sábado, 24 de março de 2012

NÃO VEIO PARA FICAR

Não, o «Afonsinhos» não veio para ficar.
Tal como informei no final do último post, o texto que apresentei é apenas um excerto daquele que será… talvez… quem sabe?... um dia… um pequeno romance, no qual constarão alguns episódios familiares.
Não se trata de uma biografia, mas da narrativa, mais ou menos romanceada, da vida de pessoas conhecidas e seus ancestrais, e em que, num ou noutro momento, os intervenientes se cruzaram com familiares da autora.
O projecto está, ainda, apenas em embrião, não havendo, de momento, a certeza de se algum dia chegará ao prelo. Foi iniciado há algum tempo mas, perante pedidos (e insistências…) vário(a)s para que eu escrevesse as minhas “memórias” de África, o «Afonsinhos» foi relegado para segundo plano.

Como é do conhecimento de algumas pessoas, por motivos relacionados com problemas de saúde a nível familiar, o tempo de que disponho, por agora, é muito pouco, o que, por um lado tem atrasado as “histórias” de África, e por outro não me tem permitido publicar no blog com a regularidade e pontualidade de que eu fazia questão.
Sei que isso não vai afastar as amigas e os amigos, que são da melhor qualidade Image and video hosting by TinyPic
 
É essa certeza que me dá força para ir continuando, e não fechar o blog, pura e simplesmente.
Mas… voltando ao «Afonsinhos», o que vos queria dizer é que o ‘enredo’ não irá ser publicado, na íntegra, no blog, como aconteceu com o meu primeiro romance. Esse foi apresentado e
m vários episódios (cerca de 50), e só posteriormente decidi transformá-los em livro.
O «Afonsinhos» começou logo a ser escrito com a intenção de ser publicado. O excerto que aparece no meu último post serviu apenas para vos dar uma ideia do género do que me propus escrever.
Não postei o que será o início da obra, como seria lógico, porque ainda não estava bem delineado. Havia pormenores acerca dos quais eu tinha dúvidas, que entretanto consegui esclarecer.
Vou fazê-lo agora, mostrando-vos o que, na versão final, irá figurar imediatamente antes do trecho que é já do vosso conhecimento. (Agora é que se pode dizer que “pus o carro à frente dos bois”…)
O resto ficará no “segredo dos deuses”…

A SAGA DOS AFONSINHOS (título provisório…)


Na primeira metade do século XIX os senhores de Rebordões, vilarejo nos arredores de Barcelos, possuíam vastas propriedades, uma casa solarenga, e muitos assalariados ao seu serviço.
Naquele tempo, nessa zona, mais do que em qualquer outro ponto do País, as condições da vida do povo eram semelhantes às da Idade Média.
Havia um “senhor feudal” que em tudo mandava, possuidor de todas as terras num raio de vários quilómetros.
O analfabetismo reinava entre o povo; eram raríssimas as pessoas que sabiam soletrar algumas palavras.
Trabalhavam de sol a sol nas terras do “fidalgo” que, ao contrário da generalidade dos outros proprietários, era pessoa de bom coração que não faltava com o pagamento, ao qual por vezes juntava alguma ajuda, principalmente quando sabia que havia doença na família do trabalhador.
Ninguém sabia ao certo o seu nome; todos o conheciam pelo “senhor de Rebordões”, e quando se lhe dirigiam tratavam-no por “fidalgo”.
Fora registado com o nome de Rodrigo de Rebordões. No seio familiar era tratado por Rodriguinho, obedecendo a um hábito muito vulgar no Norte do País, principalmente naquela época, em que as terminologias “inha” e “inho” eram sinal de respeito e deferência.
Sua esposa, Dona Teresa – dona Terezinha, como era tratada – era uma senhora muito bondosa, de saúde débil, que dedicava muito do seu tempo a visitar as mulheres que haviam sido mães. Acomodada na sua charrete, percorria as terras de sua pertença, o que, por vezes, demorava horas. As distâncias eram relativamente grandes, especialmente para aquele meio de transporte e os rudes caminhos que havia a percorrer.
Às parturientes levava “mimos”, frutas e bolos a que, de outro modo, nunca teriam acesso; dava-lhes indicações sobre a forma de tratarem melhor os seus bebés, aos quais oferecia casaquinhos e carapins tricotados por si mesma. Nunca se esquecia de levar uma guloseima para os mais velhinhos, geralmente “confeitos”, uma espécie de rebuçados redondos, de superfície não lisa mas irregular, com “altos e baixos”, de cores variadas, feitos com açúcar e farinha. Para as crianças era uma verdadeira festa.
Dona Terezinha era adorada por toda a gente.
Carregava consigo um grande desgosto: não poder oferecer ao marido mais filhos, além do único que tinham.
Depois de uma gravidez bastante atribulada Dona Tereza dera à luz um belo rapaz que era o orgulho dos pais. Na altura o médico, amigo da família, vindo directamente do Porto para acompanhar a gestação, aconselhara a evitar futuras gravidezes, que poderiam pôr em risco a vida da Dona Tereza. Por muito que gostasse de ter mais filhos, o marido opunha-se terminantemente a sacrificar a esposa, que adorava.
Seu filho único foi baptizado com o nome de Pedro Afonso.
Sendo o “ai Jesus” da família e dos trabalhadores que o apaparicavam ao extremo, passou a ser o menino Afonsinho, nome que carregou até depois de adulto, transformando-se então no “senhor Afonsinho”.
Sabendo-se como trabalhavam os registos naquele tempo, não é de estranhar que, quando contraiu matrimónio, figurasse no livro de registos como Pedro Afonsinho.

O linho cultivava-se por toda a região do Minho, mas talvez com maior incidência na zona de Barcelos. As fábricas de fiação e tecelagem começavam a proliferar.
O senhor de Rebordões ligou-se a uma fábrica de têxteis, que existia em Braga, aumentando consideravelmente o seu património.

(Segue-se o que é já do vosso conhecimento:
… Tendo recebido uma educação mais aprimorada do que seu pai, etc. etc. etc…)




quinta-feira, 8 de março de 2012

A SAGA DOS AFONSINHOS

A SAGA DOS AFONSINHOS
(Foto de minha propriedade)

...“Tendo recebido uma educação mais aprimorada do que seu pai, Afonsinho tinha gostos mais requintados, no que era secundado por sua mulher, Beatriz.
Por morte do pai, e com a mãe já anteriormente falecida, Afonsinho, a instâncias da mulher, decidiu ir viver para a cidade, onde se dedicou ao comércio dos têxteis, de cuja fábrica era sócio.
 Contratou capatazes para tomarem conta das suas propriedades, mantendo o solar impecavelmente limpo, pronto a habitar todas as vezes que ali se deslocavam, e onde passavam dois meses por ano, na altura das colheitas.
Encontravam-se na cidade quando lhes nasceu o primeiro filho, a quem deram o nome de Nicolau, que foi registado como Nicolau Afonsinho.
Dois anos passados Beatriz deu à luz uma menina que foi o enlevo da família. Estava, porém, destinado que não passaria muito tempo neste mundo, e, com sete anos de idade, a menina contraiu meningite e morreu.
Nicolau passou a ser tratado com cuidados redobrados, especialmente por parte da mãe, que receava que ele contraísse alguma doença fatal, o que não se verificou.
Bastante inteligente estudou com mestres em casa, adquirindo uma cultura muito acima da média para aquele tempo. Com esta educação, a somar aos seus atributos físicos, não teve dificuldade em escolher noiva entre as meninas mais prendadas da sociedade.
A sua escolha recaiu sobre Rita, uma jovem bonita, de pequena estatura mas de carácter forte.

Rita pertencia a uma conceituada família que possuía várias fábricas têxteis, especialmente de sedas, cujas origens se perdiam nos tempos. Dizia-se, em certos círculos, que possuíam sangue azul. Descendessem ou não de nobres, a verdade é que os pais de Rita nunca o apregoaram, sendo pessoas acessíveis, bastante simpáticas, embora frequentassem a alta sociedade.
Constava que as fábricas lhes garantiam um alto rendimento, e o nível de vida que mantinham assim o indicava.

Encontraram-se num baile no Ateneu quando Rita se apercebeu do interesse que despertara em Nicolau; sentiu-se envaidecida. Nicolau era bastante requisitado pelas mães das jovens casadoiras, já que a sua fama de grande fortuna o precedia onde quer que fosse.
Após as apresentações formais das duas famílias, Nicolau e Rita encetaram um namoro que decorreu em grande harmonia e se prolongou por dois anos.
Com uma cerimónia requintada, sem ser faustosa, uniram-se em matrimónio. Rita adoptou o nome do marido, como era de praxe obrigatória naquela época, passando ambos a formar o casal Afonsinho.

Com seus ancestrais burgueses do Norte do país, por um lado, e o rendimento das fábricas de sedas, por outro, a família Afonsinho era, em finais do século XIX, o que se poderia designar por abastada.
Com assinatura para a Temporada de Ópera, frequentava Concertos, Teatro, sempre nos melhores camarotes, e todos os eventos restritos a pessoas de alto nível social.
Angélica nasceu, assim, no seio de uma família considerada de alta sociedade.
Desde muito cedo Angélica revelou um carácter muito forte, rebelde, difícil de domar.
A sua única irmã, Irina, que no fundo ela adorava, foi sempre vítima da sua prepotência. Sobre ela exercia um domínio absoluto.
Apesar dos esforços da sua mãe, Rita, que a tratava com uma certa severidade, tentando inculcar-lhe hábitos de obediência, Angélica sempre acabava por fazer o que queria.
Passou a infância, a adolescência e a juventude impondo a sua vontade. Só à mãe obedecia, ainda que de má vontade.
O pai, menos severo, acabava por sucumbir aos seus desejos.
A irmã, Irina, limitava-se a viver à sua sombra, anulando-se para lhe agradar.
Muito jovem Angélica apaixonou-se por um desconhecido que avistara quando assistia a um concerto. Achou-o lindo, e logo o seu coração se lhe rendeu.
Estava-se na primeira década do século XX.
Como era de norma naquele tempo, o pai de Angélica tratou de colher informações acerca do homem que roubara o coração de sua filha.
O que soube não lhe agradou.
De condição social inferior e hábitos pouco recomendáveis, frequentava concertos e bailes a reboque dum amigo, na mira de arranjar noiva rica.
Conferenciando com Rita, sua mulher, mandaram chamar a filha. E começou a difícil tarefa de tentar demovê-la da sua grande paixão.
Obstinada, como sempre, Angélica não dava ouvidos aos conselhos acertados de seus pais.
Às escondidas, de conivência com uma das criadas, mantinha vasta correspondência com o seu amado. E assim se passaram uns meses.

Um dia em que o pai fora tratar dos seus negócios e a mãe se deslocara à modista, Angélica, acobertada pela criada, saiu de casa para um encontro com o namorado, que se encontrava de sobreaviso.
Na caleche do amigo, que a pusera à sua disposição, ambos depressa se afastaram da cidade, encaminhando-se para uma pequena paróquia, onde um humilde pároco de aldeia os aguardava e celebrou o seu casamento.
Horas mais tarde Angélica regressou a casa de seus pais, acompanhada do seu recente marido.”

Excerto do meu projecto literário com o título provisório «A saga dos Afonsinhos».

FELIZ DIA DA NULHER

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