Não, o «Afonsinhos» não veio para ficar.
Tal como informei no final do último post, o texto que apresentei é apenas um excerto daquele que será… talvez… quem sabe?... um dia… um pequeno romance, no qual constarão alguns episódios familiares.
Não se trata de uma biografia, mas da narrativa, mais ou menos romanceada, da vida de pessoas conhecidas e seus ancestrais, e em que, num ou noutro momento, os intervenientes se cruzaram com familiares da autora.
O projecto está, ainda, apenas em embrião, não havendo, de momento, a certeza de se algum dia chegará ao prelo. Foi iniciado há algum tempo mas, perante pedidos (e insistências…) vário(a)s para que eu escrevesse as minhas “memórias” de África, o «Afonsinhos» foi relegado para segundo plano.
Como é do conhecimento de algumas pessoas, por motivos relacionados com problemas de saúde a nível familiar, o tempo de que disponho, por agora, é muito pouco, o que, por um lado tem atrasado as “histórias” de África, e por outro não me tem permitido publicar no blog com a regularidade e pontualidade de que eu fazia questão.
É essa certeza que me dá força para ir continuando, e não fechar o blog, pura e simplesmente.
Mas… voltando ao «Afonsinhos», o que vos queria dizer é que o ‘enredo’ não irá ser publicado, na íntegra, no blog, como aconteceu com o meu primeiro romance. Esse foi apresentado e
m vários episódios (cerca de 50), e só posteriormente decidi transformá-los em livro.
m vários episódios (cerca de 50), e só posteriormente decidi transformá-los em livro.
O «Afonsinhos» começou logo a ser escrito com a intenção de ser publicado. O excerto que aparece no meu último post serviu apenas para vos dar uma ideia do género do que me propus escrever.
Não postei o que será o início da obra, como seria lógico, porque ainda não estava bem delineado. Havia pormenores acerca dos quais eu tinha dúvidas, que entretanto consegui esclarecer.
Vou fazê-lo agora, mostrando-vos o que, na versão final, irá figurar imediatamente antes do trecho que é já do vosso conhecimento. (Agora é que se pode dizer que “pus o carro à frente dos bois”…)
O resto ficará no “segredo dos deuses”…
A SAGA DOS AFONSINHOS (título provisório…)
Na primeira metade do século XIX os senhores de Rebordões, vilarejo nos arredores de Barcelos, possuíam vastas propriedades, uma casa solarenga, e muitos assalariados ao seu serviço.
Naquele tempo, nessa zona, mais do que em qualquer outro ponto do País, as condições da vida do povo eram semelhantes às da Idade Média.
Havia um “senhor feudal” que em tudo mandava, possuidor de todas as terras num raio de vários quilómetros.
O analfabetismo reinava entre o povo; eram raríssimas as pessoas que sabiam soletrar algumas palavras.
Trabalhavam de sol a sol nas terras do “fidalgo” que, ao contrário da generalidade dos outros proprietários, era pessoa de bom coração que não faltava com o pagamento, ao qual por vezes juntava alguma ajuda, principalmente quando sabia que havia doença na família do trabalhador.
Ninguém sabia ao certo o seu nome; todos o conheciam pelo “senhor de Rebordões”, e quando se lhe dirigiam tratavam-no por “fidalgo”.
Fora registado com o nome de Rodrigo de Rebordões. No seio familiar era tratado por Rodriguinho, obedecendo a um hábito muito vulgar no Norte do País, principalmente naquela época, em que as terminologias “inha” e “inho” eram sinal de respeito e deferência.
Sua esposa, Dona Teresa – dona Terezinha, como era tratada – era uma senhora muito bondosa, de saúde débil, que dedicava muito do seu tempo a visitar as mulheres que haviam sido mães.
Acomodada na sua charrete, percorria as terras de sua pertença, o que, por vezes, demorava horas. As distâncias eram relativamente grandes, especialmente para aquele meio de transporte e os rudes caminhos que havia a percorrer.
Às parturientes levava “mimos”, frutas e bolos a que, de outro modo, nunca teriam acesso; dava-lhes indicações sobre a forma de tratarem melhor os seus bebés, aos quais oferecia casaquinhos e carapins tricotados por si mesma. Nunca se esquecia de levar uma guloseima para os mais velhinhos, geralmente “confeitos”, uma espécie de rebuçados redondos, de superfície não lisa mas irregular, com “altos e baixos”, de cores variadas, feitos com açúcar e farinha. Para as crianças era uma verdadeira festa.
Dona Terezinha era adorada por toda a gente.
Carregava consigo um grande desgosto: não poder oferecer ao marido mais filhos, além do único que tinham.
Depois de uma gravidez bastante atribulada Dona Tereza dera à luz um belo rapaz que era o orgulho dos pais. Na altura o médico, amigo da família, vindo directamente do Porto para acompanhar a gestação, aconselhara a evitar futuras gravidezes, que poderiam pôr em risco a vida da Dona Tereza.
Por muito que gostasse de ter mais filhos, o marido opunha-se terminantemente a sacrificar a esposa, que adorava.
Seu filho único foi baptizado com o nome de Pedro Afonso.
Sendo o “ai Jesus” da família e dos trabalhadores que o apaparicavam ao extremo, passou a ser o menino Afonsinho, nome que carregou até depois de adulto, transformando-se então no “senhor Afonsinho”.
Sabendo-se como trabalhavam os registos naquele tempo, não é de estranhar que, quando contraiu matrimónio, figurasse no livro de registos como Pedro Afonsinho.
O linho cultivava-se por toda a região do Minho, mas talvez com maior incidência na zona de Barcelos. As fábricas de fiação e tecelagem começavam a proliferar.
O senhor de Rebordões ligou-se a uma fábrica de têxteis, que existia em Braga, aumentando consideravelmente o seu património.
(Segue-se o que é já do vosso conhecimento: