A BARATA
“A barata diz que tem…sapatinhos de veludo”Eu acredito que tem mesmo!
“É mentira da barata O pé dela é que é peludo”Também pode ser isso…
Por um motivo ou por outro, a verdade é que o seu caminhar é suave e leve, causando a sensação de veludo ou seda a deslizar na pele.
Foi assim que apanhei um tremendo susto, e só não comecei a gritar a plenos pulmões porque me encontrava dentro dum edifício de culto.
A cena passou-se há uns anitos (poucos!!!), quando eu estava grávida do meu primeiro filho.
Jovenzinha, casada havia cinco meses e gestante de três, aconteceu encontrar-me em Lisboa, procurando casa para alugar.
Nos dias que decorreram até conseguir esse intento, o que demorou umas duas semanas, pernoitávamos numa pensão baratucha, que o dinheiro não chegava para mais.
Foi uma época emocionalmente complicada. O meu estado, só por si, originava uma extrema sensibilidade. O facto de andar um dia após outro de pé dum lado para outro à procura de casa, causava-me um cansaço enorme e consequente irritação.
Levantava-me ainda com as luzes da rua acesas porque o marido tinha que se apresentar cedo ao serviço. Para não ficar sozinha na tal pensão baratucha, saía da cama à mesma hora que ele e seguia para casa de uma tia, onde, sentada no sofá, completava o sono interrompido. Depois de lá tomar o pequeno-almoço ia comprar o jornal e via os anúncios de casas para alugar. Quando havia alguma coisa que me parecia poder interessar a minha tia ia comigo ver.
Finalmente conseguimos descobrir uma casa que nos servia e cujo preço podíamos aguentar.
Como decorreram seguramente duas semanas nestas andanças, resultou que apanhamos um sábado e um domingo a ter que dormir na pensão. O quarto era bastante modesto e não primava pela limpeza. Para além da mobília habitual havia um cabide fixo à parede, onde dependurávamos os casacos.
Isto passava-se em Fevereiro, e nesse ano o inverno foi bastante rigoroso. Eu usava um casaco comprido, de fazenda grossa; e com uma camisola de lã por baixo, sentia-me confortável.
À chegada à pensão os casacos eram postos no tal cabide, e aí passavam a noite.
No domingo resolvemos ir à missa.
Havia uma igreja relativamente perto para onde nos dirigimos.
Ficamos em dois lugares da coxia, eu no lugar de fora, junto ao corredor central.
Alguns minutos depois de lá estar comecei a sentir qualquer coisa mexer no meu braço, por dentro da roupa, junto à pele. O meu coração deu um salto, sem saber o que poderia ser. Alguma pulga, talvez…
Mas a sensação não era bem essa, parecia-me ser algo maior.
Sacudi o braço para o lado do corredor, e vejo uma barata enorme a correr por ali fora.
Não sei como consegui reprimir um grito.
Contrariamente ao que é habitual nas mulheres, os ratos não me fazem a mínima impressão, mas as baratas causam-me horror. Parece alergia. Não as suporto!
Podem, por isso, imaginar como ficou o meu pobre coração à vista daquela «baratona», que depois de passear no meu braço, corria feliz e contente pela nave central da igreja!
Nos poucos dias em que, depois desta cena, ainda tivemos que dormir na pensão, nunca mais vesti o casaco sem antes lhe dar uma valente sacudidela.
BARATA
A barata diz que tem
Sapatinhos de veludo
É mentira da barata
O pé dela é que é peludo
AH, AH, AH, EH, EH, EH
O pé dela é que é peludo
A barata diz que tem
Uma cama de marfim
É mentira da barata
Ela dorme é no copim
AH, AH, AH, EH, EH, EH
Ela dorme é no copim
A barata diz que tem
Sapatinhos de fivela
É mentira da barata
AH, AH, AH, EH, EH, EH
Os sapatos não são dela