domingo, 1 de dezembro de 2019

LIVRO EM CONSTRUÇÃO - SEGREDOS XV


SEGREDOS – CAPÍTULO XV


 SEGREDOS – CAPÍTULO XIV
“…Como se fosse preciso… Linda e elegante como a Nanda é, não precisa desses sonos… e qualquer trapinho lhe fica bem.
- Concordo com a Amélia – acrescentou Carla.
- Vocês são muito simpáticas, agradeço muito, mas prefiro tomar as minhas providências. Vamos, Tejo! 
Nanda abriu a porta da sua casa e despediu-se com um “até amanhã” …

SEGREDOS – CAPÍTULO XV
Depois de Nanda se retirar Carla e Amélia ainda ficaram uns momentos a conversar até que acabaram por se despedir.
Amélia, ao subir as escadas para sua casa, ia pensando:
“Ainda bem que a Nanda puxou a conversa da dança no varão. Afinal, a Carla acolheu a ideia muito melhor do que eu poderia imaginar; e eu sinto um alívio enorme em não ter de manter este segredo que tanto me incomoda. Não é que me pese a consciência, pois nunca fiz nada menos digno naquele bar. Mas não gosto de segredos; sempre me orientei pela ideia de que a vida deve ser como um livro aberto, sem nada a esconder”.
Quando chegou ao patamar pareceu-lhe ver uma sombra a tentar esconder-se. Sorriu, pois quase tinha a certeza de que, mais uma vez, o vizinho de cima, António, estava à sua espreita.
Relembrando a conversa de Nanda, com um sorriso no rosto entrou em casa e foi tratar do seu jantar.
Até que a ideia da amiga não lhe desagradava de todo. Bem vistas as coisas… porque não? O António, embora não fosse nenhum jovem, não era ainda um velho.
- Terá mais uns oito ou dez anos do que eu - murmurou para si mesma.
É viúvo e tem, ao que consta, uma boa situação financeira. Foi sargento no tempo da Guerra Colonial, e por lá andou. Tanto quanto se sabe foi um herói, o que lhe valeu algumas medalhas que tem num expositor – diz quem já foi a sua casa.
Frequenta uma universidade sénior, porque é de opinião que “o saber não ocupa lugar”; ao mesmo tempo isto permite-lhe preencher as longas horas em que nada tem para fazer. Em casa entretém-se a ouvir música, a ler, e a tratar das sardinheiras que tem na varanda e que, ao regar, propositadamente faz extravasar a água dos vasos, que cai na varanda da vizinha de baixo, Amélia, só para a arreliar.
Gosta de cantar e tem uma bela voz de barítono. Coloca na aparelhagem os discos de áreas de ópera que ele acompanha, enchendo o prédio de música e encantando os vizinhos, excepto Amélia, que se farta de refilar, mas que, no fundo gosta de o ouvir
Tem dois gatos – os quais preenchem parte do seu tempo - que gostam muito de se lhe sentar no colo. De dia não se dá por eles, mas de noite divertem-se em grandes correrias, o que é motivo para Amélia se queixar do barulho que não a deixa descansar.
No fundo, todas as suas reclamações são apenas pretextos para chamar a atenção de António. A verdade é que, não o confessando nem sequer o querendo reconhecer, sente uma forte atracção por ele.
Ruminando estes pensamentos jantou, vestiu o pijama, e murmurou para si mesma: “Já que hoje não tenho alunas vou mas é deitar-me, que amanhã, com a ida aos Bombeiros, tenho um dia cheio de trabalho”.

Nanda entrou no seu apartamento e depois de comer uma refeição ligeira, preparou as roupas para o dia seguinte, e pôs-se à vontade para se deitar. Mas, com a excitação que lhe causava a ideia do encontro do dia seguinte com o Araújo, o sono tinha desaparecido. Apesar da hora adiantada, foi para a sala.
Ligou a música em tom baixo, e abriu a porta do bar, do lado direito do aparador. Olhou, procurando a bebida que iria beber. Não lhe apetecia muito um licor – àquela hora não queria uma bebida doce. Optou por Whisky. Serviu-se, foi à cozinha buscar gelo, e, à média luz, recostou-se no sofá.
De olhos fechados deliciava-se ouvindo a música suave, tomando um gole de whisky, vagarosamente. Sem opor resistência, como num sonho, deixava-se embalar por aquela quietude.
Lentamente, como que a levitar, encaminhou-se para a janela e olhou lá para fora. Na semi-claridade do amanhecer avistou, na praia, um vulto que lhe pareceu familiar.
Mas… Não! Não podia ser verdade! Aquela figura que caminhava na areia, a princípio apenas difusa, à medida que se aproximava… sim, não havia dúvidas! Era o Luís. Mas porque andaria ele na praia, àquela hora matinal?
Na longínqua linha do horizonte vislumbravam-se já os primeiros rubores da alvorada, anunciando mais um dia de sol e calor.
Na praia, Luís, descalço na areia fria, um ar desalentado, ombros descaídos, no rosto bronzeado as fundas olheiras denunciavam uma longa noite de insónia.
Com visível esforço ia caminhando lentamente quando, inesperadamente, avistou o seu irmão Miguel.
Este, alegremente, aproximou-se em passo rápido para saudar o irmão; mas imobilizou-se ao atentar bem no aspecto de Luís. Com ar de espanto, exclamou:
- Eh! Pá, estás cá com uma cara que mete medo ao susto!
- Não me digas nada, pá. Nem imaginas o que me aconteceu.
- Não, não posso imaginar o que te pôs nesse estado! Viste algum fantasma?
- Bem pior do que isso… mas antes diz-me: o que fazes tu aqui na praia a estas horas, com esse ar tão feliz? Ainda mal nasceu o dia…
- Eu conto, sim, mas depois. Primeiro quero saber de ti.
Nanda abria a boca de espanto. Como era possível? O seu filho Miguel vivia na Bélgica, com a Farida: o Luís ainda ontem estava no Alentejo, acabara de ser pai… A que propósito estavam os dois ali na praia, conversando como se se tivessem visto na véspera?
Resolveu continuar a prestar atenção à conversa dos dois irmãos.
- Tudo bem, então eu falo primeiro – respondeu Luís.
Ontem, para festejar o nascimento do meu filho (a mãe contou-te… penso eu) fui com uns amigos beber umas granjolas. A certa altura o Xico (lembras-te dele…) propôs que passássemos para bebidas mais fortes. A ocasião até justificava… e todos concordaram.
Já estávamos bem bebidos quando entra no bar um grupo de mulheres, todas em grande risota. Depois de ligeira hesitação, cochicharam e dirigiram-se para a nossa mesa. Imagina quem fazia parte do grupo… A Bela!
- O quê? A Bela, amiga da mãe?
- Claro! Conheces mais alguma Bela?
- Não. Mas continua!
Neste ponto Nanda sentiu-se desfalecer. Bela, a sua melhor amiga, num bar “daqueles”? Não podia ser. O seu filho Luís devia estar completamente bêbado e tinha-a confundido com uma galdéria qualquer!...
Com esta ideia recuperou a calma e continuou ouvindo a conversa. Luís dizia:
- Sentaram-se ao pé de nós e pediram bebidas iguais às nossas. Não sei quanto tempo depois disseram que se iam embora, e ali mesmo se formaram casais… A mim calhou-me a Bela.
- O quê? Estás a brincar!...
- Antes estivesse… Mas não estou, aconteceu mesmo. Fui com a Bela para casa dela. Levou-me para o quarto e… enfim, podes imaginar o que se seguiu. Tu conheces a Bela…
- Conheço, conheço…
- Sabes que ela consegue ser espantosa! Mete-te no coração e tu nem te atreves a reagir…
- Lá isso é verdade…
-Pois então! Quando dei com aqueles olhos líquidos, que prometiam delírios, a fixarem-me intensamente, quando me senti docemente envolvido nos seus braços, a Bela desprendeu-se, foi até à porta do quarto, abriu-a, e, em altos brados, exclamou:
- SURPRESA!
Foi mesmo uma surpresa, uma enorme surpresa!
Afastando-se para o lado apresentou-me uma mulher horrenda!
Não era ainda velha, mas feia como a noite dos trovões! Um olho abaixo e outro acima, mirando cada um para seu lado, a boca torta, desdentada, ostentando um sorriso alvar. Só lhe faltavam os pêlos no nariz para ser uma autêntica bruxa, saída de um conto de Andersen.
- E qual foi a tua reacção?
- A princípio fiquei sem acção. Mas quando vi o riso de escárnio e gozo na cara da Bela… atirei-me – literalmente – pela janela, meti-me no carro, e vim para aqui. Sabes como o mar é para mim um calmante…
- Razão tens tu para estar com esse aspecto horrível…
- Digo-te, foi a pior experiência da minha vida. Mas diz-me tu agora: com esse ar tão feliz…onde passaste a noite?
- Eu? Eu… passei a noite com a Bela.

O estrondo de um copo a estilhaçar-se no chão fez estremecer e acordar Nanda, sentada no sofá. O Tejo, deitado a seus pés, deu um salto, olhando a dona, espantado.
Nanda, estremunhada, pensou: “Mas que sonho tão disparatado! Terá algum significado? Sonhar com os meus filhos… é natural. Ainda para mais com a vinda do Luís, amanhã, e a promessa do Miguel de vir de férias brevemente… Mas tudo o resto é tão sem nexo! E a que propósito aparece a Bela no meio de toda esta confusão? Oxalá não seja prenúncio de alguma coisa má…
E como fui adormecer aqui no sofá? “
Aquela sensação estranha não a deixava ter sossego. Não conseguia perceber o motivo… mas sentia-se incomodada. Era como se “algo” quisesse avisá-la de algum perigo que a espreitava.
Num impulso pegou no telemóvel e, esquecendo a hora tardia, ligou para Bela.
Esta ficou admiradíssima ao ouvir a voz da amiga.
- Então, querida, que se passa? – perguntou num tom de voz bastante apreensivo.
- Nada de especial, apenas… apeteceu-me falar contigo. Não sei porquê adormeci no sofá e, vê lá tu que sonhei contigo! – disse dum modo que pretendia parecer despreocupado.
- É sempre um prazer falar contigo, tu sabes, mas a estas horas já não esperava fazê-lo. Embora hoje não me tenhas ligado – acrescentou com mágoa na voz.
- Desculpa-me, querida, mas foi um dia bastante exaustivo. Já te contei que o Luís vem amanhã para cima?
- Sim, contaste, e que é o Tó Zé que vai buscá-los. Imagino a tua ansiedade para conheceres o teu netinho…
- É verdade que estou muito ansiosa. Mas as coisas acontecem todas ao mesmo tempo. Amanhã também é o dia em que vou falar com o engenheiro Araújo.
- Ah, pois – respondeu Bela em tom de desagrado.
Se, por um lado estava muito feliz porque a sua amiga tinha, finalmente, conseguido arranjar trabalho, por outro lado custava-lhe conformar-se que ela não quisesse ir trabalhar para a empresa do seu pai.
Nanda, ainda com aquela sensação estranha, perguntou:
- E o teu dia como foi? Fizeste alguma coisa de especial?
- Não, nada de especial, a mesma rotina de sempre.
- Nem sequer saíste à noite para tomar um café?
- Não. Talvez por ter sido um dia sensaborão – e sem sequer me telefonares – não me apeteceu sair. Sentei-me na sala, pus música baixo, liguei a televisão sem som… e pronto, assim passei a noite. Agora estava para me ir deitar quando ouvi o telemóvel e vi que eras tu, senão nem sequer teria atendido. – respondeu Bela.
Despediram-se com os beijinhos habituais. Nanda sentiu-se mais descansada depois de falar com a sua melhor amiga. Não sabia explicar porquê mas o facto de Bela lhe ter dito que não saíra de casa à noite deu-lhe um certo conforto.
A noite não foi muito reparadora. Dormiu sonos curtos e inquietos.
                                                  *
A temperatura baixara bastante durante a noite.
Nanda sentiu um arrepio ao sair de casa para ir ao encontro de Araújo.
“Este arrepio será um mau presságio? “- pensou
Felizmente vestira uma blusa de mangas compridas por debaixo do elegante tailleur de meia estação.
O Verão estava a chegar ao fim, por isso não era de estranhar que as manhãs fossem frescas – pensava ela enquanto caminhava, tentando afastar aquela má impressão que lhe causara o arrepio à saída de casa.
“Será que alguma coisa vai acontecer neste encontro”?
  
Maria Caiano Azevedo



sexta-feira, 1 de novembro de 2019

LIVRO EM CONSTRUÇÃO - SEGREDOS XIV

SEGREDOS – CAPÍTULO XIV


SEGREDOS – CAPÍTULO XIII
“…Um dia, inesperadamente, já que, durante o dia, Alessandro não telefonava, Nanda olha para o visor do telemóvel que começara a tocar e vê, algo apreensiva, que quem lhe estava ligando era o seu namorado…”

SEGREDOS – CAPÍTULO XIV
Falando apressadamente Alessandro pediu-lhe que fosse ter com ele à porta da Faculdade de Ciências, onde ele trabalhava, pois precisava falar com ela urgentemente.
Nanda, com o coração apertado, dirigiu-se o mais depressa que pôde para o local indicado. Ele já a esperava, e mal a viu apertou-a com uma força inabitual.
- Amore mio, tenho uma notícia muito triste para te dar… - pronunciou estas palavras em voz entrecortada, mantendo-a apertada nos braços.
Nanda afastou-o suavemente e com voz trémula perguntou:
- O que se passa? Estás a deixar-me nervosa.
- Amore, ligaram-me de Milão. Tenho de lá ir imediatamente. Não percebi muito bem… mas parece que acabaram de fazer uma descoberta relacionada com a minha investigação aqui… e precisam que eu vá ver e colaborar na continuação dos trabalhos.
- E sabes, ao menos, por quanto tempo vais lá estar? – Nanda gaguejou a pergunta.
- Também não sei, amore mio, mas quando lá chegar e souber, informo-te imediatamente – havia lágrimas escondidas na voz de Alessandro.
Nanda encostou-se de novo ao corpo do namorado e deixou as lágrimas correrem-lhe pela face. Não conseguia pronunciar uma palavra. Estava em choque. Como poderia continuar a viver sem as tardes que passavam juntos, quer no Ap. quer passeando à beira rio? Rapidamente pensou na hipótese de ir com ele. Mas imediatamente pôs a ideia de parte. As aulas tinham começado há duas semanas, não podia ausentar-se agora. Se ainda estivesse de férias… arranjaria uma mentirinha qualquer para dizer aos pais…
Alessandro interrompeu-lhe os pensamentos:
- Amore mio, o que vais fazer agora?
- Ainda tenho uma aula hoje…
- E tens mesmo de ir? Não queres ajudar-me a fazer a mala? O avião é amanhã de manhã, e já arrumei tudo no trabalho…
Nanda não hesitou um segundo:
- É claro que te vou ajudar! As aulas estão no início, praticamente não damos matéria. Vou contigo, sim. E depois, se quiseres, podemos ir jantar a qualquer lado – insinuou.
- É uma ideia excelente! É o nosso jantar de despedida – acrescentou ele, com voz triste.
- Deixa-me só avisar a minha Mãe de que vou chegar mais tarde.
Nanda ligou à mãe e, para além de lhe dizer que não chegaria a horas do jantar porque ia para casa duma colega passar a limpo apontamentos das aulas, ainda acrescentou que, se acabassem muito tarde, dormiria lá. A mãe não se opôs minimamente.
Depois do telefonema puseram-se a caminho do apartamento de Alessandro…
***
O dia ia declinando e aproximando-se da noite. A casa estava limpa. Havia que tratar do Tejo. Pôs-lhe a coleira e saiu para o habitual passeio daquela hora, o último do dia.
- Aproveita para fazer o chichi todo, que só amanhã voltas à rua – disse, dirigindo-se ao cachorro. Ele pareceu entender as palavras da dona e alçou a perna mais uma vez.
Ao regressar encontrou no hall de entrada a amiga Amélia, a vizinha do 1º. andar esquerdo, que tinha acabado de levar à rua a sua cadelinha Diana, a namorada do Tejo. Estava à conversa com Carla, que fora buscar os gémeos ao infantário. Nanda juntou-se-lhes para dois dedos de conversa, enquanto Diana e Tejo aproveitavam para matar saudades, lambendo-se mutuamente.
- Estava aqui a dizer à doutora Carla que o meu vizinho de cima, o António, está cada vez pior – comentou Amélia.
- Ai, ai, ai que me vou zangar, Amélia – atalhou Carla. Quantas vezes tenho de lhe dizer que não quero que me trate por doutora? Somos ou não somos vizinhas e, espero que também amigas…? E, para além disso, eu agora nem estou a exercer, sou uma simples dona de casa e mãe de dois gémeos – acrescentou com um sorriso.
- Não leve a mal, doutô… desculpe, Carla! É falta de hábito… por a termos cá há pouco tempo… Voltando-se para Nanda, acrescentou:
- Mas é como estava dizendo à… Carla – sorriu. O António está cada vez mais insuportável. Parece que está à espreita a ver quando eu chego para me vir atezanar a cabeça.
Nanda deu uma gargalhada.
- Ó Amélia, será que não consegue perceber o que se passa? Estou farta de lhe dizer! Aquilo é amor recolhido! – e continuava a rir.
Carla olhava para ambas com um meio sorriso, sem entender o que motivava tal galhofa.
Nanda tentou esclarecê-la:
- O vizinho do 2º. Direito, o António, tem uma paixão assolapada pela Amélia, mas como ela não lhe dá trela… passa a vida a chamar-lhe a atenção.
- Qual paixão qual quê? – respondeu Amélia. Se isso fosse verdade eu até nem me importava, porque jeitoso é ele – e deu uma gargalhada.
Mas não, Nanda, não é nada disso. É mesmo um velho rezingão, é o que ele é.
- Mas afinal o que é que ele faz, para a deixar assim irritada? – perguntou Carla.
- Faz-me a vida num inferno, se quer saber. Sempre a refilar contra o barulho que eu faço em casa. Onde é que se viu no andar de cima ouvir-se o barulho do andar de baixo? O contrário é que é verdade… Por exemplo, a Nanda, que mora por baixo de mim é que podia queixar-se…
- Podia – respondeu Nanda – mas não tenho razão para isso. O pouco rumor que ouço não me incomoda nada. Afinal… na sua casa não funciona nenhuma escola… Tem quantas alunas? Duas…três…? Que barulho é que podem fazer tão poucas pessoas? Na verdade não me incomodam nada.
- Ah! A Adélia tem alunas? -perguntou Carla. E dá aulas em casa? Então somos colegas… Não fazia ideia…
Amélia olhou para Nanda como que a pedir socorro, e respondeu, meio constrangida:
- Bem, não é exactamente a mesma coisa. A Carla é professora de alemão… eu ensino dança no varão…
- Ah! Mas que interessante – atalhou Carla - Não fazia a mínima ideia… Desculpe, Amélia, mas tem que me deixar assistir. E… se não se importar… eu até gostava de experimentar, e se vir que tenho jeito… até me faço sua aluna. Se concordar, é claro!
Quase se pôde ouvir um suspiro de alívio de Amélia ao ver a reacção de Carla. Sentia-se pouco à vontade sempre que se falava na dança do varão, pois receava que as pessoas a julgassem erradamente.
Aprendera a dançar no varão num período da sua vida em que atravessou grandes dificuldades económicas e teve que suplementar o mísero ordenado que ganhava como caixa numa loja, com o trabalho num bar, frequentado pela “alta finança” – o que lhe valia gordas gratificações, normalmente acompanhadas de convites para “um particular”.
Amélia aceitava as gorjetas, agradecia, e declinava os convites. Limitava-se a fazer o seu número de dança e ia-se embora.
O gerente, seu amigo, persuadia os clientes a não insistirem. “Afinal, ela não era a única dançarina lá no bar. Embora fosse a melhor, as outras também eram bastante boas…E assim convencia os clientes.
Logo que arranjou emprego como recepcionista num consultório médico, largou o bar. Conseguia conciliar o novo trabalho com o de caixa na loja, e assim a sua situação económica melhorou substancialmente.
Perante a reacção de Carla ao saber da sua ocupação ficou radiante e de imediato respondeu que teria nisso o maior prazer.
- Quando a Carla quiser… é só dizer. De momento tenho só duas alunas. Costumo ter três, mas uma, estudante, foi fazer um estágio ao estrangeiro e só regressa daqui por alguns meses.
- Fica combinado. Vou falar com o meu marido. Tenho a certeza que ele não se vai opor, mas preciso que esteja cedo em casa para ficar com os gémeos enquanto eu for à escola de dança – disse, sorrindo alegremente.
Nanda resolveu espicaçar Amélia:
- Parece-me que toda essa conversa acerca da dança foi só pretexto para desviar o assunto dos amores de António e Amélia – riram todas.
- Ai, Nanda, que se o amor é isto o que não será o ódio – respondeu Amélia, aderindo à brincadeira.
- Minha amiga, não se esqueça que o amor e o ódio andam muito perto um do outro, de tal modo que, às vezes, até se confundem…
Carla interveio:
- Vocês não imaginam a curiosidade que me despertaram. Eu preciso conhecer esse apaixonado da Amélia!
- A Carla já o deve ter visto – respondeu Nanda. É um homem muito bem parecido, gentil e simpático. Menos para a Amélia – acrescentou, em tom de brincadeira.
- É mesmo isso! Muito boa figura, alto, e, apesar dos seus 60 anos, (é mais ou menos essa a idade que ele aparenta) não se lhe nota uma gordurinha fora do sítio – respondeu Amélia, em tom sério. E, segundo consta, até tem uma boa situação financeira. Só é pena aquele feitio azedo… Mas eu sei que é só comigo, porque já o tenho observado sem ele ver, e é todo salamaleques com as outras pessoas…
- Acredite no que lhe digo, Amélia. Aquela é a forma que ele arranjou para disfarçar o amor que sente por si. Eu bem vejo a maneira como ele olha para si nas reuniões de condóminos, quando pensa que ninguém o está a observar – respondeu Nanda, em tom sério.
- Não brinque comigo! Se isso fosse verdade – e olhe que eu até nem desgostava da ideia – para que é que ele anda sempre a embirrar comigo?
- É como eu lhe disse, o homem é tímido, tem receio de mostrar os seus sentimentos e não ser correspondido…
- Ai é? Querem ver que eu tenho de lhe tirar a timidez? – riu Amélia.
- Parece-me que é o melhor que tem a fazer! Quanto a si, Carla, na próxima reunião de condóminos apresento-lho. É um homem muito educado.
E agora, minhas queridas amigas, vou entrar e tentar descansar porque amanhã é um dia grande para mim – rematou, com um ar feliz.
- Dia grande? - perguntaram Amélia e Carla, quase em uníssono. E pode-se saber porquê?
- Claro que sim. Amanhã vou ter a última entrevista com o engenheiro Carvalho Araújo, meu futuro patrão. Por isso vou fazer o meu sono de beleza, e depois arrumar uma roupa bem bonita, para me apresentar toda charmosa – respondeu, tentando disfarçar o nervosismo que, na realidade, sentia. Sabia que aquele emprego era muito importante para a sua vida, e precisava dar tudo por tudo para conseguir chegar a acordo com o engenheiro.
- Sono de beleza? Roupa bonita? – Amélia falava num tom duvidoso. Como se fosse preciso… Linda e elegante como a Nanda é, não precisa desses sonos… e qualquer trapinho lhe fica bem.
- Concordo com a Amélia – acrescentou Carla.
- Vocês são muito simpáticas, agradeço muito, mas prefiro tomar as minhas providências. Vamos, Tejo! 
Nanda abriu a porta da sua casa e despediu-se com um “até amanhã”.

Maria Caiano Azevedo

terça-feira, 1 de outubro de 2019

LIVRO EM CONSTRUÇÃO - SEGREDOS XIII

SEGREDOS – CAPÍTULO XIII
 
 SEGREDOS – CAPÍTULO XII
 “… Imersa nestes pensamentos Nanda nem se tinha apercebido de que chegara ao supermercado. Só quando a voz do “segurança” disse, alegremente: Bom dia, dona Nanda! – é que ela “desceu à terra” e apressou-se a ir fazer as compras.
Quando regressava, com um saco em cada mão, ouviu o telefone tocar. Como era complicado, com os sacos das compras, atender, deixou-o tocar, pensando: “Quando chegar a casa vejo quem ligou e retorno a chamada” …”

SEGREDOS – CAPÍTULO XIII
Liberta dos sacos das compras Nanda olhou para o visor do telemóvel verificando, com algum alvoroço, que fora Carvalho Araújo quem lhe ligara.
Depois de uns minutos em que tentou acalmar a ansiedade marcou o número e, passados poucos segundos ouviu a voz do “futuro patrão”:
- Nanda? Liguei-lhe há pouco…
- Sim, Araújo, eu sei, mas não pude atender, peço desculpa…
- Não tem importância. Eu gostava de falar consigo pessoalmente para acertarmos os últimos pormenores. Finalmente tudo está concluído e, neste momento posso dizer que a Ourivesaria Orvalho de Prata me pertence.
- Isso quer dizer que o dono aceitou vender-lhe só essa, separadamente da outra?...
- Exactamente! E ainda bem, sabe?, porque o outro negócio que eu tinha em vista para o caso de este falhar não me agradava tanto.
- Só por curiosidade – posso saber de que se tratava?
- Com certeza! Era ligado ao ramo da restauração.
- Ah! Ainda bem que não precisou recorrer a isso… - comentou Nanda.
- Por acaso eu também concordo… Mas a Nanda tem alguma coisa contra a restauração?
- Não exactamente… mas passei por uma pequena experiência pouco agradável, relacionada com farturas – respondeu Nanda, sorrindo levemente à lembrança do Chico das Farturas.
- Bom, se foi desagradável não vou pedir que me conte. Voltando ao nosso assunto, quando e onde poderemos encontrar-nos?
- Como hoje já é um pouco tarde… talvez amanhã de manhã, no Café Estrela, este que fica perto da minha casa…
- Perfeito! Encontramo-nos lá, então. Até amanhã.
- Até amanhã – respondeu Nanda, desligando o telemóvel.
Excitadíssima com a perspectiva de que muito brevemente começaria a trabalhar, ligou ao Tó Zé.
- Eu cá tenho as minhas razões para acalentar esperanças – ouviu-o dizer, em voz carinhosa.
- O quê? Não estou a perceber nada! Isso é alguma forma nova de atender o telefone?
- Sim, mas só quando fores tu a ligar, não é norma geral para toda a gente.
- Tu e as tuas conversas – replicou Nanda, que ainda não acalmara a sua excitação. Quando começas a falar por enigmas ninguém te endente…
- Não é nenhum enigma, só que, quando me ligas, renasce em mim a esperança de voltar a ter-te nos braços – respondeu Tó Zé com a voz carregada de mel.
Nanda ficou calada por uns momentos, em parte por não saber o que responder, mas especialmente para acalmar o coração que lhe saltava no peito. E pensou: “Eu estou mesmo carente! Porque é que este fulano agora mexe tanto comigo? Tenho que ser forte e não me deixar enredar.”
- Pois bem podes esperar sentado – conseguiu, por fim, responder. E, apressadamente acrescentou:
- Eu só te liguei para saber o que é que combinaste com o nosso filho sobre a vinda deles para cima. Ele hoje ainda não me ligou nem eu a ele, e tanto quanto sei havia a dúvida se tu ias buscá-los ou se era o sogro que os trazia…
- Tens razão, havia a hipótese de ser o pai da Catarina, a nossa nora, a trazê-los…
Nanda reparou no tom quase orgulhoso com que Tó Zé pronunciava “nossa nora”, como se fosse mais um elo a ligá-los.
- Entretanto – continuou o seu ex – ontem à noite falei com o Luís e combinámos ir eu buscá-los porque o sogro só podia vir daqui por uns dias. E, já que as acomodações para eles estão prontas… não vale a pena estar a atrasar a vinda, não concordas? Eu estou ansioso por conhecer o nosso neto, e penso que contigo se passa o mesmo…
Novamente aquele tom de voz acariciador, quase íntimo. Nanda sentia-se cada vez mais insegura, o que, ao mesmo tempo que lhe aquecia o coração, a irritava, pois não queria deixar-se envolver. Tó Zé pertencia ao passado e era lá que devia permanecer.
Foi, por isso, com voz firme que respondeu:
- Claro que se passa o mesmo. Tu deves saber que, para as avós, o nascimento de um neto é tanto ou mais importante do que o de um filho. Avó é mãe duas vezes!
- Vendo as coisas por esse prisma… avô também é pai duas vezes – rematou ele, esquecendo-se de que não fora um pai muito presente.
Nanda decidiu não pensar nisso, e terminou a conversa pedindo-lhe que fosse dando notícias quando iniciasse a viagem de regresso. 
Terminado o telefonema com o Tó Zé decidiu ir terminar a limpeza da casa que iniciara no dia anterior já que, no dia seguinte, iria encontrar-se com Carvalho Araújo e estava esperançada em começar a trabalhar muito em breve.
Foi buscar o material necessário e pôs-se ao trabalho. As mãos iam limpando o pó enquanto a cabeça lhe recordava a conversa que acabara de ter com o seu ex-marido.
Ficava sempre um pouco perturbada depois de falar com ele, o que atribuía ao facto de há cerca de um ano não ter um namorado para se distrair. Tinha urgentemente de combinar uma saída à noite com a Bela, pois os pretendentes não caíam do céu. “Tenho que ir à caça…” – e sorriu à ideia.
Sentia-se feliz. Parece que, finalmente, a sua vida estava a tomar um bom rumo.
As perspectivas de ir trabalhar com o Araújo faziam-lhe crer que iria ter um bom ordenado; o filho Luís estava prestes a vir morar para perto de si, e a lembrança de poder ter o netinho nos braças fazia-a sorrir de enlevo; o filho Miguel também lhe dissera que não tardava a vir de férias.  Tudo se conjugava para ela viver dias risonhos.
Assim pensando lembrou-se de novo de Tó Zé e de como ele estava diferente desde que soubera que ia ser avô.
A verdade é que ambos tinham vivido alguns anos felizes, e ela não podia esquecer que lhe devia muito. Não, Nanda não era ingrata, e sempre reconhecera que a atitude que ele tivera há trinta anos fora prova de grande nobreza de carácter – para além de lhe demonstrar que, de facto, a amava sem reservas.
Como era de esperar o seu pensamento voou para Alessandro, no fundo o grande responsável do seu casamento com Tó Zé…
***
No início do namoro Bela acompanhava-os, mas como depois teve de se ausentar com a mãe, eles passaram a andar sozinhos, o que lhes agradava muito mais.
 Os pais de Nanda davam-lhe liberdade para um namoro que imaginavam “à moda antiga”, em que os pares passeavam de mãos dadas, trocando juras de amor.
Ela saía todas as tardes para ir encontrar-se com o namorado, o que eles achavam perfeitamente normal visto Nanda já ter completado os 18 anos. Como sempre tinha sido uma menina entregue aos estudos, “com a cabeça no lugar” e sem pensar em namoricos como a maioria das jovens da sua idade, não lhe punham quaisquer restrições, confiando nela plenamente.
Como era tempo de férias Nanda dispunha de muito tempo, o que não se passava com Alessandro, que tinha de trabalhar na pesquisa para a qual fora enviado para Lisboa. Contudo, a necessidade de estar com Nanda era tão premente que algumas vezes descurava os seus afazeres, e só as chamadas de atenção de Milão o faziam descer à terra. Apercebendo-se do que se passava, e não querendo causar-lhe problemas, Nanda tomou a iniciativa de criar regras para os encontros, que passaram a ocorrer só a partir das cinco da tarde, quando ele encerrava o trabalho do dia.
Como resultado da restrição de tempo em que estavam juntos, o amor eclodiu como um vulcão. Cada vez a ligação entre eles era mais forte, criando laços muito apertadas, difíceis de desatar.
Jovens, viviam uma paixão sem algemas, tão forte que às vezes parecia irreal. Queriam abarcar o mundo que lhes parecia só seu.
Depois do primeiro beijo no bar da praia no dia do aniversário de Nanda, tímido e como que a medo, procuravam agora os lugares mais solitários para se beijarem com sofreguidão. Neste clima que cada vez se tornava mais intenso, sentiam crescer em si o desejo de se entregarem um ao outro, de satisfazerem o que começava a tornar-se insuportável.
Na cidade universitária, logo que Alessandro saía do trabalho e estando Nanda à sua espera no passeio em frente, procuravam os recantos mais isolados e aí se entregavam às suas manifestações amorosas que a cada dia se tornavam mais ousadas. Os beijos arrebatadores já não os satisfaziam, os corpos, jovens e sedentos, exigiam algo mais.
Naquele dia Nanda avisara a Mãe de que iam ao cinema, à sessão das seis e meia, e depois iriam comer qualquer coisa, pelo que chegaria um pouco mais tarde e não jantaria em casa. Sentia-se portanto perfeitamente à vontade, sem a pressão das horas para regressar.
Nas várias deambulações que todos os dias faziam à procura do “melhor lugar” acabaram por encontrar um local verdadeiramente isolado, longe de todos os olhares indiscretos, e onde se sentiam totalmente tranquilos.
É sábado, a universidade sem qualquer movimento, o dia chegando ao fim. Já se vêem no céu os tons avermelhados do anoitecer. Nanda e Alessandro sem qualquer vontade de se separar, continuam acariciando-se mutuamente, murmurando palavras quase sem nexo, apenas com o intuito de continuarem juntos.
Alessandro ousa um gesto mais íntimo e Nanda retrai-se. A severa educação que recebeu não a deixa desinibir-se por completo. O assédio de que fora vítima também a condicionava um pouco.
Com palavras em que tenta dissimular a excitação Alessandro murmura na sua voz doce, que o sotaque italiano torna ainda mais sedutora:
- Porque me afastas, amore mio? Eu penso em ti a todos os momentos, e isto faz-me sentir tão bem! Quero que sejas muito feliz.
Nanda encostou o seu corpo ao dele, e Alessandro pode sentir como ela tinha a pele arrepiada, no seu top de alcinhas. Rapidamente, num gesto de carinho, tapou-a com o blazer que colocara sobre os seus ombros quando saíra do trabalho. Ao mesmo tempo, segurando-a fortemente contra si, fê-la recostar-se de modo a ficar com as costas sobre as folhas caídas sobre a relva. Nanda deixou de oferecer resistência.
 A noite ia baixando. Já toda a gente tinha abandonado as proximidades. Encontravam-se sozinhos. Subitamente, puxando-a para si beijou-a sofregamente.
O jogo amoroso iniciava-se. Os sentimentos de ambos, tanto tempo recalcados, extravasaram. Entravam numa espiral sem retorno.
Lentamente, Alessandro foi lhe descendo as alças do top, acariciando os seios que, jovens e firmes, se lhe ofereciam como num altar. Como que em “slow motion” foram retirando as roupas um ao outro, entregando-se assim, sem reservas, àquela paixão que os enlouquecia.
O desejo de ambos passou a ser incontrolável e no chão, ao lado da roupa retirada dos corpos, consumaram, numa loucura frenética, a paixão que tinham acumulada.
Parecia-lhes ouvir ao longe uma música suave, embalando-os e transportando-os para outro universo.
Exaustos pela força com que se amaram, repousam agora, felizes.
Os corpos nus, transpirados, são percorridos por um leve arrepio. Apesar da temperatura anormalmente elevada daquele dia - o Verão estava a chegar ao fim - a noite refrescara um pouco.
Recompuseram-se a custo. Os corpos suados pareciam não querer separar-se. Mas o tempo não pára, e Nanda tinha de regressar rapidamente para evitar alguma reprimenda ou, na pior das hipóteses, alguma proibição de sair tantas vezes de casa.
A partir desse dia a vontade de se encontrarem a sós cresceu assustadoramente.
Depois do arrebatamento da primeira vez, já mais calmos, compreenderam o risco que corriam ao exporem-se num local público, por muito recatado e longe de olhares indiscreto que ele fosse.
Alessandro propôs, e Nanda imediatamente aceitou, que passassem a encontrar-se no T1 que ele alugara à chegada a Lisboa. E assim passou a ser.
Passaram então a viver dias de perfeita loucura. Completamente à vontade, entregavam-se àquele amor que os enlouquecia como se não houvesse amanhã.
Alessandro não se cansava de acariciar a curvatura do pescoço de Nanda, a macieza da sua pele, a beleza dos seios que ele beijava ao de leve, demorando-se em cada gesto como se quisesse eternizá-lo.
Nanda, de olhos fechados, sentia a leveza das suas mão a acariciá-la, num enlevo que a transportava como se viajasse num veleiro para outros mundos, onde a felicidade não tinha fim.
Uma vez por outra, de mãos dadas, passeavam à beira rio, vagarosamente, aspirando o ar de fim de Verão, serenos e felizes. Beijando-se meiga e suavemente, apreciavam os veleiros do Tejo com as velas brancas enfunadas, deslisando sobre as águas, levados pela leve brisa do anoitecer.
Os olhos de ambos apenas viam o lado belo da vida.  Riam de tudo e de nada, só por estarem juntos e se sentirem felizes.
E assim decorreram três semanas que, a seus olhos, pareciam minutos.
Por norma, Alessandro não telefonava durante as horas de trabalho. Um dia, inesperadamente, Nanda olha para o visor do telemóvel que começara a tocar e vê que quem lhe estava ligando era o seu namorado.
Sem saber explicar porquê sentiu um arrepio…
  
Maria Caiano Azevedo