz e ainda um pouco da cara. Estava desfigurada!
Continuei a amá-la do mesmo modo. Mas aquele foi, decididamente, o maior desgosto da minha vida!
Assim o senti, quando tinha oito anos.
Talvez venha daí a minha paixão por bonecas, que sempre me tem acompanhado.
E quem não gosta de bonecas??? Olhe o futebolista Ronaldo!!! É cada uma!!!
ResponderEliminarMas, pondo de lado a brincadeira, Acho que as crianças devem ser tratadas como seres humanos completos e ajudadas sensatamente a crescer equilibradamente.
Quanto à satisfação dos mínimos caprichos, tenho reparado em meninos que, ao fim de semana, vão ao restaurante com o pai, por ser com ele que podem sair nessa semana, e que travam com ele uma concorrência de chantagens mútuas em que o pai sucumbe aos caprichos do menino que em vez da sopa quer um «chicolate». O pai sente necessidade de não desagradar ao menino nessa oportunidade de convívio. Por outro lado, a mãe fará de igual modo, e o menino acabará por crescer com uma noção errada da vida e daquilo que mais lhe convém.
Hoje a sociedade dificulta a educação das crianças e a criação de noções de civismo.
Abraço
A. João Soares
Esta terra molda os sonhos
ResponderEliminarÉ feita de barro frio e duro
Amassado por rudes mãos
Ao compasso de coração puro
Bom fim de semana
Mágico beijo
Meu caro João
ResponderEliminar"Dessas" bonecas não é só o Ronaldo que gosta!!!
Basta olhar para os «viejos verdes» - expressão que usam no México (e que acho deliciosa), para se referirem aos velhos...atrevidos, os tais que gostam de bonecas!!!
E depois da brincadeira, a parte séria.
É bem verdade o que diz.
Dou graças a Deus por isso não acontecer cá p'r'os meus lados, mas infelizmente é o pão nosso de cada dia.
Estão cegos, esses pais e mães. Não entendem que desse modo não ajudam os filhos, pelo contrário, só lhes criam instabilidade.
O resultado vê-se nas escolas, quando jovens, e depois de adultos a precisarem de apoio psicológico, como tantos que conheço.
Beijinhos
Mariazita
Um "Bem haja!" ao Profeta pela sua visita.
ResponderEliminarQue o «Oleiro» continue produzindo belas obras, de preferência com sorrisos.
Bjs
Mariazita
Infelizmente quando deixamos de nos preocupar com as "pequenas" coisas e só ligamos às "grandes" é quando a criança que temos dentro de nós se vai... Beijo!
ResponderEliminarQuerida Mariazita
ResponderEliminarMais uma vez(!!!) arranjei uns minutinhos para poder conversar aqui contiigo...
Esta tua linda história fez-me lembrar os tempos de infância, o que cada vez acontece mais raramente, por mal dos meus pecados... :)
Gostei muto de passar estes momentos recordando.
Um beijo do tamanho do mundo.
Anabela
Amigo Rafeiro
ResponderEliminarFelizmente ainda há quem conserve uma ciança dentro de si.
Por isso, libertá-la de vez em quando...é bom também! :)))
E para isso, recordar...é bom também :)))
Bom Domingo
Beijos
Mariazita
Anabela, querida,
ResponderEliminarque bom ver-te de novo aqui!
Fizeste bem, afinal hoje é Domingo, sabias??? e ontem foi Sábado..., ou seja, fim de semana.
Claro que para ti isso tem um significado muito especial, diferente do da maioria das pessoas.
Não ligues ao que eu digo, e depois queixa-te...
Qualquer dia o ministério manda-te p'ras ortigas, e aí vais ver o que é bom p'ra tosse... :))))
Beijinhos daqueles especiais.
Mariazita
A televisão, essa maldita caixa que corrompeu miúdos e graúdos.
ResponderEliminarPosso falar porque acabei com o mal ...
Tinha duas parabólicas, a TV Cabo pirata, a equivalente espanhola, a francesa e a italiana, idem, idem ... era só futebol.
No último mundial, uma vez por acaso, li na Net os canais que transmitiam todos os jogos.
Eram dois canais austríacos e dois suiços.
Comecei a ver futebol em austríaco, com uma qualidade de imagem, que as nossas TVs não têm.
Mas a maior vantagem foi ter descoberto que não necessitava de baixar o som para não ouvir os comentários asininos da maioria dos nossos "experts".
A verdade é que não percebo nada de alemão e do austríaco, nem com um milagre ... mas senti uma paz de espirito ...
Deixei de me interessar pelo futebol nacional ... depois o espanhol ... e agora só vejo a Eurosport em alemão.
Os filhos estão grandes, 32 e 30.
Tiveram os brinquedos que os pais achavam que mereciam.
Talvez há 30 anos fosse um pouco diferente, mas não era assim tanto.
Uma avó só trazia brinquedos se soubesse que eram aceites pelos pais.
Agora faz-se o impossível para satisfazer os comerciante, quero dizer, os filhos ...
Há 60 anos, um carro ou uma boneca eram um luxo, é a recordação que tenho da infância, (apesar de ter nascido no Porto, vivi 11 anos em Castelo Branco), era dum pacote de figos em celofane amarelo e um carro e viviamos, penso eu com algum desafogo, pois o meu pai era engenheiro.
Por isso é que há problemas, professor-aluno, aluno-professor.
os pais querem que a educação seja metida á força na cabeça dos "meninos", mas não se coibem de dar-lhes dinheiro para constantemente trocarem de telemóvel, de MP3, para MP4 ou ... o que a indigência mental de muitos reclama ...
Está-se a acabar a tinta.
Quero que fique ciente duma coisa, sou, sempre que posso mordaz e levo tudo na brincadeira.
Até a m/mulher ás vezes não sabe se estou a falar a sério ou a brincar, portanto, não leve a mal se comentar alguma coisa fora dos parãmetros habituais.
Tenho 61 anos, mas não cresci ... fiquei miúdo.
O que hei-de fazer ????
Xistosa
ResponderEliminarTem razão. A caixa mágica foi o princípio do fim! Fosse usada com moderação e critério e isso não teria acontecido. Mas, como com tudo que é novidade, usou-se e abusou-se, e agora: "aqui d'el rei!"
E a seguir vieram todas as outras coisas!
Dediquei alguns posts ao tema Educação, que me interessa muito. Fi-lo essencialmente sob a óptica dos professores, que têm vindo (e continuam) a atravessar graves problemas.
Não levo nada a mal que diga o que lhe der na real gana. Vivemos num país democrático - pelo menos é o que dizem...e eu aprecio muito a frontalidade.
Até sempre
Um abraço
Mariazita
Por infelicidade, tive que dar aulas da pré-primária à antiga 4ª. classe.
ResponderEliminarFoi em Angola, na "obrigação" obrigada.
Tive que aprender a fazer problemas que se resolviam de cabeça ou por uma regra de três simples.
Á parte isto, como já trabalhava, quando me interromperam o curso e enviaram-me para a tropa.
A minha mulher, leccionou até se reformar ... do oficial, (com o tempo todo e no topo da carreira - eu sempre desconfiei dos políticos e tinha razão. Foi a sorte dela).
Hoje lecciona no Ribadouro, no Porto, em continuação duma acumulação antiga e duma amizade que extravasa a profissão.
Vai morrer a dar aulas.
Nunca acertei em lotarias ou iguarias tais, mas sempre tive um "sesto" ou sexto sentido.
Por isso aos 48 anos estava reformado, com 36 de serviço.
Parece mentira?
É que além dos descontos normais, descontava mais 3% - era muito na altura - para uma caixa que me deixava reformar aos 30 anos, com a vantagem de receber 15 meses no ano, entre diversas outras vantagens.
Tive sorte de pensar no futuro.
Tive, em profissão liberal um gabinete de projectos, só de águas e saneamento e descontava para a segurança social, os 15 %, que ninguém desconta, mas que a lei exige.
Defendo a luta dos professores ... e da ministra ...
Não é uma incongruência e a demonstração é que depois de 100.000 na rua, os Sindicatos foram comer á mão da Ministra e assinaram o que ela queria.
Então quem é que tinha razão ???
Só pergumto uma coisa:
- O horário normal dum professor é de 22 horas. (eu sei que os anos e outras ocupações, diminuíam a carga horária).
Agora têm que estar trinta e não sei quantas horas ...
Quanto recebem por mais estas horas?
Que condições têm a maioria das escolas para os professores estarem para além do horário? Nos corredores?
Quem paga as horas caseiras de fazer e corrigir testes e fichas?
O material gasto que nada nem ninguém fornece ao professor?
Já não vou incluir a preparação de aulas, a valorização e até actualização de matérias.
Quem é que tem que ser responsabilizado?
Os sindicatos, QUE EU DEFENDO COM UNHAS E DENTES - SEMPRE FUI SINDICALIZADO - e que são imprescindíveis, mas que nalguns casos estão a saque de indivíduos sem habilitação própria, que eu defendo, porque serviram ao longo dos anos, agora não vão ser descartados, mas ocuparam lugares que não lhes pertenciam.
Estão em deslocamentos, (penso que é o nome), ilegais.
São mais que os necessários e para não serem colocados nas Escolas a que pertencem ... assinaram tudo ...
SÃO OS VENDILHÕES dos anseios de quem é verdadeiramente professor e que tarimbou por milhentas escolas, até estabilizar.
Até no estágio, a minha mulher teve azar.
Fez dois anos em Barcelos e quando acabou, o estágio passou para um ano.
Sou um revoltado por esta vida em Portugal ...
Votei nestes, para me ROUBAREM INDECENTEMENTE ...
Não volto a fazer cruzes !!!
Boa noite
Olá, Xistosa
ResponderEliminarLi atentamente toda a sua exposição. A única coisa que posso dizer-lhe é que, felizmente, teve uma boa visão de longo alcance, que é como quem diz, a longo prazo.
Agora pode dedicar-se ao que lhe dá prazer. E se a sua mulher continua a leccionar, certamente também é porque sente prazer nisso.
E não estando no oficial não está obrigada à pouca vergonha a que estão os outros que lá continuam.
Os sindicatos, teoricamente, existem para defender os interesses dos seus associados. Mas o que se verifica muitas vezes é que isso é só na teoria. Na hora do "vamos ver" cada um defende o seu tacho, e o resto são cantigas.
Ainda havemos de falar mais sobre este assunto. Ocasiões não hão-de faltar, infelizmente.
Um abraço
Mariazita
Uma boneca no coração sempre presente em nossa vidas marca nossa existência. Por maior que seja a influeñcia da máquina, do modernismo, nossa boneca querida é personagem marcante em nossa história.
ResponderEliminarParabéns, Mariazita.
Uma boneca no coração sempre presente em nossas vidas marca nossa existência. Por maior que seja a influeñcia da máquina, do modernismo, nossa boneca querida é personagem marcante em nossa história.
ResponderEliminarParabéns, Mariazita.
Querida Mariazita
ResponderEliminarTambém recebi uma boneca que veio de Espanha e fez as minhas delícias durante anos. Só brincava com ela aos domingos, imagine!
Apreciei imenso a introdução que fez sobre o que sentem os mais novos face a um desgosto.Eu comovo-me muito, sempre que vejo uma criança triste, mas deve ser da idade.
Continuação de uma semana muito feliz.
Um beijinho
Beatriz