AS CALCINHAS DA MARIA EUGÉNIA
Maria Eugénia era um
doce de pessoa!
Sempre com um
sorriso no rosto a todos acolhia com carinho e ternura, pronta a proporcionar
todo o auxílio a quem dele necessitasse, fosse para simplesmente dar um
conselho fosse para oferecer um ombro amigo para um eventual derrame de
lágrimas.
Tendo sido uma
alegre bebé gorducha, transformou-se numa adolescente rechonchudinha e, mais
tarde, numa jovem de formas redondinhas.
Sem qualquer
complexo em relação ao seu aspecto um pouco “anafado”, quando alguém lhe dizia
que talvez devesse perder um pouquinho de peso, respondia alegremente:
- Gordura é
formosura.
Atingiu assim os
dezoito anos, sempre alegre e feliz.
Em breve conheceu um
jovem, António, com quem simpatizou bastante e que logo a cortejou.
Tratava-se dum rapaz
com muito boa aparência e bem instalado na vida, que, com a aprovação da
família, começou a namorar a Maria Eugénia.
Decorridos três ou
quatro anos de namoro, o tempo que naquela altura se considerava normal para se
conhecerem, realizou-se o casamento.
As “amigas”, cheias
de inveja, achavam que, tratando-se de um rapaz tão bonito, com uma vida
confortável como poucos na sua idade, bem poderia escolher noiva mais
apresentável, como algumas delas, por exemplo. Não que Maria Eugénia fosse
feia, pois tinha um rosto muito bonito; mas, com as suas formas bem anafadas,
não devia muito à elegância.
O que as “amigas”
não sabiam era que, o que tinha prendido António, era, acima de quaisquer
atributos físicos, o enorme coração de Maria Eugénia, ao qual se rendera
incondicionalmente.
Foram felizes até ao
fim dos seus dias.
António trabalhava
com importações de tecidos finos (sedas, veludos, tules…) o que, naquela época,
contribuía para engrossar a sua conta bancária.
Mais tarde abriu uma
loja onde vendia vestidos para noivas e acompanhantes, costurados nas traseiras
da loja, onde instalara uma pequena fabriqueta.
Com o tempo, e com o
seu dom especial para os negócios, em breve abria mais lojas e montava uma
fábrica de confecções a sério.
Neste tipo de
trabalho em que se ocupava António, a clientela era essencialmente feminina. E
porque ele era, de facto, um homem muito atraente, a quem o casamento e a idade
haviam aumentado o encanto natural, as suas clientes não raras vezes tentavam
insinuar-se junto dele. Porém António, com um sorriso constante nos lábios,
contornava a situação conseguindo manter-se fiel ao casamento. Não perdia a
cliente e não traía Maria Eugénia.
Por vezes,
despeitadas, e porque conheciam Maria Eugénia, quando a encontravam tentavam
intrigar, insinuando que António fora visto aqui e ali, em situações mais que
suspeitas.
Maria Eugénia
ouvia-as com toda a atenção e delicadeza, próprias da sua maneira de ser, e no
fim, esboçando o maior sorriso que podia ostentar, respondia, com humor:
- Ora! O que é que
isso importa? Depois de lavado fica como novo!
E assim desarmava as
“amigas de Peniche”.
Maria Eugénia teve
dois filhos, que eram o encantamento dos pais.
As duas gestações
não favoreceram nada o físico de Maria Eugénia que apresentava agora umas
formas mais redondas ainda.
Isso não parecia
preocupá-la minimamente, e a sua felicidade familiar era completa.
Com o
desenvolvimento dos negócios António arranjou clientes na Madeira e Açores, os
quais visitava no princípio das estações, levando-lhes mostruários das suas
colecções de tecidos e catálogos dos vestidos de noiva.
Enquanto as crianças
foram pequenas António viajava sozinho porque Maria Eugénia, mãe extremosa, não
os queria deixar entregues às criadas.
Porém, quando eles
já eram mais crescidos, e porque tinham sido educados segundo valores éticos
responsáveis, Maria Eugénia começou a acompanhar o marido.
Numa dessas viagens
à Madeira quando chegaram ao hotel e se instalaram no quarto, Maria Eugénia
verificou, horrorizada, que se tinha esquecido de meter calcinhas na mala.
Ficou aflita.
As estadias, tanto
na Madeira como nos Açores, demoravam sempre duas semanas e eram feitas entre
fins de Janeiro a princípios de Março.
Seria impensável
andar todas as noites a lavar as calcinhas, até porque era Inverno e o mais
provável seria não secarem durante a noite.
O marido, que
entretanto ficara à conversa com um conhecido no hall do hotel, foi encontrá-la
bastante aborrecida com o seu esquecimento. Mas logo encontrou solução:
- Depois de almoço,
quando eu for visitar o cliente “X”, tu aproveitas o tempo, vais às lojas e
compras todas as calcinhas que achares necessárias.
Maria Eugénia
respirou aliviada. No meio da aflição e aborrecimento por se ter esquecido duma
coisa tão básica com calcinhas, nem lhe ocorrera uma solução tão simples.
Tal como combinado,
de tarde Maria Eugénia pôs-se em campo à procura de lojas de lingerie. Entrou na primeira que
encontrou onde um amável senhor a cumprimentou com um sorriso.
Quando Maria Eugénia
lhe disse o que pretendia o senhor perguntou-lhe:
- Qual o número que a
senhora deseja?
Meio encabulada,
Maria Eugénia gaguejou…
- Bem, o número não
sei ao certo… Olhe… são para mim…
O senhor mirou-a com
toda a atenção, como que a tirar-lhe as medidas. Voltou-se e retirou da
prateleira uma caixa de calcinhas. E disse, olhando-a novamente.
- Penso que este
tamanho deve estar bem, e até lhe dá até ao fim do tempo…
Maria Eugénia
engoliu em seco, até certo ponto feliz porque o senhor não pensara que ela
estava simplesmente gorda, pagou e retirou-se.
À noite, ao contar
ao marido o sucedido, com uma forte gargalhada ela comentou:
- Ainda bem que ele
pensou que eu estava grávida. É bem melhor do que pensar que a minha gordura é
simplesmente gordura.
Abraçando-se, ambos
riram a bom rir. E António rematou com a frase habitual:
- Adoro-te, minha
gorduchinha querida.
Naquela altura a
Maria Eugénia estava, simplesmente, gorda, não estava grávida.
Mas já por duas
vezes pudera usufruir desse “estado de graça”, e sentira-se a pessoa mais feliz
do mundo.
Dedico este pequeno
e despretensioso conto, BASEADO NUMA HISTÓRIA VERÍDICA, a todas as Mães de todo
o mundo - cujo “DIA”, em Portugal se celebra no primeiro Domingo de Maio, este
ano no próximo dia 7.