LENDA DE ANO NOVO
Quem me acompanha há muito tempo e/ou conheceu o meu blog
“HISTÓRIAS DE ENCANTAR” sabe da minha predilecção por lendas.
Lá publiquei bastantes, e aqui, na CASA DA MARIQUINHAS, também
partilhei algumas convosco.
Pensando em como haveria de iniciar este ano de 2018, surgiu-me
a ideia de o fazer, exactamente, com uma lenda.
E, como seria de esperar, será uma lenda sobre o Ano Novo.
De algumas ouvi falar, outras li… e de todas de que tenho conhecimento,
que não são muitas… (há poucas lendas sobre o Ano Novo) escolhi esta para vos
mostrar.
Numa aldeia distante morava um casal de velhinhos: A Benvinda e
o Baltazar.
Embora fossem muito velhinhos e as forças já não fossem muitas,
como eram muito pobres tinham que se ocupar com os seus afazeres.
Benvinda ocupava-se da lida da casa. Baltazar era chapeleiro,
fabricava chapéus.
Na véspera da passagem de ano não tinham nada para celebrar a
entrada do Novo Ano, nem dinheiro para comprar algo com que pudessem festejar a
data.
Baltazar lembrou-se que talvez com os seus chapéus conseguisse
algum dinheiro. Com esse propósito deslocou-se à cidade, pensando que no
regresso poderia já trazer algumas guloseimas para ele e Benvinda se deliciarem
ao soar das doze badaladas.
Pegou em cinco chapéus que já tinha feitos e tomou o caminho da
cidade, que ficava bastante longe.
Depois de, com bastante dificuldade, atravessar vários campos,
chegou, por fim, à cidade.
Baltazar sentia-se muito cansado mas, com a sua fé inabalável,
pôs-se imediatamente a apregoar os chapéus:
- Olha o chapéu! Bem fabricado, fino e barato!
A cidade fervilhava de gente que corria apressada de um lado
para outro, fazendo os preparativos para o Ano Novo.
Todos voltavam para casa carregados de embrulhos com carne,
peixe, doces… garrafas de bebidas. Mas ninguém se interessava pelos chapéus.
Baltazar pensou:
- Não foi uma grande ideia, a que eu tive. Neste dia quem é que
vai pensar em comprar chapéu?
Mas não desistiu. Todo o dia palmilhou a cidade, apregoando a
sua mercadoria. Pensava em Benvinda, que em casa o aguardava, e só isso lhe
dava forças para continuar, apesar do enorme cansaço.
Mas não conseguiu vender um único chapéu.
A noite aproximava-se rapidamente e Baltazar, convencido de que
não valia a pena insistir mais, guardou os chapéus e iniciou o caminho de
regresso.
Quando saía da cidade começou a nevar. O frio entrava-lhe
através da roupa, mas ele continuou a caminhar pelo campo coberto de neve.
De repente avistou seis duendes, todos encostados uns aos
outros, tremendo. Já havia neve nas suas cabeças, que lhes respingava para os
rostos.
Condoído, Baltazar não hesitou um momento. Passou a mão na
cabeça dos duendes para retirar a neve, e em seguida cobriu-os com os chapéus
que não havia vendido.
Mas só tinha cinco chapéus, e os duendes eram seis…
Tirou o chapéu que usava na sua cabeça e com ele tapou a cabeça
do sexto duende.
- É um chapéu velho e sujo… mas não tenho outro… - comentou
Baltazar.
Não obteve qualquer resposta pois os duendes não falam com
pessoas.
O velhinho retomou o seu
caminho.
Ao chegar a casa a sua cabeça estava de tal modo branca com a
neve que caíra, que Benvinda se assustou ao vê-lo:
- Mas o que aconteceu, Baltazar? Pregaste-me um susto! – disse,
com voz trémula.
- A verdade é que não consegui vender nenhum chapéu. Quando
regressava encontrei seis duendes e imaginei que estivessem com frio. Por isso
cobri-os com os chapéus. Mas como faltava um… tapei-o com o meu.
Benvinda ficou emocionada com a atitude do marido, e apenas
comentou:
- Foi um gesto muito nobre!
Comeram uns restos que ainda havia na despensa e foram-se deitar.
A roupa da cama era pouca para noite tão fria. Encostaram-se o melhor possível,
tentando transmitir um ao outro o calor dos seus velhos corpos cansados.
Pouco depois ouviram vozes lá fora:
- “Entrega de Ano Novo! Onde é a casa do vendedor de chapéus?
Abra a porta, vendedor!”
Levantaram-se ambos e abriram a porta, assustados.
Na frente da casa havia muita comida, vinho, adornos de Ano
Novo, cobertores quentinhos… e, em lugar de destaque, dois pequenos embrulhos
com doze passas de uva cada um.
Pensaram que estavam sonhando.
Olharam em volta e não viram ninguém. Fixando o olhar em frente,
divisaram seis duendes afastando-se da casa.
Pareceu-lhes ouvir ao longe:
- FELIZ ANO NOVO!
À meia-noite, ao soar das doze badaladas, Benvinda e Baltazar
comeram cada um as suas doze passas de uva, formulando mentalmente o desejo de
que continuassem sempre juntos até ao fim dos seus dias.
E assim se iniciou o ritual que se mantém até aos dias de hoje.
A TODOS UM MUITO FELIZ ANO 2018