Os pais dela trabalhavam, ela não tinha irmãos, portanto a casa estava por nossa conta.
Começámos a estudar na sala
mas, pouco tempo depois, ela propôs que descansássemos um pouco e fôssemos para o seu quarto ver fotos ou qualquer outra coisa que agora não recordo; não fiz qualquer objecção . Fomos!
Aí chegadas a minha amiga começou a queixar-se com calor, dizendo que ia pôr-se à vontade, e insistindo para que eu fizesse o mesmo. Tudo bem, porque não?
Ficamos, portanto, apenas com as calcinhas e os sutiãs.
Sentámo-nos na beira da cama a ver qualquer coisa, e de repente, sem eu esperar, ela, com a mão direita puxou-me pelo pescoço e deu-me um beijo na boca, ao mesmo tempo que, com a mão esquerda, acariciava a minha coxa.
Qualquer coisa em mim entrou em alerta! Eu nunca havia tido qualquer contacto mais íntimo, e em casa os meus pais eram bastante discretos, embora muitas vezes trocassem carinhos.
Penso que a minha sexualidade ainda não tinha despertado, o que só viria a acontecer, na prática e fisicamente, depois dos dezoito anos.
Naquela altura, com a minha amiga, não sei o que senti. Espanto, talvez.
A verdade é que eu era, com certeza, muito infantil, e com a educação algo severa dos meus pais, não tinha ainda tido devaneios amorosos…
A minha reacção foi, portanto, afastar-me um pouco; mas ela puxou-me carinhosamente para si e começou a beijar-me o pescoço ao mesmo tempo que tentava acariciar-me o peito, que já se notava perfeitamente, denotando o que viria a ser dentro de pouco tempo.
Fui salva pelo gongo, como se costuma dizer. O telefone começou a tocar e a minha amiga foi à sala atender. Eu aproveitei para rapidamente me vestir, e quando ela regressou disse-lhe que era melhor ir-me embora porque não avisara a minha Mãe de que ia chegar mais tarde e “sabes como ela é exigente com os horários”. (A minha Mãe trabalhava em casa como tradutora, por isso quando eu saía da escola encontrava-a sempre em casa).
A minha amiga mostrou-se muito compreensiva e não insistiu para eu ficar; apenas me disse que gostava que eu fosse novamente estudar com ela, mas que avisasse disso a minha Mãe.
Saí dali com as pernas a tremer. Tinha a sensação de que o que se passara não era tão inocente como a minha amiga me queria fazer crer. O meu sistema de alerta funcionara na perfeição, evitando que eu pudesse ter a minha primeira experiência homossexual, para a qual não estava minimamente preparada, e que poderia ser bastante traumatizante.
Ela ainda voltou a convidar-me meia dúzia de vezes para ir a sua casa; mas, perante as minhas escusas, acabou por desistir.
Não deixei de ser amiga dessa garota, embora evitasse, daí para o futuro, encontrar-me a sós com ela, e recusasse, sistematicamente, todos os seus convites que implicassem uma maior aproximação.
Nos anos que se seguiram até aos meus 18 anos nada de especial aconteceu no que respeita a experiências sexuais.
Penso que para isso muito contribuiu a educação que a minha Mãe me dava: muito carinho, muito amor, mas muita severidade também. Ela conhecia perfeitamente os meus horários escolares, e não admitia que eu chegasse a casa mais tarde do que o tempo necessário para a deslocação. Para que tal acontecesse, tinha que ser previamente avisada.
À medida que os anos passavam as minhas formas iam-se arredondando, a cintura ficando mais fina e os traços do rosto mais harmoniosos.
Contra isso a minha Mãe nada podia fazer, a não ser comprar-me roupas bastante folgadas, que disfarçavam as minhas elegantes formas.
Fora dos seus olhares eu colocava um cinto que ajustava a roupa à cintura, porque cada dia sentia mais vontade de me libertar daquela maneira de vestir arrapazada. Mas com a minha Mãe não valia a pena insistir: a sua vontade era soberana. E depois ela tinha uma maneira de se impor, uma autoridade tão natural, que eu nem sentia que estava a ser contrariada, mas sim convencida a fazer o que não me agradava.
As amigas, quando a iam visitar e eu aparecia para as cumprimentar, não me poupavam elogios:
- Carminha (era a minha Mãe), mas como a tua filha está bonita! E tão elegante! É uma verdadeira estátua! Só é pena que tenhas tão mau gosto para a vestir… Deve andar uma multidão de rapazes atrás dela…
Já tens namorado? – perguntavam, dirigindo-se a mim.
Eu simplesmente corava e baixava a cabeça; e antes que pronunciasse uma palavra a minha Mãe atalhava logo:
- Era só o que faltava! Ela tem é que pensar em estudar, tirar o seu curso, estabelecer-se na vida, e depois então pensar em namoricos. E ainda vai cedo! Eu casei-me com 28 anos e tenho tido tempo para realizar todos os meus sonhos. Portanto ela fará o mesmo.
Continua