Hoje, dia 1 de Maio, comemora-se m Portugal o “DIA DA MÃE” – como sempre, desde há muitos anos, no primeiro Domingo de Maio.
Para
homenagear a minha Mãe, que há tanto tempo me deixou, decidi escrever-lhe uma carta, que partilho
convosco.
CARTA À MINHA MÃE
Mamã,
Hoje
vou elevar para ti um pensamento muito especial, mais intenso.
Sabes
que te recordo todos os dias.
Deixaste-me
há tantos anos, mas na minha memória, que já não tem a vivacidade de outros
tempos, continuas tão nítida como nos dias em que eu te tinha junto de mim.
Depois
de tratar da tua higiene (ficaste tão linda, tão fresca!) recostei-te na
almofada para te dar o pequeno-almoço.
Como
de costume não quiseste comer nada, apenas bebeste um pouco de leite. Ainda
insisti, sabendo, de antemão, que irias recusar:
-
Por favor, mamã, come só uma torradinha pequenina, faço-ta num instante.
Com
aquele sorriso lindo que conservaste até ao fim, respondeste-me:
-
Não, minha filha, não consigo.
Sentias
calor. Com a minha mão esquerda segurando a tua mão esquerda, apanhei o leque
que estava sempre em cima da mesinha, e, suavemente, comecei a agitá-lo, para
te refrescar.
Não
sei quanto tempo estivemos assim. Esse é o único pormenor que esqueci: quanto
tempo estive segurando a tua mão.
Estavas
tão frágil! Parecias transparente. Como uma flor murchando lentamente, uma vela
perdendo a intensidade do seu brilho, a qual um ligeiro sopro faria apagar.
Assim
te vinhas mantendo nos últimos tempos: quase sem te alimentares, a voz cada dia
mais fraca, os gestos mais lentos, os cabelos embranquecendo até ficarem alvos
de neve…
Naquele
dia, recostada na almofada, de olhos semicerrados, parecias irradiar uma luz
especial.
Numa
comunhão perfeita entre nós duas, abriste os olhos, olhaste-me com um ligeiro
sorriso e um carinho imenso que me inundou o coração, ao mesmo tempo que me
provocava um estranho estremecimento.
Depois,
lentamente, muito lentamente, levantaste a mão direita e esboçaste um ligeiro
aceno, que mais tarde interpretei como um adeus.
Pousei
o leque e segurei a tua mão entre as minhas. Um suspiro profundo indicou-me que
acabavas de partir.
Continuei
assim não sei por quanto tempo, sem um grito, um lamento… apenas deixando as
lágrimas deslisarem-me pelo rosto.
Partiste
tão serena como viveste, pelo menos o último ano da tua vida.
Sei
que estás num lugar especial, que foste merecendo ao longo dos teus dias neste
mundo, por onde passaste praticando sempre o bem.
Foi
este pensamento que me fez aceitar a tua partida com resignação, e me leva a
pensar em ti todos os dias com um imenso carinho.
Até
um dia, mamã. Sei que voltaremos a ver-nos.