domingo, 28 de dezembro de 2008

PUXA... DEUS...

Puxa, meu Deus... por que é que a gente sofre tanto?
...por que é que o pranto chega sem ser convidado?
Por que é que a vida é feita de desencanto?
Por que o encanto mostra sempre o outro lado?

Puxa, meu Deus, por que é que o sonho se dissipa?
... por que é que a dor se antecipa ao sorriso ?
Por que é, Senhor, que o nosso amor não participa
Da emoção de um coração tão... indeciso?

Puxa, meu Deus, há tanto sonho em cada peito
Insatisfeito, procurando a alegria
Da emoção de ser feliz, quando é desfeito
Todo o desejo de dar vida à fantasia...

Puxa, meu Deus, se a verdade é tão cruel,
Que a gente minta a solidão e, nos espelhos,
A gente veja um anjo vindo lá do céu
E nunca um homem solitário... de joelhos.

Puxa, meu Deus, é muito triste ser adulto
E ver o sonho envelhecer dentro de nós...
Ver os desejos transformarem-se no vulto
Da solidão humanamente tão atroz...

Puxa, meu Deus, há um milagre em cada prece
Que arrefece quando a angústia é poderosa,
Mas teu amor supera a dor que entristece
O nosso amor, quando a tristeza é mais teimosa.

E se o milagre improvável acontece,
Puxa, meu Deus, a sensação que nos invade
É tão bonita que cativa e enternece
O coração com a mais subtil felicidade...

Por isso, Deus... faz com que a gente realize
Nossos desejos de maneira natural
E que o amor que há em ti nos tranquilize
Quando a angústia nos trouxer a dor e o mal.

Que o teu milagre surja sempre em cada irmão
Que nos ensine até mesmo sem querer
Que é no pulsar do mais tristonho coração
Que cada sonho faz o amor sobreviver.

Que cada amigo, cada irmão, cada pessoa
Nos surpreenda e nos faça acreditar,
Que cada sonho é uma alma que voa
Quando a intenção de ser irmão nos faz voar.


Luiz Poeta
Às 19 h e 25 min do dia 25 de Fevereiro de 2007


Luiz Gilberto de Barros – Luiz Poeta - é Director Cultural da Associação Cultural Encontros Musicais, Quinto Académico da Academia Virtual Luso Brasileira de Letras.

Membro da União Brasileira de Trovadores e filiado à Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música ( sbacem-rj ), é poeta, trovador, cronista, contista, artista plástico, compositor, intérprete, violonista e guitarrista, sendo também Professor de Literatura, Língua Portuguesa e Produção de Textos, leccionando actualmente na Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro.

Considera-se um poeta compulsivo, possuindo um acervo literário pessoal de mais de dez mil trabalhos diversificados, incluindo textos em prosa e poesias, tendo sido premiado com a publicação de várias antologias.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

MENSAGENS NATALÍCIAS

Com o post de hoje encerro o ciclo de mensagens natalícias de 2008.
O ano está a terminar, falta apenas uma semana para aparecer o Ano Novo – precisamente de hoje a uma semana.
Falaremos sobre isso ao longo destes dias que restam de 2008.
Entretanto, para despedida do Natal, partilho convosco um conto de Natal, da autoria de Isar Maria Silveira..
E para terminar em verdadeira beleza, aprecie, no final, a belíssima canção de Natal “ O Holy Night”

UM CONTO DE NATAL

Texto de Isar Maria Silveira

Há muitos anos Neimar de Barros (*) visitou minha terra natal, Sant’Ana do Livramento.
Fez uma palestra na Igreja Nossa Senhora do Rosário, a qual minha família frequentava.
Na fria noite, um sábado de Agosto, os bancos todos estavam lotados, e ainda havia gente em pé no fundo do vasto templo.
Todos queriam ouvir o homem que escrevera o livro “Deus Negro”.
E lá estávamos nós: meu pai, minha mãe e eu.

Ao entrar, sob acalorados aplausos, Neimar pediu silêncio, e, antes de iniciar o que iria falar naquela noite, disse:
- Senhores, ao chegar aqui, encontrei um casal muito humilde.
Eles são do interior, não têm parentes na cidade, e vieram em busca de um emprego que foi prometido ao marido.
Ela está grávida e eles não têm dinheiro para pagar um hotel. Precisam ficar na casa de alguém até segunda-feira. Qualquer espaço serve.
Quem de vocês poderia recebê-los?

Fez-se um silêncio profundo.

Lembro do olhar trocado entre meus pais.
Meu pai ergueu a mão e disse que poderiam ficar em nossa casa.

Neimar olhava ao redor como se não tivesse visto o gesto, e ainda esperasse pela manifestação de outra família.

Ninguém mais levantou a mão.

Então o palestrante virou-se para onde estávamos sentados e disse:
- Após a conversa que terei hoje aqui, por favor venham falar comigo.

Neimar discorreu sobre solidariedade, fé, amor ao próximo, e muitos outros assuntos que aqueciam nosso coração e nos faziam pensar em como podíamos ser melhores.
Sensibilizou com suas palavras até os corações mais duros.

Antes do final da palestra chamou-nos até onde estava, abraçou-nos longamente e colocou-se entre nós.
Por fim falou a todos os presentes:
- O casal de que lhes falei são Maria e José.
Apenas esta família, entre tantas aqui presentes, acolheria o Menino Jesus.


Nunca esqueci desse fato.

Hoje me pergunto se eu seria capaz do gesto de meus pais.



*Neimar de Barros era um conhecido produtor de televisão que, na década de 1970, após ter participado num encontro religioso, se tornou pregador e escritor de livros religiosos.
Deixou o trabalho na televisão e, junto com outras pessoas do meio artístico, criou um instituto de missionários leigos católicos que faziam palestras em todo o país.
Os seus livros tiveram grande aceitação, especialmente o beste-seller “Deus Negro”.


Isair Maria Siveira diz, de si própria
- Meu nome: Isar Maria da Fontoura Silveira , gaúcha, mora em Canoas, no RS.
Sou: mãe, profissional, estudante, amante, amiga…são tantas!
Na verdade sou artista, sempre representando um papel.
Visto máscaras conforme a situação e faço da vida um grande palco.
De todos os meus papéis o que me dá mais satisfação é escrever…



Luciano Pavarotti & Placido Domingo - O Holy Night

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

MENSAGENS NATALÍCIAS

Missa do Galo

Frei Betto

Natal é festa polissêmica. De certo modo, desconfortável. Para os cristãos, comemoração do nascimento de Jesus, Deus feito homem. Para a indústria e o comércio, ocasião de promissoras vendas. Para uns tantos, miniférias de fim de ano. Para o peru, dia de finados.

O desconforto resulta da obrigatoriedade de dar presentes a quem não amamos, mal conhecemos ou fingimos amizade. Transferido o presépio de Belém para o balcão das lojas, substituído Jesus por Papai Noel, a festa perde progressivamente o caráter religioso. O Menino da manjedoura, que evoca o sentido da existência, cede lugar ao velho barbudo e barrigudo, símbolo do fetiche da mercadoria.

O olhar desavisado diria que o consumismo hedonista despe-nos da religiosidade. A Missa do Galo, outrora à meia-noite de 24 de dezembro, reduz-se ao galeto das celebrações, às oito ou nove da noite, antecipando-se à madrugada na qual impera a violência urbana. O apetite da ceia e a curiosidade em abrir presentes falam mais alto que bons e velhos costumes: oração em família, cânticos litúrgicos, narrativas bíblicas, memória dos eventos paradigmáticos de Belém da Judéia.

Uma atualização dos eventos bíblicos permite-nos imaginar, a partir do contexto brasileiro, o leitor do Diário de Belém, edição de 26 de dezembro de 1, frente à seguinte notícia: "Família de sem-terra ocupou ontem a fazenda Estrela de Davi, em cujo pasto uma tal Maria, esposa do carpinteiro José, deu à luz o filho Jesus. A polícia de Herodes está no encalço dos sem-terra, que se encontram foragidos."

A abstração da linguagem, contudo, faz do pseudolirismo natalino o inverso do fato histórico. O Verbo encarnado perde contundência e cede lugar ao presépio descontextualizado, mero adorno à festa papainoélica.

Vivemos hoje assolados por fortes ventos esotéricos, nessa época epifânica em que religiões tendem a ocupar o lugar deixado pelas ideologias messiânicas. Assistimos à crise das Igrejas tradicionais, encerradas num monólogo ininteligível para o contexto de pluralismo e tolerância com o diferente. A perplexidade assemelha-se à da professora de piano clássico que vê seus alunos aplaudirem os metaleiros.

Proliferam novas modalidades de aspirar ao Transcendente, da aeróbica litúrgica às meditações orientais. Nunca houve, na expressão de Rimbaud, tanta "gula de Deus". I Ching, astrologia, búzios, tarô etc., são vias pelas quais se tenta encontrar segurança diante do futuro imprevisível. Agora, já não há tanto interesse pelas religiões das grandes narrativas bíblicas, da santidade ascética, da autoridade sacralizada, da moral coercitiva, da escatologia que nos faz trafegar, titubeantes, sobre o fio invisível que liga o Céu ao Inferno.

Predominam as religiões do consolo subjetivo, da alegria d'alma, da cura imediata, dos fenômenos paranormais, da comunidade que se sente resgatada do anonimato, de bênçãos e graças que jorram quais juros de quem acredita na versão pós-moderna do dilema "a bolsa ou a vida". Vigora a religiosidade prêt-à-porter, sem culpas, macroecumênica, fundada na crença em um Deus que dispensa hierarquias, manifesta-se pelas regras de ouro do marketing e tolera todas as nossas incoerências.

Talvez não haja na literatura brasileira quem melhor tenha captado o sentido do Natal que Machado de Assis, no clássico conto Missa do Galo. Não há propriamente missa, apenas a espera ansiosa num serão que progressivamente transmuta a anfitriã Conceição, que atingira os 30 anos, aos olhos de Nogueira, rapaz de 17. Machado faz do coração do jovem narrador um profundo e aquiescente presépio, onde a vida renasce no sutil milagre do amor desinteressado. Um gosto de eternidade. De eterna idade. No entanto, quebrado pelo tempo que flui incoercível ao ritmo implacável das horas. Na sala, a missa em torno da musa antecede e realiza a comunhão, eclodindo na beleza de um singelo encontro entre duas pessoas.

Isso é Natal, festa rara no mais profundo de si mesmo, na qual as pessoas se fazem presentes umas às outras e entre as quais o amor refulge como estrela. Essa festa não tem data e é celebrada sempre que há encontro em clima de afeto e sabor de comunhão. Ali, as palavras são como barbante de presente em mãos de uma criança: a cada nó desfeito, uma expectativa de surpreendente revelação.
JF 07/12/08


Aprecie o vídeo que escolhi para hoje.
“O menino” é uma canção de Natal tradicional portuguesa..


Nem Truz Nem Muz na televisão Alemã Bayerscher Rundfunk

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

MENSAGENS NATALÍCIAS

Quando, no passado Domingo, informei que iria postar diariamente até ao dia 25, não me lembrei de que ainda havia uma terça-feira, dia em que, normalmente, posto no SEMPRE JOVENS/a>.
Entretanto, para me redimir da minha falta de lembrança…deixo-vos um poema de Vinícius de Morais, esperando que, com este presente, me perdoem…


Poema de Natal

Vinícius de Morais

Para isso fomos feitos: Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida: Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva... Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar....Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer: Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai — Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos: Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte — De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.


Extraído do livro "Antologia Poética", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960.


Penso que gostará de ver o vídeo que escolhi para esta noite.


Celine Dion - Blue Christmas






segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

MENSAGENS NATALÍCIAS

ENTRAI, PASTORES, ENTRAI
(Cantilena de Natal)
PARA CANTAR COM A MÚSICA DO
WE WISH YOU A MERRY CHRISTMAS


Se quiser comece por ligar o video (link no final do post) e acompanhe o poema, cantando. Desligue, antes, o som de fundo.


ENTRAI, PASTORES, ENTRAI

Entrai pastores, entrai
Trazei a ovelha
da Paz
Vede que o Mundo se esvai
Deixai a guerra para trás

Vede que o Mundo se esvai
À míngua de mai
s ternura
Entrai pastores, entrai
Trazei leite de doçura


Entrai pastores, entrai
Trazei mel, trazei pão

Vede que o M
undo se esvai
Morrendo de inanição



Vede que o Mundo se esvai
Em meio de tanto horror
Entrai pastores, entrai
Trazei nas mãos o Amor

Entrai pastores, entrai
Fechai as portas ao mal
Vede que o Mundo se esva
i
Trazei um "Sempre Natal"

Autora: Carmo Vasconcelos

Obrigada, Carminho, por me permitires a publicação do teu poema.


Carmo Vasconcelos, nome literário de Maria do Carmo Fernandes de Vasconcelos Figueiredo, é natural de Lisboa.
É autora do livro de poemas “Geometrias Intemporais”, publicado em 2000, e de outros, de poemas – “Memorandum de Fogo”, “Despida de Segredos” e “Ecos do Infinito” - assim como do romance “O Vértice luminoso da Pirâmide” - aguardando publicação.
Pela sua participação em vários Jogos Florais teve o privilégio de ganhar numerosos prémios e menções honrosas.




Helmut Lotti - We Wish You A Merry Christmas






domingo, 21 de dezembro de 2008

MENSAGENS NATALÍCIAS

Se é certo que o Natal pode e dever ser todos os dias do ano, a verdade é que a chamada “época natalícia” ocorre apenas uma vez por ano, em Dezembro, precisamente a altura do ano em que estamos agora.

E se, ao longo do ano, podemos e devemos difundir mensagens que apelem à solidariedade, ao Amor entre a humanidade, aos procedimentos correctos para com os indivíduos, a Natureza, o meio ambiente…as mensagens tipicamente natalícias divulgam-se nesta época, e depois guardam-se na gaveta.

Dado que este período, relativamente curto, está a aproximar-se do fim, decidi publicar, DIARIAMENTE, até ao dia 25, uma série de posts alusivos ao Natal.
Gostaria de poder contar com a vossa companhia, nesses dias, para uma breve leitura.

Eis o primeiro:

Prezado Papai Noel:

Este ano estou escrevendo com antecedência, pois percebi que organização não é seu forte e quero que o senhor tenha tempo de preparar tudo certinho.

Este ano não tenho a menor intenção de ser humilde, pensar no próximo, ser caridosa, etc. Vou pedir sem miséria, estou de saco cheio de ser delicada em meus pedidos e receber migalhas.

Segue minha lista, posso assegurar que muitas outras mulheres irão gostar, de modo que o senhor pode produzir tudo no atacado para baratear os custos.

Desejo que não haja limite nos cartões de crédito, e que exista um código especial para fazer compras, de maneira que a fatura seja automaticamente zerada.

Quero um homem de verdade, mas, fala sério, Papai Noel, não me traga imitações ! Diga NÃO à pirataria! Chega de genéricos!

Quero um dispositivo instalado no umbigo que jogue fora toda a gordura consumida, desinflando os pneuzinhos automaticamente.

Quero uma manicure e pedicure definitiva, que dure para sempre como se tivesse acabado de fazer.

Meu marido, noivo, namorado, ou rolo, deve adivinhar todos os meus desejos, e toda vez que se aproximar de mim deve dizer o quanto sou linda, inteligente e especial. Que me traga presentes e trate bem minha família, e também adivinhe quando for hora de sumir, quando eu estiver sensível ou com TPM

Um presente ideal seria uma gravidez que durasse apenas dois dias e um parto indolor.

Para o ciclo menstrual, vou ser camarada, pedir que dure 2 horas. Também gostaria de um botãozinho que eu apertasse se e quando quiser estar fértil.

Quero roupas que sofram uma metamorfose de acordo com as tendências e as estações, com tecidos auto-limpantes e auto-passantes.

Se um homem se atrever a me trair, ou estiver mentindo, que uma luz vermelha se acenda em seu nariz, como aquela sua rena, e que logo em seguida ele confesse tudo o que fez.

Em caso da mais remota chance de infidelidade, faça com que ele não consiga uma ereção naquele momento. Mas, atenção, não quero uma brochada definitiva, pois também não me seria conveniente.

Quero uns comprimidos que alterem automaticamente cor, comprimento e textura do cabelo, permitindo os mais variados penteados, que voltarão ao normal no momento em que eu assim desejar.

Vou pedir novamente um suprimento infinito de sapatos, bolsas, cosméticos e jóias, visto que minha solicitação anterior foi esquecida. E quero também um espaço auto-organizante que acomode tudo.

Também vou pedir DE NOVO: me mande um robozinho que limpe, lave, passe, cozinhe e toque música, que não falte, não peça aumento e não acabe com o sabão em pó em uma semana.

Bumbum, peitos e coxas, tudo com botõezinhos que inflem e desinflem segundo a ocasião, situação e minhas intenções.

Que abdominais sejam coisas que possamos comprar prontas, no supermercado.

Quero 150 de QI e 50 de cintura, NÃO O CONTRÁRIO !!

PAPAI NOEL, MEU FOFO !!!
Espero que não seja muito complicado atender minha listinha.
Nos vemos em dezembro, mas se conseguir terminar tudo antes, ficarei imensamente grata.

Com carinho,
Uma mulher como todas...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

O SIGNIFICADO DO NATAL

O SIGNIFICADO DO NATAL

Hei, você, aonde vai com tanta pressa?


Eu sei que você tem pouco tempo...
Mas será que poderia me dar uns minutos da sua atenção?

Percebo que há muita gente nas ruas, correndo como você.
Para onde vão todos?

Os shoppings estão lotados...

Crianças são arrastadas por pais apressados, no meio do torvelinho...

Há uma correria generalizada...

Alimentos e bebidas são armazenados...
E os presentes, então? São tantos a providenciar...

Entendo que você tenha pouco tempo.
Mas qual é o motivo dessa correria?

Percebo, também, luzes enfeitando vitrinas, ruas, casas, árvores...
Mas confesso que vejo pouco brilho nos olhares...
Poucos sorrisos afáveis, pouca paciência para uma conversa fraternal...

É bonito ver luzes, cores, fartura...

Mas seria tão belo ver sorrisos francos...
Apertos de mãos demorados...
Abraços de ternura...
Mais gratidão...
Mais carinho...
Mais compaixão...

Talvez você nunca tenha notado que há pessoas que oferecem presentes por mero interesse...

Que há abraços frios e calculistas...
Que familiares se odeiam, sem a mínima disposição para a reconciliação.

Mas já que você me emprestou uns minutos do seu precioso tempo, gostaria de lhe perguntar novamente: para quê tanta correria?

No meio de toda a agitação, sentado no passeio, um mendigo, ébrio, grita bem alto:
"Viva Jesus, feliz Natal"!

E os sóbrios comentam:
"É louco!”.

E a cidade se prepara... Será Natal.

Mas, para você que ainda tem tempo de meditar sobre o verdadeiro significado do Natal, ouso dizer:
O Natal não é apenas uma data festiva, é um modo de viver.

O Natal é a expressão da caridade...
E quem vive sem caridade desconhece o encanto do mar que incessantemente acaricia a praia, num vaivém constante...

Natal é fraternidade...
E a vida sem fraternidade é como um rio sem leito, uma noite sem luar, uma criança sem sorriso, uma estrela sem luz.

Mas o Natal também é união...
E a vida sem união é como um barco rachado, um pássaro de asas quebradas, um navegante perdido no oceano sem fim.

E, finalmente, o Natal é pura expressão do amor...
E a vida sem amor é desabilitada para a paz, porque na sua intimidade não sopra a brisa suave do amanhecer, nem se percebe o cenário multicolorido do crepúsculo.

Viver sem a paz é como navegar sem bússola em noite escura...
É desconhecer os caminhos que enaltecem a alma e dão sentido à vida.
Enfim, a vida sem amor... Bem, a vida sem amor é mera ilusão.

Que este Natal seja mais que festas e troca de presentes...

Que possa ser um marco definitivo no seu modo de viver, conforme o modelo trazido pelo notável Mestre, cuja passagem pela Terra deu origem ao Natal...

domingo, 14 de dezembro de 2008

ORAÇÃO DO PAI

Pai-nosso que estais no céu, e sois nossa Mãe na Terra, amorosa orgia trinitária, criador da aurora boreal e dos olhos enamorados que enternecem o coração, Senhor avesso ao moralismo desvirtuado e guia da trilha peregrina das formigas do meu jardim,

Santificado seja o vosso nome gravado nos girassóis de imensos olhos de ouro, no enlaço do abraço e no sorriso cúmplice, nas partículas elementares e na candura da avó ao servir sopa,

Venha a nós o vosso Reino para saciar-nos a fome de beleza e semear partilha onde há acúmulo, alegria onde irrompeu a dor, gosto de festa onde campeia desolação,

Seja feita a vossa vontade nas sendas desgovernadas de nossos passos, nos rios profundos de nossas intuições, no vôo suave das garças e no beijo voraz dos amantes, na respiração ofegante dos aflitos e na fúria dos ventos subvertidos em furacões,

Assim na Terra como no céu, e também no âmago da matéria escura e na garganta abissal dos buracos negros, no grito inaudível da mulher aguilhoada e no próximo encarado como dissemelhante, nos arsenais da hipocrisia e nos cárceres que congelam vidas.

O pão nosso de cada dia nos dai hoje, e também o vinho inebriante da mística alucinada, a coragem de dizer não ao próprio ego e o domínio vagabundo do tempo, o cuidado dos deserdados e o destemor dos profetas,

Perdoai as nossas ofensas e dívidas, a altivez da razão e a acidez da língua, a cobiça desmesurada e a máscara a encobrir-nos a identidade, a indiferença ofensiva e a reverencial bajulação, a cegueira perante o horizonte despido de futuro e a inércia que nos impede fazê-lo melhor,

Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e aos nossos devedores, aos que nos esgarçam o orgulho e imprimem inveja em nossa tristeza de não possuir o bem alheio, e a quem, alheio à nossa suposta importância, fecha-se à inconveniente intromissão,

E não nos deixeis cair em tentação frente ao porte suntuoso dos tigres de nossas cavernas interiores, às serpentes atentas às nossas indecisões, aos abutres predadores da ética,

Mas livrai-nos do mal, do desalento, da desesperança, do ego inflado e da vanglória insensata, da dessolidariedade e da flacidez do caráter, da noite desenluada de sonhos e da obesidade de convicções inconsúteis,

Amemos.

Frei Beto - JF 11/12/08


Filho de um jornalista e uma escritora, Carlos Alberto Libânio Christo nasceu em Belo Horizonte, a 25 de Agosto de 1944.
Conhecido por Frei Beto, é um religioso dominicano, teólogo e escritor.
Esteve preso por duas vezes durante a ditadura militar, entre 1964 e 1973.
A sua experiência na prisão está descrita no livro «Batismo de sangue», traduzido para francês e italiano
Professou na Ordem Dominicana, em 10 de Fevereiro de 1966, em São Paulo.
Adepto da Teologia da Libertação, é militante de movimentos pastorais e sociais

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

CARTA AO PAI NATAL

Guida Linhares, poetisa, diz de si mesma:

“ Sou uma pessoa simples, apreciadora da natureza e das boas coisas que a vida nos oferece. Gosto de prosear, poetar, brincar, dançar, pintar, desenhar, fotografar, sonhar e me encantar com as cores do arco-íris depois da tempestade.
Primeiro foram as Ciências Contábeis, depois as Artes Plásticas, a seguir veio a Psicologia e os grupos da Net, e assim a Prosa e a Poesia passaram a fazer parte do meu universo em expansão.
Grata a Deus pela saúde, entusiasmo e alegria, pelo linda família que tenho, e aos amigos e amigas do coração por me fazerem companhia.”

CARTINHA PARA NOEL


Querido Noel
Venho te pedir a paz
em todos os quadrantes
do planeta azul.

Que possas trazer a boa vontade
aos homens inconscientes,
que atuam apenas em causa própria,
surdos aos bons propósitos.

Que sopres nos ouvidos moucos,
que todos tem direito
à dignidade e à justiça,
e que o mundo precisa
de amor e fraternidade.

Cuides dos corações
endurecidos pelo ódio,
pelo domínio de territórios,
pela sanha de sangue derramado.

Plantes a igualdade
sem estereótipos nem preconceitos.

Aconselhes a todos os governantes,
a darem o exemplo de
honestidade, retidão e coragem,
digno de ser copiado pelas futuras gerações.

Mostres que a estrela da Natividade
não ostentou seu brilho em vão.

Que a paz se instale na Terra
e todos possam se irmanar
cantando a uma só voz
Aleluias ao Menino Deus.

Autora: Guida Linhares
Santos - SP

domingo, 7 de dezembro de 2008

A ROSA



A rosa é uma das flores mais populares no mundo, cultivada desde a Antiguidade. A primeira rosa cresceu nos jardins asiáticos há 5.000 anos. Na sua forma selvagem, a flor é ainda mais antiga. Fósseis dessas rosas datam de há 35 milhões de anos.
A sua história mitológica é curiosa e longa.
Alguns poetas dão como origem da rosa o néctar espalhado pelo” Deus do Amor” num festim dos deuses.

Sobre a rosa conta-se a seguinte lenda:

“ Um rouxinol , cantando docemente, picou com o bico o próprio peito, fazendo cair ao solo gotas de sangue. Estas fizeram nascer uma bela rosa vermeha, seu primeiro amor, pelo qual o rouxinol continua a cantar, até aos dias de hoje”

Muitas variedades de rosas foram perdidas durante a queda do império romano e a invasão muçulmana da Europa.

Após a conquista da Pérsia no século VII, os muçulmanos desenvolveram o gosto pelas rosas, e à medida que seu império se estendia da Índia à Espanha, muitas variedades de rosas foram novamente introduzidas na Europa.

Durante a Idade Média, as rosas eram muito cultivadas nos mosteiros, onde deveria haver, pelo menos, um monge especialista em botânica que estivesse familiarizado com as virtudes medicinais da rosa e de flores em geral.
Contam as histórias de Amores Antigos que Afrodite teria dado uma rosa ao seu filho Eros, o Deus do amor.. A rosa tornou-se um símbolo de amor e desejo. Eros deu a rosa a Harpócrates, o Deus do silêncio, para o induzir a não falar sobre as indiscrições amorosas de sua mãe. Assim, a rosa se tornou também um símbolo do silêncio e do segredo.
Na Idade Média uma rosa era suspensa do teto da câmara municipal comprometendo todos os presentes ao silêncio.

Os romanos acreditavam que, ao decorar os seus túmulos com rosas, apaziguariam os Manes (os espíritos dos mortos).
Os ricos incluíam nos seus testamentos a seguinte cláusula:
“Que jardins inteiros de rosas sejam mantidos, para fornecer flores para a minha sepultura.”

Os romanos tinham as suas próprias idéias sobre a origem da flor.

“Para casar com Rodanthe, uma bela mulher, foram escolhidos muitos pretendentes, mas ela não se interessou por nenhum. Estes homens estavam tão cheios de amor e desejo que se tornaram violentos e invadiram a casa de Rodanthe. A deusa Diana, enfurecida, transformou a mulher numa rosa e os pretendentes em espinhos.”
Por isso… não há rosas sem espinhos.

Os chineses, no século V antes de Cristo, extraiam óleo das rosas que nasciam no jardim do imperador. Este óleo só podia ser usado pelos nobres e dignitários da corte.
Se um plebeu fosse encontrado com a menor porção deste óleo, seria condenado à morte.

Às rosas são atribuídos significados diversos, de acordo com as suas cores. Mas a roseira é uma planta tão emblemática, que até mesmo as suas folhas tem um significado especial: esperança.

A rosa vermelha, a mais desejada e admirada entre todas as outras, simboliza o amor.
Além de amor, estas flores vermelhas também podem traduzir mensagens de respeito e coragem.
Rosas Vermelhas: paixão, amor, respeito, adoração



As rosas cor-de-rosa em tom mais escuro querem dizer gratidão e estima, enquanto as rosas cor-de-rosa de tom mais claro significam admiração e simpatia.
Mas, em geral, a rosa cor-de-rosa associa-se a graça e gentileza.

Rosas Cor-de-rosa: gratidão, agradecimento, o feminino - muitas vezes aparece simbolizando o útero (da mulher) em algumas culturas, como o gineceu está para a cultura ocidental


As rosas cor-de-laranja ou coral significam entusiasmo e desejo .
As rosas cor-de-chá híbridas querem dizer “sempre me lembrarei de ti".

Rosas Champanhe: admiração, simpatia



As brancas, por sua vez, assumem vários significados, como os de inocência e pureza, reverência e humildade ou de segredo e silêncio. Também significam que quem está a oferecê-las está tentando dizer: "sou digno de ti" ou "tu és celestial". Rosas brancas já murchas significam que a tua tentativa de aproximação não surtiu efeito algum .

Rosas Brancas: reverência, segredo, inocência, pureza e paz



Em geral, as rosas amarelas significam satisfação e alegria, mas podem servir como advertência: "tens que ter mais cuidado".

Rosas Amarelas: amor por alguém que está a morrer ou um amor platónico



As rosas têm também significados próprios conforme a sua combinaçao de cores:
Rosas Vermelhas com Amarelas: felicidade
Rosas Coloridas em tons claros: amizade e solidariedade
Rosas Coloridas, predominando as vermelhas: amor, paixão e felicidade
Rosas Vermelhas com Brancas: harmonia, unidade
• Actualmente, as rosas cultivadas estão disponíveis numa variedade imensa de formas, tanto no aspecto vegetativo como no aspecto floral. As flores, particularmente, sofreram modificações através de cruzamentos realizados ao longo dos séculos para que adquirissem suas características mais conhecidas: muitas pétalas, forte aroma, e cores das mais variadas.


quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

ANJOS

Nesta altura do ano, para onde quer que se olhe, tudo o que se vê é alusivo ao Natal.
Nada mais natural, atravessamos a época natalícia…
Árvores de Natal enfeitam todas as montras das lojas. Nalgumas vêem-se também presépios. Há-os de todos os géneros, dos mais simples aos mais sofisticados.
Nos mais tradicionais não falta a cabana, dentro da qual se encontra a manjedoura, com o Menino deitado nas palhas.
Todas são encimadas por uma estrela brilhante e, por cima desta, encontra-se um fulgurante anjo.

Eu gosto muito de anjos.
Independentemente do significado bíblico ou pagão dos anjos, acho-os muito bonitos.



Vê-los, agora, em tão grande quantidade, fez-me lembrar dois textos que tenho guardados há bastante tempo, e que vou partilhar convosco.

O primeiro, que recebi sem indicação de autoria, é uma história cheia de ternura, que poderá ser contada aos filhos ou netos.
Penso que eles vão gostar.


Um menino pequeno chegou junto da sua mãe e perguntou:
- Mãe, os anjos existem mesmo? Eu nunca vi nenhum…
Como ela lhe afirmasse que sim, o pequeno disse que ia andar pelas estradas até encontrar um.
-É uma boa ideia – disse ela. Eu vou contigo.
- Mas tu andas muito devagar… argumentou o garoto, pois a mãe mancava duma perna.
Mesmo assim ela insistiu em acompanhá-lo. Afinal, ela podia andar mais depressa do que ele imaginava.
E lá se foram: o menino correndo e saltitando, e a mãe, mancando, atrás dele.
De repente surgiu uma carruagem na estrada. Era majestosa, puxada por lindos cavalos brancos. Dentro dela havia uma linda dama de cabelos negros.
O menino correu ao lado da carruagem e perguntou à senhora:
- Você é um anjo?
Ela nem respondeu. Resmungou alguma coisa ao cocheiro, que chicoteou os cavalos, fazendo a carruagem sumir na poeira da estrada.
O rosto, os olhos e a boca do menino ficaram cobertos de poeira.
Então a mãe chegou e limpou-o do pó com o seu avental de algodão.
- Ela não era um anjo, pois não, mãezinha?
- Com certeza não. Mas um dia poderá tornar-se um – respondeu a mãe.
Mais adiante uma jovem belíssima, trajando um lindo vestido branco, encontrou o menino. Os olhos dela pareciam estrelas azuis, e ele perguntou:
- Você é um anjo?
Ela ergueu o pequeno nos braços e disse, feliz:
- Ontem à noite uma pessoa disse-me que eu era um anjo!
Enquanto acariciava o menino e o beijava, ela viu o seu namorado aproximando-se. Rapidamente procurou colocar o garoto no chão.
Tudo foi tão rápido que ele não conseguiu firmar-se bem nos pés e caiu.
- Olhe como você sujou todo o meu vestido branco, seu monstrinho! – disse ela, enquanto corria, pressurosa, ao encontro do jovem.
O menino permaneceu no chão, chorando, até que a mãe chegou, limpou-o novamente da poeira, enxugou-lhe as lágrimas e deu-lhe um beijo.
- Aquela moça, certamente, também não era um anjo pensou ele.
Abraçou-se depois ao pescoço da mãe e disse-lhe:
- Mãezinha, estou cansado. Podes levar-me ao colo?
- É claro, meu querido. Foi por isso que eu vim contigo.
Com o pequeno nos braços, lá foi ela mancando, pelo caminho empoeirado e cantando a música de que ele mais gostava.
Então o menino abraçou-a de encontro a si e perguntou-lhe:
- Mãezinha, tu és um anjo, não és?



O segundo texto é da autoria de Luiz Fernando Veríssimo, e, como tal, dispensa apresentações.

RECEBENDO ANJOS

Bons tempos, bons tempos, os bíblicos!

Imagine receber um anjo hoje.

Um deles já pode ter estado com você, e você não o reconheceu.
A função dele era aparecer e lhe dar a mensagem.

A sua única obrigação era recebê-lo, mas você não soube que era ele.
Você se afastou, achou que era um chato, ou um louco!
Falhou, azar.

Pode ter sido há anos.
Aquele que caminhou ao seu lado brevemente e disse uma coisa estranha e você apressou o passo, lembra?

Aquele ou aquela - eles vêm de várias formas - que sentou ao seu lado e falou no tempo, e era um preâmbulo para a revelação, mas você fechou a cara.

Ele pode ter batido na sua porta e você foi logo dando uma esmola, ou dizendo que hoje não tem nada, ou ameaçando chamar a polícia.

Antes era mais fácil agora é tarde.

Hoje ele bate na porta e você espia e não abre a porta, tá doido?

Se ele se aproximar de você na rua, você correrá apavorado ou anunciará que está armado, e que é melhor ele se afastar.

Se ele se sentar ao seu lado, você fugirá do contágio, se ele segurar seu braço, você gritará.

Se ele telefonar, sua secretaria eletrônica dirá para ele deixar a mensagem depois do bip, e ele não dirá nada: a mensagem é para você e não para ela.

E se ele conseguir alcançar você sem que você lhe dê um pontapé, e cumprir sua função, e der a mensagem, você não a compreenderá.
Pedirá para ele falar mais alto, há muito barulho.
- “O quê? Em que sentido? É uma metáfora? É um código? Interpreta, traduz, decifra, o quê?”

Agora é tarde.

Antes ele olharia você nos olhos e falaria claramente.
E, dada a mensagem, ele desapareceria, e o mundo seria uma estrada para o seu coração.

Hoje você diria:
“Olha, precisamos conversar com mais calma um dia! Me liga!”

(Autor Luiz Fernando Veríssimo)

domingo, 30 de novembro de 2008

ESTAMOS COM FOME DE AMOR

“Renato Manfredini Júnior, mais conhecido por Renato Russo, foi um consagrado cantor, compositor e músico brasileiro, que faleceu em 1996 com apenas 36 anos de idade.”
– foi assim que, em 23 de Setembro, iniciei o post “Eu te amo”, que publiquei no blogue SEMPRE JOVENS


É precisamente com uma frase de Renato Russo que Arnaldo Jabor inicia a sua crónica “Estamos com fome de Amor”



ESTAMOS COM FOME DE AMOR!!
- Arnaldo Jabor -
Uma vez Renato Russo disse, com uma sabedoria ímpar:

'Digam o que disserem, o mal do século é a solidão'.

Pretensiosamente digo que assino em baixo, sem dúvida alguma.

Parem para notar: os sinais estão batendo em nossa cara todos os dias.

Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez mais micros e transparentes, danças e poses em closes ginecológicos.
Elas chegam sozinhas. E saem sozinhas.

Empresários, advogados, engenheiros que estudaram, trabalharam, alcançaram sucesso profissional e, sozinhos.

Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes, os novíssimos 'personal dance'. Incrível!
E não é só sexo, não; se fosse, era resolvido fácil, alguém duvida?

Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho sem necessariamente ter que depois mostrar performances dignas de um atleta olímpico; fazer um jantar para quem você gosta e depois saber que vão 'apenas' dormir abraçados, sabe, essas coisas simples que perdemos nessa marcha de uma evolução cega.

Pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a produção.

Tornamo-nos máquinas, e agora estamos desesperados por não saber como voltar a 'sentir'; só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós.

Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada no site de relacionamentos ORKUT, o número que comunidades como:
- “Quero um amor p’ra vida toda!”;
'Eu sou para casar!' - até a desesperançada
'Nasci p’ra ser sozinho!' - unindo milhares ou melhor milhões de solitários em meio a uma multidão de rostos cada vez mais estranhos, plásticos, quase etéreos e inacessíveis.

Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento, e estamos a cada dia mais belos e mais sozinhos.
Sei que estou parecendo o solteirão infeliz, mas pelo contrário, p’ra chegar a escrever essas bobagens (mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de frente e aceitar essa verdade de cara limpa.

Todo mundo quer ter alguém ao seu lado, mas hoje em dia é feio, démodé, brega.

Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer ridículos, abobalhados, e daí?

Seja ridículo, não seja frustrado, 'pague mico', saia gritando e falando bobagens, você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo p’ra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta.

Mas (estou muito brega!), aquela pessoa que passou hoje por você na rua, talvez nunca mais volte a vê-la, quem sabe ali estivesse a oportunidade de um sorriso a dois.

Quem disse que ser adulto é ser ranzinza?
Um ditado tibetano diz que, se um problema é grande demais, não pense nele, e se ele é pequeno demais, p’ra quê pensar nele?

Dá p’ra ser um homem de negócios e tomar iogurte com o dedo, ou uma advogada de sucesso que adora rir de si mesma por ser estabanada.
O que realmente não dá é continuarmos achando que viver é out, que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo, ou que eu não posso me aventurar a dizer para alguém:
'vamos ter bons e maus momentos, e uma hora ou outra, um dos dois ou quem sabe os dois, vão querer pular fora; mas se eu não pedir que fique comigo, tenho certeza de que vou me arrepender pelo resto da vida'.

Antes idiota que infeliz!


quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A IMPORTÂNCIA DO SINCERO “NÃO SEI”

Já aqui foram abordados temas tão diversos como “A Sinceridade” e “Tomar Decisões Difíceis”, por exemplo.

Hoje vamos juntar um pouquinho dos dois, e ver como, ao tomar a decisão de dizer, com sinceridade “não sei”, você pode estar a revelar muito do seu íntimo.

António Ermírio de Moraes, empresário e industrial brasileiro, formado em Engenharia Metalúrgica pela Colorado School of Mines, em 1949, e de quem voltaremos a falar, dá-nos uns exemplos interessantes acerca da actividade profissional de algumas pessoas.
Para tanto baseia-se nas suas respostas a uma simples observação sobre o estado do tempo.

Imagine esta situação:



Você está em frente à sua porta, olhando. Não há nada de especial no céu, somente algumas nuvens aqui e ali.
Aí chega o vizinho, que também não tem nada para fazer, e pergunta:
- Será que vai chover hoje?

Se você responder “com certeza” – a sua área é Vendas:
O pessoal de Vendas é o único que sempre tem a certeza de tudo.

Se a resposta for “sei lá, estou pensando em outra coisa” – então a sua área é Marketing:
O pessoal de Marketing está sempre pensando no que os outros não estão pensando.

Se você responder “sim, há uma boa probabilidade” – você é da área de Engenharia:
O pessoal de Engenharia está sempre disposto a transformar o Universo em números.

Se a resposta for “depende…” – você nasceu para Recursos Humanos:
Uma área em que qualquer facto está sempre na dependência de outros factos.

Se você responder “ah, a meteorologia diz que não” – você é da área de Contabilidade:
O pessoal da Contabilidade sempre confia mais nos dados do que nos próprios olhos.

Se a resposta for “sei lá, mas por via das dúvidas eu trouxe um guarda-chuva” – então seu lugar é na área Financeira:
Que deve estar sempre bem preparada para qualquer virada de tempo.

Agora, se você responder “não sei!” – há uma boa chance de que você tenha uma carreira de sucesso e acabe chegando à directoria da empresa:
De cada 100 pessoas só uma tem a coragem de responder “não sei” quando não sabe.
Os outros 99 sempre acham que precisam ter uma resposta pronta, seja ela qual for, para qualquer situação.

“Não sei!” é sempre uma resposta que economiza o tempo de todo o mundo, e predispõe os envolvidos a conseguir dados mais concretos antes de tomar uma decisão.
Parece simples, mas responder “não sei” é uma das coisas mais difíceis de se aprender na vida corporativa.

Porquê?

Eu, sinceramente, “não sei”.

Autor: António Ermírio de Moraes



domingo, 23 de novembro de 2008

SAUDOSA ÁFRICA DISTANTE – O FRANCISCO

Após uma viagem num “mar de azeite”, como dizem os marinheiros, aproximamo-nos do nosso destino.

Ao longe, apenas se vislumbravam umas sombras esfumadas no horizonte.
Agora, que estamos relativamente perto, a paisagem torna-se nítida – montes escalvados, de cor avermelhada, sem vestígios de vegetação, uma verdadeira paisagem lunar.



Temos a sensação de que estamos a chegar à lua!

Depois das manobras habituais, que nos parecem infindáveis, finalmente o barco encosta ao cais.
Com a bagagem de camarote há muito preparada, as crianças controladas, apressamo-nos a descer o portaló.

O cais fervilha de gente, na sua maioria naturais da terra, táxis buzinando, um burburinho tremendo.
Finalmente pomos pé em terra.

Após beijos e abraços efusivos, - que as saudades já eram muitas – aguardamos o carro que nos transportará para casa.

Ao meu lado, um autóctone, de pé, vê de repente um carro passar muito perto, chegando mesmo a roçar-lhe o corpo. Recuando de um salto, grita, assustado:
- Ai a nha pé!

Este é o meu primeiro contacto com a linguagem local.

O “nha”, que significa meu ou minha - algumas vezes precedido de “a” para dar mais ênfase (quer se trate de feminino ou masculino – nha pai, nha mãe) - irá fazer parte do meu dia-a-dia durante os próximos dois anos.
Vamos então p’ra nha casa!

Situada numa elevação, acompanhada à esquerda e à direita por outras casas igualmente independentes, tem na parte da frente um arremedo de jardim, com uma ou outra planta enfezada, que irei, teimosamente, tentar recuperar.

Luta inglória! O ar é extremamente seco, a falta de água enorme, e, mesmo regando-as todos os dias, a terra absorve completamente a água muito para além se onde as raízes alcançam.
O meu jardim nunca deixou de ter este aspecto desértico.

Em frente, do lado de lá da estrada, há um vasto espaço coberto de terra, que termina num declive em direcção ao mar, que se avista da porta de casa, à qual se acede subindo três degraus de pedra.

Algum tempo depois de aqui estar irei assistir a verdadeiras batalhas campais travadas entre grupos de cães, provavelmente inimigos.
Sem qualquer aviso prévio, uns chegam da direita, outros aproximam-se pela esquerda, acabando por juntar-se no centro do terreno.
Entre ladridos e rosnares, engalfinham-se ferozmente, levantando incríveis nuvens de poeira vermelha que chega a escurecer o céu.
Depois de alguns minutos de luta abandonam o campo de batalha, retrocedendo cada grupo pelo mesmo caminho por onde chegara.


Nunca consegui descobrir por que razão, de tempos a tempos, se envolviam em contenda.
Certo é que, chegará o dia em que também eu regressarei ao local de partida, sem que eles tenham resolvido os seus diferendos.

Mas, por agora, há que nos instalarmos na que vai ser a nossa moradia durante os próximos dois anos.
Não se trata de nenhum palácio, mas, depois de arrumada a nosso gosto, ornamentada com objectos que nos acompanharam, torna-se bastante confortável.

Aqui são as mulheres que trabalham nas casas dos “continentais”.
Parecendo fazer parte da mobília, já se encontrava na casa uma cozinheira, uma mulher simpática, que, vim a descobrir, tinha um coração do tamanho do mundo.
Bondosa, extremamente carinhosa com as crianças, gostava muito de animais. Em pouco tempo me trouxe para casa um cachorro, ainda pequeno.
Quando regressei levou-o para sua casa.

Nas traseiras havia um pátio murado, com umas casotas onde se podiam criar animais – galinhas, patos, talvez coelhos.
Luísa, a cozinheira, pediu-me para criar galinhas. Algum tempo depois havia uma quantidade de pintainhos, parecendo novelos de algodão, passeando pelo pátio, acompanhados da mãe galinha.

Crescem depressa, estes animaizinhos. Duas ou três semanas depois já não havia novelos de algodão, mas uns frangotes de pernas exageradamente altas para o corpo, onde despontavam penas de cores variadas.
Um dia a Luísa apareceu-me com um frangote nas mãos, dizendo:
- Senhora, este está doente, vai morrer.
- Mas que doença é que ele tem? – perguntei.
- Não sei como se chama a doença, mas é devida ao frio; quando eles a apanham não se aguentam em pé.
E, dizendo isto, colocou o animal no chão. De imediato ele dobrou as pernas pelo meio, quase como se ficasse sentado com as pernas para a frente. Não conseguia manter-se de pé.
Agarrei-o, e senti-o frio.
- Coitadinho! Mas ele está mesmo gelado!

Eu costumava usar em casa umas saias com uns bolsos grandes, que serviam para ir guardando pequenas peças dos brinquedos que as crianças deixavam caídas aqui e ali.
Meti o franguinho dentro do bolso, encostado ao meu corpo. Algum tempo depois já não estava tão frio.
À noite meti-o dentro duma caixa pequena, aconchegado num pano quente.

Apliquei-lhe este “tratamento” uma semana, talvez um pouco mais: de dia no meu bolso, à noite na caixa.

E o milagre (do calor, penso eu) aconteceu: o franguinho recuperou a saúde e tinha as pernas mais fortes de todos.

Entretanto tinha-o “baptizado” de Francisco.
Acreditem, se quiserem. Depois que saiu do meu bolso, o Francisco passou a seguir os meus passos por toda a casa, e à noite encaminhava-se prontamente para a sua cama.

Fez-se um galo lindo, o Francisco! Com penas lustrosas, que pareciam envernizadas, um ar altaneiro, era mesmo o rei da capoeira!

Quando regressei ofereci-o à Luísa.

Este é mais um dos apontamentos que aqui apresentaremos, subordinados ao mesmo tema. Não seguem qualquer ordem cronológica. Não estarão situados no tempo, nem no espaço. O tempo é relativo. E as memórias afluem sem hora marcada.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A VERDADEIRA HISTÓRIA DA MULHER

Conta uma lenda que no principio do mundo, quando Deus decidiu criar a mulher, viu que havia esgotado todos os materiais sólidos no homem, e não tinha mais do que dispor.

Diante deste dilema, e depois de uma profunda meditação, fez isto:



Pegou a forma arredondada da lua,



as suaves curvas das ondas,
a terna aderência das bromélias,



o trémulo movimento das folhas,
a forma esbelta da palmeira,


a nuance delicada das flores,
o amoroso olhar do cervo,



a alegria do raio de sol e as gotas do choro das nuvens,



a inconstância do vento e a fidelidade do cão,
a timidez da tartaruga e a vaidade do pavão,



a suavidade da pena do cisne e a dureza do diamante,
a doçura da pomba e a crueldade do tigre,
o ardor do fogo e a frieza da neve.
Misturou ingredientes tão diferentes, formou a mulher e deu-a ao homem.


Depois de uma semana veio o homem e disse:

- Senhor, a criatura que me deste põe-me desgostoso:
- quer toda a minha atenção,
- nunca me deixa sozinho, - fala sem parar,
- chora sem motivo,
- diverte-se em me fazer sofrer.
Venho devolvê-la porque NÃO POSSO VIVER COM ELA.



“Bem”, respondeu Deus e recebeu a mulher.

Passou-se outra semana, o homem voltou e disse:

Senhor, encontro-me muito sozinho desde que devolvi a criatura que fizeste para mim:
- ela cantava e brincava ao meu lado,
- olhava-me com ternura e o seu olhar era uma carícia,
- ria, e o seu riso era música,
- era bonita de se ver
- e suave ao tato.
Devolve-ma, porque NÃO POSSO VIVER SEM ELA.



AH! POIS É...