sexta-feira, 14 de junho de 2013

A POMBA MISTERIOSA


 Nicoleta vive no primeiro andar de uma moradia para quatro famílias, duas no rés-do-chão e duas no primeiro andar.
Tem uma filha e um filho, ambos com famílias constituídas, uma neta de dois anos e um neto com 11 meses. Mas vive sozinha.
Acontece muitas vezes que, ao chegar à entrada da casa, vê vários pombos e outros pássaros voejando nas escadas que conduzem ao primeiro andar. Sentindo a sua presença desaparecem espavoridos, voando para longe.
Há dias, ao regressar a casa depois de mais um dia de trabalho, deparou-se com uma pomba que, ao contrário das outras aves, se manteve nos primeiros degraus da escada. Meteu conversa com ela:
- Então, não te vais embora?
Indiferente, a ave foi subindo à sua frente, saltitando de um degrau para o outro. Ao chegar ao patamar encostou-se à parede e levantou a cabeça olhando para ela.
Quando se dirigiu para a porta o animal seguiu-lhe os passos e, logo que a porta se abriu, entrou em casa ao mesmo tempo.
Admirada com o procedimento da pomba, Nicoleta dirigiu-se à cozinha para preparar o jantar, sempre com a ave na sua peugada. Quando parava o animal parava também, levantando a cabeça e olhando-a. Parecia que queria dizer-lhe algo.
Baixou-se, pensando que, ao aproximar-se, ela levantaria voo, mas tal não aconteceu. Apanhou-a com toda a facilidade, pensando:
- Para te deixares apanhar assim deves estar cheia de fome.
Mas, apalpando-lhe o papo, verificou que o mesmo se encontrava cheio. Pensou:
- Fome não tens, com certeza. Talvez tenhas sede…
Encheu uma pequena tigela com água, e, colocando-a no chão, pôs a pomba junto dela.
A ave deu dois ou três pequenos gorgolejos, levantou a cabecita, e voltou a olhar para ela.
Segurou-a de novo, inspeccionando-a, para ver se descobria qualquer ferimento que pudesse ter sido feito por algum gato ou, talvez, alguma pancada dum carro. Mas nada detectou.
Com todo o cuidado colocou-a no chão. Ela foi para um canto e ali ficou.
Depois de comer Nicoleta foi para a sala, mas a pomba não se moveu do sítio onde estava.
Uns momentos depois ouviu um ruído na cozinha, semelhando um esvoaçar. Foi espreitar e viu a pomba a bater as asas, como se quisesse voar, olhando para a mesa, mas sem conseguir levantar voo. Pensou:
- Já sei! Tem uma asa partida, não pode voar, e está a tentar dizer-me isso mesmo.
Pegou-lhe e, cuidadosamente, examinou-lhe as asas, separando as penas uma a uma. O animal não reagiu nem mostrou qualquer sinal de dor. Desistindo de tentar saber o mistério que envolveria a pomba, colocou-a em cima da mesa – já que parecia ser isso o que ela queria - e foi de novo para a sala.
Chegou uma amiga para lhe fazer um pouco de companhia, que, antes de se sentar disse:
- Estou cheia de sede.
Dirigiram-se ambas à cozinha para buscar um copo de água. Ao ver a pomba, a amiga, admirada com aquela situação inusitada, inclinou-se para lhe pegar, mas a ave fugiu, não se deixando agarrar. Nicoleta ficou espantada com a reacção do animal.
Passado algum tempo a amiga retirou-se e Nicoleta foi à cozinha. A pomba encontrava-se no mesmo sítio onde a deixara.
Segurando-a entre as mãos começou a falar-lhe como o faria com uma criança. Disse, com voz doce:
- Gostas de estar comigo, é? – e, dizendo isto, começou a afagar-lhe a cabecita, dando-lhe repetidos beijinhos e murmurando palavras de carinho. Por fim afastou-a, e dirigindo-se à janela, que abriu, falou:
- Tu sabes que não podes ficar aqui… Vai em busca da tua liberdade.
Inexplicavelmente, e como se já tivesse cumprido a sua missão, a pomba, que antes não conseguira voar, levantou voo e desapareceu no espaço.
 
Este caso passou-se no dia 5 deste mês de Junho e foi-me relatado pela própria.
Nicoleta (nome fictício), estrangeira, não é religiosa praticante. A sua religião “oficial” é a Ortodoxa, que deixou de praticar há algum tempo. É, no entanto, senhora de um enorme misticismo, que parece irradiar de si mesma, envolvendo quem e o que a rodeia.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

EFÉMERA É A VIDA

 HOMENAGEM
Se pudéssemos ter consciência do quanto a nossa vida é efémera…
Quando nos sentimos desesperados procuramos a segurança perdida no mais frágil ramo que passe ao nosso alcance, no tormentoso rio em que nos encontramos.
Passado o pânico inicial verificamos que o frágil raminho não pode suster-nos por muito tempo, e que também ele necessita de apoio.
É chegado o momento de fazer uma reflexão.
Assim, rapidamente chegaremos à conclusão de que a força que buscamos só pode ser encontrada dentro de nós mesmos, que será muito duro consegui-la, mas só assim poderemos fortalecer o nosso eu interior, e vencer a adversidade que nos atingiu.
 
O meu porto de abrigo são as recordações. É nelas que me apoio quando me sinto soçobrar. Às vezes trazem consigo uma dor fininha… e não raro uma lágrima rebelde, que afasto rapidamente, teima em envenenar o meu olhar.
Cerro os olhos isolando-me de todos os estímulos sonoros que me rodeiam. Lentamente penetro num universo só meu, feito de luz e sombras. Permaneço imóvel para não perturbar aquele mundo encantado, onde tudo é possível.
De súbito, surge a tua imagem. Aproximas-te lentamente, com um sorriso luminoso, trazendo-me à lembrança aquele outro que me dirigiste poucos dias antes do Adeus.
Foi um sorriso único, como nunca havia visto outro igual. Teu rosto resplandecia, os teus olhos fitavam-me com tanto amor que me senti transportada para as nuvens. Não resisti a perguntar:
- Por que me olhas assim? Por que sorris desse modo?
- Porque te adoro – foi a resposta. E o sorriso continuou na tua face.
Adivinhavas já a despedida?
Querias deixar-me a tua marca para todo o sempre?
Lentamente, muito lentamente, afastaste-te, conservando no rosto esse sorriso que não esqueço. Lentamente, muito lentamente, regresso à realidade.

Esta é a minha homenagem para TI, hoje, dia 6 de Junho.