Não resisto a
partilhar convosco um caso que se passou comigo na última Primavera.
Como gosto muito de
andar a pé, e sempre que posso faço caminhadas, fui dar um longo passeio pelo
parque que dista cerca de dois quilómetros da minha casa.
A determinada altura
do percurso encontrei uns degraus, cerca de 18 ou 20, por onde eu já tinha
subido há dois ou três anos. Tinha-me esquecido de que são altíssimos, ou seja,
a distância entre um degrau e outro, não deve andar muito longe dos 40 cmts.
Nada de muito grave, se houvesse um corrimão para apoio, que não existe, pois esta
“escadaria” encontra-se numa zona de árvores e os degraus são de terra batida.
Depois da primeira
tentativa vi logo que não conseguiria subir. Para agravar a situação – a minha
falta de ar!
(Para quem não sabe…
eu sofro de asma que, nos últimos dois anos teve um ENORME agravamento devido a
algumas infecções pulmonares que me “atacaram”)
Quando eu olhava, desanimada, para os
degraus que tinha à minha frente, pensando que não conseguiria vencer aquele
obstáculo e a solução seria voltar para trás, surgiram dois rapazinhos pretos, um
mais alto que o outro, que deveriam ter uns 15 a 16 anos.
Perguntaram-me se eu
precisava de ajuda. Imediatamente aceitei, agradecendo. O mais baixo segurou a
minha mão esquerda e, lentamente, fomos subindo. Vi que notava a minha
dificuldade em respirar e por isso achei que devia falar-lhe no meu problema da
asma. Parei no degrau em que nos encontrávamos e expliquei-lhe o porquê da minha
falta de ar.
Ele ouviu atentamente
e depois disse:
- Isso é muito
aborrecido, não é?
Eu respondi:
- Sim, às vezes é
mesmo muito incómodo. Dificulta a respiração e impede-me de fazer esforços. Como
subir estas escadas, por exemplo – concluí, sorrindo.
Ele acrescentou:
- Vamos devagar. Temos
muito tempo. Eu não tenho pressa nenhuma.
Eu agradeci com um
sorriso.
Continuámos a subir. O
conforto daquela pequena mão negra segurando firmemente a minha mão com mais do
quádruplo da idade da sua, transmitia-me uma energia boa, aquecia-me o coração.
Chegados ao cimo da
“escadaria” ficámos uns momentos em silêncio, especialmente para eu normalizar
a respiração.
À despedida não
trocámos emails, nem telefones, nem sequer os nomes… Nada!
Ele apenas me olhou
com o seu maravilhoso sorriso, um ar ligeiramente interrogativo como que a
querer saber se eu já estava bem, e não pronunciou uma palavra.
Eu sorri em
agradecimento. Murmurei “Obrigada!”, aproximei-me e depositei um beijo naquela
face negra de Anjo disfarçado de rapazinho.
Separámo-nos. Cada um
seguiu o seu caminho.
Mas eu JÁ não ia
sozinha…
*****
No Natal que se aproxima e
em todos os dias do ano meditemos nas palavras do poeta João Coelho dos Santos,
no seu poema ENTÃO E EU?
Um santo e feliz Natal para todos