Por se tratar de uma pessoa que merece ser recordada, irei publicando, de vez em quando, crónicas ou apontamentos que foram por ele escritas.
É de sua autoria o texto que hoje vos apresento.
OS JUMENTINHOS
Os jumentinhos, os jegues eram, são e serão imagem viva dos nordestinos...
Eles passavam — e nas cidades pequenas ainda passam — carregando lenha
para as casas sem fogão elétrico e sem fogão a gás.
Eles passavam — e nas cidades pequenascontinuam passando — carregando água
onde não há água encanada e onde falta, por vezes, até um poço, com motor e com torneira comunitária.
Eles passavam — e nas cidades pequenas sempre passarão — carregando carvão, carregando estrume, carregando tudo o que for preciso carregar.
Quando a seca aperta e falta capim, e falta milho, até com papel ele se alimenta.
Quando a família tem de partir, ele carrega a mãe de família e a criança de peito como fez com Nossa Senhora e o Menino Deus na fuga para o Egito. (São José caminhava a pé.)
Pensam que ele reclama quando inventaram agora que carne de jumento
dá dinheiro no estrangeiro?
De modo algum — ele não se julga melhor do que boi, nem vaca, nem bode, nem carneiro, nem ovelha, nem porco...
Ele só não quer ficar vivo longe do Ceará.
Fica doido quando chega a notícia de chuva e ele está longe.
Perguntei a um jumentinho se ele trocava o Ceará pelo Céu, caso Nossa Senhora, em agradecimento pela fuga para o Egito, obtivesse de seu filho e filho de Deus que um jumentinho tivesse entrada no Céu.
Ele me matou de vergonha, perguntando:
“Mas só gente e jumento no céu? E os outros animais, que todos, todos
foram criados por Deus?”
Foi mais longe e disse:
“Depois, mesmo com a seca, O Ceará parece um pedaço do céu”.
O destaque desta meditação, é a resposta do jumentinho, que não aceita injustiça de ele ter o privilégio de ser o único animal no céu...
Cuidado em não pensar só em si, esquecendo os outros.
Dom Héder Câmara
Do livro Um olhar sobre a cidade
JF, 19/08/1976
Dom Héder Câmara
Dom Hélder Pessoa Câmara nasceu em Fortaleza a 7 de Fevereiro de 1909, e faleceu em Recife, a 27 de Agosto de 1999.
Foi um grande defensor dos direitos humanos durante o regime militar brasileiro; defendia uma igreja simples voltada para os pobres, e a não-violência.
Recebeu vários prémios nacionais e internacionais, e foi o único brasileiro a ser indicado quatro vezes para o Prémio Nobel da Paz
HAHA'
ResponderEliminarAchei phopho o texto com as imagens, afinal, sou do Nordeste, interior da Bahia amada. De fato, a tradição de manter os burros como transporte e amigos nunca morrerá - assim esperamos.
Pena que eu não me simpatize muito com a Igreja Católica. Há muita coisa que distorce a Palavra Cristã e seus dogmas nem sempre condizem com ela também. Rs...
beigos mil
Excelente este post Mariazita, e termina com uma profunda reflexão e lição de vida!
ResponderEliminarBeijinhos,
Ana Martins
Tem selinho nota 10 pra vc la no blog.
ResponderEliminarbeijooo.
Hélder Câmara foi um humanista, antes de mais nada. Sua crônica dos jumentinhos, em boa bora lembrada por você, com sua singeleza, parece-me fiel à personalidade de um homem que dedicou parte de sua vida à causa dos pobres e dos humildes.
ResponderEliminarUm abraço.
Mariazita voce é uma mulher com um enorme saber e sensibilidade....Como fiquei feliz em ver aqui um post sobre D. Helder Câmara! Só voce mesmo amiga! A minha admiração por este homem de Deus é enorme. E quando digo homem de Deus não é só pelos títulos religiosos, mas sobretudo, por ser realmente um homem a serviço de Deus por seu humanismo, saber , bondade e inumeras qualidades e benefícios voltados desde sempre para os mais necesitados. Os brasileirinhos carentes de tudo! Mas jamais esquecidos por este grande humanista em toda a sua vida.
ResponderEliminarSeus pensamentos, textos e poemas são lindos e com nobres reflexões.
"As pessoas são pesadas demais para serem levadas nos ombros. Levo-as no coração."
Dom Hélder Câmara
Esta frase define quem foi este grande humanista.
Obrigada e um enoemeeeeeeeeeeeeee beijo, amiga! Obrigada.
Mariazita. O meu proximo poste e a sair na Segunda-feira, chamar-se-á
ResponderEliminarO Burro do Peixeiro.
Afinal o Peixeiro é que foi burro.
Beijocas
Belo post esse,tributando o inesquecível Don Helder Câmara,convivi com seu falecido irmão aquiem Ipanema Rio de Janeiro,e muito com ele aprendi,na TV Tupu canal 6 do Rio de Janeiro e na Arquidiocese do Rio de Janeiro,MEU MESTRE!
ResponderEliminarViva a Vida!
paz e bem!
Amiguinha
ResponderEliminarPassei por aqui, para te dar um beijinho de boa noite...
Virei depois para escrever sobre este teu post. Hoje, até os dedos estão cansados :-)
Beijinhos
Mariazita
ResponderEliminarachei muito engraçado este texto.
No entanto maior surpresa é sem
qualquer dúvida a pergunta do
jumentinho.
E dizem que jumento não é inteligente?
Um beijo
Alvaro
Boa noite meu anjo!
ResponderEliminarPerdoe a demora em visitá-la, a vida as vezes parece que caminha tão rápida, que não sobra tempo pra distribuir carinhos.
Demoro mas, venho sim viu?
Agora quanto a postagem...
Que texto mais gracioso minha amiga.
E que alma pura a desse apóstolo de Cristo.
Embora minha religião seja outra, minha simpatia por Don Elder.
E meu carinhoso abraço por você minha amiguinha linda de alma e coração.
Boa noite com os sonhos mais lindos pra você!
Abraços e carinhos da jady
É uma parábola cujo desfecho diz a que veio: o respeito ao outro. Dom Hélder escrevia textos muitos interessantes, em nada desprezíveis. Faz falta.
ResponderEliminarQuerida Mariazita:
Postei no GALERIA sobre uma comédia com final surpreendente. Você também se surpreenderá com o tamanho do post, bem menor do que os anteriores, e só com algo mais a ler: um poema meu.
Conto com você.
Um abraço,
Renata
Querida Maria,
ResponderEliminarOportuna homenagem você presta a Hélder Câmara, que é do mesmo estado em que nasci, o Ceará. Não conheço nenhum texto desse grande homem, perseguido pela Ditadura Militar. Um texto de uma simplicidade comovedora, bem à forma de viver do seu autor. Beijinhos.
Um pequeno "convite", minha cara: o Balaio de hoje - sexta, dia 29 - pode levá-la a uma jóia da música brasileira, caso for do seu interesse. Aliás, a minha ideia, é aproveitar as sextas para divulgar a música brasileira de boa qualidade. Desculpe-me pelo "comercial", mas...
ResponderEliminarUm beijo.
Pior foi que os jumentos têm servido para enriquecer igrejas e dar boa vida aos bispos. Eu, pela minha parte, só tenho pena de não ter lábia para enganar os outros e fundar uma igreja. bfds
ResponderEliminarMariazita,
ResponderEliminarJá cá passei, mas só hoje vim ler com toda a atenção o teu post.
Dom Helder Câmara é um exemplo que devia ser seguido por muitos dos que se dizem membros do clero.
Como ele, só conheci, em África, os padres franciscanos.
E a história dos "jeques" revela a simplicidade e o humanismo a que se refere o Moacy.
Por isso, acho muito oportuna a homenagem que prestas a um grande Homem, a um grande Ser Humano.
E seguirei com todo o interesse tudo o que sobre Dom Helder Câmara publicares.
Um bom fim de semana para ti, Mariazita!
Um beijo
Gostei do texto. Para reflectir. Meu avô tinha um jumento, que carregava o ferro velho que ele vendia. Tinha um nome curioso. Chamava-se "Tem Dias"
ResponderEliminarUm abraço e desejos de um óptimo fim de semana.
Decore sua alma ,
ResponderEliminarda forma mais linda que souber,
com uma poesia que lhe toque o coração,
para que na sua mudez, seja feliz,
pois alma que é, será sempre sua,
sem que ninguém no mundo a tire de você.
(Eda Carneiro da Rocha)
Desejo a você um maravilhoso final de semana,
Com muita paz e carinho.
Sônia
Não sei se é a sensibilidade de D. Helder da Câmara, se a sensibilidade de quem o recordou e pelo que li aqui, um grande humanista que as palavras demonstram.
ResponderEliminarSim que recordar é fazer que alguém que não conheceu, aprenda ou conheça ou então reviva o passado.
Está ternurento o texto e deve reflectir a personalidade de quem o escreveu.
Não tenho aparecido, mas quando entro nesta casa, há algo que nos toca e quando saio vou mais rico.
Obrigada Mariazita.