domingo, 14 de abril de 2013

VOCÊ PRECISA DE ESTÍMULO?

Tenho duas plantas de flores de cera. Conhecem? São lindíssimas.
Hoya carnosa – seu nome técnico – faz-nos lembrar que a sua folhagem é, de facto, carnuda, sem qualquer atractivo especial para além daquele que possuem todas as plantas. A grande beleza reside nas flores.
 

  É muito interessante acompanhar o ciclo de floração, desde que aparece um pequenino cacho de pecíolos com botões, até que se apresentam em todo o seu esplendor, lembrando um guarda-chuva florido.
São flores que se aguentam bastantes dias, e, quando começa a aproximar-se o fim, formam, a partir do centro, umas gotas de um líquido transparente semelhantes a lágrimas, que escorrem depois pelas pétalas e caiem para o chão.
Há quem lhes chame “lágrimas de Nossa Senhora”.

 
Eu tinha apenas uma destas plantas. Trouxe-a para casa – comprei-a – há já uns anos, não posso precisar quantos.
Pelo aspecto viçoso das folhas e pequena estatura – teria uns trinta cinco a quarenta centímetros de altura – via-se que era uma planta muito jovem.
Adaptou-se lindamente à sua nova casa, e a breve trecho erguia os ramos em direcção ao céu. Era altura de começar a guiá-la por um fio que lá coloquei para o efeito.
Prontamente iniciou o seu ciclo de floração, mimoseando-me com flores belíssimas.
  

Esta orgia de flores manteve-se por alguns anos.
A determinada altura comecei a notar a sua falta de flores. Pura e simplesmente tinha desistido de me brindar com a sua linda prole.
Continuava com as folhas viçosas, em nada denunciando a sua provecta idade, excepto na falta de procriação.
Continuei a tratá-la com o carinho de sempre, conformada com a sua aposentadoria.
Um belo dia a Lina, minha empregada, trouxe-me uma flor de cera (planta) que ela reproduzira a partir de outra que tem em casa.
Colocamo-la ao lado da outra, distanciada cerca de 40 centímetros. Poucos dias depois a segunda planta começou a florir.
Surpreendi esta conversa da Lina com as plantas:
- Vês? Não quiseste dar mais flores e a tua mamã arranjou outra para o teu lugar.
Deduzi que ela falava com a planta mais velha.
Não denunciei a minha presença, mas fiquei a saber que ela também falava com as plantas. Afinal não era só eu… Senti-me um pouco mais “normal”.
Tenho por hábito todas as manhãs ir à varanda visitar as minhas plantas, regá-las se têm falta de água, retirar alguma folha seca e, confesso, também converso com elas. Até lhes acaricio levemente as folhas, enquanto converso.
Alguns dias passados a Lina foi à varanda e chamou-me, toda alvoroçada:
- Senhora, venha cá ver uma coisa.
Lá fui, e vi que a velha planta de cera estava em flor. Fiquei admirada, pois estava convencida que o seu período de floração havia terminado irremediavelmente. Senti-me muito feliz. A minha velha plantinha, afinal, ainda conseguia brindar-me com as suas lindas flores.
Acariciei-a ao de leve e agradeci-lhe a alegria que acabava de me proporcionar.
Do alto da sua sabedoria singela, a Lina falou:
- Sabe, senhora, no outro dia eu estive a envergonhá-la; disse-lhe que a senhora agora ia gostar mais da outra do que dela. De certeza ela entendeu, e com medo que a senhora a deitasse fora resolveu dar flores outra vez.
Será que foi isso mesmo que aconteceu?
A gente mais simples, por vezes, tem percepções que escapam ao mais comum dos mortais.
Há pessoas que, face a contrariedades que surgem, entregam-se ao desânimo e levam uma vida tristonha, sem objectivos…
Precisam ser incentivadas, ‘espicaçadas’, “metidas em brios”, para reagirem e voltarem a ter fé nas suas capacidades.
Eu sei que, com algumas pessoas, isto é assim mesmo, precisam ser estimuladas para mostrarem do que são capazes. A dúvida que me fica é:
- Será que acontece o mesmo com as plantas?
Mariazita (Fotos minhas)
Reposição de postagem de 2010