segunda-feira, 1 de março de 2021

LIVRO EM CONSTRUÇÃO - SEGREDOS XXVII

 Começo por agradecer a todas as pessoas que, durante a minha ausência, gentilmente se interessaram pela minha saúde e apresentaram votos de melhoras.

Agradeço igualmente a quem parabenizou esta minha/vossa “CASA” pela passagem do seu 13º. Aniversário. Infelizmente não pude estar presente, mas a minha querida amiga Líria representou-me (e penso que muito bem) fazendo-me a surpresa de uma postagem nessa data – 14 de Fevereiro.

Peço, por isso, que me permitam agradecer-lhe aqui, publicamente, por todas as provas de grande amizade que me deu nestes tempos complicados por que passei. Obrigada, minha querida amiga irmã!

 

Posto isto… vou partilhar convosco as últimas confidências da Nanda, cuja história se aproxima da recta final.

Quando chegar o FIM – mais 2 ou 3 capítulos – veremos se é também chegado o FIM da CASA DA MARIQUINHAS.  Treze anos é muito tempo e “é preciso dar lugar aos novos”.

VEREMOS!

 

 

SEGREDOS – CAPÍTULO XXVI


  "- Resolvi ligar-te eu porque vou já deitar-me – respondeu Bela, com voz desgostosa. Amanhã tenho de levantar-me cedo. O meu pai vai ser julgado, e eu quero ir ao tribunal.

- Tem calma, meu anjo. O que tiver de ser… será. Nada podes fazer para o evitar. E não te apresentes lá com um ar muito preocupado, para não o afligires ainda mais…

- Vou tentar. Até amanhã, querida. Depois falamos.”

 SEGREDOS – CAPÍTULO XXVII  

 Depois de uma noite reparadora no confortável quarto de hóspedes e de um revigorante duche, Giuliana saiu de casa e foi até à pastelaria tomar o pequeno-almoço. Não quisera servir-se do que havia no frigorífico para não estar a abusar…

De seguida apanhou um táxi e dirigiu-se para a Torre do Tombo onde iria efectuar consultas para a investigação que tinha entre mãos. Pelo caminho ia pensando que precisava informar-se acerca dos autocarros, pois não podia ir e vir todos os dias de táxi. A mesada que o pai lhe dava era razoável, mas não podia pôr-se a gastar “à grande e à francesa”, senão num instante ficava arruinada.

Tinha combinado com Nanda encontrarem-se ao meio dia para almoçarem juntas. Esta primeira manhã não iria render-lhe muito nas averiguações já que se levantara mais tarde do que lhe era habitual; mas o seu corpo tinha reclamado descanso, e ela fizera-lhe a vontade.

À hora aprazada chegou à ourivesaria. Cumprimentaram-se com um sorriso, e foram almoçar.

Trocaram impressões acerca de como tinham decorrido as suas manhãs. No meio da conversa Giuliana gabou o croissant que tinha comido ao pequeno almoço no café perto de casa. Logo Nanda ficou alerta, perguntando se no frigorífico não encontrara nada que lhe agradasse. A resposta da sua recente amiga – “que não quisera abusar” - indignou-a.

- Afinal, somos amigas ou não? Achas que eu ia receber-te em minha casa, quase como uma filha, e não queria que tomasses lá o pequeno almoço?

O tom em que falara e o rosto sombrio assustaram Giuliana.

- Mas, Nanda, eu não fiz por mal, acredite, só que não me senti à vontade para estar a mexer nas suas coisas.

- Pois eu te digo, se não queres que a nossa amizade termine aqui e agora, vais me prometer que não voltas a fazer tal coisa. Tens de te sentir na minha casa como se ela fosse tua – disse em tom mais ameno.

Giuliana não se conteve: levantou-se e, colocando-se atrás da cadeira, deu-lhe um forte abraço. Nanda ficou logo de bom humor.

Continuaram conversando até que a jovem fez referência à gravidez de Farida. Nanda, com ar espantado, respondeu que pensava que esse assunto era segredo, pois fora isso que Miguel lhe dera a entender. E recorda a conversa do dia anterior, que tivera com o filho e a nora:  

“- Mãezita, vamos-te contar um segredo. Porque pensas que viemos cá?

- Então não foi para fazerem o passeio ao Norte?

- Sim, também,  mas viemos essencialmente porque queríamos dar-te a novidade de viva voz.

- Mas…?

- Sim, tu não sabias de nada, claro, como poderias saber?!

- Mas tu…

O olhar de Nanda saltita entre Miguel e Farida.

O seu André, o seu menino, pai?

E fica sem jeito, e fica num sobressalto, e…?

E lança-se ao pescoço do filho. E beija-o, e abraça-o, e chora numa imensa alegria, tal como teria feito há uns anos.

- Então mãe, não é caso para chorar!

Nanda seca as lágrimas, ergue a cabeça, ensaia um sorriso.

Farida assiste, quieta, orgulhosa. E é a sua vez de receber beijos e abraços efusivos da sogra.»

- Sim, Farida não quer que a notícia se espalhe enquanto não completar os três meses – esclareceu a jovem - mas entre nós não há qualquer segredo. Tal como consigo – acrescentou.

De repente, Giuliana teve uma ideia que verbalizou:

- Nanda, estava aqui a pensar que podíamos ir até ao Norte, fazer uma surpresa ao Miguel e à Farida…

- É uma ideia atraente, não digo que não… mas sabes que eu não posso ausentar-me assim sem mais nem menos…

- Sim, eu sei, mas se fôssemos no sábado de madrugada,  conseguíamos passar lá  quase três dias, já que na segunda-feira é feriado… Podíamos regressar só à tardinha, para aproveitarmos bem o dia…

- Pois, mas sábado é dia de trabalho…

- E será que não consegue uma dispensa? Afinal… o seu filho não vem cá todos os dias… merecem estar juntos algum tempo… Que lhe parece?

- Parece-me que tu és um verdadeiro demónio tentador – riu Nanda. Mas acho que tens razão. Vou ver se consigo falar com o engenheiro.

- TEM mesmo de falar! – acrescentou Giuliana em tom firme.

Nanda sorriu, lembrando-se que Alessandro tinha esta mesma expressão quando lhe pedia alguma coisa.

Abanou a cabeça, como que para afastar os pensamentos, e prometeu fazer o que ela lhe pedia.

Claro que para cumprir aquele projecto teriam de ir de carro, não poderiam estar sujeitas a horários de comboios.

Afinal… parece que fora melhor que o Miguel não tivesse levado o carro. Seria isto algum sinal? Ela não era nada supersticiosa, mas ultimamente andavam a acontecer-lhe coisas muito estranhas…

Os dois dias que faltavam para o fim-de-semana passaram a correr, Giuliana nas suas consultas na Torre do Tombo e Nanda preparando-se para a viagem. Teria de levar roupas menos frescas, as temperaturas no Norte eram um pouco mais baixas do que cá e não queria constipar-se. O melhor era fazer uma lista das coisas que precisava levar, não fosse esquecer-se de alguma coisa importante. Andava tão excitada como uma adolescente que vai ter o primeiro encontro.

Finalmente chegou o sábado!

Levantaram-se com o céu ainda escuro, carregaram o carro, e puseram-se a caminho. Como queriam fazer surpresa ao Miguel nada lhe tinham contado dos seus planos, embora tanto ele como Farida lhe ligassem todos os dias pelo telemóvel.

Quando estivessem próximo do Porto então lhe diriam, para saber onde ele estava e combinarem o local de encontro.

Pararam duas vezes pelo caminho para ir à casa de banho e tomar café.

A viagem estava a decorrer muito bem. Apesar de ser sábado, dia em que muitas pessoas aproveitam para passear, como era muito cedo havia pouco trânsito. Assim, pouco depois das dez horas estavam já nos Carvalhos, a cerca de 15 quilómetros do Porto.

Fizeram uma breve paragem, para que Nanda telefonasse a Miguel. Este ficou espantadíssimo, mas também radiante, quando a mãe lhe disse onde ela e Giuliana estavam. De imediato combinaram encontrar-se no Café Magestic, um dos poucos lugares de que ela se lembrava por ter lá estado uma vez com os pais, há muitos anos, numa passagem muito breve pelo Porto.

Meia hora depois já Miguel abraçava calorosamente a mãe e a sua amiga Giuliana. Aproveitaram para tomar mais um café e descansarem um pouco da viagem. Nanda perguntou:

- E onde está a minha querida nora? -  Agora que está grávida, mais querida ainda?

- A Farida ficou a descansar, não se sentia muito bem. Foi até por isso que viemos passar o fim-de-semana aqui no Porto. Na segunda-feira ainda vamos até Amarante e ao Marão, para ela conhecer. Dormimos lá na Pousada e na quarta ou na quinta-feira vamos para baixo, e depois até ao Algarve. O André e a Sara, a mulher, vão connosco. Os pais dele estão lá, têm uma casa em Armação de Pêra.

- Mas há algum problema com a Farida? Ou é só a indisposição normal do seu estado?

- Penso que é apenas isso. Ela não se queixa de nada, a não ser dos enjoos, especialmente de manhã, ao levantar. De qualquer modo achei melhor que fosse vista por uma médica amiga do André, que se prontificou logo a observá-la. Disse que está tudo lindamente.

- Sendo assim… não há motivos para preocupação. Normalmente, ao fim de dois ou três meses os enjoos passam.

- Esperemos que sim. E agora, se já se recompuseram, podemos ir andando, não?

 - Claro que sim, mas, se não te importas, podíamos passar antes por um hotel que não seja muito caro para marcarmos quarto. Até podemos deixar lá as malas…

- Nem pensar – respondeu prontamente Miguel. Trago ordens expressas do André para as levar para casa dele. Dele, é como quem diz, dos pais… pais adoptivos, é claro.

- Ai o Miguel é filho de pais adoptivos? - Perguntaram ambas ao mesmo tempo.

Nanda olhou para Giuliana com um ar interrogativo, e esta esclareceu-a:

- Eu conheci o André há muito pouco tempo, quando ele foi com a mulher lá à Bélgica. Apenas sei que é casado, português… e pouco mais. Mas posso garantir-lhe que é muito simpático. Estive com ele apenas algumas vezes, mas temos muitas afinidades.

Engraçado, agora que penso nisso… é como se o conhecesse há anos!

- Acredito que seja simpático, mas não me parece muito boa ideia irmos para casa duma pessoa que eu não conheço…

- O André não me perdoaria se não vos levasse comigo. Os pais, adoptivos ou não - disse Miguel com um sorriso – estão no Algarve, e a casa é enorme! São pessoas de muito dinheiro que, para seu grande desgosto, nunca puderam ter filhos. Inscreveram-se num desses locais para adopção e tiveram a sorte de lhes “calhar na rifa” um bebé recém-nascido – como diz, por brincadeira, o André.

Foi muita sorte tanto para ele, que é uma pessoa óptima, como para os pais, que realizaram o sonho de ter um filho, demais a mais com poucos dias de vida.

E agora vamos embora, que eles estão à nossa espera. Podemos ir no carro porque a casa tem garagem.

Encaminharam-se para a Avenida da Boavista e, a certa altura, cortaram à direita, na Rua S. João de Brito, estacionando o carro em frente a uma bela mansão.

Miguel saiu rapidamente do carro e, com um sorriso, abriu a porta para a mãe sair, estendendo a mão como que à espera de gorjeta.

Nanda deu-lhe um piparote na cara e os três soltaram uma gargalhada. Foi a forma que ele arranjou para descontrair a mãe, que sabia estar um pouco tensa.

Miguel tocou à campainha e Sara veio abrir a porta. Ali mesmo lhe apresentou a mãe, após o que se dirigiram à sala, onde se encontravam a Farida, e o amigo, André.

A nora abraçou-a com ternura e voltou-se para lhe apresentar André.

Ao vê-lo Nanda sentiu-se desfalecer. Com uma enorme vertigem só a cadeira onde se apoiou impediu que tombasse no chão.

 

Maria Caiano Azevedo