segunda-feira, 18 de julho de 2016

VOCÊ PRECISA DE ESTÍMULO?

Tenho duas plantas de flores de cera. Conhecem? São lindíssimas.
Hoya carnosa – seu nome técnico – faz-nos lembrar que a sua folhagem é, de facto, carnuda, sem qualquer atractivo especial além daquele que possuem todas as plantas, para quem gosta de plantas.
A grande beleza reside nas flores.
É muito interessante acompanhar o ciclo da sua floração, desde que aparecem os pequeninos cachos de pecíolos com botões, 

até que se apresentam em todo o seu esplendor, lembrando guarda-chuvas floridos.


São flores que se mantêm viçosas durante bastantes dias; quando começa a aproximar-se o fim, formam, a partir do centro, umas gotas de um líquido transparente, semelhantes a lágrimas, que escorrem depois pelas pétalas e caiem para o chão.
Disse-me a minha empregada, Lina, que na terra dela lhes chamam “lágrimas de Nossa Senhora”. 

Eu tinha apenas uma destas plantas.
Trouxe-a para casa – comprei-a num horto – há já uns anos, não posso precisar quantos.
Pelo aspecto viçoso das folhas e pequena estatura – teria uns trinta cinco a quarenta centímetros de altura – via-se que era uma planta muito jovem.
Adaptou-se lindamente à sua nova casa, e a breve trecho erguia os ramos em direcção ao céu. Era altura de começar a guiá-la por um fio que lá coloquei para o efeito.
Prontamente iniciou o seu ciclo de floração, mimoseando-me com flores belíssimas.

Esta orgia de flores manteve-se por alguns anos.
A determinada altura comecei a notar a sua falta de flores. Pura e simplesmente tinha desistido de me brindar com a sua linda prole.
Continuava com as folhas viçosas, em nada denunciando a sua provecta idade, excepto na falta de procriação.
Continuei a tratá-la com o carinho de sempre, conformada com a sua aposentadoria.
Um belo dia a Lina trouxe-me uma planta de flor de cera que ela reproduzira a partir de outra que tinha em casa.
Colocámo-la ao lado da antiga, distanciada cerca de 40 centímetros. Mais ou menos  um mês depois a segunda planta, perfeitamente adaptada ao novo lar, começou a florir.
Surpreendi esta conversa da Lina com as plantas:
- "Vês? Não quiseste dar mais flores e a tua mamã arranjou outra para o teu lugar."

Deduzi que ela falava com a planta mais velha.
Não denunciei a minha presença, mas fiquei a saber que ela também falava com as plantas. Afinal não era só eu…
Senti-me um pouco mais “normal”.
Tenho por hábito todas as manhãs ir à varanda visitar as minhas plantas, regá-las se têm falta de água, retirar alguma folha seca e, confesso, também converso com elas. Até lhes acaricio levemente as folhas, enquanto converso.
Alguns dias passados a Lina foi à varanda e chamou-me, toda alvoroçada:
- "Senhora! vem cá ver uma coisa."
Lá fui, e vi que a velha planta de cera estava em flor. Fiquei admirada, pois estava convencida que o seu período de floração havia terminado irremediavelmente. Senti-me muito feliz. A minha velha plantinha, afinal, ainda conseguia brindar-me com as suas lindas flores.
Acariciei-a ao de leve e agradeci-lhe a alegria que acabava de me proporcionar.
Do alto da sua sabedoria singela, a Lina falou:
- "Sabe, senhora, no outro dia eu estive a envergonhá-la; disse-lhe que a senhora agora ia gostar mais da nova do que dela. De certeza ela entendeu, e com medo que a senhora a deitasse fora resolveu dar flores outra vez."
Será que foi isso mesmo que aconteceu?
As pessoas mais simples, por vezes, têm percepções que escapam ao mais comum dos mortais.
Será que, tal como acontece com algumas pessoas, também as plantas precisam de estímulo?

Há pessoas que, face a contrariedades que surgem, entregam-se ao desânimo e levam uma vida tristonha, sem objectivos…
Todos sabemos que, com algumas pessoas, isto é assim mesmo, precisam ser estimuladas para mostrarem do que são capazes.
Precisam ser incentivadas, ‘espicaçadas’, “metidas em brios”, para reagirem e voltarem a ter fé nas suas capacidades.
Acredito na necessidade objectiva do estímulo. Ele é, muitas vezes, a mola impulsionadora fundamental para ultrapassar a inércia.
Um exercício simples, que pode ajudar muito, é tentar fazer o que tivermos medo de fazer. Vencer essa resistência torna-nos mais fortes, conduz-nos à vitória.
É necessário ter um ideal na vida, um sonho, e para realizá-lo é preciso conservar os olhos fixos nele, lutar sempre pelo que se deseja, e acreditar que isso é possível - só quem luta merece recompensa, e dos fracos não reza a História.
A Esperança prova que há um sentido oculto na Existência. A Vida é demasiado importante para que não tentemos enfrentar os seus obstáculos, pois eles não têm metade da força que aparentam ter.
Deixemos que a nossa luz interior nos conduza, pois todos temos uma boa estrela a guiar-nos e a ajudar-nos nas adversidades.

PS – A Amiga Nina Filipe gentilmente chamou-me a atenção para um pormenor que me falhou: o aroma da flor de cera.
De facto esqueci-me de referir essa particularidade.
A flor de cera tem um perfume diferente das outras flores, muito forte, semelhante, talvez, ao perfume de jasmim…, que se faz sentir sobretudo de noite.
O meu quarto de dormir comunica directamente, por uma porta envidraçada, com a varanda onde tenho as flores de cera. Mantenho essa porta aberta, mesmo durante a noite, principalmente no Verão.
Quando a flor de cera está em flor, à noite tenho que fechar a porta - o perfume da flor de cera é de tal modo intenso que me custa respirar.
Um “Obrigada!” à Amiga Nina Filipe pela chamada de atenção.