quarta-feira, 17 de julho de 2024

FÉRIAS

VOU GOZAR UMAS MERECIDAS FÉRIAS

No ano passado, os dias que eu tinha planeado estar nos Estados Unidos

passei-os no Hospital, desde 29/06 até 25/08 – 2 meses menos 4 dias…

Agora vou cumprir os planos adiados, partindo no final deste mês (daqui por meia dúzia de dias) e regressando no final de Agosto.

Assim, ao jeito de quem quer desejar umas boas férias também para todos vós… vou partilhar convosco uma lenda de minha autoria, que escrevi para um concurso e que mereceu do júri a atribuição do 1º.prémio na modalidade “Lendas”.

Permito-me recordar-vos que uma lenda não é uma história verdadeira, é, sim, pura ficção.

Será que vai ser do vosso agrado?

LENDA DA PRAIA DA ROCHA


Eram os tempos da Antiguidade, quando os romanos dominavam o Algarve, e a actual cidade de Portimão, pertencente ao distrito de Faro,  se chamava Portus Hannibalis ou Porto de Aníbal, em homenagem ao general Aníbal Barca, considerado um dos maiores estrategas militares da História.

A cerca de 2 quilómetros existia uma extensa faixa de areia dourada, ao longo de 1,5 km de costa, banhada pelo Oceano Atlântico. Dali partiam para o mar os pescadores que forneciam de peixe as redondezas, enfrentando, por vezes, tormentas e ondas alterosas.

Havia, no local, um enorme rochedo plano onde, muito mais tarde, no século XVII, foi construída a Fortaleza de Santa Catarina, que servia para assegurar a defesa da barra.

Mas isto aconteceu muito mais tarde. No tempo dos romanos esse rochedo dava guarida a um Gigante, tão grande de estatura como de coração, que, incessantemente, vigiava a praia. Com a sua altura descomunal via muito ao longe, no mar, quando se formavam tenebrosas vagas que representavam um enorme perigo para os pescadores. Nesses dias, depois de serem avisados pelo Gigante, não se faziam ao mar. Aguardavam, em terra, que a tempestade acalmasse.

Essas vagas gigantescas eram formadas por dragões marinhos que ansiavam apanhar os pescadores, levá-los para as profundezas do mar, e fazer deles escravos.

Mirando o longínquo rochedo eles percebiam que os pescadores tinham sido avisados pelo Gigante, e desapareciam no alto mar.

A vida decorria calma para os pescadores e suas famílias, que sempre podiam contar com a protecção do bom Gigante.

No dia de São Pedro, protector dos pescadores, era organizada uma grande festa na praia,  em honra daquele santo.

Nesse ano os festejos seriam ainda maiores dado que os últimos dias tinham sido muito fartos em peixe, e eles sentiam-se particularmente gratos ao santo.

Na areia eram estendidos panos brancos, impecavelmente limpos, e sobre eles colocavam-se frutas, figos e amêndoas, mel e doces, fornecidos  por todas as famílias e servidos a quem estivesse no local. Todos os alimentos eram preparados e  transportados apenas por mulheres grávidas, consideradas em estado de graça, ou jovens virgens. Eram colocados sobre as suas cabeças, para não os macular e, ao mesmo tempo, energizá-los com energias positivas.

No meio de grande alegria, todos cantavam e dançavam ao som das cítaras, liras e alaúdes, tocados pelos romanos que, em grande número, vinham da cidade assistir à festa.

Assim que começaram os festejos o Gigante sentou-se junto aos panos que continham amêndoas, fruto da sua preferência, que ia comendo e acompanhando com goles de malvasia.

Sentia-se no ar o agradável cheiro da maresia.

A noite estava escura, apenas no céu brilhavam milhões de estrelas que não eram o suficiente para alumiar a terra. Os archotes, colocados aqui e além, lançavam a sua luz bruxuleante, que mal iluminava o ambiente.

A música era como que uma canção de embalar para o Gigante que, rendido, adormeceu profundamente sobre a areia.

Lá muito ao longe, no mar, os dragões marinhos espiavam a terra, cujas luzinhas, tremeluzentes, lhes faziam adivinhar que haveria pessoas na praia.

Com movimentos muito lentos, tentando fazer o menor ruído possível com as vagas que se formavam à sua passagem, iam-se encaminhando para terra. Quando estavam próximos formaram uma onda gigantesca que invadiu a praia, arrastando algumas pessoas que gritavam desesperadamente, assustando todas as que conseguiam escapar à força das águas.

O Gigante, acordando sobressaltado, começou por ficar paralisado com o espectáculo que se desenrolava aos seus olhos.

Mas imediatamente reagiu e, apelando aos seus poderes especiais, que raramente utilizara, estendeu as mãos lançando um feitiço sobre os dragões.

Estes, apanhados de surpresa e sem tempo para fugir, ficaram paralisados, transformando-se em rochas.

Até hoje essas rochas, feitas de dragões marinhos, mantêm-se inalteráveis na Praia da Rocha, à qual deram o nome.

Maria Caiano Azevedo

(Mariazita)