domingo, 25 de outubro de 2009

ANITA

Após três meses de ausência estou novamente junto de vós, minhas amigas e meus amigos.
Quero agradecer, publicamente, a todos que me visitaram e expressaram os seus votos de melhoras e breve regresso.
Emocionou-me tanta amizade e carinho. Só posso dizer:
- Bem hajam!

E para reiniciar actividades, eis mais um capítulo de Anita.


ANITA – EPISÓDIO XXXII

(Ficção baseada em factos reais)

Mas o destino permitiu que pudessem passar juntos mais uma noite, antes da despedida, o que, ultimamente, poucas oportunidades tinham tido de fazer.

FIM DO.EPISÓDIO XXXI

EPISÓDIO XXXII

Puderam, assim, dar largas ao seu amor. Anita sentiu que não o faziam com o arrebatamento que era usual antes do nascimento de Eduarda.
A verdade é que os seus encontros amorosos ultimamente tinham sido tão rápidos que nem lhe davam tempo para notar qualquer diferença.
Atribuiu o facto ao desespero da despedida eminente e ao estado de nervos em que ambos se encontravam. Mas repetiram as juras de amor eterno manifestando a esperança de que muito brevemente pudessem viver as suas vidas em comum.
Mais tarde, Anita recordaria esta noite como parecendo a de um casal de longa data que se fosse separar por alguns dias.

No meio de toda a azáfama e tantos assuntos a resolver antes da partida, Anita lembrou-se de um pormenor muito importante: os seus filhos não sabiam que o pai não pudera, até então, ausentar-se da ilha, e muito menos os motivos de tal proibição.
Expôs a sua preocupação a Vicente, fazendo-lhe notar o perigo de, à chegada à Capital, algum dos seus amigos aludir ao assunto, e assim se criar uma situação constrangedora.
Vicente concordou de imediato, pedindo a Anita que fosse ela a falar com os filhos, já que o assunto ainda lhe era extremamente doloroso.
Assim, antes de saírem de casa, Anita chamou os filhos ao quarto, onde lhes comunicou que só agora, passados mais de quarenta anos, o pai poderia regressar à sua terra natal, já que, até àquela data, estava impedido de sair da ilha onde se encontrava na condição de preso político.

A viagem decorreu numa grande calmaria, com um mar a que os marinheiros chamam “mar de azeite”.
Foram cinco dias aproveitados para descansar, de que Vicente estava bastante necessitado. Nos últimos dias passados na ilha não fizera qualquer repouso, e o seu estado de saúde ressentira-se.
Agora, que a maior parte da sua tensão nervosa tinha desaparecido, é que se lhe notavam bem os efeitos do cansaço. Era obrigado a, com maior frequência, tomar os comprimidos para as dores.
Finalmente chegados à capital e instalados na casa que o amigo Joaquim se encarregara de lhes alugar, Anita ficou verdadeiramente surpreendida com a quantidade de amigos que apareceram para cumprimentar Vicente, abraçando-o efusivamente.
Deles, Anita conhecia apenas Joaquim, que uma vez fora passar férias à ilha, ficando instalado em sua casa, e com quem sabia que Vicente mantinha correspondência regularmente.

Terminadas as inúmeras visitas, a primeira preocupação de Anita foi descobrir uma equipa médica que pudesse examinar Vicente.
Falando com umas primas afastadas de sua Mãe, elas indicaram-lhe uma clínica onde ele poderia ser observado e fazer todos os exames necessários para se chegar a uma conclusão sobre a sua doença, tratamento e cura; o único problema é que se tratava de uma clínica bastante cara.
Anita imediatamente respondeu que isso não seria problema, pois estava disposta, se fosse necessário, a disponibilizar todos os bens do marido para o tratar.
Ela tinha o seu curso, podia trabalhar, e, quanto aos filhos, interessava-lhe apenas que ficassem com uma “enxada” para ganharem a vida.

De início Vicente mostrou-se bastante reticente em aceitar a sugestão de Anita para consultar um médico especialista. Contudo, ela descobrira a forma de o convencer.
Tinha notado que, sempre que os amigos o visitavam, ele ficava completamente extenuado. As longas conversas entre eles, às quais Anita se mantinha alheia, deixavam-no num estado de enorme excitação e cansaço.
Anita aproveitava todas essas oportunidades para o “ameaçar”:
- Ou vais consultar um especialista que te trate convenientemente e te ponha são como um pêro… ou eu aviso os teus amigos para não voltarem a visitar-te.
Tantas vezes a ameaça foi repetida que Vicente acabou por se convencer. Mas lembrou a Anita que, antes disso, era urgente arranjar uma escola para a sua menina, assim como tratar da ida de Tiago para Inglaterra.

FIM DO EPISÓDIO XXXII