ANO NOVO
Que 2022 chegue repleto de boas energias, felicidade, saúde e de muito
Amor.
Que este novo ano seja mágico e nos ajude a vencer os problemas e a
superar todos os desafios.
FELIZ ANO NOVO!!!
- Com tantos anos de vida ainda não consegui perceber porque me apelidaram de “manso”, Pinheiro Manso – murmurou o frondoso Pinheiro, voltando as verdes e finas agulhas na direcção de uma raquítica árvore que se encontrava a pequena distância.
- Ora, porquê! – respondeu a enfezada. Já tivemos
esta conversa tantas vezes! Está muito bom de ver. Deram-te esse nome porque
não tens a braveza dos teus primos, esses altivos pinheiros bravos, que não se
dão com os baixotes, só querem viver nas alturas…
- Acho essa explicação demasiado simplista…
- Sabes qual é o teu problema? – continuou a
enfezadita – é quereres sempre saber a razão de tudo. As coisas são porque são,
e pronto. Põe os olhos em mim: és capaz de me dizer porque é que eu sou assim
tão raquítica? Não és, pois não? Eu também não sei, e vê lá se me preocupo…
- Xiu! – advertiu o Pinheiro. Aproximam-se pessoas.
A conversa tem de ficar para mais logo. Agora cala-te, que eu faço o mesmo.
E ficaram em silêncio.
Um grupo de jovens caminhava alegremente em direcção
ao Pinheiro.
Um deles, o mais alto, loiro e de olhos da cor do
céu, aparentando ser o líder, abriu os braços ao alto e exclamou:
- Eu não vos dizia? Este Pinheiro não é um
espectáculo?
- Sim – responderam em uníssono os outros jovens. Tu
és o maior!
- Claro que sou. Por isso sou o chefe. E é como
chefe que vos digo:
- Abram os braços, respirem fundo este ar puro,
aspirem este delicioso cheiro a pinheiro…
E falando assim ele próprio executava os movimentos
que convidava os companheiros a fazerem.
Por breves momentos só se ouvia o seu respirar
profundo. Mas logo de seguida recomeçou a algazarra, rindo e falando muito
alto, como se todos fossem surdos.
Um dos rapazes tinha levado um “Tablet” e em breve o
silêncio da mata se encheu com os sons, em tom altíssimo, de uma canção em
voga. A maior parte deles acompanhou a música em altos berros. Até os insectos
fugiam espavoridos.
Pouco depois o líder disse:
- E se tratássemos das barriguinhas? a minha já está
a roncar…
- Excelente ideia! – responderam em coro.
E todos, rapazes e raparigas, abriram as mochilas e
retiraram de lá comida, copos de plástico, garrafas de refrigerantes e até uma
toalha de papel, que estenderam cuidadosamente no chão e nela colocaram o
lanche.
Sentaram-se todos em círculo debaixo da copa densa,
arredondada, em forma de guarda-sol, do Pinheiro, e iniciaram o lanche
alegremente.
Eram já cinco horas da tarde, tinham feito uma
grande caminhada para lá chegar, e o almoço há muito tempo tinha sido digerido.
Todos comeram com grande apetite.
Como estava muito calor e a sede era bastante,
rapidamente esvaziaram as garrafas dos refrigerantes.
Saciados o apetite e a sede, colocaram junto ao
tronco do Pinheiro as garrafas vazias, copos, guardanapos… e até restos de
sandes mordiscadas. Estenderam-se no chão, à sombra. Uns conversando outros
dormitando nem deram pelo tempo passar, de tal modo se sentiam satisfeitos.
O sol começava a esconder-se quando o líder
exclamou:
- Ei, malta! Temos de nos pôr a milhas! Não se
esqueçam de que nos espera uma boa caminhada. Já vamos chegar a casa de noite…
Puseram-se todos de pé e, sem mais demoras,
iniciaram a descida. Ninguém se lembrou de recolher o lixo que tinham colocado
junto ao Pinheiro.
Ouviu-se um profundo suspiro. O Pinheiro murmurou,
tristemente:
- Já viste, vizinha? Respiraram o nosso ar puro,
sorveram o nosso belo aroma, aproveitaram a minha sombra, nem sequer
respeitaram a paz e o silêncio de todos estes seres que aqui vivem e, como
agradecimento, foram-se todos embora deixando para trás o lixo que trouxeram
com eles…
- Já devias estar habituado, Pinheiro. É sempre
assim…
Algum tempo depois podiam ver-se numerosas gotas
transparentes pendendo das agora escuras agulhas.
- Orvalho – dizia quem passava.
Não, não era orvalho, eram lágrimas de tristeza.
Lágrimas, sim, que as árvores também têm
sentimentos.
Um grupo de crianças que passava saltitando
alegremente, parou de repente olhando atentamente para o Pinheiro.
- Olhem, olhem, o Pinheiro está a chorar! Com
certeza não vai receber prendas de Natal, e por isso está triste.
A mais velhinha teve uma ideia:
- Vamos levar-lhe estas bolinhas e fitas que fomos
comprar para as nossas árvores. Talvez ele fique contente!
Correram para o Pinheiro e enfeitaram-no com tudo o
que levavam para a festa delas.
O tecido das fitas coloridas absorveu a humidade das
carumas e o Pinheiro deixou de chorar.
Excitadas, as crianças exclamaram:
- Vejam! Vejam! O Pinheiro deixou de chorar.
Radiantes, deram as mãos fazendo uma roda à volta do
Pinheiro, cantando alegremente.
Recolheram os papéis que vinham a embrulhar as bolas
e as fitas, juntaram-lhes o lixo que os
jovens haviam abandonado junto ao Pinheiro, deixando tudo impecavelmente limpo.
Ao afastarem-se os olhos inocentes das crianças viram o brilho
de reconhecimento e gratidão nos olhos da árvore.
E assim o Pinheiro triste transformou-se na Árvore de Natal da aldeia.
Maria Caiano Azevedo