sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

DIA DE ANIVERSÁRIO


12º. ANIVERSÁRIO

Aniversário?
Alguém falou em Aniversário?
Nem pensar! Já somei anos bastantes para estar agora a acrescentar mais um…!
A continuar nesse ritmo não tardaria muito para eu andar de cadeira de rodas, ou pelo menos munido de uma simpática bengala.
Não! Recuso-me! Daqui para a frente vou começar a desfazer anos. Portanto, como nasci há 12 anos, tirando 1, este ano faço 11. A isto chama-se Retro-Aniversário, ou seja, andar para trás nos anos. Não é uma ideia luminosa?
Para além de não querer envelhecer há , pelo menos, mais duas razões que me levaram a tomar esta decisão: o trabalho e a despesa.
Já pensaram bem no trabalhão que dá organizar um Aniversário? É descomunal!!!
Idealizar os convites (só isto gasta-me metade dos neurónios) , mandar para a impressora para imprimir, endereçar os envelopes, metê-los no correio… é uma maçada sem fim.
E a despesa? Nem é bom pensar!!!
Taças – agora usam-se flutes, cuja forma é mais alongada, mas fazem o mesmo efeito, ou seja, é por eles que se bebe o champanhe. Como nos finais das festas se partem muitos… devido aos vapores etílicos… todos os anos têm de ser repostos os que se partiram.
Depois… há o champanhe propriamente dito. Para não ser uma zurrapa… custa caro.
E o bolo, que custa um dinheirão?! Só por ser de Aniversário cobram-nos o dobro ou o triplo do valor normal sem velas.
Mas isso é apenas o final da festa porque  antes há que reunir uma parafernália de coisas que me cansa só de pensar:
Mesas, toalhas, cadeiras, balõezinhos… Não! É demais! E as comidas? São os salgadinhos, os frios, os quentes, as sobremesas… um nunca acabar de dinheiro gasto.
Por tudo isto, decidi, e está decidido: Acabaram-se os Aniversários! Só Retro-Aniversários.
Bem feitas as contas, como este ano desfaço um, em vez de 12 fico com 11. A este ritmo… em 2031 alcanço o ano ZERO. O que acontecerá nessa altura? Será que volto para a barriga da mãe? Mas… hum, hum… estará ela em idade de me receber de volta??? Veremos. Não vamos agora pensar nisso.
Para finalizar espero que ergam a vossa taça (ou flute) à minha saúde e à minha decisão de me manter jovem para sempre!!!
Tchim, tchim…



sábado, 1 de fevereiro de 2020

LIVRO EM CONSTRUÇÃO - SEGREDOS XVII


SEGREDOS – CAPÍTULO XVII

SEGREDOS – CAPÍTULO XVI
“…A custo, separaram-se. A pedido de Alessandro Nanda saiu, como se fossem encontrar-se mais tarde, talvez para almoçar…
Foi a última vez que se viram. O contacto, por carta, manteve-se por largos meses, mas mesmo esse elo acabou por se quebrar. Nanda ficou com uma recordação para toda a vida…”

SEGREDOS – CAPÍTULO XVII
Imersa nos seus pensamentos que, ao mesmo tempo que lhe causavam uma saudade enorme também a tornavam, inexplicavelmente, feliz, percorreu o caminho até sua casa.
Depois de tomar um banho para tentar acalmar toda a excitação que ainda a dominava, trocou a elegante roupa que usara para o encontro com o Araújo por outra mais confortável e levou o Tejo ao seu habitual passeio matinal. Ele já estava ansioso à sua espera, o que a levou a pensar que teria de começar a levantar-se mais cedo para o levar à rua antes de ir para o trabalho. O pobrezinho não podia estar à espera de que ela voltasse para ir fazer as suas necessidades fisiológicas…
Eram já horas de ir ao encontro de Bela, com quem combinara almoçar, para lhe contar as novidades. Aliás, já estava ligeiramente atrasada relativamente à hora que tinham marcado. Nanda pensou consigo mesma: “Parece que hoje é o dia de eu chegar atrasada a todo o lado…”
Assim, quando chegou ao “Caminho de Casa”, o restaurante onde habitualmente comiam, a amiga já a aguardava na esplanada.
Abraçaram-se efusivamente e, depois de se beijocarem, escolheram uma mesa e sentaram-se.
A conversa só foi interrompida para encomendarem o almoço. Escolheram salada para ambas já que andavam a tentar perder peso.
Nem uma nem outra precisava disso, mas preocupavam-se com umas gordurinhas embirrantes que teimavam em alojar-se “naquela zona da cintura”. Sonhavam voltar a ter as “cinturinhas de vespa” dos seus vinte anos…
Falaram de tudo e de nada, como se há muito tempo não se vissem.
Nem parecia que conversavam todos os dias, faziam caminhada juntas, e de vez em quando encontravam-se para almoçar. Mas nunca lhes faltava assunto.
Esgotadas todas as banalidades, Bela quis saber como tinha decorrido a entrevista com o engenheiro Araújo. Fez questão de acentuar o “engenheiro” como forma de o colocar à distância. Nanda percebeu perfeitamente a intenção dela, mas fez-se desentendida.
- Correu lindamente, muito melhor do que eu poderia esperar.
E descreveu, em traços largos, quais iriam ser as suas funções.
- Vou ficar com uma responsabilidade bastante grande, o que, até certo ponto, me preocupa um pouco…
- Não vejo qualquer razão para isso – atacou Bela, de imediato. Tu és competentíssima; tenho a certeza de que é ele, o engenheiro, quem mais fica a ganhar com o negócio – e emendou rapidamente – quero dizer, com o facto de ires trabalhar com ele.
Havia um certo azedume na sua expressão. Ainda lhe custava aceitar que Nanda não tivesse querido ir trabalhar com o seu pai.
Nanda ignorou o tom da amiga, e acrescentou:
- É claro que vou ser muito bem paga, por isso não me posso queixar…
- Ai sim? E pode-se saber qual é a fortuna que o engenheiro te vai pagar? – acentuou o “fortuna”, em tom depreciativo e ao mesmo tempo duvidoso.
- Claro que tu podes saber, mas não quero que se fale no assunto.
E acercando a boca do ouvido da amiga murmurou a quantia, num tom em que só ela pudesse ouvir.
Bela arregalou os olhos, ficou uns momentos sem dizer nada, e só depois como que gaguejou:
- Bem, isso nunca ganharias na empresa do meu pai… É certo que a responsabilidade também seria muito menor… Mas, à primeira vista,  tenho de concordar que o engenheiro é bastante generoso.
E, logo de seguida, olhando Nanda nos olhos, acrescentou:
- Minha querida, tu já ouviste dizer que “quando a esmola é grande o pobre desconfia”, certo? Pois eu não posso deixar de te alertar para o que receio venha a verificar-se.
- E que é… - incentivou-a Nanda.
- Que pode haver outro interesse por detrás de tudo isso…
- Mas que interesse queres tu que haja? – Nanda não estava mesmo a ver onde a amiga queria chegar.
- Ó meu amor, então tu não tens espelhos em casa? Linda e elegante como tu és, com todo esse charme de mulher que arrebata corações, não estás a perceber o que eu quero dizer? Eu tenho muito medo de que ele tenha segundas intenções a teu respeito…
Nanda soltou uma sonora gargalhada.
- Mas que ideia tão estapafúrdia! Quando tu conheceres o Araújo mudas radicalmente de opinião. Ele é uma pessoa correctíssima, educada, sem o mais leve indício de brejeirice. Não, minha querida, quanto a isso estás completamente enganada.
- Até pode ser… mas alguma coisa me diz que “anda mouro na costa” (*)
- Tu e as tuas ideias… - rematou Nanda. Mas agora, minha querida, tenho de me ir embora. O Tó Zé ligou-me do Alentejo a dizer que estavam mesmo a acabar de almoçar e logo de seguida punham-se a caminho, pois já tinham arrumado na carrinha tudo o que é para trazer. No fundo… devem ser as roupas deles e pouco mais, já que estavam a viver num anexo do pai da Catarina.
- Espero bem que agora fiquem em melhores condições. Já viste o que o Tó Zé lhes arranjou?
- Sim, estive lá há dias e confesso-te que diquei admirada. O espaço ficou muito jeitoso, bem melhor do que eu podia imaginar. Desta vez o Tó Zé excedeu as minhas expectativas - acrescentou Nanda, sorrindo.
Despediram-se com abraços e beijos efusivos como era habitual entre elas.
Enquanto caminhava Nanda ia pensando em como era grande a amizade que as unia. Há tantos anos que eram amigas e só muito raramente se zangavam. E a verdade é que as zangas entre elas nunca duravam muito tempo. “Eu nem consigo imaginar a minha vida sem a amizade de Bela. Muitas vezes penso que se fossemos irmãs não nos amaríamos mais” – Nanda sorria a esta ideia. “É engraçado que, sempre que penso nisto, me acode a sensação de que há um segredo qualquer na vida de Bela que ela nunca me contou. Mas… se comigo acontece isso… tenho de aceitar que o mesmo se passe com ela…”
Acelerando o passo não demorou muito tempo a chegar próximo do armazém onde Tó Zé preparara o apartamento para o filho. Não vendo a carrinha nas proximidades foi sentar-se na esplanada dum café próximo, a aguardar a chegada do seu ex-marido, que agora lhe trazia uma carga preciosa – o seu neto.
O pensamento voou-lhe para o passado…
***
“Depois do terrível desgosto da separação, Nanda passava os dias ansiando pela chegada do correio. Alessandro escrevia bastantes vezes, mas as suas cartas eram sempre muito pequenas, e não chegavam a mitigar a saudade imensa de Nanda. Pedia-lhe sempre desculpa por não se alongar tanto como seria seu desejo, mas o tempo de que dispunha era muito pouco. O trabalho absorvia-o dia e noite; o laboratório estava na eminência de uma descoberta muito importante, em que o seu papel era fundamental.
- Mia cara, mi dispiace, ma sto lavorando molto.
Quando passar esta fase já poderei escrever mais e até, talvez, ir passar uns dias a Lisboa, nem que seja só um fim de semana.
Ela escrevia-lhe longas cartas apaixonadas, onde deixava transparecer as saudades imensas e o desejo ardente de voltar a vê-lo em breve. Expressava-lhe a esperança de que o acréscimo de trabalho no laboratório terminasse depressa e ele pudesse voltar a Portugal, nem que fosse apenas por alguns dias.
Nanda continuava a encontrar-se todos os dias com Tó Zé. Depois de jantar ia até ao portão do jardim onde, normalmente, ele já se encontrava, esperando-a.
Nas longas conversas que travavam ela confidenciava-lhe as grandes saudades que sentia de Alessandro, a tristeza que a ia consumindo cada vez mais, à medida que os dias passavam. Tó Zé confortava-a com o seu carinho, aparando-lhe as lágrimas que se iam tornando cada vez mais frequentes.
Numa dessa noites Nanda abraçou-o com muita força, murmurando baixinho:
- Tó Zé, tenho um segredo para te contar, mas tens de me prometer que não dizes nada a ninguém.
- E achas que é preciso recomendares-me isso? Sou ou não sou o teu melhor amigo?
- Claro que és. Sempre o foste e continuarás a ser. Mas é que se trata de uma coisa muito grave, que até tenho medo de dizer em voz alta…
- Pois então diz-me baixinho, ao ouvido – tentou ele brincar, para aliviar a enorme tensão que sentia nela.
- Não brinques, que o caso é muito sério – repreendeu-o Nanda.
- Desculpa, não penses que não te levo a sério. Vá lá, podes falar que te ouvirei com toda a atenção – agora ele adoptara um tom contrito.
***
Ao ouvir chamar, em voz bem alta e alvoroçada: Mãe!,  o pensamento desviou-se imediatamente. Olhando para o outro lado da rua viu Luís ao lado da carrinha. Tinham acabado de chegar.
Imediatamente correu para ele, abraçando-o fortemente. Sem querer, as lágrimas assomaram aos seus olhas, mas não se deu ao trabalho de as reprimir.
Ao lado de Luís, com o bebé ao colo, a nora esperava, sorrindo. Por fim, Nanda voltou-se para ela dizendo:
- Tu és a Catarina, é claro! – e envolveu ambos, nora e neto, num apertado abraço. Depois, suavemente, tirou-lhe o bebé do colo, olhando-o com uma ternura infinita.
Duas senhoras que passavam, detiveram-se por momentos, olhando-os.
- Que cena comovente – comentou uma
- Parece um daqueles quadros antigos representativos da maternidade – respondeu a outra.
Na verdade, o amor do olhar de Nanda, observando o bebé, mais parecia uma expressão maternal do que “avóternal” … (**)
Tó Zé, junto à carrinha, observava-a. Repentinamente acercou-se de Nanda e, abraçando-a, juntamente com o neto, murmurou:
- Há muito tempo que eu não via uma cena tão bela e comovente. Sinto--me tão feliz ao ver-vos, minha querida! – e os olhos encheram-se-lhe de lágrimas, que tentou disfarçar.
Nanda sentiu um aperto no coração. Num flash muito rápido viu-se, com os seus filhos recém-nascidos no colo, e o ex-marido junto dela, acarinhando-os.
Com um imperceptível encolher de ombros afastou-se lentamente e não pronunciou uma palavra. Não o conseguiria fazer sem denunciar a sua emoção. 

(*) – “Anda mouro na costa” tem dois sentidos:
        a) Há indícios da iminência de algo inesperado e muito   
        problemático.
        b) Há hipótese de aparecer um pretendente amoroso.

(**) – Esta palavra não existe, evidentemente. Trata-se de uma
         liberdade linguística da autora.

 Maria Caiano Azevedo

NO PRÓXIMO DIA 14 HAVERÁ POSTAGEM EXTRA – É DIA DE ANIVERSÁRIO, 12 ANOS!