quinta-feira, 26 de março de 2009

ANITA

ANITA – EPISÓDIO XVI

(Ficção baseada em factos reais)
...
- Padre, o senhor já esteve noutras paróquias onde havia creches. Deve ter uma ideia de quantas pessoas são precisas para pôr a funcionar esta que vai abrir…

FIM DO.EPISÓDIO XV

EPISÓDIO XVI

- É verdade, Dona Anita, todas as paróquias por onde passei tinham creches. E posso dizer-lhe que o ideal é que uma senhora não fique com mais de dez crianças a seu cargo.
Sabe que algumas ainda são bebés, é preciso dar o biberão, trocar as fraldas…
- Eu sei, padre João, ainda há pouco tempo passei por isso, com o Tiaguinho.
Mas eu estava aqui a pensar que talvez eu mesma pudesse dar uma ajuda…
Deixe-me pensar melhor no assunto, e talvez amanhã já possa dizer-lhe alguma coisa.
- Isso seria bom demais, Dona Anita. Todas as ajudas que recebermos serão bem vindas.

Despediram-se do padre e, em vez de se dirigir na direcção do colégio, Anita voltou-se para regressar a casa.
Eulália, estranhando, perguntou:
- Então, minha filha, já não queres ir hoje ao colégio?
- Não, minha mãe. Enquanto ouvia o padre João surgiu-me uma ideia que me parece muito boa, mas preciso amadurecê-la…
- Sim? E posso saber que ideia é essa?
- Claro que pode, minha mãe, mas só depois de eu decidir se vou pô-la em prática.
Esboçando um sorriso, fez uma ligeira festa no rosto da mãe, e não acrescentou mais nada.

Eulália, conhecendo Anita, sabia que ela não adiantaria mais nada sobre o assunto.
Propôs-lhe irem até ao parque, onde respirariam ar fresco.
Tiaguinho aproveitou para exercitar as pernitas ainda pouco habituadas a andar.

Nesse mesmo dia, ao jantar, Anita disse a Humberto:
- Tenho uma coisa para te contar…
- É relacionada com a tua ida ao colégio?
- É e não é…Eu não fui ao colégio.
- Não??? E porquê? Desististe da ideia de dar aulas?
- Não, de modo algum! Apenas alterei um pouco as minhas intenções. Ora escuta:

O padre João vai abrir uma creche, mas está lutando com grandes dificuldades. O número de crianças previsto deve rondar as trinta, e ele tem apenas uma pessoa para tomar conta delas.
Pela experiência que ele tem, sabe que precisa de três pessoas.
O problema que se levanta é que a paróquia não tem recursos para pagar a três pessoas; com esforço, poderá pagar a duas. Mas, nessas condições, ficariam muito sobrecarregadas de trabalho, o que se iria reflectir no tratamento e atenção a dar às crianças.
Então eu pensei assim:

Em vez de ir dar aulas para o colégio – o que poderia não acontecer, pelo menos este ano – vou para a creche.
Como sabes, o meu interesse em arranjar emprego não é para ganhar dinheiro, que não preciso, mas sim para estar ocupada.

Trabalhando na creche, sem receber ordenado, ficam todos a ganhar.
Em primeiro lugar as mães, que mais depressa podem lá pôr os seus filhos; depois o padre, que pode concretizar mais rapidamente o seu sonho; e finalmente eu – a principal beneficiada – porque não vou ter que me separar do Tiaguinho.
Embora fosse só uma parte do dia, enquanto estivesse a dar aulas no colégio, sei que me ia custar bastante, até me habituar. E o Tiaguinho também ia sofrer ao ver-se afastado de mim…

Humberto não a interrompeu. Limitou-se a ouvi-la, em silêncio, apreciando, deliciado, o calor com que ela falava à medida que explanava a sua ideia. E sentiu crescer, dentro de si, o amor e admiração que sentia pela madrasta.
Tentando disfarçar a comoção, falou, finalmente, em tom meio brincalhão:
- Tu és única, mãezinha. Não há ninguém igual a ti!

E dando-lhe um pequeno piparote no nariz, voltou-se para a janela, parecendo muito interessado na escuridão que estava lá fora. Disse:
- Vou sair por uns minutos. Prometi ao meu amigo Joaquim levar-lhe uns panfletos que trouxe da Inglaterra.
Mas não me demoro, prometo.

Passou pelo seu quarto a buscar uns papéis e saiu.
Lá fora respirou fundo. Sentia o coração a transbordar de amor por Anita, e não queria que ela se apercebesse.
Pouco tempo depois regressou, já calmo, para passar o serão com a madrasta.

FIM DO EPISÓDIO XVI

23 comentários:

  1. Ele só podia estar apaixonado pela Anita, e ela também pode estar apaixonada por ele sem o saber ainda. Torço para que a Anita comece a trabalhar. É um trabalho agradável, pois já adquiriu experiência com o seu filhinho e não precisará separar-se dele. Fico na torcida.
    Muito bem escrito, Mariazita, parabéns.
    Um beijo,
    Renata
    PS: Tem post novo no Galeria

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  2. Querida Maria,
    No capítulo precedente e no atual, Anita se mostra volúvel na tarefa a ocupar o tempo. Antes ela queria voltar ao colégio, agora decide ajudar na creche. Talvez essa segunda opção tenha a ver com a autora, que gosta muito de bebês, não é mesmo? E o enteado reapareceu e já se mostrando apaixonado pela madrasta. Hum... Um beijo carinhoso

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  3. A palavra é semente
    Que floresce na luz de cada alma e enternece
    Às vezes é doce veneno
    Às vezes taça de cidra que o peito aquece

    Ser Poeta é tanto, tão pouco
    É transformar em crentes os ateus
    É domar todas as tempestades da alma
    É estar mais perto de Deus


    Mágico beijo

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  4. Má,
    estava na cara que ele estava caído por ela, né?
    Amo sua história, rs...
    Lindona, passa lá no meu cantinho que tm um presentinho para vc ...
    Um beijo grande

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  5. Mariazita

    Enfim, estava mesmo a ver-se a anita a ajudar no colégio da paróquia. Agora Humberto parece voltar à ribalta. Nos tempos que correm é natural que se assuma. Esperemos pra ver.
    Deixo da minha postagem no mitalaia (Sol):
    http://sol.sapo.pt/blogs/mitalaia/archive/2009/03/26/POEMA-IN_CA00_S.aspx

    Beijinho,
    Daniel

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  6. Querida Mariazita,
    ora aí está um amor puro e doce... Mas também um grande dilema: Amar a mulher do pai!

    Uma história verdadeira, que escreves num maravilhoso romance!
    Parabéns.

    Beijinhos,
    Ana Martins

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  7. Esta história ainda vai acabar com tudo a ter terapia... ;)

    Beijo, Mariazita!

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  8. Estórias da vida real...

    São as mais autênticas.

    Bjs

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  9. LIndo!!!

    Apaixonante mesmo!
    Que maravilha!

    As coisas estão finalmente a compor-se. Estou muito feliz por eles.

    Belo texto amiga Mariazita!
    Bem escrito!

    Beijinhos
    São

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  10. Mariazita,
    Já sei que são muitos os que muito apreciam a tua escrita. Junto-me a eles e o mérito é teu.

    Estou a ver pelo desenrolar da história, que estamos em presença de um caso de puro altruísmo da Anita.
    Mas vou continuar a seguir...

    Um beijo

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  11. Voltei.
    Venho trazer um presente e um desafio giro que estão aqui.

    Beijinhos e bom fim de semana!
    São

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  12. ele há cada situação...
    Um bom fim de semana.

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  13. Como gostei de visitar esta casa.

    Os meus parabéns pela forma como a mesma se apresenta e pelas palavras que por aqui encontrei.

    Luis

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  14. QUERIDA AMIGA!!!
    Que saudades !!!
    Pois é !
    Ando com a minha vida numa fona!!! E tempo pa vir aqui escrever um post e comentar tá de fio curto
    , mas cá vim !!!
    heheh Com uma proposta!!!
    Vai ao meu cantinho e tá lá o teu nome
    para fazer um joguito


    LOL
    ( é pa mulheres inteligentes!!! E foi umas das mulheres mais inteligentes que conheço que mo enviou) por isso... claro que nunca me poderia esquecer de ti!
    Beijos enormes pa ti

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  15. Mariazita:
    Venho fazer-lhe um convite. Como sabe, sou tradutora e traduzi, com uma amiga, O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, que foi muito premiado aqui no Brasil.
    Abri um Blog chamado ARTE para publicá-lo aos poucos. As postagens serão feitas sempre aos domingos e serão pequenas. A que fiz hj é um pouco maior porque pus a introdução. Acho que serão necessários uns dois anos para publicar o livro inteiro. Quero convidá-la a participar dessa leitura. Para tanto, vc tem que linkar o Blog:
    http://blogliteraturarenata.blogspot.com
    Sei que já deve ter lido a obra, mas essa edição que publico tem cerca de 300 notas de rodapé, e um apêndice com críticas de quando o livro foi lançado e sobre a vida de Emily Brontë. Gostaria muito que aceitasse o meu convite. Só levará 5 minutos para ler.
    Um beijo,
    Renata

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  16. Amiga Mariazita

    Este seu conto é uma verdadeira delícia a que não consigo resistir.
    Se eu tiver que fazer um balanço do melhor que a blogosfera e a Net me têm proporcionado, acho que este blog e este conto têm decerto o primeiro lugar.
    Um muito e muito obrigado com admiração e amizade.
    E um beijinho amigo a rematar!

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  17. Amamos quem admiramos...Então, meio caminho dado! Tá bom demais!!!!


    Beijos, amiga!

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  18. Um texto fabuloso numa mensagem deliciosa e fantástica: AMOR e SOLIDARIEDADE.
    Fascinado pelo seu gigante talento de sonho...
    Beijinhos amigos e saudações cordiais...


    p.p./Pena

    Adorei!

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  19. Gostei de pôr em dia a leitura do conto. Estou voltandop aos poucos devagarinho que a minha mãe está mal e tenho medo que de um momento para o outro se vá juntar a meu pai.
    Agradeço a vela pelo meu pai e também fiquei muito triste com o desfecho da nossa amiga Tânia, mais uma estrela no céu.
    Um abraço

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  20. Eu tinha saltado este episódio...não sei como. Estou a gostar muito. Beijos.

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  21. O padre já lhe chama "dona". Bolas, envelheceu...

    Trabalhar de borla é uma heresia que, curiosamente, os ricos do nosso tempo querem para "sair da crise". Eu acho que é uma boa piada este desiderato.

    Ai que o maroto do Humberto foi a um a casa de passe.

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A SI, QUE VEIO VISITAR-ME, UM GRANDE
BEM HAJA!

BEIJINHOS
MARIAZITA