Numa aldeia distante morava um casal de velhinhos: A
Benvinda e o Baltazar.
Embora fossem muito velhinhos e as forças já não
fossem muitas, como eram muito pobres tinham de tratar das suas tarefas.
Benvinda ocupava-se da lida da casa. Baltazar era
chapeleiro, fabricava chapéus.
Naquele Natal não tinham nada para celebrar a consoada,
nem dinheiro para comprar algo com que pudessem festejar a data do nascimento
do Menino Jesus.
Baltazar lembrou-se de que talvez com a venda dos
seus chapéus conseguisse algum dinheiro. Deslocou-se à cidade, pensando que, no
regresso, poderia já trazer algumas guloseimas para se deliciarem à ceia.
Pegou em cinco chapéus que tinha feitos e tomou o
caminho da cidade, que ficava bastante longe.
Depois de, com bastante dificuldade, atravessar
vários campos, chegou, por fim, ao seu destino.
Sentia-se muito cansado mas, com a sua fé
inabalável, pôs-se imediatamente a apregoar os chapéus:
- Olha o chapéu! O lindo chapéu! Quem
o comprar ganha o céu!
A cidade fervilhava de gente, que corria apressada
de um lado para outro, fazendo as últimas compras para o Natal.
Todos voltavam para casa carregados de embrulhos,
doces… garrafas de bebidas. Mas ninguém se interessava pelos chapéus.
Baltazar pensou:
- Não foi uma grande ideia, a que eu tive. Neste dia
quem é que vai pensar em comprar um chapéu?
Mas não desistiu. Todo o dia palmilhou a cidade, apregoando
a sua mercadoria. Pensava em Benvinda, que em casa o aguardava, e só isso lhe
dava forças para continuar, apesar do enorme cansaço.
Mas não conseguiu vender um único chapéu.
A noite aproximava-se rapidamente e Baltazar,
convencido de que não valia a pena insistir mais, guardou os chapéus e iniciou
o caminho de regresso.
Quando saía da cidade começou a nevar. O frio
entrava-lhe através da roupa, mas ele continuou a caminhar pelo campo coberto
de neve.
De repente avistou seis duendes, todos encostados
uns aos outros, tremendo. Já havia neve nas suas cabeças, que lhes respingava
para os rostos.
Condoído, Baltazar não hesitou um momento. Passou a
mão na cabeça dos duendes para retirar a neve, e em seguida cobriu-os com os
chapéus, que não havia vendido.
Mas só tinha cinco chapéus, e os duendes eram seis…
Tirou o que ele próprio usava e com ele tapou a
cabeça do sexto duende.
- É um chapéu velho e sujo… mas não tenho outro… -
comentou Baltazar.
Não obteve qualquer resposta pois os duendes não
falam com pessoas.
O velhinho retomou o seu caminho.
Ao chegar a casa a sua cabeça estava de tal modo
branca com a neve que caíra, que Benvinda se assustou ao vê-lo:
- Mas o que aconteceu, Baltazar? Pregaste-me um
susto! – disse, com voz trémula.
- A verdade é que não consegui vender nenhum chapéu.
Quando regressava encontrei seis duendes e imaginei que estivessem com frio.
Por isso cobri-os com os chapéus. Mas como faltava um… tapei-o com o meu.
Benvinda ficou emocionada com a atitude do marido, e
apenas comentou:
- Foi um gesto muito nobre!
Comeram uns restos que ainda havia na despensa e
foram-se deitar. A roupa da cama era pouca para noite tão fria. Encostaram-se o
melhor possível, tentando transmitir um ao outro o calor dos seus velhos corpos
cansados.
Pouco depois ouviram vozes lá fora:
- “Entrega de Natal! Onde é a casa do vendedor de
chapéus? Abra a porta, vendedor!”
Levantaram-se ambos e abriram a porta, assustados.
Na frente da casa havia muita comida, doces, vinho,
cobertores quentinhos…
Pensaram que estavam sonhando.
Olharam em volta e não viram ninguém. Fixando o
olhar em frente, divisaram seis duendes afastando-se da casa.
Pareceu-lhes ouvir ao longe: - FELIZ NATAL!
Mas foi impressão, porque os duendes não falam com
as pessoas.
Puseram a comida na mesa e festejaram, felizes.
No fim da refeição ajoelharam-se junto à lareira,
puseram pelas costas um dos cobertores recebidos e, de mãos dadas, entoaram
louvores ao Menino Deus que, ainda mal nascido, já fizera um tão grande
milagre!
Maria Caiano Azevedo