sábado, 14 de abril de 2012

CENAS DA VIDA REAL

O MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE SEIÇA
Andava eu aí pelos quinze anos quando, nas férias grandes, me tornei amiga de Rosindo.
Filho de Emília, empregada na casa da viúva do Sr. Curado, Rosindo tinha sensivelmente a mesma idade que eu.
Logo que nos conhecemos tornámo-nos amigos, e sempre que minha Mãe visitava a viúva, Dona Flor, (o que acontecia com certa frequência, dado serem muito amigas) eu acompanhava-a. Logo que podíamos escapulíamo-nos para o sótão da enorme casa, e passávamos em revista os incontáveis livros que abarrotavam as prateleiras.
Penso que foi nessa altura que me viciei em leitura, pois todas as vezes levava comigo um livro, a maior parte das vezes às escondidas, e que, da próxima vez, trocava por outro. Alguns não seriam muito apropriados para a minha idade, mas mesmo assim eu “devorava-os”.
À data do seu falecimento o sr. Curado era casado, em segundas núpcias, com Dona Flor, com a qual não teve filhos. Talvez por isso a senhora se afeiçoou tanto ao afilhado Rosindo, a quem tratava como um filho, pondo-o, inclusivamente a estudar, a expensas suas.
Do primeiro casamento existiam dois filhos, cujas relações com a madrasta não eram muito amigáveis. Eram pessoas de fraco carácter e maus instintos, que não trabalhavam, limitando-se a viver dos rendimentos que, em pouco tempo, reduziram a escassas propriedades.
Do Sr. Curado, falecido há uns anos, dizia-se ter “sangue azul”.
O certo é que constava que os seus antepassados eram senhores feudais, dos quais herdara as várias propriedades, que, ao que se dizia à boca pequena, nem sempre teriam sido adquiridas, por eles, da forma mais legal.
Dos seus antecessores mais recentes falava-se de um tio e duas tias, acerca dos quais se contavam histórias de arrepiar os cabelos.
Ao contrário de seu Pai, que, dizia quem o conhecera, era uma boa alma, os outros parentes não tinham qualquer ética ou moral. Do tio constava que formara uma quadrilha com uns quantos malfeitores, que assaltavam quem se aventurava a viajar de noite por sítios ermos ou pinhais. Roubavam tudo o que os viajantes levavam e, caso oferecessem resistência, não hesitavam em matar.
As duas tias, conhecidas por “as senhoras”, não tinham carácter melhor do que o irmão.
Uma delas era, para além de sádica, uma autêntica tirana, maltratando os trabalhadores que labutavam nas suas quintas. Montada a cavalo percorria as suas terras impondo o terror, servindo-se, por vezes, do chicote que sempre a acompanhava, para castigar quem fizesse alguma coisa que não lhe agradava.
A outra irmã, que se dedicava mais à parte administrativa, governava a casa e imperava entre os criados e criadas da casa. Ninfomaníaca, nenhum homem lhe escapava: empregava para trabalhos de casa mais homens do que mulheres, os quais submetia aos seus desejos lascivos.
Contava-se que um belo dia surpreendera uma cena de amor entre uma criada e um criado, que se amavam; mas, porque o criado frequentava a sua cama, ela não hesitou em matar a pobre rapariga e depois metê-la no forno, para servir de exemplo às outras.
Eram verdadeiramente horrorosas as histórias que se contavam, parecendo até inacreditáveis, mas a verdade é que, naquele tempo, eles eram amos e senhores de toda a gente que habitava aquelas terras, e acima da sua autoridade só existia a do rei.
Por estranho que pareça, com tais antecedentes o Sr. Curado era o que se pode chamar uma boa alma, muito amigo dos pobres, a quem auxiliava generosamente.
Sem grande jeito para administrar os bens que herdara, a Dona Flor devia o facto de ainda possuir muitas propriedades que, após a sua morte, os filhos se encarregaram de defraudar.
Numa das incursões ao sótão eu e Rosindo descobrimos as cópias de uns manuscritos que provavam a pertença, aos antecessores do sr. Curado, de uma grande propriedade na povoação de Ribeira de Seiça, concelho de Figueira da Foz, que possui, ainda hoje, recantos magníficos.

Ali existiu, em tempos, um convento, o Mosteiro de Santa Maria de Seiça. Uma capela, úníca no país por ser octogonal,
(Capela de Nossa Senhora de Seiça)
faz parte da história do Mosteiro de Santa Maria de Seiça, na qual existem pinturas sobre as lendas relacionadas com a construção do Mosteiro de Montemor-o-Velho.

Com a curiosidade ao rubro, tanto procurámos que acabámos por encontrar um livrinho, com um aspecto antiquíssimo, que contava a história do Mosteiro, cujas terras teriam sido concedidas por D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal.
Como sempre fui apaixonada por História, especialmente História de Portugal, levei o tal livrinho para casa e copiei uma grande parte dos dados lá contidos, que ainda conservo.
Não vou transcrevê-los para aqui porque acredito que não teriam interesse para a maior parte dos meus leitores.

Adenda, a propósito do comentário da minha querida amiga São:
" De arquitectura única entre as construções sacras em Portugal, esta capela apresenta uma forma octogonal, de estilo barroco, cercada de uma colunada dórica, suportando um entablamento do qual sobressai o corpo da capela como se se tratasse de um andar superior em que cada fachada apresenta uma janela, num total de 8." - Informação Wikipedia
Talvez esta informação se deva ao facto de a capela ter sido construída no ano de 850, e talvez, nessa data, fosse a única existente em Portugal