Após uma viagem de uma semana num “mar de azeite”, como dizem os marinheiros, aproximamo-nos do nosso destino.
Ao longe, apenas se vislumbravam umas sombras esfumadas no horizonte.
Agora, que estamos relativamente perto, a paisagem torna-se nítida – montes escalvados, de cor avermelhada, sem vestígios de vegetação, uma verdadeira paisagem lunar.
Depois das manobras habituais, que nos parecem infindáveis, finalmente o navio encosta ao cais.
Com a bagagem de camarote há muito preparada, as três crianças controladas, apressamo-nos a descer o portaló.
O cais fervilha de gente, na sua maioria naturais da terra, táxis buzinando, um burburinho tremendo.
Finalmente pomos pé em terra.
Após beijos e abraços efusivos, - que as saudades já eram muitas – aguardamos o carro que nos transportará para casa.
Ao meu lado, um autóctone, de pé, vê de repente um carro passar muito perto, chegando mesmo a roçar-lhe o corpo. Recuando de um salto, com receio de que o pneu lhe passasse em cima do pé descalço, grita, assustado:
- Ai nha pé!
Este é o meu primeiro contacto com a linguagem local.
O “nha”, que significa meu ou minha ( nha pai, nha mãe) irá fazer parte do meu dia-a-dia durante os próximos dois anos.
Vamos então p’ra nha casa!
Situada num ponto elevado, a moradia, acompanhada à esquerda e à direita por outras casas igualmente independentes, tem na parte da frente um arremedo de jardim, com uma ou outra planta enfezada, que, durante os dois anos da minha permanência aqui, irei, teimosamente, tentar recuperar.
Luta inglória! O ar é extremamente seco, com ventos fortes nove meses por ano, a falta de água é enorme; mesmo regando-as todos os dias, a terra absorve completamente a água muito para além se onde as raízes a possam alcançar.
Apesar de todos os esforços, o meu jardim nunca deixou de ter este aspecto desértico.
Em frente, do lado de lá da estrada, há um vasto espaço coberto de terra vermelha, que termina num declive em direcção ao mar.
Da porta de casa, à qual se acede subindo três degraus de pedra, avista-se, não muito ao longe, o mar, vindo do qual se pode sentir, em certos dias, o cheiro a maresia.
Algum tempo depois de aqui estar irei assistir a verdadeiras batalhas campais travadas entre grupos de cães, provavelmente inimigos, nesse espaço existente em frente à casa.
Sem qualquer aviso prévio, uns chegam da direita, outros aproximam-se pela esquerda, acabando por juntar-se no centro do terreno.
Entre ladridos e rosnares, engalfinham-se ferozmente, levantando incríveis nuvens de poeira vermelha que chega a escurecer o céu.
Depois de alguns minutos de luta abandonam o campo de batalha, retrocedendo cada grupo pelo mesmo caminho por onde chegara.
Da refrega, felizmente, não resultam mortos; apenas alguns ferimentos se revelam nas pernas que vão manquitando no regresso ao lar.
Nunca consegui descobrir por que razão, de tempos a tempos, se envolviam em contenda.
Certo é que, chegará o dia em que também eu regressarei ao local de partida, sem que eles tenham resolvido os seus diferendos.
Mas, por agora, há que nos instalarmos na que vai ser a nossa moradia durante os próximos dois anos.
Não se trata de nenhum palácio, mas, depois de arrumada a nosso gosto, ornamentada com objectos que nos acompanharam, torna-se bastante confortável.
Tudo leva a crer que, aqui, pelo menos, viveremos em paz, perspectiva por demais aliciante para quem passou os últimos cinco anos em clima de guerra.
Continuando a acompanhar com todo o prazer reservo já bilhete para a próxima sessão...
ResponderEliminarBjs
Mariazitaaaaaaaaaaa!
ResponderEliminarMenina..dá um medo, nervosoooooooo e pena quando os cães brigam, não? Aff Maria! E creio ser a segunda passageira na reserva do bilhete! Hahahahaaha. Promete as aventuras de Mariazita in Africa!
Uma excelente semana, bonitaaaaaaa! Beijos!
Mariazita, quantos lugares fantasticos para conhecer, pessoas com suas histórias,
ResponderEliminarBeijos
OBRIGADA POR SEUS VOTOS DE MELHORAS.. ESTOU BEM AGORA GRAÇAS A DEUS.. ADOREI SEU POST.. ADORO CONHECER LUGARES DIFERENTES.. COMO DISSE SUA AMIGA AÍ EM CIMA. JA RESERVO MEU BILHETE PARA A PROXIMA SEÇÃO..BEIJÃO
ResponderEliminarÉ um belo texto, continuaremos a ler...
ResponderEliminarbeijos, ótimo domingo
Mariaziata
ResponderEliminarContas as tuas histórias com muito sabor. Sorri, porque tendo nascido a 90 Km a norte de Lisboa o mê pai, a nha mãe, a nhã tia, era da minha lingua materna. Confesso que estava esquecido e foi assim 20 anos!
Maria da Graça, não foi só a cantora do adoróvel Pátio da Cantigas, há a que casou comigo, na igreja das Mercês, freguesia onde nasceu e vivia. Acrescento que na altura trabalhava no Palácio dos Machadinhos (CML).
Beijos
Daniel
Perfeita Amiga:
ResponderEliminarUma narrativa de sonho. O regresso, creio que em felicidade a tempos de outrora.
Os cães, algo a respeitar. Ter cuidado.
Nunca se sabe quando atacam. A luta, um momento ímpar. Interessante, mas onde na luta empenhada saem sempre mazelas.
Parabéns. O que interessa é que está bem. Em felicidade.
Fico feliz por si.
Beijinhos ao seu encanto.
Sempre a respeitá-la e a admirá-la.
pena
Bem-Haja, escreve maravilhosamente.
Excelente, notável e briosa escritora de sonho.
Adorei.
Querida Maria,
ResponderEliminarMuito boa a sua ideia de escrever sobre a sua vivência na África. Além de suas lembranças, há a visão do país. Um beijo.
P.S. Não fique preocupada, não me aborreci nem um pouco.
África cheia de encanto, magia e muitas lendas.
ResponderEliminarCabo Verde parece ter fugido à regra pelo calor intenso e a escassez de água potável.
Retalhos da vida que hoje recorda.
A história dos cães é assustadora.
Boa tarde amada.
ResponderEliminarVc tem toda razão, em número genero e grau rs.
Tanta coisa acontecendo de ruim no mundo e eu me preocupando com mesquinharias.Postei aquele texo por impulso,mas eu disse agora a pouco a uma amiga minha de blog o seguinte:As vezes os neuronios trabalham contra e por conta disso descemos do salto rs.
Ñ vai mais acontecer,vou inverter esse processo, assim q eu responder a todos q me visitaram.Esquecer tudo e ignorar q era o q deveria ter sido feito.
Obrigado amada pelas palavras tão gentis.Vc é tudo de bom minha amiga.
Beijokas.
Mariazita,seguindo seus registros aqui eu me sinto como se estivesse lendo um romance,cheio de belas narrativas como esta.Suas vivências na África sem dúvidas foram marcantes!Abraços,Bergilde
ResponderEliminarOlá Mariazita!
ResponderEliminarCom que então estamos no Mindelo, ilha de São Vicente?
A mim, essa terra traz-me muitas memórias, já que lá estive por várias ocasioões, a última quando aí aguardávamos o retorno do Américo Tomás, de Angola, a bordo do Príncipe Perfeito, em 1968. Voltámos sem ele, já que o Salazar morreu, e o senhor regressou de avião.
Mas é como se tivesse sido apenas ontem, e é muito fácil "ver" o que a Mariazita descreve:A paisagem lunar, ou em liguagem mais vernácula, também conhecida como o "cú do mundo"(com as minhas desculpas!); as cabras que deambulavam pelas ruas e, diz-se, capazes de comerem as calças dos marujos, se eles deixassem, tal era a sua fome ...
Mais a "Poia da Saloia", aquela ilha pequena à entrada do porto, e a "praia da Matiota", mais...
Olhe, hoje fico por aqui, com uma sugestão. Há um livro muito interessante sobre São Vicente, escrito pelo filho dum camarada meu que foi o Patrão do porto durante alguns anos. O título é a "Capitania" e o autor tem o nome de Saial.Julgo que iria gostar.
E fico à espera de mais; beijinhos, bom resto de domingo.
Vitor
Olá Mariazita!
ResponderEliminarÉ so uma adenda para correcção de datas; o Salazar morreu em 1970;as minhas desculpas!
Vitor
Amiga Mariazita
ResponderEliminarEste seu texto tocou-me de forma muito particular.
Em 1972, o meu primeiro contacto com África deu-se precisamente com a chegada a São Vicente, a bordo do velho navio Niassa!
A sensação que teve à chegada foi exactamente a mesma que eu tive!
Revi-me completamente no seu texto!
Engtretanto, no meu caso estive apenas dois meses num arquipelago, que, para mim, era um mundo completamente diferente de tudo a quanto estava habituado. Excepto uma certa sensação de familiaridade com a arquitectura que me fazia recordar uma pequena cidade de provincia da "metrópole" plantada no meio do Oceano e que me fazia sentir um orgulho muito especial na nossa História.
De histórias com cães não me recordo, lembro apenas de ver muitas cabras pelos montes, comendo papel de jornal, sendo talvez por isso que os locais lhes chamavam "cabras ilustradas".
Foi para mim uma experiência de vida fortíssima, com 16 anos integrado num pequeno grupo de estudantes lá andámos nós a percorrer algumas ilhas, com uma Santo Antão tão perto e tão diferente de São Vicente, e à qual fomos numa pequena embarcação chamada "Carvalho", e com a qual íamos naufragando, apanhando um susto de morte.
A Mariazita, para além de um belo texto trouxe-me muitas memórias...
Hoje fez-me voltar ao meu breve passado africano, que se prolongaria no ano seguinte com mais dois meses na Guiné, exactamente no pior periodo da guerra...
Foram tempos de aprendizagem do que era o mundo, sem a qual eu acho que não seria exactamente a mesma pessoa que sou hoje.
Goste-se ou não de África ela marca-nos para sempre!
Um beijinho com amizade!
Estive cá e desejo um bom Domingo mas ttenho que voltar para ler mais um texto de que vou gostar certamente.
ResponderEliminarBeijossss
Só você mesmo, sua Doidivanas! Que medo! E a continuação, já pensou? Vou ter um ataque!!!
ResponderEliminarBeijos! Amo você, Loiraça****
*************
Ofereço-lhe o Amor mais lindo do Mundo
*Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé, não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho!!!
Amor feinho!
Adélia Prado
+ Beijos! Mariazita!
Rê
ah, a senhora quer fazer o favor de me enviar o convite para o Blog *Histórias de Encantar?* Vai o mail de acompanhamento de comentário!
ResponderEliminarBeijos de (Hu)Amor!
Rê
*
ResponderEliminarQuem mostra' bo
Ess caminho longe?
Quem mostra' bo
Ess caminho longe?
Ess caminho
Pa São Tomé
Sodade sodade
Sodade
Dess nha terra Sao Nicolau
in-cesária
,
conchinhas, deixo
,
*
Querida Manita,
ResponderEliminarAdoro ler as tuas aventuras por terras de África....foram tempo que deixaram muitas recordações e que agora partilhas com tanto sentimento.
Pelos vistos ontem estávamos as duas em festa. Tu a celebrares os 13 anitos do teu neto e eu a celebrar os 50 anos da Rosita.
Um abraço apertadinho e mil beijinhos doces
Mariazita
ResponderEliminarLeio com atenção estas tuas memórias. Memórias de um tempo que adivinho, nada fácil. Sabes, tenho de tudo isto apenas uma leve sensação, desenhada pelas histórias que ouvia contar com frequência... talvez venha daí o fascínio que eu tenho por Africa e a convicção que ainda lá irei, cumprir uma missão.
Continuarei atenta. Sabes o quanto gosto de te ler...
Já agora, há convite para mim, para o Histórias?
Beijinhos, amiga
Minha Querida Amiga Mariazita,
ResponderEliminarMais uma bela estória da sua Vida pelas Áfricas. Acredito que julgasse estar a chegar à lua pois essa terra é mesmo inóspita.
Um beijinho muito amigo.
A vida que muita gente passou em bolandas, no antes-25 de Abril.
ResponderEliminarBom quando acabou bem e serviu de aventura aos nossos bravos soldados e suas famílias.
No que toca aos cães, nunca te ocorreu que havia cadela com cio na briga?
Ocorreu-me isso agora pelo modo como tu te questionas.
Beijosssss
Amiga Mariaziata,
ResponderEliminarPara mim tudo isto é novidade.
Desse tipo de aventura, de vivência, de maneira que devoro tudo com aquela avidez de quem está ela própria a viver uma aventura inesquecível.
Adoro a forma como o faz.
Parabéns
Beijinhos
Ná
Mariazita,
ResponderEliminarEm dia de regresso, depois de tão grande ausência, tens aqui muito que me interessa ler... parece que temos algumas memórias em comum.
Voltarei para ler o que está para trás, com toda a atenção e com o mesmo carinho com que me sempre me tens brindado, minha amiga.
Um beijo
"nha" amiga Mariazita.
ResponderEliminarDepois do sofrimento em mei a chuva no cais, eis que chegaste finalemnte em tua casita mad in africa heim?
Pq q será que brigam os cães?
Assim como os homens em suas guerras sem sentido...
Mas a minha corajosa amiga muito me admira por tua determinação e amor aos teus enfrentaste os teus medos que por certo tiveste pra ser a força e companheira dos filhos e esposo.
A saga da Mariazita guerreira continua e eu ansiosa pra saber onde vais chegar com tantas aventuras que com certeza nos espera.
Saudades de tí amiguita, ainda sem net, mas matando a saudade de tí que admiro e amo de coração.
Não te esqueço nunca pode crer.
Beijos e beijos pra tí.
Com carinho,
Jady
Muito interessante este teu testemunho acerca de Cabo Verde, que já visitei e me encantou.
ResponderEliminarFoi bom rever o monte Cara...
Um abraço, nena.
http://meta-morfo-sear.blogspot.com/searche?q
ResponderEliminare ou
http://www.irineuxcotrim.recantodasletras.com.br/
gostei de ter lido a história da samaritana.
ResponderEliminarAmiga Mariazita,
ResponderEliminarestas histórias têm um sabor a saudade e você as escreve maravilhosamente bem.
Apesar de ser das ultimas a comentar, faço questão de reservar também o bilhete da próxima sessão.
Beijinhos,
Ana Martins
Está a fascinar-me esta historia da vida real.
ResponderEliminarJá noutra ocasião disse que de Africa, nikles. Nem me atrevia...de cabo verde, já tive várias oportunidades, mas recusei sempre. S. Tomé e Principe, gostava.
nhã mãe!!! Aqui bem ao pé de nós, há uma região onde este vocabulário ainda hoje existe.
Montijo...
Beijoquitas
Quer saber porque vc é E-S-P-E-C-I-A-L???
ResponderEliminarTe espero lá no meu cantinho.
beijooo.
Nena, vim desejar-te e aos teus um bom fim de semana.
ResponderEliminarAbraços.
Mariazita
ResponderEliminarQuanta história tens para nos contar... que medo - tudo diferente - que coragem amiga.
Conte mais.
Beijos
Cães e homens a mesma luta. Faz parte da vida combater.
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