domingo, 7 de agosto de 2011

GUARDADO NO BAÚ

PRAZERES DA VIDA CAMPESTRE

Image and video hosting by TinyPic

O meu marido e eu sempre sonháramos produzir os nossos próprios alimentos. Antes de termos comprado a quinta, imaginávamo-nos a encher travessas de legumes frescos com a modesta mensagem: “Cultivados por nós”.
Mas hoje cambaleamos os dois, carregados com sacos de 25kg de comida para 45 animais gordos, que pouco mais fazem do que viver em transe digestivo.

Como pude eu, uma citadina,

Image and video hosting by TinyPic

transformar-me em empregada de mesa destas criaturas horrorosas e inúteis?
Começamos com a «nossa horta», um desastre com o qual nada aprendemos.
Após uma estação a arar, adubar, colocar cercas até ficar com as costas partidas, produzimos apenas o «tomate especial». Era um bom tomate, e foi poupado pelas toupeiras, que deixaram as suas impressões dentais em todos os outros legumes.
Image and video hosting by TinyPic

A seguir vieram as cabras. Sempre havíamos gostado de leite de cabra e imaginámos que umas quantas cabeças nos forneceriam o queijo enquanto cabriolavam, como adoráveis animais de estimação.
Assim, encomendamos duas irmãs completamente loucas: a Lulu e a Lulubela.

Image and video hosting by TinyPicImage and video hosting by TinyPic


Embora soubesse que as cabras não davam directamente bocados de queijo branco, não sabia que esses “bichinhos” implicavam plataformas leiteiras, problemas de tetas e, o pior de tudo, ligações sexuais. As cabras só produzem leite se acasalarem, e o único bode que existia lá na terra, era o Bucky, um ser cornudo e barbudo, com um odor corporal de cortar à faca!

Image and video hosting by TinyPic

Na sua primeira visita conjugal ele e as “miúdas” fizeram uma tal bagunça que causaram avultados prejuízos no celeiro, antes de comerem os peitoris das janelas.
O namoro foi cancelado.
A Lulu e a Lulubela entretêm-nos agora, de vez em quando, com travessuras no relvado da frente, batendo com as cabeças e executando alguns passos de dança que recordam ritos dionisíacos. Mas a maior parte do tempo limitam-se a mascar (geralmente com ruído) e a aliviar-se.

A seguir veio o sonho dos ovos frescos, recolhidos de manhãzinha, ainda quentes – um sonho que deu lugar à realidade de 38 galinhas irritantes. Após um vultuoso investimento em ração para galinhas, uma manhã, quando fui tirar um ovo – amarelo, sedoso e quente – a galinha quase me arrancou a mão.
Image and video hosting by TinyPic
Depressa descobri que as galinhas são seres esquisitos. Até o galo nos desapontou. Esperávamos que ele nos acordasse com o seu canto orgulhoso. Mas, na Quinta Dimensão (que é o nome da nossa propriedade) o galo tem de ser abanado para acordar, ao meio dia.

Image and video hosting by TinyPic

Com as galinhas vieram os gansos, que não fazem o menor sentido. Encomendámo-los num impulso, ao ver o catálogo de aves de capoeira, e ao lermos a lista de nomes: gansinhos de Toulouse.
Gansinhos! A palavra fazia-nos lembrar qualquer coisa pequenina. Mas os meus cinco bebezinhos gansos, de penugem verde amarelada, depressa se transformaram em gansos gorduchos, com 9 kg.

Image and video hosting by TinyPic

Durante algum tempo agarrei-me à ilusão de que eles voariam para o Sul quando o inverno chegasse. Vira o documentário «O Voo Incrível dos Gansos da Neve» e pensei gravá-lo em vídeo para o passar aos meus gansos. Mas eles voam praticamente tanto como eu – derrapando alguns metros até à piscina de plástico dos miúdos.
Resignei-me a dirigir um balneário de gansos, mas o meu marido tinha outras ideias.
- O Natal está a chegar e os gansos estão a engordar – rosnou ele, com uma expressão diabólica à Jack Nicholson no olhar.

Image and video hosting by TinyPic

Fiquei aterrada. Como podia ele pensar em assar um animal que me considerava a Mãe Gansa?
Os gansos haviam-me seguido até um lago próximo, onde os vizinhos me tinham assegurado que os podia deixar.
- Mal toquem na água, nunca mais quererão de lá sair.
Mas, quando me vim embora, eles seguiram-me em fila indiana. Voltei-me e vi-os com as cabeças cinzentas acima da erva alta, procurando seguir-me as pisadas.
Fiquei comovida. Para toda a vida. Sem penugem, com as vozes estridentes, os gansos haviam se transformado numa espécie de animais repulsivos. O único macho, Arnold, chegou mesmo a picar-me o rabo quando lhe voltei as costas. O pior é que eles estão para durar pelo menos 30 anos.

Hoje em dia compro a minha «alimentação caseira». Escolho o ganso na secção da melhor carne do mercado, e encontro ovos «acabadinhos de pôr» e «queijo natural de cabra» nas boas lojas.
Os ovos são caros, mas saem, mesmo assim, mais baratos do que os meus, que eram muito mais caros, tendo em conta coisas como os galinheiros.
Mas o melhor é poder assar um ganso, regá-lo com molho, aspirar-lhe o aroma e saber que não é o Arnold. Esse está lá fora, ocupado em relações incestuosas com as irmãs, na piscina.

ESTA É A MINHA ÚLTIMA POSTAGEM ANTES DE FÉRIAS. VOLTAREI EM MEADOS DE SETEMBRO.
ATÉ LÁ DESEJO-VOS TUDO DE BOM, E BOAS FÉRIAS A QUEM AS GOZAR NESTE MESMO PERÍODO.
BEIJINHOS PARA TODOS.