Contrariando a rotina das postagens apenas à Quinta Feira e ao Domingo, não resisto a publicar este texto que hoje recebi por email.
Não vou tecer comentários. Apenas vos convido a ler o que escreveu a Professora Cecília Honório, a propósito da entrevista dada na televisão pela Ministra da Educação.
As rosas e os cardos da Ministra da Educação
07-Mai-2008
A Ministra da Educação foi à televisão ajudar a lavar o negócio das políticas sociais de Sócrates. Bordou o autoritarismo, abriu o seu peito de esquerda, mas a realidade não deixa de ser o que é só porque as eleições espreitam.
1. Chumbos. Andamos há muito a dizê-lo e a ministra tem razão: o chumbo é arma de uma escola elitista, custa caro aos contribuintes e, ainda por cima, reproduz o insucesso escolar (ao contrário das línguas aziagas do rigor, os dados mostram que as crianças e os jovens não aprendem mais por ficarem retidos).
Mas os chumbos vão acabar? Não, disse a ministra. E à pergunta: então, a saída para os jovens que chumbam é a formação profissional? Não, disse a ministra. E não podia, porque a realidade é o que é. O que se oferece hoje aos jovens com longa história de insucesso (rapazes, sobretudo) são os famosos cursos de formação para conclusão da escolaridade obrigatória, nichos de enjeitados anos a fio a fazerem de conta, eles e os professores, que vão ser, um dia, jardineiros. Às perguntas que interessam (o que foi e o que vai ser feito para combater os custos sociais dos chumbos?) seguiu-se retórica para três anos perdidos, porque as respostas são caras.
Não há equipas multidisciplinares nas escolas, não há mediadores, não há psicólogos, não há horas para programas de tutorias, não há horas para apoios específicos, não há turmas mais pequenas onde é necessário, não há responsabilização das escolas que fazem turmas de "bons" e de "maus", não há salas de aula dignas e equipadas. Não há nada a não ser a boa vontade e o empenho de professores, e de poucos profissionais que resistem à sangria da poupança, para os meninos e meninas que não correspondem ao formato médio, que não têm livros em casa, que não têm mãe escolarizada e pai bem sucedido profissionalmente, que não têm, muitas vezes, dinheiro para comer, e que até vivem desse monstro irresistível que é o da caridade das escolas.
Diz ainda a ministra que o problema não está nos programas, "acessíveis" aliás, e é mentira. Os programas e a disciplinarização nos 2º e 3º ciclos são esmagadores para os jovens que passam os dias amestrados em aulas, sem tempo para viver. É a realidade diária deles.
2. Professores. Acenar com o bife da equiparação no topo entre professores e carreira técnica é esquecer os muitos milhares que nunca lá chegarão, é cuspir para o lado aos preços da formação e a uma avaliação punitiva e infernal (que ainda terá um director para jogar com afilhados e afilhadas com as quotas da excelência, que, aliás, exigiam uma avaliação externa de todas as escolas, e a ministra diz que a coisa vai pelas 400...).
A realidade do próximo ano nas escolas portuguesas será a do inferno sem purgatório. Na instabilidade para os alunos, no perigo do sucesso administrativo não pensa a Ministra. E cada professor e professora só desejará, nos melhores dias, ver a ministra e os seus secretários avaliados com as suas fichas. Uma qualquer ficha de sete páginas para observação de aulas e portefólio, cada item desmembrado em vinte, cada um deles classificado de 1 a 5, mais a ficha feita pelo conselho executivo, onde o "excelente" corresponde ao sobre-humano, e eles não passam.
E, ao menos, aqueles cotados conselheiros científicos que a Ministra arranjou não são capazes de operacionalizar as fichinhas e de lhes dar uniformidade para minimizar a selva que aí vem?
Esta equipa ministerial foi chumbada no dia 8 de Março. Vai custar muito caro ao país retê-los mais um ano (e eles nem vão aprender mais por isso). Entretanto, as escolas vão rebentar com a avaliação, novos capatazes surgirão para tornar inquestionável a cadeia de comando, e o desafio será maior do que nunca: mostrar que este modelo de avaliação não serve, que a avaliação é das escolas e para preservar e aprofundar o trabalho cooperativo; será ano de não deixar passar esta espécie de "luta de classes" dentro da classe, de combater a autofagia, mantendo relações de cooperação e solidariedade, senão eles passam administrativamente...
Cecília Honório
Não vou tecer comentários. Apenas vos convido a ler o que escreveu a Professora Cecília Honório, a propósito da entrevista dada na televisão pela Ministra da Educação.
As rosas e os cardos da Ministra da Educação
07-Mai-2008
A Ministra da Educação foi à televisão ajudar a lavar o negócio das políticas sociais de Sócrates. Bordou o autoritarismo, abriu o seu peito de esquerda, mas a realidade não deixa de ser o que é só porque as eleições espreitam.
1. Chumbos. Andamos há muito a dizê-lo e a ministra tem razão: o chumbo é arma de uma escola elitista, custa caro aos contribuintes e, ainda por cima, reproduz o insucesso escolar (ao contrário das línguas aziagas do rigor, os dados mostram que as crianças e os jovens não aprendem mais por ficarem retidos).
Mas os chumbos vão acabar? Não, disse a ministra. E à pergunta: então, a saída para os jovens que chumbam é a formação profissional? Não, disse a ministra. E não podia, porque a realidade é o que é. O que se oferece hoje aos jovens com longa história de insucesso (rapazes, sobretudo) são os famosos cursos de formação para conclusão da escolaridade obrigatória, nichos de enjeitados anos a fio a fazerem de conta, eles e os professores, que vão ser, um dia, jardineiros. Às perguntas que interessam (o que foi e o que vai ser feito para combater os custos sociais dos chumbos?) seguiu-se retórica para três anos perdidos, porque as respostas são caras.
Não há equipas multidisciplinares nas escolas, não há mediadores, não há psicólogos, não há horas para programas de tutorias, não há horas para apoios específicos, não há turmas mais pequenas onde é necessário, não há responsabilização das escolas que fazem turmas de "bons" e de "maus", não há salas de aula dignas e equipadas. Não há nada a não ser a boa vontade e o empenho de professores, e de poucos profissionais que resistem à sangria da poupança, para os meninos e meninas que não correspondem ao formato médio, que não têm livros em casa, que não têm mãe escolarizada e pai bem sucedido profissionalmente, que não têm, muitas vezes, dinheiro para comer, e que até vivem desse monstro irresistível que é o da caridade das escolas.
Diz ainda a ministra que o problema não está nos programas, "acessíveis" aliás, e é mentira. Os programas e a disciplinarização nos 2º e 3º ciclos são esmagadores para os jovens que passam os dias amestrados em aulas, sem tempo para viver. É a realidade diária deles.
2. Professores. Acenar com o bife da equiparação no topo entre professores e carreira técnica é esquecer os muitos milhares que nunca lá chegarão, é cuspir para o lado aos preços da formação e a uma avaliação punitiva e infernal (que ainda terá um director para jogar com afilhados e afilhadas com as quotas da excelência, que, aliás, exigiam uma avaliação externa de todas as escolas, e a ministra diz que a coisa vai pelas 400...).
A realidade do próximo ano nas escolas portuguesas será a do inferno sem purgatório. Na instabilidade para os alunos, no perigo do sucesso administrativo não pensa a Ministra. E cada professor e professora só desejará, nos melhores dias, ver a ministra e os seus secretários avaliados com as suas fichas. Uma qualquer ficha de sete páginas para observação de aulas e portefólio, cada item desmembrado em vinte, cada um deles classificado de 1 a 5, mais a ficha feita pelo conselho executivo, onde o "excelente" corresponde ao sobre-humano, e eles não passam.
E, ao menos, aqueles cotados conselheiros científicos que a Ministra arranjou não são capazes de operacionalizar as fichinhas e de lhes dar uniformidade para minimizar a selva que aí vem?
Esta equipa ministerial foi chumbada no dia 8 de Março. Vai custar muito caro ao país retê-los mais um ano (e eles nem vão aprender mais por isso). Entretanto, as escolas vão rebentar com a avaliação, novos capatazes surgirão para tornar inquestionável a cadeia de comando, e o desafio será maior do que nunca: mostrar que este modelo de avaliação não serve, que a avaliação é das escolas e para preservar e aprofundar o trabalho cooperativo; será ano de não deixar passar esta espécie de "luta de classes" dentro da classe, de combater a autofagia, mantendo relações de cooperação e solidariedade, senão eles passam administrativamente...
Cecília Honório
Oláááááááá´!!!!!!!
ResponderEliminarPor aqui se confirma que não há regra sem excepção.
Eu tinha "constatado" que só postavas às quintas e domingos; o post de hoje é uma excepão à regra.
Fizeste bem em pôr aqui este texto. Quem viu a entrevista, pode recordar; quem não viu, fica a saber. Foi boa ideia.
Agora, vamos lá a saber. Porquê quintas e domingos??? Essa parte é que não consegui descobrir.
Alguma superstição??? Nunca te conheci supersticiosa...
Estás a esconder algum trunfo na manga LOL
Agora vou-me, mas fico à espera da explicação (se é que não é segredo de estado!)
Considera-te beijada pelo teu velho
Jorge
Simpática Amiga:
ResponderEliminarUm belo e profundo texto sobre as posições de uma Ministra descredibilizada e que teima nas condutas de impor a uma classe de pessoas que se desgastam dia-a-dia na luta pelos interesses e capacidades deslumbrantes e inequívocas dos seus brilhantes e maravilhosos alunos.
Sim! Já não têm tempo para brincar.
Já não têm tempo para viver, para se alegrar, paara fazer ouvir a sua voz doce e encantadora.
Porquê?
Que mal lhe fizeram os docentes?
Não consigo ver, acreditem?
Uma profissão desgastante e intensa de dedicação que faz duvidar das reais intenções puras e sensatas?
Só sei uma coisa: iremos perecer numa sala repleta destes seres doces e lindos.
Sem mais.
Com respeito e estima.
Incrédulo pelo sentir de uma Ministra insensível e persistente na inoportunidade das atitudes que desconhece por completo.
Beijinhos amigos
pena (É o meu nome) Professor do 2º Ciclo do E.Básico.
MUITO OBRIGADO pela visita linda. Adore!
Mariazita, por alguns instantes pensei que estava lendo a respeito da educação no Brasil!!!
ResponderEliminarMeu Deus em que mundo estamos?
Se tratam a educação assim imagine o resto!
Beijos brasileiros, Teresa
Parabéns pelo blog, que considero muito interessante e obrigado por colocar este texto.
ResponderEliminarDevo dizer que fiquei assustado ao lê-lo e ainda mais preocupado do que já estava.
Nele está tudo dito... Eu ainda tenho esperança que o bom senso não abandone de vez os nossos responsáveis pela educação. Como se diz a esperança é a última a morrer...
Entretanto vou verificando em simultâneo que os Pais (infelizmente tenho de generalizar) já há muito que abandonaram o interesse pela verdadeira educação dos filhos.
Não auguro nada de bom quanto ao futuro...
Obrigado.
Olá, passei por aqui para lhe agradecer a sua visita lá no meu blog e pelas palavras deixadas.
ResponderEliminarGostei do seu espaço...vou voltar!
bjs
Olá, velhote -:)
ResponderEliminarTomaste o rumo da minha casa???
Muito me alegras, mas também me espantas com tamanha assiduidade...
Ah! estava a esquecer-me das tuas mini férias! Está explicado.
E agora explico eu.
Quinta feira - Dia da Abertura, 14 de Fevereiro, Dia dos Namorados, este ano à quinta feira.
Domingo - Bom, aqui é mais difícil explicar...mas talvez por ser dia de missa -:) com fé, quem sabe este meu espaço não passe a ser um missal para quem o conhecer! Não é um bom motivo??? Ocorreu-me agora, de repente, mas não saiu nada mal, não achas?
Meu querido, vou prègar p'ra outra freguesia.
Espero que continues a aparecer, e não seja só p'r'o ano...
Um beijo grande
Mariazita
Amigo Pena
ResponderEliminarComo professor encontra-se na posição ideal para emitir opinião acerca deste assunto.
Pela minha parte, como mãe de uma professora e ainda familiar e amiga de inúmeros professores e professoras, tenho mostrado toda a minha solidariedade para com os problemas que a classe está enfrentando.
Publiquei alguns posts respeitantes ao tema Educação, e continuarei a fazê-lo sempre que surja oportunidade.
Obrigada por ter vindo.
Beijinhos
Mariazita
Querida Teresa
ResponderEliminarEntre as minhas amigas brasileiras conto com algumas professoras,(entre as quais você mesma) e sei que no Brasil também lutam com bastante problemas e dificuldades.
Infelizmente parece que as coisas estão alastrando a todos os países. Veja, por exemplo na América. Também lá existem graves problemas a nível da Educação.
E. claro, uma coisa arrasta a outra, e os problemas sucemde-se.
Muito breve irei visitá-la.
Beijinhos
Mariazita
Certamente vou-me repetir, não sei se já disse isto.
ResponderEliminarA ministra tem razão ... depois daquela manifestação gigantesca, os sindicatos foram ao beija-mão e assinaram tudo o que ela queria.
Num caso assim, algo vai mal neste reino.
Ou os professores são uns vira casacas, a ministra deu uma volta de 180º, ou os sindicatos não servem para nada, ou não serviram.
Num país de servilismo, os sindicalistas que são os deslocados, quero dizer os destacados, (foi propositado o engano), os que não têm a habilitação própria e os que recebem benesses que doutro modo não receberiam.
Eram mais que as mães e o Sócrates, não foi a ministra, disse-lhes que não queria cerca de 3500 sindicalistas, ao arrepio de toda e qualquer razoabilidade.
Não quer mais de 250 a 350.
Ainda são mais de 1500, t~em que se defender e vão abanando a cabeça.
Não sei se tem e-mail, se tiver, envio-lhe um documento caricato.
Saber jogar futebol e ter a equivalência ao 9º ano, sem necessidade de saber ler nem escrever, isto é acrescento da minha lavra.
Depois, já que estão em campo, por pouco mais, tiram o 12º e teremos fulanos, a escrever "jugador" de futebol, "avanssado" que marca "goulos" e outras "pérulas", também tenho direito.
Quando sairam as classificações das escolas e colégios, o celebérrimo, "ranking" enviei um e-mail "inocente para: "jne@dgidc.min-edu.pt", para que me explicassem como classificaram um colégio em 1º lugar, que só tem ou tinha uma turma de 28 alunos, em equiparação a outro que ficou pior classificado, mas tem cerca de 700 alunos e conseguiu meter 72 em medicina?
Nem calcula o que tem sido a troca de e-mails.
Até já me pediram para ir à DREN, para deixar de reclamar, é que no primeiro e-mail que me enviaram, faziam considerações, sobre mim, sem me conhecerem.
Repliquei que tinha enviado uma pergunta para algum técnico me responder e não para a resposta ser dada pelo porteiro, por muita consideração que ele me mereça.
Fui à DREN e fui recebido pela fulana que levantou a celeuma com Prof. Charrua.
Coitada, é uma dor de alma e depois eu sou um coração de manteiga e incapaz de maltratar uma senhora, por muito regateira que ela seja.
Disse-lhe para se acalmar e que me marcasse outro dia.
Assim foi.
Numa quinta-feira de manhã, lá me recebeu e eu antecipando-me a qualquer resposta que não me interessava absolutamente nada, ofereci-lhe um espelho.
Pedi-lhe para abrir o embrulho e disse-lhe que antes de se transformar na fera que queria demonstrar ser, como da 1º vez que que tínhamos falado, que se olhasse ao espelho.
Dei-lhe os bons dias e fui almoçar com os meus amigos que pensavam que eu ia preso ... (isto é um acrescento meu, o ir preso)
Chega de palavras.
Até uma próxima.
Com Senso
ResponderEliminarTam razão - a esperança é a última a morrer. E enquanto houver uma chamazita, por pequena que seja, vamos continuar a esperar por melhores dias.
Houve, de facto, muitos (eu diria muitíssimos) pais que se demitiram das suas funções de educadores, relegando-as para a escola.
E se à escola compete educar, para além de ensinar, é necessário que haja condições para isso. Infelizmente tal não acontece.
Voltaremos a falar sobre este assunto, que está longe de ter solução à vista.
Muito obrigada pela visita e pelas palavras elogiosas.
Até sempre
Mariazita
Querida Mariazita
ResponderEliminarFico muito feliz por saber que os meus comentários colocam o seu ego lá em cima.Bem merece! Escreve lindamente e traz sempre assuntos de enorme interesse.
Nem quero lembrar-me dos tempos desta ministra! Os professores são, foram e serão sempre uns heróis, a trabalhar sem horário, a devotarem-se totalmente à sua importante missão. E ainda hoje continuam a ser desrespeitados, agora com o seu tempo de serviço sem contar na totalidade! Parece incrível, mas é verdade!
Bem haja por divulgar situações destas.
Um beijinho
Beatriz