O QUE É UM MENINO?
Os meninos vêm em tamanhos, pesos e cores variados.
Eles estão em toda parte: em cima, em baixo, lá dentro, lá fora, pulando, correndo…
As mães naturalmente os adoram, as meninas os detestam, os irmãos mais velhos também, os estranhos os ignoram e o céu os protege
Um menino é a verdade de cara suja, a sabedoria de cabelos desgrenhados e a esperança com uma rã no bolso.
Os meninos tem um apetite de cavalo, a digestão de um avestruz, a energia de uma bomba atómica, a curiosidade de um gato, os pulmões de um político, a imaginação de Julio Verne, e quando fazem algo, têm cinco polegares em cada mão.
Adoram: sorvetes, canivetes, serras, novidades, histórias em quadradrinhos, o filho do vizinho, o campo, a água (menos a do banho), os animais, o pai, comboios, domingos de manhã e carros de bombeiros.
Detestam: visitas, rezas, escola, livros sem figura, salas de música, gravatas, o barbeiro, meninas, casacos, adultos e a hora de dormir.
Não há quem se levante tão cedo, nem quem se sente à mesa tão tarde.
Não há ninguém como eles para meter num só bolso: um canivete enferrujado, uma fruta pela metade, um pedaço de cordão, um saco de pano vazio, dois bombons, seis moedas, um pedaço de algo desconhecido, e um autêntico anel supersónico, de plástico e com um compartimento secreto.
Um menino é uma criatura mágica.
Você pode fechar-lhe a porta do armário, mas não a do seu coração; pode expulsá-lo do escritório, mas não da sua mente.
Todo o poder do mundo a ele se rende.
Ele é nosso amo e chefe, ele, que é só um monte de ruídos com a cara suja.
Porém, quando você chega a casa à noite, com as suas esperanças e ambições destruídas, ele pode tudo remediar, com seu sorridente...
- Olá Papá!
- Olá Mamã!
O QUE É UMA MENINA?
Desde o início sabemos: As meninas nascem cheias de fitas, laços e mimos. Ninguém se engana com elas.
Com poucos dias de vida adere à mãe e começa a manobrá-la. Entre os 2 e os 3 anos faz gato-sapato do pai.
Dos 4 aos 5 em diante aciona: padrinhos, tios, avós e amigos da casa, com a maior naturalidade.
Enquanto for menina (e daí pela vida fora) jurará de pés juntos que não pretende manobrar ninguém. E é verdade.
A partir dos 3 anos está habilitada a tomar conta de uma boneca como uma pequena mãezinha.
Aos 5 fará comidinhas e agitará vassouras duas vezes maiores do que ela.
Aos 6 pode atuar como ama de irmãos mais pequenos e aos 7 estará dirigindo a casa, estrelando ovos para o pai, ralhando com as empregadas.
Para os meninos, as meninas são trambolhos, quando se metem nos “brinquedos de homens”; mas quando não há companheiros são parceiras ideais na maquinação de travessuras, nas grandes expedições de territórios, nos encargos de ordenanças.
Como as rolinhas, as meninas formam bandos que estão sempre juntos.
A despeito das predileções, fofocas e discriminações que agitam essas pequenas colméias, elas não se desmancham nunca, pois são feitas para isso mesmo.
Um dia a menina vai vestir o vestido de baile da mamã, calçar os seus sapatos de salto alto, pintar o rosto de rouge e batom, perfumar-se com o frasco inteiro de Chanel nº 5.
Outro dia a menina desfará todo o guarda-roupa para polvilhar de talco os lençóis, as colchas, as fronhas, os guardanapos, as toalhas de banho, de rosto, de mesa e, por, fim também a irmãzinha mais pequena.
Nessa última operação o talco poderá vir a ser eventualmente substituído por creme hidratante, mel de abelhas e até mesmo por molho de macarronada.
As meninas gostam de vestidos e sapatos novos. Principalmente de sapatos. Adoram colares, anéis e pulseiras, dos quais se livram logo que a mãe não esteja olhando.
Entram em salões de festas como princesas caminhando para o altar, e quinze minutos depois transformam-se miraculosamente em gatas-borralheiras.
Nas casas onde há meninas, as mães vestem-se e cuidam-se melhor, a fim de não serem passadas para trás.
Os meninos não se comportam melhor (pelo contrário), mas aprendem a dar flores de presente.
Os pais se tornam mais meigos e gentis, para não perderem a sua posição de principe e a sua imagem de rei.
Uma menina é uma flor, uma mensagem de pureza, uma beleza gratuita e permanente, um gesto sempre inesperado de bondade e de carinho.
Uma menina nunca dará a ninguém a dureza necessária à vida, mas estará sempre irradiando uma advertência de encanto, de alegria de que – apesar de tudo – vale a pena.
Nos casos de catástrofe, perseguição, fúria, violência e morte, basta a presença de uma menina e seu sorriso ou seu pranto, para nos restituir aceitação, humildade, o senso íntimo da necessidade e da importância de viver, a crença na permanência e na força do amor.
Autor: Yan Marten