domingo, 1 de maio de 2022

DIA DA MÃE - CARTA A MINHA MÃE

 Hoje, dia 1 de Maio, comemora-se m Portugal o “DIA DA MÃE” – como sempre, desde há muitos anos, no primeiro Domingo de Maio.

Para homenagear a minha Mãe, que há tanto tempo me deixou,  decidi escrever-lhe uma carta, que partilho convosco.

CARTA À MINHA MÃE

Mamã,

Hoje vou elevar para ti um pensamento muito especial, mais intenso.

Sabes que te recordo todos os dias.

Deixaste-me há tantos anos, mas na minha memória, que já não tem a vivacidade de outros tempos, continuas tão nítida como nos dias em que eu te tinha junto de mim.

 Não há um só pormenor que eu não recorde dos últimos momentos que passámos juntas.

Depois de tratar da tua higiene (ficaste tão linda, tão fresca!) recostei-te na almofada para te dar o pequeno-almoço.

Como de costume não quiseste comer nada, apenas bebeste um pouco de leite. Ainda insisti, sabendo, de antemão, que irias recusar:

- Por favor, mamã, come só uma torradinha pequenina, faço-ta num instante.

Com aquele sorriso lindo que conservaste até ao fim, respondeste-me:

- Não, minha filha, não consigo.

Sentias calor. Com a minha mão esquerda segurando a tua mão esquerda, apanhei o leque que estava sempre em cima da mesinha, e, suavemente, comecei a agitá-lo, para te refrescar.

Não sei quanto tempo estivemos assim. Esse é o único pormenor que esqueci: quanto tempo estive segurando a tua mão.

Estavas tão frágil! Parecias transparente. Como uma flor murchando lentamente, uma vela perdendo a intensidade do seu brilho, a qual um ligeiro sopro faria apagar.

Assim te vinhas mantendo nos últimos tempos: quase sem te alimentares, a voz cada dia mais fraca, os gestos mais lentos, os cabelos embranquecendo até ficarem alvos de neve…

Naquele dia, recostada na almofada, de olhos semicerrados, parecias irradiar uma luz especial.

Numa comunhão perfeita entre nós duas, abriste os olhos, olhaste-me com um ligeiro sorriso e um carinho imenso que me inundou o coração, ao mesmo tempo que me provocava um estranho estremecimento.

Depois, lentamente, muito lentamente, levantaste a mão direita e esboçaste um ligeiro aceno, que mais tarde interpretei como um adeus.

Pousei o leque e segurei a tua mão entre as minhas. Um suspiro profundo indicou-me que acabavas de partir.

Continuei assim não sei por quanto tempo, sem um grito, um lamento… apenas deixando as lágrimas deslisarem-me pelo rosto.

Partiste tão serena como viveste, pelo menos o último ano da tua vida.

Sei que estás num lugar especial, que foste merecendo ao longo dos teus dias neste mundo, por onde passaste praticando sempre o bem.

Foi este pensamento que me fez aceitar a tua partida com resignação, e me leva a pensar em ti todos os dias com um imenso carinho.

Até um dia, mamã. Sei que voltaremos a ver-nos.