O episódio que vos vou contar passou-se num inverno.
Com uma filha médica, a D. Elvira, depois de passar um dia desesperada com comichão nas costas, resolveu telefonar à filha que morava distante:
- Ai, minha filha, preciso da tua ajuda. Tenho uma coceira nas costas que é um verdadeiro desespero…
- E apareceu-te só hoje, mamã? Comeste alguma coisa que te possa ter provocado alergia?
- Não, minha filha, comi a minha dieta habitual. Sabes que sou muito cuidadosa com a boca…
- Sim, eu sei, normalmente até és… Tens alguma borbulhagem nas costas? Sentes a pele como lixa?
- Não, não sinto nada. E pedi ao teu pai para me ver as costas e ele diz que não nota nada de anormal, excepto os vermelhões que faço ao coçar-me.
- Bom, então vais experimentar a pomada “x”. Aplicas à noite, antes de deitar, e amanhã de manhã, depois do banho.
- Obrigada, minha filha. Vou já à farmácia.
Depois das despedidas a D. Elvira foi à farmácia comprar a pomada e, antes de se meter na cama, pediu ao marido para lha aplicar nas costas. Passou uma noite muito descansada, sem sentir qualquer prurido.
No dia seguinte, depois do banho, repetiu-se a cena da pomada nas costas. No imediato sentiu algum alívio, mas depressa a comichão voltou. E a D. Elvira passou o dia a coçar as costas.
À tardinha telefonou novamente à filha:
- Ai, minha filha, a pomada que me receitaste não deu resultado. Passei o dia a coçar-me como uma desesperada…
- Então, mamã, se continuas com a pele limpa, sem nenhuma borbulhagem, vais experimentar esta outra pomada - a “y”. Com esta de certeza que passa; só não quis receitar-ta ontem porque tem antibiótico, e estava a evitar… Depois levo-te a receita para entregares na farmácia.
A D. Elvira lá foi de novo à farmácia, sua conhecida, e trouxe consigo a nova pomada.
Tal como fizera com a anterior, o marido aplicou-lha nas costas, ao deitar e, no dia seguinte, depois do banho.
O dia seguinte foi novamente um dia de coceira. D. Elvira dizia mal da sua vida. Mal podia esperar pela hora de encontrar a filha em casa para lhe telefonar, o que fez, logo que eram horas para isso.
A filha mostrou-se admiradíssima, e disse-lhe:
- Olha, mamã, nada mais te posso fazer assim à distância. O melhor é ires consultar o médico.
A D. Elvira concordou. No dia seguinte iria ao médico.
À noite, quando estava a despir-se, a D. Elvira deixou cair ao chão a camisola interior que usava naqueles dias tão frios.
Ao apanhá-la reparou numa quantidade enorme de cabelos agarrados à parte de dentro da camisola interior. E comentou para o marido:
- Meu deus, está me a cair imenso cabelo!
E de repente fez-se luz no seu espírito. A comichão!!! Era provocada pelos cabelos!
Sem pensar duas vezes agarrou no telefone e ligou para a filha:
- Minha filha, não imaginas a quantidade de cabelo que me está a cair.
A filha, com voz ensonada:
- Ó mamã, tu acordas-me a estas horas para me dizeres que te anda a cair o cabelo???
- A comichão, minha filha, a comichão! Está descoberto o mistério…
Não obteve qualquer resposta. O único som que veio do outro lado foi um clic do telefone a desligar-se.
Mariazita, Fevereiro de 2010
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