Sim, porque eu sempre tive cães. Desde que tenho memória, na casa dos meus pais e depois na minha, os cães sempre fizeram parte da minha vida. De todas as vezes que um dos anteriores me deixou para ir juntar-se aos “anjos caninos”, o meu desgosto foi tal que eu não admitia sequer a hipótese de o substituir.
Mas passado algum tempo surgia um bebé, com um ar tão indefeso, uns olhinhos tão carentes, que me provocava uma súbita paixão. E, completamente apaixonada, carregava-o para casa. E assim se tem mantido este ciclo ao longo dos anos.
Não há quem não conheça histórias extraordinárias passadas com cães.Uns que acompanham seus donos até à morada final, ali permanecendo até ao seu próprio fim; outros que arriscam a vida para salvar os seus donos. Todos viram, com certeza, a foto que circulou na Net, da cadela que “beijou” o seu salvador
e leram a sua história
“She is pregnant.
He had just saved her from a fire in her house, rescuing her by carrying her out of the house into her front yard, while he continued to fight the fire.
When he finally got done putting the fire out, he sat down to catch his bread and rest.
A photographer from the Charlotte, North Carolina newspaper noticed her in the distance looking at the fireman.
He saw her walking straight toward the fireman, and wondered what she was going to do.
As he raised his camera, she came up to the tired man who had saved her life and the lives of her babies and kissed him just as the photographer snapped this photograph”.
Há dias eu estava conversando com o meu cão (ele, bem mais inteligente do que eu, entende as minhas palavras; eu ainda tenho alguma dificuldade em traduzir para língua humana os “hum-hum’s” com que me responde). Contei-lhe a história dessa cadela grávida e, pelos seus olhos lacrimejantes, percebi que ficara comovido.
Lembrei-me então duma crónica que li há bastante tempo, escrita por Joaquim Letria, que me tocou bem fundo. Vou partilhá-la convosco.
VIDA DE CÃO
Devem ter lido nos jornais a notícia dum selvagem de perto de Leiria que quase matou, a tiros de caçadeira, um cão Labrador.
Disse a besta à GNR que o cão lhe entrara na propriedade, o que para ele justificava o seu acto e o desejo de matar o animal, o que só não fez porque, além de leproso moral, é um incompetente com armas de fogo, de cartuchos calibre 12, que abram a chumbada à distância do alvo.
A notícia impressionou-me muito porque não imagino o que se pode sentir apontando uma arma a um cão, ainda para mais a um Labrador, e porque em minha casa, entre os meus cães, há dois Labradores que, desde cachorros desmamados me acompanham todo o santo dia.
Felizmente que vejo bem, mas, senão visse, sei que eles me ajudariam, ou não fossem os Labradores os cães dos cegos.
Há momentos, ao vir para casa para escrever este texto, vi um rapazelho de 15 ou 16 anos – ou um “teenager” se preferem modernices – numa bicicleta de montanha, de seis velocidades, roupa desportiva de marca, abrandar para, corajosamente, arrear um pontapé num rafeiro de três pernas.
Também tenho um rafeiro que arranquei da fome e dos maus tratos do abandono, mas felizmente tem as quatro patas e é mais esperto e ladino do que se poderia imaginar, e ainda bem que é cão, porque se não fosse, já me tinha enrolado as vezes que quisesse, como, de resto, faz com a minha mulher, que o trata melhor do que a um filho único.
Uma coisa fez lembrar a outra, ideia puxa ideia, o cão a ganir do pontapé, o Labrador ensanguentado pela caçadeira, a GNR a tomar conta da ocorrência, o energúmeno a avantajar-se, o menino a desenhar oitos com a bicicleta, e eis-me aqui a escrever sobre cães, os melhores amigos do homem, como diria um escritor de frases feitas ou um amante de “clichés”.
Os meus Labradores têm certidão de nascimento. Mais do que isso, têm um documento autenticado que lhes garante a ascendência até à quinta geração. O rafeiro não tem papéis, evidentemente, nem o auto de expulsão do acampamento de ciganos que o projectou para a porta de uma peixaria onde o apanhei. Curiosamente, os meus cães gostam mais de peixe do que de carne, o que não é de estranhar nos Labradores, dado o seu código genético de cães das águas frias da Gronelândia, onde mergulhavam para puxarem os cabos dos navios para serem amarrados no cais. Os meus Labradores são cultos porque, embora um nascido no Surrey, Reino Unido, e outro na África do Sul, entendem perfeitamente o português, até devendo estar ambos esquecidos do inglês e do afrikander, que não praticam. O vira latas, se falasse, devia falar à malandro de Alcântara, que é um sotaque de Lisboa a desaparecer entre os humanos.
Acompanham-me ao pequeno almoço, almoço e jantar, e ficam comigo, espojados no chão, a gemerem sonhos, no meio dos meus livros, enquanto escrevo e não me vou deitar. Talvez sonhem com os irmãos de ninhada, a correrem nos prados verdes e húmidos que não lhes posso proporcionar.
Dizem que não há melhor prazer para um cão do que estar com os seus donos, mas creio que condenamos os nossos cães a felicidades que não merecem. Os cães merecem a felicidade plena, não este exílio que lhes impomos, nem a prisão protectora a que os submetemos.
Os cães gostam tanto dos donos que parecem felizes nas cadeias que lhes damos, mas bem vejo a diferença que não escondem nos campos sem horizonte ou nas praias desertas do Outono e do Inverno.
Depois de meia dúzia de anos de convivência com os meus cães penso que sei ler-lhes os olhares e perceber o que me dizem. Tanto quanto sentiria a tristeza e a mágoa do Labrador atingido a tiro e do cão perneta que, sem prisões que os protejam, conhecem bem os homens e sabem o que é a verdadeira vida de cão.
Joaquim Letria
Para rematar a nossa conversa de hoje eis a foto do meu cão, quando tinha 9 meses de idade, festejando o seu primeiro Natal.
Oh,querida Mariazita, o meu cão era parecido com o teu e,talvez por isso, senti agora muitas saudades dele. Também era muito inteligente e bonito e, apesar de não ter sido um herói, foi o meu grande amigo e companheiro de todas as horas.
ResponderEliminarDurante os 16 anos que estivemos juntos passamos bons momentos e ainda me lembro com nostalgia da sua partida.Nunca mais o esquecerei!
Talvez um dia volte a ter um e, sem dúvida, será tratado como aquele rafeiro mencionado na crónica do Joaquim Letria.
São poucos os humanos que amam como eles:incondicionalmente. Talvez por isso,tenha grande dificuldade em aceitar os maus tratos e abandono a que são sujeitos.Parabéns pelo post.
Muitos beijinhos
Minha Querida Mariazita,
ResponderEliminarQue bom quando se sabe de alguém que "Ama" o animal... o "Cão".
Lindo post, Lindas palavras, tanto as tuas como as do Letria. É... na verdade o Cão não se limita aos seus poderes caninos, mas também á dedicação daqueles que tanto gostam deles.
Beijo Grande
Querida Canduxa
ResponderEliminarAinda me lembro dele, pequenino, no Pontido! E depois, já velhinho, descia as escadas de corrida para nos receber. Para subir é que era o problema, ficava aflito para respirar. O coraçãozito já estava cansado...
É um desgosto muito grande, quando nos deixam. Por isso penso que se o meu Zuky se for embora antes de mim, não quero mais nemhum! Contento-me com ver os outros... embora não tenha nada a ver: A companhia que nos fazem, o amor incondicional que nos dedicam...
não há nada igual.
Não consido entender como alguém pode maltratar os animais.
Beijinhos, querida.
Mariazita
Querido Sérgio
ResponderEliminarSempre gostei muito de animais, embora a minha preferência vá para os cães.
Concordo com o que diz o Letria - "os cães merecem a liberdade plena...não as prisões a que os submetemos".
O ideal seria que pudessem viver em amplos espaços. Mas nos tempos actuais, em que a maioria da população vive nas grandes cidades, só uns poucos privilegiados lhes podem dar essas condições.
Por isso tenho optado sempre por animais pequenos, embora goste muito de cães grandes. Adorava ter um S.Bernardo. São animais magníficos!
Beijinhos
Mariazita
Anónimo disse...
ResponderEliminarTodos nós que amamos nossos cãezinhos, achamos que são os melhores de todos.
São como nossos filhos: os mais lindos, inteligentes, ninguém os supera.
Beijos
Vilma Tavares
27 de Abril de 2008 22:02
Querida Vilma
ResponderEliminarTem razão, para nós são como família, são como filhos.
Em momentos especialmente carinhosos eu trato o meu por bebé.
Ele sorri. Sabe que é um miminho especial, tratá-lo assim.
Eles entendem melhor do que muitas pessoas...
Beijinhos, querida amiga.
Mariazita
Oie!! Mariazita... eu também tenho uma cadelinha, chamada Pepita! é uma lha Apsa, originária do Tibet. É minha amiguinha, mas penso que isso não é bom nem pra mim e nem pra ela... estou sempre medindo forças com o sr Apego...êle é muito forte, mas continuo lutando diarimente com êle, assim penso conviver melhor comigo mesma... bjs... Zirit@
ResponderEliminarQuerida Zirita
ResponderEliminarConheço muito bem a sua Pepita.
Esqueceu que ela e o meu Zuky trocaram fotos???
Não me diga que ela já esqueceu o namorado...:)))))
Pois é, minha amiga, o sr. Apego é mesmo muito forte!
Pode lutar à vontade com ele, mas desiluda-se, porque não vai sair vituriosa. Nunca vencemos!!!
Beijinhos
Mariazita
E verdade Mariazita... o Sr Apego sempre vence essa batalha, mas lembro de um filme , Um estranho no ninho" , quando o protagonista, foi ridicularizado pelos colegas, por ter tentado uma fuga, sem sucesso, êle disse: POSSO Ñ TER CONSEGUIDO, MAS PELO MENOS TENTEI... portanto... tentar, já é metade do empreendimento...rsss
ResponderEliminarcarinhos meus... Zirit@ ( é mesmo!!! a pepita é a namorada virtual do seu cãozinho... rsss
Querida Zirita
ResponderEliminarEste início de Maio foi complicado...
Aniversário da filha mais nova, aniversário da neta mais velha, Dia da Mãe...foi sempre em festa!
Tem toda a razão - podemos não conseguir, mas pelo menos tentámos, e isso é que importa!
Há muito tempo li uma frase que nunca esqueci: A DOR É PREFERÍVEL AO VÁCUO. MAIS VALE TER SOFRIDO DO QUE NÃO TER VIVIDO.
E assim vamos caminhando, tentando sempre!
Beijos
Mariazita
Querida Mariazita
ResponderEliminarQuando se fala em vida de cão, normalmente associo a esse Labrador que foi alvejado, ou ao rafeiro de três patas que foi pontapeado, ou seja, penso sempre am algo menos bom.
O que importa é que há cães que levam uma vida bem melhor do que muitas crianças, se bem que, a liberdade talvez lhes agradasse mais.Às vezes fico na dúvida: há donos que os levam a passear, há os que lhes retiram a trela e os deixam correr, mas...será que isso é suficiente para eles?!
Admiro o lindo exemplar da minha amiga: tem um ar feliz, na fotografia que publicou.
Bem haja, pelo que faz por estes seres vivos.
Um beijinho
Beatriz