(Ficção baseada em factos reais)
…Comprou os selos, colou-os no envelope, e entregou a carta à funcionária, para que a fizesse seguir. Despediu-se com um breve “até logo”.
FIM DO 3º.EPISÓDIO
EPISÓDIO IV
A funcionária, com o envelope na mão, leu o endereço, reparando que era dirigido a um homem. Alguma coisa lhe dizia que algo estranho se passava, pois não tinha memória de alguma vez Anita ter escrito a um homem.
Hesitou, acabando por pôr a carta de lado.
À hora normal fechou o posto do correio. Dirigiu-se a casa de Anita, levando consigo a carta.
Foi recebida por Eulália, a quem, depois de muitos rodeios, acabou por contar o que passara nessa manhã, entregando-lhe a carta que não fizera seguir.
Logo que se encontrou só, a mãe de Anita fechou-se no seu quarto e, nervosamente, leu tudo o que a filha escrevera na noite anterior.
O seu espanto não tinha limites! Mal podia acreditar no que os seus olhos estavam vendo.
- Como é possível? - pensava.
Anita foi sempre uma filha tão obediente, respeitadora…
Como se atreve agora a rebelar-se desta maneira?
Como foi arranjar um namorado sem que eu ou o pai suspeitássemos de nada?
E quando foi que isso aconteceu?
Todas as vezes que veio cá de férias nada de anormal se notou no seu comportamento… Só pode ter sido neste último ano que passou na capital.
Sem saber que atitude tomar, optou por fingir que nada sabia. Falou com Anita com a naturalidade habitual, alvitrando sugestões para o vestido de casamento, a festa, os convites…
Quando à noite regressou a casa, Justino notou-lhe um certo nervosismo, que atribuiu à aproximação do casamento da filha. Uma sombra toldou-lhe o olhar, ao lembrar-se que iria perder a sua menina para outro homem.
O serão decorreu como habitualmente. A sós no quarto, finalmente Eulália pôde confiar ao marido o que tanto a preocupava. Receosa da sua reacção, contou-lhe brevemente como tinha a carta em seu poder.
Não esperava a frieza com que ele leu e releu a carta, e muito menos a sua observação:
- Temos que apressar o casamento. Amanhã mesmo irei falar com Vicente. Arranjarei uma desculpa qualquer para justificar tanta urgência. Entretanto, vamos proceder como se não soubéssemos de nada. Anita não pode desconfiar que descobrimos o seu segredo.
Nessa noite Anita conseguiu dormir descansadamente, convicta de que muito em breve Arnaldo haveria de descobrir uma forma de os libertar.
Lentos, os dias foram-se passando.
Fingia interesse pelos detalhes relacionados com o casamento, de que a mãe falava constantemente. Só à hora da chegada do correio se dirigia alvoroçada ao encontro do carteiro. Mas uma semana se passou, e a esperada resposta não chegava.
Começou então a ficar preocupada, nervosa. Não conseguia perceber tal silêncio.
Arnaldo não podia tê-la esquecido assim tão depressa. Ter-se-ia assustado com o rumo dos acontecimentos? Não teria coragem para assumir o seu amor contra a vontade de seus pais? Anita perdia-se em conjecturas, sem chegar a nenhuma conclusão.
Desesperada, escreveu nova carta, que teve o mesmo destino que a primeira – as mãos de Eulália.
Continuando sem respostas às suas cartas, aos poucos Anita foi-se convencendo que Arnaldo a esquecera, ou não teria coragem para assumir a responsabilidade de vir libertá-la do compromisso que seus pais haviam assumido para com Vicente.
Anita sentia-se desiludida. Fosse por um motivo ou por outro, afinal Arnaldo não era o homem que ela imaginara e com quem sonhara construir uma vida a dois.
Desde que começara o noivado Vicente ia todas as noites visitar a sua noiva.
Seguindo a tradição da época, sentavam-se na sala onde Eulália também se encontrava. Esta fingia-se absorvida pelos seus bordados. Uma vez por outra saía da sala por breves momentos, tentando favorecer um ambiente mais descontraído entre os noivos. Ela apercebia-se da tensão em que se encontrava a filha.
Vicente conversava longamente, expondo os seus planos para o que seria uma vida repleta de felicidade.
Anita ouvia-o, com um leve sorriso ausente, acenando, em sinal de concordância.
Havia, contudo, um ponto, em que Anita exigia que a sua vontade fosse respeitada.
A funcionária, com o envelope na mão, leu o endereço, reparando que era dirigido a um homem. Alguma coisa lhe dizia que algo estranho se passava, pois não tinha memória de alguma vez Anita ter escrito a um homem.
Hesitou, acabando por pôr a carta de lado.
À hora normal fechou o posto do correio. Dirigiu-se a casa de Anita, levando consigo a carta.
Foi recebida por Eulália, a quem, depois de muitos rodeios, acabou por contar o que passara nessa manhã, entregando-lhe a carta que não fizera seguir.
Logo que se encontrou só, a mãe de Anita fechou-se no seu quarto e, nervosamente, leu tudo o que a filha escrevera na noite anterior.
O seu espanto não tinha limites! Mal podia acreditar no que os seus olhos estavam vendo.
- Como é possível? - pensava.
Anita foi sempre uma filha tão obediente, respeitadora…
Como se atreve agora a rebelar-se desta maneira?
Como foi arranjar um namorado sem que eu ou o pai suspeitássemos de nada?
E quando foi que isso aconteceu?
Todas as vezes que veio cá de férias nada de anormal se notou no seu comportamento… Só pode ter sido neste último ano que passou na capital.
Sem saber que atitude tomar, optou por fingir que nada sabia. Falou com Anita com a naturalidade habitual, alvitrando sugestões para o vestido de casamento, a festa, os convites…
Quando à noite regressou a casa, Justino notou-lhe um certo nervosismo, que atribuiu à aproximação do casamento da filha. Uma sombra toldou-lhe o olhar, ao lembrar-se que iria perder a sua menina para outro homem.
O serão decorreu como habitualmente. A sós no quarto, finalmente Eulália pôde confiar ao marido o que tanto a preocupava. Receosa da sua reacção, contou-lhe brevemente como tinha a carta em seu poder.
Não esperava a frieza com que ele leu e releu a carta, e muito menos a sua observação:
- Temos que apressar o casamento. Amanhã mesmo irei falar com Vicente. Arranjarei uma desculpa qualquer para justificar tanta urgência. Entretanto, vamos proceder como se não soubéssemos de nada. Anita não pode desconfiar que descobrimos o seu segredo.
Nessa noite Anita conseguiu dormir descansadamente, convicta de que muito em breve Arnaldo haveria de descobrir uma forma de os libertar.
Lentos, os dias foram-se passando.
Fingia interesse pelos detalhes relacionados com o casamento, de que a mãe falava constantemente. Só à hora da chegada do correio se dirigia alvoroçada ao encontro do carteiro. Mas uma semana se passou, e a esperada resposta não chegava.
Começou então a ficar preocupada, nervosa. Não conseguia perceber tal silêncio.
Arnaldo não podia tê-la esquecido assim tão depressa. Ter-se-ia assustado com o rumo dos acontecimentos? Não teria coragem para assumir o seu amor contra a vontade de seus pais? Anita perdia-se em conjecturas, sem chegar a nenhuma conclusão.
Desesperada, escreveu nova carta, que teve o mesmo destino que a primeira – as mãos de Eulália.
Continuando sem respostas às suas cartas, aos poucos Anita foi-se convencendo que Arnaldo a esquecera, ou não teria coragem para assumir a responsabilidade de vir libertá-la do compromisso que seus pais haviam assumido para com Vicente.
Anita sentia-se desiludida. Fosse por um motivo ou por outro, afinal Arnaldo não era o homem que ela imaginara e com quem sonhara construir uma vida a dois.
Desde que começara o noivado Vicente ia todas as noites visitar a sua noiva.
Seguindo a tradição da época, sentavam-se na sala onde Eulália também se encontrava. Esta fingia-se absorvida pelos seus bordados. Uma vez por outra saía da sala por breves momentos, tentando favorecer um ambiente mais descontraído entre os noivos. Ela apercebia-se da tensão em que se encontrava a filha.
Vicente conversava longamente, expondo os seus planos para o que seria uma vida repleta de felicidade.
Anita ouvia-o, com um leve sorriso ausente, acenando, em sinal de concordância.
Havia, contudo, um ponto, em que Anita exigia que a sua vontade fosse respeitada.
Esta interessante história tem base real ou é ficção?
ResponderEliminarAproveito para deixar um convite para o primeiro aniversário do codornizes.
Olá, Huckleberry
ResponderEliminarA história, tal como se escreve por baixo do título, é ficção, mas baseada em factos reais.
Romanceada(pretensiosismo aparte!), nomes fictícios, lugares indeterminados...porque não é uma biografia.
Convite aceite! Irei festejar, lá mais para a tardinha.
Bjs
Mariazita
Eu processava a funcionária dos correios...
ResponderEliminarMariazita,
ResponderEliminarestava ansiosa em saber a continuidade da história de Anita ...
e acabaste?
Não saberemos como ela levou o tal casamento ...
Adoro suas histórias e o jeito que as escreve ...
Linda, tenha uma excelente tarde,
e um súper beijos
Merecia uma publicação, com capa e sessaõ de autógrafos.Beijos , tá linda de mais .Espero pela continuação!
ResponderEliminarNovo post esperando!
Querida amiga portuguesa, Domingo tem a continuação?
ResponderEliminarÉ bom esperar para ver o que acontece?
Parece novela!
Beijos brasileiros, Teresa
Olá Rafeiro
ResponderEliminarMai nada!!!
Tá mesmo a pedi-las!
Beijocas
Mariazita
Essa tipa dos correios se não era da Pide, parecia. E, agora, há as escutas telefónicas...
ResponderEliminarPobre cidadão desprotegido que está sujeito a tantas ciladas.
Beijos
João
Oi, Giselle
ResponderEliminarA Anita vai continuar a contar a sua história.
Ela ainda não se casou...por enquanto.
Será que se casa, ou fica para titia???
O futuro o dirá...
Uma noite feliz.
Beijinhos
Mariazita
Olá, Sté
ResponderEliminarQuando isso acontecer, já sabes que serás minha convidada de honra!!!
Uma noite boa, querida.
Beijinhos
Mariazita
Querida Teresa
ResponderEliminarQue tem continuação, sem dúvida.
A história não pode ficar a meio...
Se é ou não no domingo é que não sei dizer.
É uma coisa que dá muito trabalho porque estou a resumir o original (demasiado grande para apresentar num blog).
Logo se verá...
Beijinhos, amiga.
Mariazita
Meu caro João
ResponderEliminarNão sei se o meu amigo sabe, mas eu sei...de fonte seguríssima!
Há uns anos, nas terras pequenas, faziam-se "trinta por uma linha" com a correspondência.
Cartas desviadas por promessas de recompensas...era um vê se te avias!
Mamãs e papás que queriam vigiar os namoricos das suas jovns e inocentes donzelas...eram os primeiros a ler as cartas de amor.
Fala quem sabe...
Beijinhos
Mariazita
Olá Mariazita,
ResponderEliminaresta história está me apaixonando cada vez mais.
Você escreve muito bem, parabéns.
Beijinhos e bom fim de semana.
A funcionária dos Correios seria despedida com justa causa.
ResponderEliminarOlá, Ana
ResponderEliminarFico contente por gostares.
Espero que continues interessada até ao final...
Beijinhos
Mariazita
Olá, Táxi
ResponderEliminarAbsolutamente de acordo!
Era o que ela merecia.
Abraço
Mariazita
Mariazita,
ResponderEliminarCoitada da Anita, só lhe faltava mesmo essa megera dos correios!
Será que o que contas se passava assim há tanto tempo? Olha que não sei.
Melhores dias para a Anita.
Um abraço
Só vim deixar um abraço.
ResponderEliminarAinda estou cheio de febre ...
Até já!
Olá, Meg
ResponderEliminarEsta história, ou melhor dizendo, a história na qual me baseei para escrever a Anita, foi-me contada há 20 ou 25 anos. No ponto em que se encontra agora, o casamento iminente da Anita, isto aconteceu no início da década de 50 do século passado.
Nesses tempos, e bastantes anos depois, estas "falcatruas" faziam-se nos correios, sim. Isso eu posso te garantir!
Presentemente...acho meio difícil.
Com a internet...os namorados já não escrevem cartas de amor :-)))
Beijos
Mariazita
Querida Mariazita.
ResponderEliminarEstá cada vez mais interessante esta história.
Esta menina está oprimida. Fecha-se o cerco em torno dela... Será que os pais dela a expulsariam de casa se ela lhes contasse a verdade? Se eu fosse ela, mediria as conseqüências. Não há nada como ouvir a voz do próprio coração.
Beijos, linda!
Ana
Querida Ana
ResponderEliminarNós eatamos no século XXI, mas a Anita era uma jovem casadoira (uns 20 anos) em meados do século passado!
Nessa época, e principalmente em terras pequenas, as opções das meninas eram nenhumas!
A lei era OBEDECER!
Aguardemos...mas o destino já está traçado.
Beijinhos, querida, e uma noite feliz.
Mariazita
Querida Mariazita
ResponderEliminarGosto muito da ltua forma de escrever, simples e transparente. Simples na forma, pois o conteúdo é de uma interessante análise social dos tempos idos... existirão, por certo, muitos locais onde o tempo parou e essa realidade se mantém...
Um beijinho.
Olá, Víctor
ResponderEliminarFico muito contente por gostares.
Penso que este tipo de casamento ainda se faz hoje em dia, quando as partes estão interessadas...mas não creio que seja por imposição de terceiros.
Aparece sempre, querido amigo.
Beijinhos
Mariazita
Dêem-me uma caçadeira ... !!!
ResponderEliminarMatem os impostores!!!
É revoltante, mas estou a ler com sequência e nem sei se já acabou!
Quanto custa saber o final, antes do tempo?
ResponderEliminarSempre ouvi dizer que cada ser humano tem o seu preço ...
Como não acredito que a Anita se atire ás águas para nadar até ao seu amor ... quanto poderá custar o fim.
faço uma promessa.
Leio do fim para o princípio e prometo esquecer-me do que vou lendo !!!
Olá, Zé Torres
ResponderEliminarHum...hum..."Sempre ouvi dizer que cada ser humano tem o seu preço ..."
Pois...é questão de conversarmos...a vida tá complicada...e uns aérizitos extra até que faziam geitinho...
As melhoras! Ponha-se bom depressa!
Um abraço
Mariazita
Como eu suspeitava..., a coscuvilhice de uma terra pequena provocou uma série de equívocos e uma grande infelicidade.
ResponderEliminarEscreves muito bem!
Beijinhos