Hoya carnosa – seu nome técnico – faz-nos lembrar que a sua folhagem é, de facto, carnuda, sem qualquer atractivo especial além
daquele que possuem todas as plantas, para quem gosta de plantas.
A grande beleza reside nas flores.
É muito interessante acompanhar o ciclo da sua floração, desde que
aparecem os pequeninos cachos de pecíolos com botões,
São flores que se mantêm viçosas durante bastantes dias; quando
começa a aproximar-se o fim, formam, a partir do centro, umas gotas de um
líquido transparente, semelhantes a lágrimas, que escorrem depois pelas pétalas
e caiem para o chão.
Disse-me a minha empregada, Lina, que na terra dela lhes chamam
“lágrimas de Nossa Senhora”.
Trouxe-a para casa – comprei-a num horto – há já uns anos, não posso precisar
quantos.
Pelo aspecto viçoso das folhas e pequena estatura – teria uns
trinta cinco a quarenta centímetros de altura – via-se que era uma planta muito
jovem.
Adaptou-se lindamente à sua nova casa, e a breve trecho erguia os
ramos em direcção ao céu. Era altura de começar a guiá-la por um fio que lá
coloquei para o efeito.
Prontamente iniciou o seu ciclo de floração, mimoseando-me com
flores belíssimas.
Esta orgia de flores manteve-se por alguns anos.
A determinada altura comecei a notar a sua falta de flores. Pura e
simplesmente tinha desistido de me brindar com a sua linda prole.
Continuava com as folhas viçosas, em nada denunciando a sua
provecta idade, excepto na falta de procriação.
Continuei a tratá-la com o carinho de sempre, conformada com a sua
aposentadoria.
Um belo dia a Lina trouxe-me uma planta de flor de cera que ela
reproduzira a partir de outra que tinha em casa.
Colocámo-la ao lado da antiga, distanciada cerca de 40 centímetros. Mais ou menos um mês depois a segunda planta, perfeitamente adaptada ao novo lar, começou
a florir.
Surpreendi esta conversa da Lina com as plantas:
- "Vês? Não quiseste dar mais flores e a tua mamã arranjou outra
para o teu lugar."
Deduzi que ela falava com a planta mais velha.
Não denunciei a minha presença, mas fiquei a saber que ela também
falava com as plantas. Afinal não era só eu…
Senti-me um pouco mais “normal”.
Tenho por hábito todas as manhãs ir à varanda visitar as minhas
plantas, regá-las se têm falta de água, retirar alguma folha seca e, confesso,
também converso com elas. Até lhes acaricio levemente as folhas, enquanto
converso.
Alguns dias passados a Lina foi à varanda e chamou-me, toda
alvoroçada:
- "Senhora! vem cá ver uma coisa."
Lá fui, e vi que a velha planta de cera estava em flor. Fiquei
admirada, pois estava convencida que o seu período de floração havia terminado
irremediavelmente. Senti-me muito feliz. A minha velha plantinha, afinal, ainda
conseguia brindar-me com as suas lindas flores.
Acariciei-a ao de leve e agradeci-lhe a alegria que acabava de me
proporcionar.
Do alto da sua sabedoria singela, a Lina falou:
- "Sabe, senhora, no outro dia eu estive a envergonhá-la; disse-lhe
que a senhora agora ia gostar mais da nova do que dela. De certeza ela
entendeu, e com medo que a senhora a deitasse fora resolveu dar flores outra
vez."
Será que foi isso mesmo que aconteceu?
As pessoas mais simples, por vezes, têm percepções que escapam ao
mais comum dos mortais.
Será que, tal como acontece com algumas pessoas, também as plantas
precisam de estímulo?
Há pessoas que, face a contrariedades que surgem, entregam-se ao desânimo
e levam uma vida tristonha, sem objectivos…
Todos sabemos que, com algumas pessoas, isto é assim mesmo, precisam ser
estimuladas para mostrarem do que são capazes.
Precisam ser incentivadas, ‘espicaçadas’, “metidas em brios”, para
reagirem e voltarem a ter fé nas suas capacidades.
Acredito na necessidade objectiva do estímulo. Ele é, muitas vezes, a mola
impulsionadora fundamental para ultrapassar a inércia.
Um exercício simples, que pode ajudar muito, é tentar fazer o que tivermos
medo de fazer. Vencer essa resistência torna-nos mais fortes, conduz-nos à vitória.
É necessário ter um ideal
na vida, um sonho, e para realizá-lo é preciso conservar os olhos fixos nele, lutar
sempre pelo que se deseja, e acreditar que isso é possível - só quem luta
merece recompensa, e dos fracos não reza a História.
A Esperança prova que há um sentido oculto na Existência. A Vida é
demasiado importante para que não tentemos enfrentar os seus obstáculos, pois
eles não têm metade da força que aparentam ter.
Deixemos que a nossa luz interior nos conduza, pois todos temos uma boa
estrela a guiar-nos e a ajudar-nos nas adversidades.
PS – A Amiga Nina Filipe gentilmente chamou-me a atenção para um pormenor que me falhou: o aroma da flor de cera.
PS – A Amiga Nina Filipe gentilmente chamou-me a atenção para um pormenor que me falhou: o aroma da flor de cera.
De
facto esqueci-me de referir essa particularidade.
A
flor de cera tem um perfume diferente das outras flores, muito forte, semelhante,
talvez, ao perfume de jasmim…, que se faz sentir sobretudo de noite.
O
meu quarto de dormir comunica directamente, por uma porta envidraçada, com a
varanda onde tenho as flores de cera. Mantenho essa porta aberta, mesmo durante
a noite, principalmente no Verão.
Quando
a flor de cera está em flor, à noite tenho que fechar a porta - o perfume da
flor de cera é de tal modo intenso que me custa respirar.
Um “Obrigada!”
à Amiga Nina Filipe pela chamada de atenção.