ANITA – EPISÓDIO XXVIII
(Ficção baseada em factos reais)
… Mas sabes uma coisa? Não tenho passado tão bem como da primeira vez. E, quando vinha a caminho de casa, surgiu-me uma ideia:
Que tal se fôssemos à capital consular um especialista? Que te parece?
Vicente esboçou um ligeiro sorriso.
- Se achas que é uma boa ideia, se vais ficar mais descansada, podes ir. Talvez a tua mãe te possa acompanhar…
- Não, Vicente, a minha mãe não, A minha ideia era tu ires comigo…
- Estás a esquecer-te de um pormenor muito importante: eu não posso sair daqui, esqueceste-te? Não me digas que não sabias…
- Sabia, sim, claro! Como toda a gente soube quando vieste para cá. Eu era ainda uma criança, por isso estava a esquecer-me…
E se fôssemos a Inglaterra?
- Anita, eu não estou proibido de ir à capital; estou proibido de sair da ilha. Não posso ausentar-me daqui até ao fim dos meus dias.
E, não indo comigo, parece-me mais fácil ires ao Continente do que a Inglaterra. Não te parece?
- Talvez tenhas razão. Tenho que pensar bem no assunto.
E rapidamente mudou o rumo à conversa.
Esquecera-se completamente que Vicente não podia sair dali. E não era por ela que falara em consultar um médico na capital; era apenas um pretexto de que se lembrara para obrigar o marido a fazer os exames que na ilha não seria possível realizar.
Alguns dias depois Anita escreveu a Humberto. Nunca sentira tanta dificuldade em contar-lhe qualquer coisa. Não encontrava as palavras certas para lha falar na sua gravidez. Parecia-lhe, desde a última carta que recebera de Humberto, que alguma coisa se quebrara entre eles, qualquer coisa que não conseguia definir, mas que a magoava muito. Era como que um espinho que se tivesse colocado entre ambos.
Depois de muito hesitar e rodear, escreveu de repente:
-Estou grávida!
E, repetindo o que dissera na carta anterior, pedia-lhe que não a condenasse por ser feliz.
Depois de descrever a conversa que tivera com o marido, e a sua reacção, terminava dizendo-lhe:
- Talvez esta notícia, de início, seja um choque para ti. Mas tenho a certeza que, depois de veres como sou feliz, de como o padre João me ama, e, principalmente depois de conheceres o novo membro da família, quando ele chegar, dentro de seis meses, mudarás de opinião.
E a carta segui o seu destino.
Tudo entrou na normalidade, e pouco antes das férias lectivas, Anita foi para o Hospital, onde deu à luz uma linda e perfeita menina.
Foi registada com o nome de Eduarda, filha de Anita e Vicente.
Na impossibilidade de a registar como sua filha, o padre João manifestou a Anita o desejo de, pelo menos, ser seu padrinho.
Conversando com o marido, Anita transmitiu-lhe o desejo do padre.
Vicente não manifestou surpresa nem qualquer desagrado. Respondendo que achava uma boa ideia, prontificou-se a mandar a sua lancha, que fazia a ligação com terra dos navios que não podiam acostar ao pequeno cais, buscar o padre da ilha mais próxima, seu conhecido de longa data.
O baptizado realizou-se em ambiente festivo, ainda que restrito apenas a familiares.
Anita sentia um grande desgosto ensombrar a sua felicidade – a ausência de Humberto.
Embora estando em plena época de férias escolares, Humberto comunicara que não podia ausentar-se do local onde exercia o seu estágio, e por esse motivo viria mais tarde, apenas por uma semana.
Anita ficou com a sensação de que se tratava de uma desculpa, mas não se atreveu a fazer qualquer insinuação. Limitou-se a manifestar a sua tristeza pela ausência do enteado, acrescentando que ficava ansiosa pela sua vinda, ainda que por tão poucos dias.
Anita revia-se na sua linda menina. O padre João vinha todos os dias visitar a sua afilhada. Vicente, que agora se mantinha em casa por largos períodos, passava com Eduarda muito mais tempo do que dispensara ao próprio filho, Tiaguinho.
Observando-os, Anita pensava:
- Parecem mesmo avô e neta!
Lembrava-se de como o seu próprio pai procedera com Tiaguinho, quando ele era bebé – os mesmos gestos, o mesmo sorriso enternecido, o mesmo ar de encantamento…
(Ficção baseada em factos reais)
… Mas sabes uma coisa? Não tenho passado tão bem como da primeira vez. E, quando vinha a caminho de casa, surgiu-me uma ideia:
Que tal se fôssemos à capital consular um especialista? Que te parece?
FIM DO.EPISÓDIO XXVII
EPISÓDIO XXVIIIVicente esboçou um ligeiro sorriso.
- Se achas que é uma boa ideia, se vais ficar mais descansada, podes ir. Talvez a tua mãe te possa acompanhar…
- Não, Vicente, a minha mãe não, A minha ideia era tu ires comigo…
- Estás a esquecer-te de um pormenor muito importante: eu não posso sair daqui, esqueceste-te? Não me digas que não sabias…
- Sabia, sim, claro! Como toda a gente soube quando vieste para cá. Eu era ainda uma criança, por isso estava a esquecer-me…
E se fôssemos a Inglaterra?
- Anita, eu não estou proibido de ir à capital; estou proibido de sair da ilha. Não posso ausentar-me daqui até ao fim dos meus dias.
E, não indo comigo, parece-me mais fácil ires ao Continente do que a Inglaterra. Não te parece?
- Talvez tenhas razão. Tenho que pensar bem no assunto.
E rapidamente mudou o rumo à conversa.
Esquecera-se completamente que Vicente não podia sair dali. E não era por ela que falara em consultar um médico na capital; era apenas um pretexto de que se lembrara para obrigar o marido a fazer os exames que na ilha não seria possível realizar.
Alguns dias depois Anita escreveu a Humberto. Nunca sentira tanta dificuldade em contar-lhe qualquer coisa. Não encontrava as palavras certas para lha falar na sua gravidez. Parecia-lhe, desde a última carta que recebera de Humberto, que alguma coisa se quebrara entre eles, qualquer coisa que não conseguia definir, mas que a magoava muito. Era como que um espinho que se tivesse colocado entre ambos.
Depois de muito hesitar e rodear, escreveu de repente:
-Estou grávida!
E, repetindo o que dissera na carta anterior, pedia-lhe que não a condenasse por ser feliz.
Depois de descrever a conversa que tivera com o marido, e a sua reacção, terminava dizendo-lhe:
- Talvez esta notícia, de início, seja um choque para ti. Mas tenho a certeza que, depois de veres como sou feliz, de como o padre João me ama, e, principalmente depois de conheceres o novo membro da família, quando ele chegar, dentro de seis meses, mudarás de opinião.
E a carta segui o seu destino.
Tudo entrou na normalidade, e pouco antes das férias lectivas, Anita foi para o Hospital, onde deu à luz uma linda e perfeita menina.
Foi registada com o nome de Eduarda, filha de Anita e Vicente.
Na impossibilidade de a registar como sua filha, o padre João manifestou a Anita o desejo de, pelo menos, ser seu padrinho.
Conversando com o marido, Anita transmitiu-lhe o desejo do padre.
Vicente não manifestou surpresa nem qualquer desagrado. Respondendo que achava uma boa ideia, prontificou-se a mandar a sua lancha, que fazia a ligação com terra dos navios que não podiam acostar ao pequeno cais, buscar o padre da ilha mais próxima, seu conhecido de longa data.
O baptizado realizou-se em ambiente festivo, ainda que restrito apenas a familiares.
Anita sentia um grande desgosto ensombrar a sua felicidade – a ausência de Humberto.
Embora estando em plena época de férias escolares, Humberto comunicara que não podia ausentar-se do local onde exercia o seu estágio, e por esse motivo viria mais tarde, apenas por uma semana.
Anita ficou com a sensação de que se tratava de uma desculpa, mas não se atreveu a fazer qualquer insinuação. Limitou-se a manifestar a sua tristeza pela ausência do enteado, acrescentando que ficava ansiosa pela sua vinda, ainda que por tão poucos dias.
Anita revia-se na sua linda menina. O padre João vinha todos os dias visitar a sua afilhada. Vicente, que agora se mantinha em casa por largos períodos, passava com Eduarda muito mais tempo do que dispensara ao próprio filho, Tiaguinho.
Observando-os, Anita pensava:
- Parecem mesmo avô e neta!
Lembrava-se de como o seu próprio pai procedera com Tiaguinho, quando ele era bebé – os mesmos gestos, o mesmo sorriso enternecido, o mesmo ar de encantamento…