É NATAL
Os problemas particulares
relacionados com a minha mudança de casa estão, por agora, em “standby”,
devendo manter-se neste estado por mais uns 6 meses, mais ou menos.
E como “um mal nunca vem só” –
como diz o povo 😊
– adoeci ,há cerca de três semanas, com alguma gravidade – uma das minhas
crónicas infecções pulmonares que, de tão “brava” me levou a partir uma
costela, tal a intensidade e violência da tosse. Mas, enfim, o pior já passou,
e com mais alguns dias (ou semanas?) estarei completamente recuperada.
Apesar de tudo não poderia deixar
passar esta época natalícia sem vir dar-vos um abraço e desejar um santo e
muito feliz Natal. E, se não nos “virmos” antes, que o Ano Novo nos traga Paz,
acima de tudo e, se possível, alguma prosperidade.
Deixo-vos um conto que escrevi há
uns anos, esperando que vos agrade.
O
PINHEIRO
- Com tantos anos de vida ainda não
consegui perceber porque me apelidaram de “manso”, Pinheiro Manso – murmurou o
frondoso Pinheiro, voltando as verdes e finas agulhas na direcção de uma
raquítica árvore que se encontrava a pequena distância.
- Ora, porquê! – respondeu a
enfezada. Já tivemos esta conversa tantas vezes! Está muito bom de ver.
Deram-te esse nome porque não tens a braveza dos teus primos, esses altivos pinheiros-bravos,
que não se dão com os baixotes, só querem viver nas alturas…
- Acho essa explicação demasiado
simplista…
- Sabes qual é o teu problema? – continuou
a enfezadita – é quereres sempre saber a razão de tudo. As coisas são porque
são, e pronto. Põe os olhos em mim: és capaz de me dizer porque é que eu sou
assim tão raquítica? Não és, pois não? Eu também não sei, e vê lá se me
preocupo…
- Xiu! – advertiu o Pinheiro.
Aproximam-se pessoas. A conversa tem de ficar para mais logo. Agora cala-te,
que eu faço o mesmo.
E ficaram em silêncio.
Um grupo de jovens caminhava
alegremente em direcção ao Pinheiro.
Um deles, o mais alto, loiro e de
olhos da cor do céu, aparentando ser o líder, abriu os braços ao alto e
exclamou:
- Eu não vos dizia? Este Pinheiro
não é um espectáculo?
- Sim – responderam em uníssono os
outros jovens. Tu és o maior!
- Claro que sou. Por isso sou o
chefe. E é como chefe que vos digo:
- Abram os braços, respirem fundo
este ar puro, aspirem este delicioso cheiro a pinheiro…
E falando assim ele próprio
executava os movimentos que convidava os companheiros a fazerem.
Por breves momentos só se ouvia o
seu respirar profundo. Mas logo de seguida recomeçou a algazarra, rindo e
falando muito alto, como se todos fossem surdos.
Um dos rapazes tinha levado um
“Tablet” e em breve o silêncio da mata se encheu com os sons, em tom altíssimo,
de uma canção em voga. A maior parte deles acompanhou a música em altos berros.
Até os insectos fugiam espavoridos.
Pouco depois o líder disse:
- E se tratássemos das
barriguinhas? a minha já está a roncar…
- Excelente ideia! – responderam em
coro.
E todos, rapazes e raparigas,
abriram as mochilas e retiraram de lá comida, copos de plástico, garrafas de
refrigerantes e até uma toalha de papel, que estenderam cuidadosamente no chão
e nela colocaram o lanche.
Sentaram-se todos em círculo debaixo
da copa densa, arredondada, em forma de guarda-sol, do Pinheiro, e iniciaram o
lanche alegremente.
Eram já cinco horas da tarde,
tinham feito uma grande caminhada para lá chegar, e o almoço há muito tempo
tinha sido digerido. Todos comeram com grande apetite.
Como estava muito calor e a sede
era bastante, rapidamente esvaziaram as garrafas dos refrigerantes.
Saciados o apetite e a sede,
colocaram junto ao tronco do Pinheiro as garrafas vazias, copos, guardanapos… e
até restos de sandes mordiscadas. Estenderam-se no chão, à sombra. Uns
conversando outros dormitando nem deram pelo tempo passar, de tal modo se
sentiam satisfeitos.
O sol começava a esconder-se quando
o líder exclamou:
- Ei, malta! Temos de nos pôr a
milhas! Não se esqueçam de que nos espera uma boa caminhada. Já vamos chegar a
casa de noite…
Puseram-se todos de pé e, sem mais demoras,
iniciaram a descida. Ninguém se lembrou de recolher o lixo que tinham colocado
junto ao Pinheiro.
Ouviu-se um profundo suspiro. O
Pinheiro murmurou, tristemente:
- Já viste, vizinha? Respiraram o
nosso ar puro, sorveram o nosso belo aroma, aproveitaram a minha sombra, nem
sequer respeitaram a paz e o silêncio de todos estes seres que aqui vivem e,
como agradecimento, foram-se todos embora deixando para trás o lixo que
trouxeram com eles…
- Já devias estar habituado,
Pinheiro. É sempre assim…
Algum tempo depois podiam ver-se
numerosas gotas transparentes pendendo das agora escuras agulhas.
- Orvalho – dizia quem passava.
Não, não era orvalho, eram lágrimas
de tristeza.
Lágrimas, sim, que as árvores
também têm sentimentos.
Um grupo de crianças que passava
saltitando alegremente, parou de repente olhando atentamente para o Pinheiro.
- Olhem, olhem, o Pinheiro está a
chorar! Com certeza não vai receber prendas de Natal, e por isso está triste.
A mais velhinha teve uma ideia:
- Vamos levar-lhe estas bolinhas e
fitas. Talvez ele fique contente!
Correram para o Pinheiro e
enfeitaram-no com tudo o que levavam para as suas festas.
O tecido das fitas coloridas
absorveu a humidade das carumas e o pinheiro deixou de chorar.
E os olhos inocentes das crianças viram
o brilho de reconhecimento e gratidão nos olhos do Pinheiro.
Todas as crianças convidaram os
pais para irem ver o Pinheiro que, de tão feliz, irradiava uma luz especial que
iluminava a noite escura.
Os pais olhavam, encantados e ao
mesmo tempo surpresos por nunca terem notado a presença daquela magnífica
árvore.
O amor das crianças operara o
milagre.
E assim o Pinheiro triste transformou-se na Árvore de Natal da aldeia.
Maria Caiano Azevedo