Mesmo correndo o risco de me considerarem fastidiosa, não posso, e não quero, deixar de voltar ao tema Educação.
O assunto não é pacífico, e está longe de o ser.
Será necessária uma viragem de 360 graus.
Mas como, no nosso País, as “urgências urgentes” implicam fracturas expostas…provavelmente só quando estas se verificarem é que serão tomadas medidas para sanar as já existentes
Segundo as últimas notícias terá havido um “aproximar” de posições entre o ME e os sindicatos.
Estas “últimas notícias” já foram transmitidas há uns dias. Daí para cá não se ouviu falar mais no assunto.
Estamos habituados a ver, nas televisões, as mesmas notícias repetidas até à exaustão.
Sobre este assunto fez-se um silêncio sepulcral!
Porque será???
O Professor Pacheco Pereira exprimiu a sua opinião, que vou transcrever, e que, segundo a sua óptica, explica o “acordo” havido.
Considero-o um bom analista. Mas discordo quando diz :
“Os professores que se manifestavam não queriam…nenhuma avaliação de desempenho”.
Pelo muito contacto que tenho com professores tenho que deduzir que esta afirmação não é correcta. Os professores não querem a avaliação nos termos em que foi proposta, apenas.
Vejamos a posição de Pacheco Pereira.
As notícias sobre as grandes cedências do Ministério da Educação aos sindicatos de professores correm o risco de terem sido muito exageradas.
Menezes, Portas, alguns comentadores e blogues vieram logo dizer que o verdadeiro ministro da Educação era Mário Nogueira, da FENPROF, e que Maria de Lurdes Rodrigues era “ex-ministra”.
Depois veio Mário Nogueira, cinco segundos depois, ainda o acordo estava fresco, falar da “grande vitória”, não fossem as pessoas aperceber-se de alguma coisa bizarra e perceber que a avaliação, afinal, continuava mais ou menos como estava.
A frágil ministra aparecia a falar mansamente nas mesmas televisões, dizendo que tinha havido um “acordo” e isso era bom, mas que estava salvaguardado o essencial, a “avaliação estava a fazer-se e ia continuar a fazer-se”.
Mas o que são estas palavras tímidas e quase sussurradas face à tonitruante declaração de vitória sindical, a seguir confirmada pelo espelho da incoerência da oposição, que, sem estudar, nem saber nada do que realmente tinha sido conseguido ou não, sem falar com os professores, veio logo com a conferência de imprensa fácil, declarar que houvera “um grande recuo do Governo” ?
Ora, homem sensato desconfia quando há tanta pressa de correr para a televisão a dizer que se ganhou, e, ainda por cima, em grande.
Homem sensato sabe como funcionam o PCP e os sindicatos, sabe como eles estavam num beco sem saída criado pela sua própria vitória.
Depois de contribuírem para a gigantesca manifestação sabiam que não podiam dar continuidade à “luta” com uma greve, e tinham que recuar.
Homem sensato sabe que, por muito sucesso que a luta dos professores tenha tido, - e teve – a seguir à manifestação viria um refluxo, como veio.
Sabe o homem sensato e sabem, melhor do que ele, os sindicalistas profissionais.
Homem sensato e com memória já viu muitas vezes como, para os comunistas e os seus sindicalistas, o mais importante não são os anéis, são os dedos. Os dedos, aqui, são manter o adquirido, e o adquirido é o reforço dos sindicatos e do PCP na vida pública nacional, pensando também em 2009, ano de eleições.
Nunca, jamais, em tempo algum, organizações mais experientes a dormir, que mil líderes da oposição acordados, sabem que não podem correr o risco de ir mais longe e pôr em causa a percepção de vitória, com aventureirismos ou impasses cujo apodrecimento mostraria as fragilidades sindicais.
O PCP e os seus sindicatos sabem, melhor do que ninguém, que precisavam, como de pão para a boca, de um acordo, e sabiam que o ministério também precisava do mesmo. Um precisava de parecer que ganhava, e o outro de parecer que cedia.
Foi por isso que, de repente, se chegou a um acordo que, pelos vistos, os “professores”, citados pelos jornais, entendem como uma derrota e não como “a grande vitória”. Percebe-se porquê: os professores que se manifestavam não queriam, na sua esmagadora maioria, nenhuma avaliação de desempenho, e vai continuar a haver avaliação.
Eles sabem disso, os sindicatos sabem disso, a ministra sabe disso, o resto é coreografia.
Bastante tempo antes deste “acordo” já o Professor Ramiro Marques havia manifestado a sua apreensão quanto a um possível “entendimento” por parte dos sindicatos.
Para quem não saiba, Ramiro Marques é Professor Coordenador com Agregação da ESE (Escola Superior de Educação) de Santarém.
Autor de várias dezenas de livros escolares desde a década de 80, que vão do pré-escolar ao 12º.ano, escreveu também vários livros relacionados com Educação, (alguns publicados também em Espanha e no Brasil) ,até 2007.
Vejamos agora a preocupação de Ramiro Marques, que parecia adivinhar o que viria a acontecer.
Se os professores desmobilizarem será a desgraça total!
“Inclino-me a pensar que os sindicatos vão, mais uma vez, desmobilizar os professores a troco de coisa nenhuma.
Umas cedências de pormenor, mantendo o modelo tal como está, para dar a ideia de que houve recuo e que todos ganharam. Se assim for (oxalá me engane!), será uma desgraça para os professores.
Com os professores de joelhos, outras malfeitorias virão: fim das pausas da Páscoa e do Natal, escolas abertas e com alunos durante a Páscoa e o Natal, formação contínua aos sábados, etc.
A profissão, tal como a conhecemos, está em vias de acabar. A escola pública vai morrer. As classes alta e média alta vão colocar os seus filhos em colégios privados, e as escolas públicas transformar-se-ão em imensos CEFs onde não se aprende nada, apenas se guardam crianças e adolescentes.
Os professores assistirão ao nascimento de um outro estatuto, ainda pior que o actual: o estatuto de prestadores de cuidados sociais e de empregados domésticos dos pais”.
Ramiro Marques