sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

FELIZ ANO NOVO

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FELIZ ANO NOVO


quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

NATAL : JESUS OU PAPAI NOEL?

Aproxima-se o Natal. Curioso como, numa sociedade tão laicizada como a nossa, na qual predomina a tendência de escantear a religião para a esfera privada, uma festa religiosa ainda possa constituir um marco no calendário dos países do Ocidente.
Há nisso uma questão de fundo: o ser humano é, por natureza, lúdico e sociável, o que o induz a ritualizar seus mais atávicos gestos, como alimentar-se ou se relacionar sexualmente. Além de elaborar, condimentar e enfeitar sua comida, o que nenhum outro animal faz, o ser humano exige mesa e protocolo, como talheres e a sequência prato forte e sobremesa.
No sexo, não se restringe ao acasalamento associado à procriação. Faz dele expressão de amor e o reveste de erotismo e liturgia, embora o pratique também como degradação (prostituição, pornografia e pedofilia) e violência (jogo de poder entre parceiros).
O Carnaval, como o Natal, era originariamente uma festa religiosa. Nos três dias que antecedem a Quaresma, período de jejum e abstinência recomendados pela Igreja, os cristãos se fartavam de carnes – daí o termo Carnaval, festival da carne. Resume-se, hoje, a uma festa meramente profana, onde a carne predomina em outro sentido...
Essa transmutação ocorre também com o Natal. Por ser festa de origem cristã, para celebrar o nascimento de Jesus, a sociedade laica e religiosamente plural a descaracteriza pela introdução da figura consumista de Papai Noel. O que deveria ser memória da presença de Deus na história humana, passa a ser mero período de miniférias centrada em muita comilança e troca compulsiva e compulsória de presentes.
Daí o desconforto que todo Natal nos traz. Como se o nosso inconsciente denunciasse o blefe. Sonegamos a espiritualidade e realçamos o consumismo. Ótimo para o mercado. Mas o será também para as crianças que crescem sem referências espirituais e valores subjetivos, sem ritos de passagem e senso de celebração?
Longe de mim pretender restaurar a religiosidade repressiva do passado. Mas se há algo tão inerente à condição humana, como a manutenção (comer) e a procriação (sexo) da vida, é a espiritualidade. Ela existe há cerca de um milhão de anos, desde que o símio deu o salto para o homo sapiens. As religiões são recentes, surgiram há menos de dez mil anos.
Se a espiritualidade não é fomentada na linha da interiorização subjetiva e da expressão de conexão com o Transcendente, ela corre o sério risco de, apropriada e redirecionada pelo sistema, cair na idolatria de bens materiais (patrimônio) e de bens simbólicos (prestígio, poder, estética pessoal etc). Talvez isso explique por que a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas similares a catedrais pós-modernas...
Já não são princípios religiosos que norteiam a nossa vida. Desestimulados ao altruísmo e à solidariedade, centramos a existência no próprio umbigo – o que certamente explica, na expressão de Freud, “o mal-estar da civilização”, hoje acrescido desse vazio interior que gera tanta angústia, ansiedade e depressão.
Com certeza o Natal é ocasião propícia para, como propôs Jesus a Nicodemos, nascer de novo...



Frei Betto.
Natal de 2010




quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

COMO ERA A PESSOA DE JESUS CRISTO


COMO ERA A PESSOA DE JESUS CRISTO

Gravura pintada pelo próprio Públios Lentulus

(Conforme Documento existente em Roma)



O governador da Judeia, Públios Lentulus, ao César Romano:

- Soube, ó César, que desejavas informações acerca desse homem virtuoso que se chama Jesus, que o povo considera um profeta, e seus discípulos o filho de Deus, criador do céu e da terra.
Com efeito, César, todos os dias se ouvem contar dele coisas maravilhosas.
Numa palavra, ele ressuscita os mortos e cura os enfermos.
É um homem de estatura regular, em cuja fisionomia se reflete tal doçura e tal dignidade que a gente se sente obrigado a amá-lo e temê-lo ao mesmo tempo.
A sua cabeleira tem, até às orelhas, a cor das nozes maduras e, daí aos ombros, tingem-se de um louro claro e brilhante; divide-se numa risca ao meio, á moda nazarena.
A sua barba, da mesma cor da cabeleira, é encaracolada, não longa e também repartida ao meio.
Os seus olhos severos têm o brilho de um raio de sol; ninguém o pode olhar em face. Quando ele acusa ou verbera, inspira o temor, mas logo se põe a chorar.
Até nos rigores é afável e benévolo.
Diz-se que nunca ninguém o viu rir, mas muitas vezes foi visto chorando. As suas mãos são belas como seus braços, toda a gente acha sua conversação agradável e sedutora.
Não é visto amiúde em público e, quando aparece, apresenta-se modestissimamente vestido. O seu porte é muito distinto. É belo.
Sua mãe, aliás, é a mais bela das mulheres que já se viu neste país…

Maria, Mãe de Jesus

Se o queres conhecer, ó César, como uma vez me escreveste, repete a tua ordem e eu te o mandarei.
Se bem que nunca houvesse estudado, esse homem conhece todas as ciências.
Anda descalço e de cabeça descoberta.
Muitos riem, quando ao longe o enxergam; desde que, porém, se encontram face a face com ele, tremem-no e admiram-no.
Dizem os hebreus que nunca viram um homem semelhante, nem doutrinas iguais às suas. Muitos crêem que ele seja Deus, outros afirmam que é teu inimigo, ó César.
Diz-se ainda que ele nunca desgostou ninguém, antes se esforça para fazer toda a gente venturosa.

OBS 1

A descrição acima foi traduzida de uma carta de Públius Lentulus a César Augusto, Imperador de Roma.
Públius Lentulus foi predecessor de Pôncio Pilatos como governador da Judeia,
na época em que Jesus Cristo iniciou seu ministério. O texto original encontra- se na biblioteca do Vaticano. Comprovada sua autenticidade, tornou-se, fora da
Bíblia, o documento mais importante sobre a pessoa do Senhor Jesus.

OBS 2

Sabemos também que, após a crucificação de Cristo, Públius Lentulus tornou-se seu seguidor e, juntamente com sua filha Lívia, levava a palavra de Deus aos povos da época.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

CENAS DA VIDA REAL

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A CASA DA MARIQUINHAS


APRENDER A LER

Tive, há anos, uma empregada doméstica que era analfabeta. Não conhecia uma letra, nem que fosse, como se costuma dizer, do tamanho de um boi!
Como trabalhava interna na minha casa, onde tinha, como também se costuma dizer, cama, mesa e roupa lavada, não gastava praticamente nenhum dinheiro do seu salário, pelo que, em breve, tinha “uns tostões” amealhados.
A certa altura pensou - no que teve todo o meu apoio – que seria interessante abrir uma conta no Banco para lá depositar o seu dinheirito.
Fui ao Banco buscar os impressos para preencher, e nessa altura é que me lembrei que a Lina não sabia assinar.
Para não passar pela vergonha de colocar, no local da assinatura, a sua impressão digital, decidimos que eu iria ensiná-la a ler e escrever.
Em criança, na idade escolar, frequentara a Escola na sua terra natal, Cabo Verde. Mas não conseguira aprender absolutamente nada. Como já disse, não distinguia o “A” do “B”.
Isto causava-me uma certa estranheza porque ela revelava bastante inteligência para aprender os trabalhos domésticos. Quando veio para minha casa tinha uns conhecimentos bastante rudes do que seriam as suas tarefas; contudo rapidamente aprendeu, e executava-os na perfeição. Inclusivamente quis aprender a cozinhar. Ensinei-a com todo o gosto, e até mesmo receitas que obedeciam a quantidades certas, ela decorava-as (sabia-as de cor) e não tinha qualquer dificuldade em fazê-las.
Pensei, portanto, que o seu analfabetismo se devesse, em parte, a falta de jeito da professora – talvez não tivesse descoberto o modo certo de a ensinar…, ou a grande quantidade de alunos não lhe deixasse tempo para lhe dedicar maior atenção, que talvez a aluna necessitasse.
Foi, pois, com algum entusiasmo que iniciei a tarefa que, a breve trecho, veio a revelar-se árdua!
Sempre que tínhamos algum tempo livre lá ia a boa da Lina buscar livro, caderno e lápis, para mais uma lição.

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Não arrepelei os cabelos muitas vezes porque não sou dada a essas manifestações exteriores de fúria interior. Respirava fundo, muiiiiiito fundo (!!!), e arremetia de novo:
- Vamos lá mais uma vez. Isto é um…
- B – respondia a Lina, radiante, ao ver, na minha expressão, que tinha acertado. Acertado, sim, porque aquele B era atirado à sorte, e lá calhava acertar…
- E isto é um…
- A – A Lina rejubilava! Tinha acertado uma vez mais.
- Muito bem! Então… um B e um A lê-se…
- MI – respondia, mas logo entristecia ao ver, na minha cara, que uma vez mais tinha saído asneira.
Cenas idênticas repetiram-se lição após lição, até que um dia a Lina achou que o melhor seria apenas aprender a escrever o seu nome, para poder assinar o que fosse necessário.
Concordei de imediato, até porque os meus cabelos estavam a tornar-se brancos de dia para dia…
Começou então a enorme dificuldade de segurar convenientemente no lápis – só mais tarde iniciou a esferográfica.
É realmente extraordinário verificar que um gesto tão simples como segurar num lápis para escrever, para quem sabe fazê-lo, pode representar um esforço quase sobre-humano para um analfabeto.
Não se apresentou nada mais fácil aprender a escrever do que tinha sido aprender a ler, actividade que, entretanto, não tínhamos posto de parte – apenas lhe dávamos menos atenção do que à escrita.
Certo dia eu encontrava-me menos bem disposta do que habitualmente, e, perante mais uma calinada da Lina, juntei as mãos em atitude de reza, ergui os olhos ao céu, e disse:
- Ó Deus, dá-me paciência!
A Lina olhou para mim com atenção, e em seguida, com um certo ar de espanto, falou assim:
- Minha senhora tem coragem de pedir a Deus mais paciência do que minha senhora tem? Desculpa, senhora, mas isso é pecado!
Fiquei completamente desconcertada. Apeteceu-me abraçá-la e beijá-la por tanta ingenuidade. Mas limitei-me a engolir em seco, aclarar a voz, e dizer:
- Bem, bem, vamos lá continuar!
Demorou um certo tempo, mas alcancei a grande vitória de conseguir que a Lina passasse a assinar o seu nome.

Mariazita, Março de 2010

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

DESTINO








DESTINO

Olhaste para mim
Como se olhasses para uma folha de papel vazia
Onde querias gravar as palavras
Do nosso destino.

Pedi-te que deixasses
Espaço bastante entre as linhas
Para que eu pudesse escrever
Nas entrelinhas.

Não me quiseste ouvir.
E quando tentei que chegasse junto a ti
O meu sentir,
Faltava espaço para me exprimir.

O nosso destino passou a ser
Apenas o que desejavas para nós.
Mas uma só vontade não basta
Para dois trilharem um caminho a sós.

Sem esperança de retorno,
Deu-se a despedida.
Cada um seguiu o seu destino.
E eu já não sou uma folha de papel vazia.

Maispa
Luz