ANITA – EPISÓDIO XXI
(Ficção baseada em factos reais)
…
Anita olhou atentamente para a mãe, pensando:
- A minha mãe é tão inteligente, tão conhecedora da vida, e quando mais precisei dela, quando estava apaixonada por Arnaldo, falhou-me.
(Ficção baseada em factos reais)
…
Anita olhou atentamente para a mãe, pensando:
- A minha mãe é tão inteligente, tão conhecedora da vida, e quando mais precisei dela, quando estava apaixonada por Arnaldo, falhou-me.
FIM DO EPISÓDIO XX
EPISÓDIO XXI
E de repente apercebeu-se de que tinha pensado na sua paixão por Arnaldo…como uma coisa passada.
Sentiu-se completamente confusa quanto aos seus sentimentos.
Disse:
- A mãe deve ter razão. Afinal, tem mais experiência do que eu. Já passou por isso, quando eu tinha a idade do Tiaguinho.
Vou ter que me habituar à ideia de que ele está a crescer, e a não precisar tanto de mim…
Mas de qualquer maneira hoje ele não dorme cá. Nem sequer trouxe pijama…
- Não seja por isso. Há cá roupas dele…
- Deixe, mãe. É melhor assim. Outro dia ele vem já preparado para ficar – respondeu Anita, já com uma certa mágoa na voz.
Decorreram alguns dias, até que chegou carta de Humberto, respondendo àquela onde Anita relatara o “quase abraço” do padre João.
Com enorme prudência o enteado aconselhava-a a ter muito cuidado para evitar situações que pudessem tornar-se comprometedoras, o que acabaria por ser desagradável, tanto para ela própria como para o pároco.
E terminava a sua longa missiva, dizendo:
- Por favor, Anita, promete-me que vais ser muito prudente quanto a este assunto. Ainda faltam uns meses para eu regressar e podermos falar de viva voz. Portanto, tens que me prometer o que te estou a pedir. Conta-me tudo o que for acontecendo. Sabes como vivo preocupado contigo, não sabes?
Anita, não te esqueças que só te tenho a ti e ao Tiaguinho neste mundo. Sim, porque para o meu pai…basta-lhe pagar-me os estudos e a estadia aqui para sentir a consciência tranquila.
Anita, confio em ti.
Anita sentiu um aperto na garganta e uma enorme vontade de chorar ao ler a carta do enteado.
Como se apegara a Humberto, a ponto de sentir tanta dificuldade em relatar-lhe o que entretanto sucedera!
Não podia esconder-lhe nada. Isso não! Mas sabia que, ao contar-lhe que beijara o padre, e que isso a fizera muito feliz, ia fazer com que Humberto ficasse ainda mais preocupado, e não queria que isso acontecesse…
Mas como poderia evitá-lo? Se Humberto estivesse ali seria tudo muito mais fácil. Não teria nenhuma dificuldade em contar-lhe, e ele, vendo-a tão feliz, iria deixar de se preocupar e ficar muito contente por ela.
Enchendo-se de coragem, escreveu ao enteado relatando-lhe tudo, com o maior número de pormenores de que se lembrava.
E rematava:
- Não quero que fiques preocupado comigo, meu querido enteado. Isto pode parecer-te uma loucura, e o mais certo é até ser, mas não quero, por agora, pensar em nada.
Desde há muito tempo que não me sentia assim.
Deixa-me viver a minha loucura. Deixa-me não ser ajuizada nem convencional uma vez na vida.
Sempre obedeci a tudo e a todos, calcando os meus sentimentos bem fundo. Agora vou viver este sonho.
Sim, eu sei que é um sonho, apenas, que não passa disso. Mas sonhar faz parte da vida, e os meus sonhos há muito que me tinham abandonado. Cortaram-mos, impediram-me de os realizar. Este também não vai realizar-se, eu sei, mas enquanto durar vou ser feliz.
Deixa-me ser feliz, meu querido Humberto, e sê tu também feliz, por mim.
Os dias decorriam calmamente, Anita indo para a creche de manhã, com Tiaguinho pela mão, e regressando à tardinha para casa.
Como sempre, sem alteração, o padre ia todas as tardes receber de Anita o relatório do dia, trocando com ela, a medo, olhares carregados de amor, sentindo um frémito de desejo quando, por acaso, ou propositadamente, as suas mãos se tocavam ao entregar os papeis.
E, também como sempre, desde há muito tempo, Anita encontrava, ao chegar a casa, apenas as empregadas.
Vicente agora raramente aparecia antes de jantar, e, quando o fazia, era por breves momentos, para ir buscar alguma coisa que lhe fazia falta.
Dava um beijo de fugida em Anita e no filho, e nem perdia tempo com qualquer explicação.
Saía novamente, para aparecer no dia seguinte, muitas vezes já depois de Anita ter saído de casa. Passavam-se dias que mal trocavam meia dúzia de palavras.
Anita não se sentia nada incomodada com isso, pelo contrário, até agradecia que assim fosse, dado que não tinha qualquer interesse em conversar com o marido.
Alguns dias mais tarde, e antes que chegasse carta de Humberto, sucedeu o que seria de esperar.
E de repente apercebeu-se de que tinha pensado na sua paixão por Arnaldo…como uma coisa passada.
Sentiu-se completamente confusa quanto aos seus sentimentos.
Disse:
- A mãe deve ter razão. Afinal, tem mais experiência do que eu. Já passou por isso, quando eu tinha a idade do Tiaguinho.
Vou ter que me habituar à ideia de que ele está a crescer, e a não precisar tanto de mim…
Mas de qualquer maneira hoje ele não dorme cá. Nem sequer trouxe pijama…
- Não seja por isso. Há cá roupas dele…
- Deixe, mãe. É melhor assim. Outro dia ele vem já preparado para ficar – respondeu Anita, já com uma certa mágoa na voz.
Decorreram alguns dias, até que chegou carta de Humberto, respondendo àquela onde Anita relatara o “quase abraço” do padre João.
Com enorme prudência o enteado aconselhava-a a ter muito cuidado para evitar situações que pudessem tornar-se comprometedoras, o que acabaria por ser desagradável, tanto para ela própria como para o pároco.
E terminava a sua longa missiva, dizendo:
- Por favor, Anita, promete-me que vais ser muito prudente quanto a este assunto. Ainda faltam uns meses para eu regressar e podermos falar de viva voz. Portanto, tens que me prometer o que te estou a pedir. Conta-me tudo o que for acontecendo. Sabes como vivo preocupado contigo, não sabes?
Anita, não te esqueças que só te tenho a ti e ao Tiaguinho neste mundo. Sim, porque para o meu pai…basta-lhe pagar-me os estudos e a estadia aqui para sentir a consciência tranquila.
Anita, confio em ti.
Anita sentiu um aperto na garganta e uma enorme vontade de chorar ao ler a carta do enteado.
Como se apegara a Humberto, a ponto de sentir tanta dificuldade em relatar-lhe o que entretanto sucedera!
Não podia esconder-lhe nada. Isso não! Mas sabia que, ao contar-lhe que beijara o padre, e que isso a fizera muito feliz, ia fazer com que Humberto ficasse ainda mais preocupado, e não queria que isso acontecesse…
Mas como poderia evitá-lo? Se Humberto estivesse ali seria tudo muito mais fácil. Não teria nenhuma dificuldade em contar-lhe, e ele, vendo-a tão feliz, iria deixar de se preocupar e ficar muito contente por ela.
Enchendo-se de coragem, escreveu ao enteado relatando-lhe tudo, com o maior número de pormenores de que se lembrava.
E rematava:
- Não quero que fiques preocupado comigo, meu querido enteado. Isto pode parecer-te uma loucura, e o mais certo é até ser, mas não quero, por agora, pensar em nada.
Desde há muito tempo que não me sentia assim.
Deixa-me viver a minha loucura. Deixa-me não ser ajuizada nem convencional uma vez na vida.
Sempre obedeci a tudo e a todos, calcando os meus sentimentos bem fundo. Agora vou viver este sonho.
Sim, eu sei que é um sonho, apenas, que não passa disso. Mas sonhar faz parte da vida, e os meus sonhos há muito que me tinham abandonado. Cortaram-mos, impediram-me de os realizar. Este também não vai realizar-se, eu sei, mas enquanto durar vou ser feliz.
Deixa-me ser feliz, meu querido Humberto, e sê tu também feliz, por mim.
Os dias decorriam calmamente, Anita indo para a creche de manhã, com Tiaguinho pela mão, e regressando à tardinha para casa.
Como sempre, sem alteração, o padre ia todas as tardes receber de Anita o relatório do dia, trocando com ela, a medo, olhares carregados de amor, sentindo um frémito de desejo quando, por acaso, ou propositadamente, as suas mãos se tocavam ao entregar os papeis.
E, também como sempre, desde há muito tempo, Anita encontrava, ao chegar a casa, apenas as empregadas.
Vicente agora raramente aparecia antes de jantar, e, quando o fazia, era por breves momentos, para ir buscar alguma coisa que lhe fazia falta.
Dava um beijo de fugida em Anita e no filho, e nem perdia tempo com qualquer explicação.
Saía novamente, para aparecer no dia seguinte, muitas vezes já depois de Anita ter saído de casa. Passavam-se dias que mal trocavam meia dúzia de palavras.
Anita não se sentia nada incomodada com isso, pelo contrário, até agradecia que assim fosse, dado que não tinha qualquer interesse em conversar com o marido.
Alguns dias mais tarde, e antes que chegasse carta de Humberto, sucedeu o que seria de esperar.
FIM DO EPISÓDIO XXI