ACÇÃO SOCIAL
Poucos meses depois de aqui chegarmos consegue-se uma casa com meia dúzia de quartos para onde se mudam as famílias. Funciona como messe.
A cada casal é atribuído um quarto, maior ou menor consoante o número de filhos.
Uma pequena cozinha serve apenas para preparar comida para os mais pequeninos.
As refeições são tomadas numa sala separada da casa, que tem as paredes de rede por causa dos mosquitos e outros insectos que, à noite, aparecem aos milhares, atraídos pela luz.
A cada casal é atribuído um quarto, maior ou menor consoante o número de filhos.
Uma pequena cozinha serve apenas para preparar comida para os mais pequeninos.
As refeições são tomadas numa sala separada da casa, que tem as paredes de rede por causa dos mosquitos e outros insectos que, à noite, aparecem aos milhares, atraídos pela luz.
Aqui comem não só as famílias mas também os solteiros. É uma sala espaçosa que comunica, por um passadiço coberto, com uma enorme tenda onde funciona a cozinha. Aí, um cozinheiro e dois ajudantes, preparam a comida para vinte ou trinta pessoas.
Estamos bem situados. A uns quinhentos ou seiscentos metros encontra-se a praia. Atravessamos um capinzal, e deparamo-nos com um areal extenso, de areia branca e fina, e uma água maravilhosa, de temperatura agradável, onde mergulhamos uma e outra vez,
e as crianças se divertem em segurança.
Estamos bem situados. A uns quinhentos ou seiscentos metros encontra-se a praia. Atravessamos um capinzal, e deparamo-nos com um areal extenso, de areia branca e fina, e uma água maravilhosa, de temperatura agradável, onde mergulhamos uma e outra vez,
Com os homens todo o dia ocupados nas suas acções, as mulheres passam os dias cuidando dos filhos. Dos trabalhos domésticos, que se resumem a pouco mais do que tratar das roupas, já que vivemos numa espécie de comunidade, tratam os criados.
Deste modo, temos muito tempo livre – tratar das crianças não ocupa o dia todo.
Há dias estávamos a conversar e surgiu-nos a ideia de fazer como que um complemento à acção dos homens – prestar assistência aos necessitados.
Perante alguma surpresa nossa, os homens concordam com a ideia.
Recorremos a quem de direito para nos arranjar transporte a fim de visitarmos as senzalas. Foi posto à nossa disposição um jipe com motorista, que, nas picadas esburacadas, nos faz bater com a cabeça na capota.
Deste modo, temos muito tempo livre – tratar das crianças não ocupa o dia todo.
Há dias estávamos a conversar e surgiu-nos a ideia de fazer como que um complemento à acção dos homens – prestar assistência aos necessitados.
Perante alguma surpresa nossa, os homens concordam com a ideia.
Recorremos a quem de direito para nos arranjar transporte a fim de visitarmos as senzalas. Foi posto à nossa disposição um jipe com motorista, que, nas picadas esburacadas, nos faz bater com a cabeça na capota.
Mas, todas jovens e imbuídas duma enorme vontade de colaborar, não são uns miseráveis buracos que nos vão fazer desistir.
A primeira coisa a fazer é tentar arranjar ajuda, de preferência em dinheiro, para comprar o necessário (mantimentos, medicamentos, eventualmente roupa para os bebés) para distribuir pelos necessitados.
Esta é a parte mais difícil e custosa, e só o nosso espírito de jovens com grande vontade de socorrer quem precisa nos dá força para a enfrentar.
Percorremos as ruas da cidade batendo às portas das casas, explicando ao que vamos, qual o nosso propósito, pedindo, enfim, uma ajuda.
Se há pessoas, (a maioria, felizmente) que nos recebem bem, compreendem os nossos motivos e nos dão o que podem ou querem, outras há que chegam a ser malcriadas. Houve um homem que foi especialmente mal-educado, dizendo-nos que “fôssemos mas é para casa cuidar dos maridos”, e “esses madraços (referia-se aos pretos) que vão mas é trabalhar”.
No final, o saldo é positivo.
Depois de nos abastecermos do que sabíamos que eles mais apreciavam – sal, por exemplo, que eles têm dificuldade em conseguir – percorremos as senzalas, vendo quem é mais pobre e precisa de auxílio, assim como verificando se há doentes.
Uma das componentes do grupo é enfermeira e sabe, melhor do que nós, detectar a doença e calcular a sua gravidade.
Levamos connosco aqueles medicamentos mais básicos, como aspirina ou qualquer outro analgésico. Para os outros casos falamos depois com o médico, explicando os sintomas, e no dia seguinte levamos os medicamentos que ele indica. Em casos mais graves, raros, levamos o doente para o hospital, cujo director faz o favor de apoiar a nossa causa.
Um dia encontramos um homem doente, já velhote, com cabelos brancos, a quem perguntamos quantos anos tem:
- Não sabe, senhora. Tem muitosssssssss!
De seguida pedimos que nos diga o que sente, o que o incomoda, e ele lá explica o melhor que sabe. É um dos tais casos que teremos que relatar ao médico. Este aconselha um medicamento em supositórios que, no dia seguinte, levamos à palhota.
E agora, como explicar ao homem como tomar, ou antes, não tomar ;) os supositórios? Foi complicado. Empurramos umas para as outras, até que decidimos, por unanimidade, eleger a enfermeira para executar essa tarefa.
Ela procurou escusar-se mas por fim teve que o fazer. Experimentou mil gestos, mas o velhote não dava sinais de estar a compreender. Foi salva por uma criancinha pequena que apareceu. Agarrou-a rapidamente, pô-la sobre os joelhos com o rabito voltado para cima, e indicou ao velhote onde deveria colocar o supositório.
Mas não se esqueceu de frisar que não era na criança, mas sim nele, que os devia aplicar.
O velhote abriu a boca desdentada numa enorme gargalhada.
Acabámos todas a rir.
A primeira coisa a fazer é tentar arranjar ajuda, de preferência em dinheiro, para comprar o necessário (mantimentos, medicamentos, eventualmente roupa para os bebés) para distribuir pelos necessitados.
Esta é a parte mais difícil e custosa, e só o nosso espírito de jovens com grande vontade de socorrer quem precisa nos dá força para a enfrentar.
Percorremos as ruas da cidade batendo às portas das casas, explicando ao que vamos, qual o nosso propósito, pedindo, enfim, uma ajuda.
Se há pessoas, (a maioria, felizmente) que nos recebem bem, compreendem os nossos motivos e nos dão o que podem ou querem, outras há que chegam a ser malcriadas. Houve um homem que foi especialmente mal-educado, dizendo-nos que “fôssemos mas é para casa cuidar dos maridos”, e “esses madraços (referia-se aos pretos) que vão mas é trabalhar”.
No final, o saldo é positivo.
Depois de nos abastecermos do que sabíamos que eles mais apreciavam – sal, por exemplo, que eles têm dificuldade em conseguir – percorremos as senzalas, vendo quem é mais pobre e precisa de auxílio, assim como verificando se há doentes.
Uma das componentes do grupo é enfermeira e sabe, melhor do que nós, detectar a doença e calcular a sua gravidade.
Levamos connosco aqueles medicamentos mais básicos, como aspirina ou qualquer outro analgésico. Para os outros casos falamos depois com o médico, explicando os sintomas, e no dia seguinte levamos os medicamentos que ele indica. Em casos mais graves, raros, levamos o doente para o hospital, cujo director faz o favor de apoiar a nossa causa.
Um dia encontramos um homem doente, já velhote, com cabelos brancos, a quem perguntamos quantos anos tem:
- Não sabe, senhora. Tem muitosssssssss!
De seguida pedimos que nos diga o que sente, o que o incomoda, e ele lá explica o melhor que sabe. É um dos tais casos que teremos que relatar ao médico. Este aconselha um medicamento em supositórios que, no dia seguinte, levamos à palhota.
E agora, como explicar ao homem como tomar, ou antes, não tomar ;) os supositórios? Foi complicado. Empurramos umas para as outras, até que decidimos, por unanimidade, eleger a enfermeira para executar essa tarefa.
Ela procurou escusar-se mas por fim teve que o fazer. Experimentou mil gestos, mas o velhote não dava sinais de estar a compreender. Foi salva por uma criancinha pequena que apareceu. Agarrou-a rapidamente, pô-la sobre os joelhos com o rabito voltado para cima, e indicou ao velhote onde deveria colocar o supositório.
Mas não se esqueceu de frisar que não era na criança, mas sim nele, que os devia aplicar.
O velhote abriu a boca desdentada numa enorme gargalhada.
Acabámos todas a rir.