ENQUANTO OS DIAS PASSAM…
A cidade é bonita. Na zona central existem largas avenidas, de sentido único, com separadores ao meio, ajardinados. Há lojas bem fornecidas, onde se encontra tudo o que é necessário para o dia a dia ; um grande mercado, com frutas variadas e legumes frescos, talho e peixaria; livrarias onde se podem encontrar os últimos livros publicados.
Esta vida fácil nem sempre é calma. De vez em quando –com demasiada frequência – recebemos notícias que nos abalam muito:
- A do soldado que, tendo terminado a sua comissão, regressava do mato a caminho desta cidade, onde faria escala para seguir para a capital, e daí para a sua terra natal. Em pleno voo, o pequeno avião em que vinha, sofreu uma avaria, despenhou-se, e aqui apenas chegaram os restos mortais, dentro de um caixão.
- Ou a notícia do acidente que sofreu o segundo comandante da base aérea. Acompanhou, voluntariamente, uma missão, onde acabou por perder a vida.
Era uma pessoa muito estimada por todos, incluindo civis, entre os quais contava muitos amigos.
A cidade inteira, em peso, acompanhou-o ao cemitério, para um último e forte abraço.
O corpo foi aí depositado, e mais tarde trasladado para o local do seu descanso eterno.
Foi uma cerimónia muito comovente. O capelão militar proferiu a alocução apropriada, terminando com um comovido “Até sempre, Tó”.
São apenas dois exemplos dos muitos a que vimos assistindo.
Foi este clima que me levou a decidir aceitar a proposta para produzir um programa, na rádio onde trabalho, dedicado aos soldados em combate.
É um trabalho fascinante. Como, diariamente, faço locução cinco horas, repartidas ao longo do dia, aproveito os tempos livres para preparar o programa que é transmitido uma vez por semana.
Começa com a voz de um locutor dizendo :
“O Emissor Regional do Norte do Rádio Clube de Moçambique apresenta (uma ligeira pausa) –
Mensagem ao soldado ! –um programa dedicado aos militares em serviço no norte de Moçambique”
É a minha deixa. Com voz que tento seja suave, digo:
“É para ti, (ligeira pausa) soldado, (ligeira pausa) que as minhas palavras e o meu pensamento vão, neste momento. (pausa)Sim, para ti, (ligeira pausa) exactamente para ti .(pausa)
Não sei se és cabo, furriel, ou oficial. Sei apenas que és (ligeira pausa) UM SOLDADO QUE DEFENDE A PÁTRIA (destacado). E é nessa condição que hoje te dirijo a palavra.