ANITA – EPISÓDIO XXXIII
(Ficção baseada em factos reais)
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Tantas vezes a ameaça foi repetida que Vicente acabou por se convencer. Mas lembrou a Anita que, antes disso, era urgente arranjar uma escola para a sua menina, assim como tratar da ida de Tiago para Inglaterra..
FIM DO.EPISÓDIO XXXII
EPISÓDIO XXXIII
Anita tratou de tudo que era necessário, já que Vicente se cansava muito andando a pé dum lado para outro.
Os amigos foram incansáveis. Sabendo do seu precário estado de saúde, levaram-no a percorrer, de carro, a capital que ele já mal reconhecia, ao fim de tantos anos de ausência.
Sabendo que brevemente Vicente iria submeter-se a exames que poderiam, eventualmente, implicar o seu internamento, revezavam-se e, todos os dias, o levavam a dar grandes passeios, mostrando-lhe as novidades que havia na cidade.
O verão aproximava-se do fim, assim como as férias escolares. Era chegada a altura de Tiago viajar para Inglaterra, onde o esperava o irmão, Humberto.
Mais uma despedida na vida de Anita, esta talvez a mais dolorosa de todas.
Para Tiago também não foi nada fácil, pois nunca se separara da Mãe e da irmã, desde que nascera. Mais fácil foi despedir-se do Pai, com quem nunca tivera grande afinidade.
Mas como era já um homenzinho, teria que comportar-se como tal…Engoliu todas as lágrimas que conseguiu, mas muitas lhe correram pelo rosto.
Só a ideia de que viria passar as férias com a família aliviou um pouco a sua dor.
O, relativamente curto, tempo de viagem mal chegou para se recompor, e ao chegar junto do irmão ainda mantinha um aspecto profundamente triste.
A Natureza se encarregou de fazer o seu trabalho, e, à medida que os dias passavam e aumentavam os afazeres relacionados com os seus estudos, a tristeza foi desaparecendo, e Tiago acabou por adaptar-se à sua nova vida.
Entretanto, na capital, Anita descobrira um colégio óptimo para Eduarda, ao qual ela se adaptou facilmente, e onde permaneceu estudando até ao seu ingresso na Universidade.
Grande parte do primeiro ano após a chegada ao Continente foi passado entre médicos, análises, exames de todo o género. Os médicos tinham dificuldade em chegar a uma conclusão porque os resultados dos exames apontavam em várias direcções, levando-os a pôr a hipótese de Vicente sofrer de alguma doença rara desconhecida.
Finalmente, reunidas as equipas médicas, concluíram tratar-se de “Paralisia Supra nuclear Progressiva”, uma das mais raras formas de Parkinsonismo, em que não se verificam os habituais “tremores” dos doentes de Parkinson, mas em que todos os outros efeitos vêm a manifestar-se, à medida que a doença vai avançando. Trata-se de uma doença degenerativa rara, que envolve a deterioração progressiva e morte de áreas seleccionadas do cérebro, e que afecta cerca de 6 em cada 100.000 pessoas.
Eduarda reagia muito mal à doença do pai. O amor que por ele nutria quase raiava a idolatria; não se conformava que ele sofresse de uma doença incurável, que progressivamente o iria consumindo, até um fim inevitável, a médio ou curto prazo.
Anita dedicou-se por inteiro a cuidar do marido que, a cada dia que passava, se tornava mais dependente. Decorridos dois anos Vicente deixou de poder controlar os mais ligeiros movimentos; Anita tinha que dar-lhe a comida na boca, e ajudá-lo a segurar no copo, que ele teimava em querer agarrar com as suas próprias mãos.
Chegou o dia em que Anita não podia mais tratar do marido. A conselho médico internou-o na clínica onde lhe fora diagnosticada a doença.
Todos os dias ia visitá-lo e passava as tardes com ele.
Eduarda, logo que saía das aulas, corria para a clínica, passando junto do pai todo o tempo disponível.
A situação agravava-se a olhos vistos. Vicente já não conseguia falar, limitando-se a olhar, insistentemente, para Anita, e especialmente para Eduarda, que passava todo o tempo segurando a mão do pai.
Uns dias depois o médico informou Anita de que o marido tinha poucos dias de vida.
A partir desse momento Eduarda não mais deixou a clínica.
Faltou às aulas, dormia no quarto do pai, onde Anita também pernoitava, e não mais o abandonou até ao último suspiro.
Quando Vicente, finalmente, iniciou a grande viagem, Eduarda sentiu uma dor tão grande que lhe parecia que não conseguiria suportá-la.
FIM DO EPISÓDIO XXXIII