HOJE NÃO ME APETECE FALAR
O mês de Junho é, particularmente, o que me traz à
lembrança as piores recordações. Dentro de poucos dias é o 12º.aniversário da
partida do meu companheiro de mais de 50 anos. Foram 53 anos de felicidade, com
seus altos e baixos, como em todos os casamentos, mas que se traduzem num saldo
muito positivo – uma felicidade que, acredito, não é muito usual.
Talvez por isso, por me lembrar dos tempos felizes
que vivi, hoje não me apetece falar.
É
em dias assim que os pensamentos, em catadupa, afluem ao nosso espírito, uns
atrás dos outros, como cerejas.
Há
dias cruzei-me na rua com um “bando de pardais à solta” (V. Os Putos – Paulo de
Carvalho).
Espalhando-se
ao longo do passeio, falando em altas vozes, gesticulando, pareciam donos do
mundo.
Os
jovens normalmente são muito efusivos, manifestam-se em “alto e bom som”, e
quando em grupo, essa característica assume proporções que podem tornar-se
incomodativas.
Acredito
que, em parte, isso se deve ao facto de frequentarem locais de diversão em que
o som ambiente é ensurdecedor. Para se fazerem ouvir têm de falar “aos berros”;
acabam por se viciar nesse tom exageradamente elevado, e usam-no quando não é
necessário.
Fica-me
a dúvida se, quando namoram, também o fazem em “alta voz” ou se, nesse caso,
sabem, ou conseguem, apenas sussurrar palavras de amor…
Talvez
porque já não sou jovem… sou como a Lua - que tanto gosto de contemplar - tenho fases, e
muitas vezes ataca-me a “Fase do Mutismo” e não me apetece mesmo falar, como
hoje.
Mas, falar e escrever são coisas bem diferentes, e escrever
apetece-me sempre…
Pode não parecer, mas esta “fase” ataca-me com uma certa
frequência. E, ao contrário do que se possa pensar, isso não significa que
goste de me isolar, de não conviver…
Não, continuo a gostar muito de companhia – estou a recordar-me
da minha Mãe que dizia, muitas vezes: “Só se veja, quem só se deseja”. Queria
ela significar que a solidão é boa para quem quer estar só – que não era o caso
dela (a minha Mãe gostava muito de conviver)
Nestas alturas não me afasto de ninguém, convivo normalmente, só
que permaneço calada, a ouvir o que os outros dizem – com o que se aprende
muito, acreditem.
Há dias, eu e minha filha falávamos de qualquer coisa em que
estávamos em desacordo, o que raramente acontece.
Na sequência da (des)conversa eu disse-lhe:
- Pois, minha filha, prepara-te, porque vais ter de me aturar
até aos cem anos…
Ela olhou para mim, abraçou-me com força e, comovida, com uma
lagrimita a espreitar ao canto do olho, respondeu:
- Era a coisa que me faria mais feliz, mãe.
São momentos como este,
que eu considero únicos, de uma intimidade total, onde não cabe mais nada nem
mais ninguém, que contribuem muito para a minha felicidade.
Então pus-me a imaginar como será atingir os 100 anos de
idade…
Quantas vezes o nosso imaginário nos conduz ao reino
da fantasia!
Aí tudo é possível acontecer - até a felicidade
plena…
A meninice nos devolve a alegria pura, inocente…
A adolescência leva-nos a valsar nos braços dum
príncipe encantado…
A juventude faz soar aos nossos ouvidos o som
romântico de violinos…
Depois… acontece a realidade.
E a
nostalgia apresenta-se, conferindo à nossa fantasia uma aura labiríntica de
sentimentos pretensamente escondidos, que pretende sobrepor-se à realidade.
Mas, como
disse, quando não me apetece falar é quando me sabe melhor ouvir. E por falar
em ouvir… ouvi há pouco na TV a notícia de mais uma violação, neste caso de uma
mulher. Mas, mais repugnante ainda, é o caso de violação de menores.
Violações
são o “pão nosso de cada dia”, como se costuma dizer.
Em situações
de guerra e invasões cometem-se verdadeiras atrocidades - é um facto
comprovado, que causa revolta e repúdio.
Mas no
dia-a-dia, em que essas coisas acontecem só porque há violadores, estupradores
e pedófilos à solta, a repugnância que tais actos suscita chega a ser
insuportável.
E por muito
dura que possa parecer… em
minha opinião, pedófilos e estupradores deveriam sofrer ablação genital
completa, ou seja, torná-los eunucos. Penso que isso seria castigo maior do que
a morte.
E não há que
ter ilusões. Um pedófilo não tem cura. (ignoro em relação ao estuprador). Há
estudos que provam que um pedófilo, ainda que sujeito a tratamento psiquiátrico
ou de outra natureza, nunca deixará de o ser.
E para
aliviar a carga emocional que, sem querer, emprestei às minhas palavras,
deixo-vos com “uma pequenina conversa” que acho muito bonita:
“Um dia o
Amor perguntou à Amizade:
- Para que
existes tu se já existo eu?
A Amizade
respondeu:
- Para repor
um sorriso onde deixaste uma lágrima”
Maria Caiano
Azevedo
01/06/2024