De acordo com o prometido no domingo passado, hoje vou partilhar convosco o segundo ponto das minhas duas principais preocupações no início do ano escolar.
Como já disse considero o problema das drogas bastante grave e de muito difícil solução.
Analisemos um pouco o percurso desta “chaga social”:
Este terrível mal que aflige a humanidade dos nossos dias, a toxicodependência – não é de agora.
Na realidade o uso de drogas remonta a tempos muito antigos.
As narrativas dos bacanais de Dionísio, as célebres festas e orgias de César, na antiga Roma, referem o uso de substâncias intoxicantes.
As antigas civilizações asiáticas extraíam o ópio da papoila; os incas usavam a coca, que retiravam das folhas do arbusto com o mesmo nome, e utilizavam como estimulante.
Aquando da chegada dos espanhóis àquele território, já os astecas, no México, mascavam um cacto de sabor amargo a que se chamou mescalina, que lhes provocava visões fantásticas.
Cerca de mil anos antes de Cristo os hindus consideravam a canábis uma planta sagrada, pelos efeitos que produzia.
Contudo, foi no Sec.XX que o uso de todos esses produtos mais se desenvolveu e disseminou.
E chegamos aos dias de hoje com um gravíssimo problema, de difícil resolução, e cujo fim não está à vista.
Com tanta informação existente, o que pode levar os jovens de hoje a drogarem-se?
Os entendidos referem que são muitos os motivos que os levam a iniciar-se nas drogas, desde a simples curiosidade ao receio de serem excluídos dum determinado grupo a que gostariam de pertencer.
Um dos principais atractivos é o prometido prazer imediato em discotecas ou outros centros de diversão. Há ainda o factor de problemas familiares.
Daí à dependência total é um salto muito curto.
Há quem defenda que a dependência é inata: o indivíduo nasce ou não adicto. Isso explicaria casos que todos nós conhecemos de jovens que, nascidos dos mesmos pais, vivendo sempre no mesmo ambiente, recebendo o mesmo tipo de educação, uns se tornem dependentes de drogas e outros não. Pessoalmente conheço vários casos assim.
Depois da dependência instalada só uma grande força de vontade e a ajuda de técnicos especializados poderão reverter a situação.
Torna-se, por isso, urgente investir a fundo na prevenção.
Pais, avós, outros familiares e amigos podem e devem ter um papel muito importante neste campo de acção.
Esclarecer os jovens mais desprevenidos, mostrar exemplos, fazer circular informação. E sobretudos alertá-los para o perigo duma primeira vez, a tal curiosidade da experiência que tantas vezes é fatal.
Para terminar, aprecie o poema de Marcial Salaverry, poeta com vasta obra publicada, inspirado no depoimento de um rapaz de 23 anos, já no estádio terminal de dependência, recolhido ao vivo na sua cama do hospital.
NÃO ÀS DROGAS
“Adopte seu filho, antes que um traficante o faça…”
Por um fui adoptado, para minha desgraça.
Tenho que dizer não às drogas,
pois já nem sei quem sou…
Vou pelo mundo, todo imundo.
Que faço aqui?
As pessoas passam por mim, e não me olham.
Enfim, só ocupo um lugar…
Vivo drogado, sou um viciado.
Minha vida desgraçada, pelo vício atrapalhada,
totalmente perdida.
Atrapalho a passagem,
perdido na viagem,
em que eu mesmo embarquei…
sumido na voragem de tudo que me cerca.
Ver-me não quero.
Se me vejo, me desespero.
Cansei…perco-me no mundo, que continua imundo…
Não consigo dizer não às drogas.
E a droga, transformou a vida numa droga…
Marcial Salaverry