ANITA – EPISÓDIO XVI
(Ficção baseada em factos reais)
...
- Padre, o senhor já esteve noutras paróquias onde havia creches. Deve ter uma ideia de quantas pessoas são precisas para pôr a funcionar esta que vai abrir…
(Ficção baseada em factos reais)
...
- Padre, o senhor já esteve noutras paróquias onde havia creches. Deve ter uma ideia de quantas pessoas são precisas para pôr a funcionar esta que vai abrir…
FIM DO.EPISÓDIO XV
EPISÓDIO XVI
- É verdade, Dona Anita, todas as paróquias por onde passei tinham creches. E posso dizer-lhe que o ideal é que uma senhora não fique com mais de dez crianças a seu cargo.
Sabe que algumas ainda são bebés, é preciso dar o biberão, trocar as fraldas…
- Eu sei, padre João, ainda há pouco tempo passei por isso, com o Tiaguinho.
Mas eu estava aqui a pensar que talvez eu mesma pudesse dar uma ajuda…
Deixe-me pensar melhor no assunto, e talvez amanhã já possa dizer-lhe alguma coisa.
- Isso seria bom demais, Dona Anita. Todas as ajudas que recebermos serão bem vindas.
Despediram-se do padre e, em vez de se dirigir na direcção do colégio, Anita voltou-se para regressar a casa.
Eulália, estranhando, perguntou:
- Então, minha filha, já não queres ir hoje ao colégio?
- Não, minha mãe. Enquanto ouvia o padre João surgiu-me uma ideia que me parece muito boa, mas preciso amadurecê-la…
- Sim? E posso saber que ideia é essa?
- Claro que pode, minha mãe, mas só depois de eu decidir se vou pô-la em prática.
Esboçando um sorriso, fez uma ligeira festa no rosto da mãe, e não acrescentou mais nada.
Eulália, conhecendo Anita, sabia que ela não adiantaria mais nada sobre o assunto.
Propôs-lhe irem até ao parque, onde respirariam ar fresco.
Tiaguinho aproveitou para exercitar as pernitas ainda pouco habituadas a andar.
Nesse mesmo dia, ao jantar, Anita disse a Humberto:
- Tenho uma coisa para te contar…
- É relacionada com a tua ida ao colégio?
- É e não é…Eu não fui ao colégio.
- Não??? E porquê? Desististe da ideia de dar aulas?
- Não, de modo algum! Apenas alterei um pouco as minhas intenções. Ora escuta:
O padre João vai abrir uma creche, mas está lutando com grandes dificuldades. O número de crianças previsto deve rondar as trinta, e ele tem apenas uma pessoa para tomar conta delas.
Pela experiência que ele tem, sabe que precisa de três pessoas.
O problema que se levanta é que a paróquia não tem recursos para pagar a três pessoas; com esforço, poderá pagar a duas. Mas, nessas condições, ficariam muito sobrecarregadas de trabalho, o que se iria reflectir no tratamento e atenção a dar às crianças.
Então eu pensei assim:
Em vez de ir dar aulas para o colégio – o que poderia não acontecer, pelo menos este ano – vou para a creche.
Como sabes, o meu interesse em arranjar emprego não é para ganhar dinheiro, que não preciso, mas sim para estar ocupada.
Trabalhando na creche, sem receber ordenado, ficam todos a ganhar.
Em primeiro lugar as mães, que mais depressa podem lá pôr os seus filhos; depois o padre, que pode concretizar mais rapidamente o seu sonho; e finalmente eu – a principal beneficiada – porque não vou ter que me separar do Tiaguinho.
Embora fosse só uma parte do dia, enquanto estivesse a dar aulas no colégio, sei que me ia custar bastante, até me habituar. E o Tiaguinho também ia sofrer ao ver-se afastado de mim…
Humberto não a interrompeu. Limitou-se a ouvi-la, em silêncio, apreciando, deliciado, o calor com que ela falava à medida que explanava a sua ideia. E sentiu crescer, dentro de si, o amor e admiração que sentia pela madrasta.
Tentando disfarçar a comoção, falou, finalmente, em tom meio brincalhão:
- Tu és única, mãezinha. Não há ninguém igual a ti!
E dando-lhe um pequeno piparote no nariz, voltou-se para a janela, parecendo muito interessado na escuridão que estava lá fora. Disse:
- Vou sair por uns minutos. Prometi ao meu amigo Joaquim levar-lhe uns panfletos que trouxe da Inglaterra.
Mas não me demoro, prometo.
Passou pelo seu quarto a buscar uns papéis e saiu.
Lá fora respirou fundo. Sentia o coração a transbordar de amor por Anita, e não queria que ela se apercebesse.
Pouco tempo depois regressou, já calmo, para passar o serão com a madrasta.
- É verdade, Dona Anita, todas as paróquias por onde passei tinham creches. E posso dizer-lhe que o ideal é que uma senhora não fique com mais de dez crianças a seu cargo.
Sabe que algumas ainda são bebés, é preciso dar o biberão, trocar as fraldas…
- Eu sei, padre João, ainda há pouco tempo passei por isso, com o Tiaguinho.
Mas eu estava aqui a pensar que talvez eu mesma pudesse dar uma ajuda…
Deixe-me pensar melhor no assunto, e talvez amanhã já possa dizer-lhe alguma coisa.
- Isso seria bom demais, Dona Anita. Todas as ajudas que recebermos serão bem vindas.
Despediram-se do padre e, em vez de se dirigir na direcção do colégio, Anita voltou-se para regressar a casa.
Eulália, estranhando, perguntou:
- Então, minha filha, já não queres ir hoje ao colégio?
- Não, minha mãe. Enquanto ouvia o padre João surgiu-me uma ideia que me parece muito boa, mas preciso amadurecê-la…
- Sim? E posso saber que ideia é essa?
- Claro que pode, minha mãe, mas só depois de eu decidir se vou pô-la em prática.
Esboçando um sorriso, fez uma ligeira festa no rosto da mãe, e não acrescentou mais nada.
Eulália, conhecendo Anita, sabia que ela não adiantaria mais nada sobre o assunto.
Propôs-lhe irem até ao parque, onde respirariam ar fresco.
Tiaguinho aproveitou para exercitar as pernitas ainda pouco habituadas a andar.
Nesse mesmo dia, ao jantar, Anita disse a Humberto:
- Tenho uma coisa para te contar…
- É relacionada com a tua ida ao colégio?
- É e não é…Eu não fui ao colégio.
- Não??? E porquê? Desististe da ideia de dar aulas?
- Não, de modo algum! Apenas alterei um pouco as minhas intenções. Ora escuta:
O padre João vai abrir uma creche, mas está lutando com grandes dificuldades. O número de crianças previsto deve rondar as trinta, e ele tem apenas uma pessoa para tomar conta delas.
Pela experiência que ele tem, sabe que precisa de três pessoas.
O problema que se levanta é que a paróquia não tem recursos para pagar a três pessoas; com esforço, poderá pagar a duas. Mas, nessas condições, ficariam muito sobrecarregadas de trabalho, o que se iria reflectir no tratamento e atenção a dar às crianças.
Então eu pensei assim:
Em vez de ir dar aulas para o colégio – o que poderia não acontecer, pelo menos este ano – vou para a creche.
Como sabes, o meu interesse em arranjar emprego não é para ganhar dinheiro, que não preciso, mas sim para estar ocupada.
Trabalhando na creche, sem receber ordenado, ficam todos a ganhar.
Em primeiro lugar as mães, que mais depressa podem lá pôr os seus filhos; depois o padre, que pode concretizar mais rapidamente o seu sonho; e finalmente eu – a principal beneficiada – porque não vou ter que me separar do Tiaguinho.
Embora fosse só uma parte do dia, enquanto estivesse a dar aulas no colégio, sei que me ia custar bastante, até me habituar. E o Tiaguinho também ia sofrer ao ver-se afastado de mim…
Humberto não a interrompeu. Limitou-se a ouvi-la, em silêncio, apreciando, deliciado, o calor com que ela falava à medida que explanava a sua ideia. E sentiu crescer, dentro de si, o amor e admiração que sentia pela madrasta.
Tentando disfarçar a comoção, falou, finalmente, em tom meio brincalhão:
- Tu és única, mãezinha. Não há ninguém igual a ti!
E dando-lhe um pequeno piparote no nariz, voltou-se para a janela, parecendo muito interessado na escuridão que estava lá fora. Disse:
- Vou sair por uns minutos. Prometi ao meu amigo Joaquim levar-lhe uns panfletos que trouxe da Inglaterra.
Mas não me demoro, prometo.
Passou pelo seu quarto a buscar uns papéis e saiu.
Lá fora respirou fundo. Sentia o coração a transbordar de amor por Anita, e não queria que ela se apercebesse.
Pouco tempo depois regressou, já calmo, para passar o serão com a madrasta.
FIM DO EPISÓDIO XVI
Ele só podia estar apaixonado pela Anita, e ela também pode estar apaixonada por ele sem o saber ainda. Torço para que a Anita comece a trabalhar. É um trabalho agradável, pois já adquiriu experiência com o seu filhinho e não precisará separar-se dele. Fico na torcida.
ResponderEliminarMuito bem escrito, Mariazita, parabéns.
Um beijo,
Renata
PS: Tem post novo no Galeria
Querida Maria,
ResponderEliminarNo capítulo precedente e no atual, Anita se mostra volúvel na tarefa a ocupar o tempo. Antes ela queria voltar ao colégio, agora decide ajudar na creche. Talvez essa segunda opção tenha a ver com a autora, que gosta muito de bebês, não é mesmo? E o enteado reapareceu e já se mostrando apaixonado pela madrasta. Hum... Um beijo carinhoso
A palavra é semente
ResponderEliminarQue floresce na luz de cada alma e enternece
Às vezes é doce veneno
Às vezes taça de cidra que o peito aquece
Ser Poeta é tanto, tão pouco
É transformar em crentes os ateus
É domar todas as tempestades da alma
É estar mais perto de Deus
Mágico beijo
Má,
ResponderEliminarestava na cara que ele estava caído por ela, né?
Amo sua história, rs...
Lindona, passa lá no meu cantinho que tm um presentinho para vc ...
Um beijo grande
Mariazita
ResponderEliminarEnfim, estava mesmo a ver-se a anita a ajudar no colégio da paróquia. Agora Humberto parece voltar à ribalta. Nos tempos que correm é natural que se assuma. Esperemos pra ver.
Deixo da minha postagem no mitalaia (Sol):
http://sol.sapo.pt/blogs/mitalaia/archive/2009/03/26/POEMA-IN_CA00_S.aspx
Beijinho,
Daniel
Querida Mariazita,
ResponderEliminarora aí está um amor puro e doce... Mas também um grande dilema: Amar a mulher do pai!
Uma história verdadeira, que escreves num maravilhoso romance!
Parabéns.
Beijinhos,
Ana Martins
Tem selinho la pra vc.
ResponderEliminarbeijooo.
Esta história ainda vai acabar com tudo a ter terapia... ;)
ResponderEliminarBeijo, Mariazita!
Estórias da vida real...
ResponderEliminarSão as mais autênticas.
Bjs
LIndo!!!
ResponderEliminarApaixonante mesmo!
Que maravilha!
As coisas estão finalmente a compor-se. Estou muito feliz por eles.
Belo texto amiga Mariazita!
Bem escrito!
Beijinhos
São
Mariazita,
ResponderEliminarJá sei que são muitos os que muito apreciam a tua escrita. Junto-me a eles e o mérito é teu.
Estou a ver pelo desenrolar da história, que estamos em presença de um caso de puro altruísmo da Anita.
Mas vou continuar a seguir...
Um beijo
Voltei.
ResponderEliminarVenho trazer um presente e um desafio giro que estão aqui.
Beijinhos e bom fim de semana!
São
ele há cada situação...
ResponderEliminarUm bom fim de semana.
Como gostei de visitar esta casa.
ResponderEliminarOs meus parabéns pela forma como a mesma se apresenta e pelas palavras que por aqui encontrei.
Luis
QUERIDA AMIGA!!!
ResponderEliminarQue saudades !!!
Pois é !
Ando com a minha vida numa fona!!! E tempo pa vir aqui escrever um post e comentar tá de fio curto
, mas cá vim !!!
heheh Com uma proposta!!!
Vai ao meu cantinho e tá lá o teu nome
para fazer um joguito
LOL
( é pa mulheres inteligentes!!! E foi umas das mulheres mais inteligentes que conheço que mo enviou) por isso... claro que nunca me poderia esquecer de ti!
Beijos enormes pa ti
Mariazita:
ResponderEliminarVenho fazer-lhe um convite. Como sabe, sou tradutora e traduzi, com uma amiga, O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, que foi muito premiado aqui no Brasil.
Abri um Blog chamado ARTE para publicá-lo aos poucos. As postagens serão feitas sempre aos domingos e serão pequenas. A que fiz hj é um pouco maior porque pus a introdução. Acho que serão necessários uns dois anos para publicar o livro inteiro. Quero convidá-la a participar dessa leitura. Para tanto, vc tem que linkar o Blog:
http://blogliteraturarenata.blogspot.com
Sei que já deve ter lido a obra, mas essa edição que publico tem cerca de 300 notas de rodapé, e um apêndice com críticas de quando o livro foi lançado e sobre a vida de Emily Brontë. Gostaria muito que aceitasse o meu convite. Só levará 5 minutos para ler.
Um beijo,
Renata
Amiga Mariazita
ResponderEliminarEste seu conto é uma verdadeira delícia a que não consigo resistir.
Se eu tiver que fazer um balanço do melhor que a blogosfera e a Net me têm proporcionado, acho que este blog e este conto têm decerto o primeiro lugar.
Um muito e muito obrigado com admiração e amizade.
E um beijinho amigo a rematar!
Amamos quem admiramos...Então, meio caminho dado! Tá bom demais!!!!
ResponderEliminarBeijos, amiga!
Um texto fabuloso numa mensagem deliciosa e fantástica: AMOR e SOLIDARIEDADE.
ResponderEliminarFascinado pelo seu gigante talento de sonho...
Beijinhos amigos e saudações cordiais...
p.p./Pena
Adorei!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarGostei de pôr em dia a leitura do conto. Estou voltandop aos poucos devagarinho que a minha mãe está mal e tenho medo que de um momento para o outro se vá juntar a meu pai.
ResponderEliminarAgradeço a vela pelo meu pai e também fiquei muito triste com o desfecho da nossa amiga Tânia, mais uma estrela no céu.
Um abraço
Eu tinha saltado este episódio...não sei como. Estou a gostar muito. Beijos.
ResponderEliminarO padre já lhe chama "dona". Bolas, envelheceu...
ResponderEliminarTrabalhar de borla é uma heresia que, curiosamente, os ricos do nosso tempo querem para "sair da crise". Eu acho que é uma boa piada este desiderato.
Ai que o maroto do Humberto foi a um a casa de passe.