domingo, 1 de agosto de 2010

QUATRO MESES

Outro dia foi o aniversário da partida de uma senhora por muitos conhecida e muito querida.
Algum tempo antes, chegando de uma das dezenas de consultas médicas que já fizera, ela disse aos familiares:
- Pedi franqueza à junta médica que me examinou, pedi-lhes que não me poupassem de saber a verdade sobre meu estado de saúde.
Eu sinto que me resta pouco tempo.

Diante dos olhares ansiosos, ela continuou:
- Eles me revelaram que sou portadora de uma moléstia incurável e que minha previsão de vida é de aproximadamente 4 meses.
- E a senhora nos conta isso com essa naturalidade ? - perguntou uma das filhas, em prantos.
Continuou a senhora, com muita serenidade:
- Ora, eu tenho um bom tempo para fazer tudo que já devia ter feito há muito:
- Arrumarei todos os meus armários, guardarei o que realmente uso e o resto jogarei fora ou doarei a quem precisa.
- Colocarei belas cortinas em todas as janelas e elas me impedirão de ficar olhando a vida alheia.
- Todos os dias tirarei o pó da casa e, durante esse trabalho, pensarei: - Estou me livrando das sujeiras que guardei do passado
- Evitarei ouvir e assistir a más notícias e alimentarei o meu espírito com leituras saudáveis, conversas amigáveis, dispensarei fofocas e não criticarei a mais ninguém.
- Pensarei naqueles que já me magoaram e, com sinceridade, os perdoarei.
- Todas as noites agradecerei a Deus por tudo que estarei conseguindo fazer nestes últimos 4 meses que me restam.
- Todas as manhãs, ao acordar, perguntarei a mim mesma: - O que posso fazer para tornar o dia de hoje um dia melhor?
- E farei de tudo para transmitir felicidade àqueles que de mim se aproximarem.
- E a cada dia que passar farei pelo menos uma boa ação.

Quatro meses são mais de 120 dias, portanto, quando eu fechar os olhos para nunca mais abri-los, eu terei feito no mínimo 120 boas ações.

Todos que a ouviam, pouco a pouco se retiraram dali, indo cada um para um canto, para chorar sozinho.
A mulher ali ficou e nos seus olhos havia um brilho de alegria.
Pensava consigo mesma:
- " não posso curar meu corpo, mas posso mudar a vida que me resta "
Ela tinha uma grande tarefa: transformar seu mundo interior, tornar-se uma pessoa totalmente diferente do que já fora. Em apenas 4 meses ela conseguiu cumpri-la plenamente.
O mais curioso dessa história é que, após a notícia dada aos familiares, ela viveu mais 23 anos.
Ela curou a sua própria alma e sua moléstia desapareceu; ela morreu de velhice.

Silvia Schmidt


Silvia Schmidt é conhecida na Internet pelo nickname "Humancat". Natural de São Paulo, Capital, é professora de Português, Inglês e Literatura. É formada pela Universidade de São Paulo.
Com centenas de mensagens em PPS e páginas na internet, Silvia é, sem dúvida, uma das poetisas brasileiras contemporâneas mais lidas do mundo virtual.

27 comentários:

Unknown disse...

Boa noite Mariazita,
um texto que incentiva fortemente à reflexão.
Viver a vida com toda a intensidade e plenamente, sem nos deixarmos prender com coisas banais e desinteressantes, porque a vida é realmente bela.

Beijinhos,
Ana Martins
Ave Sem Asas

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida Mariazita
Um belo texto, para reflectir no sentido da vida, e como lhe damos o devido valor quando levamos um abanão.

Beijinhos com carinho
Sonhadora

Zé do Cão disse...

Esta senhora será algum anjo que cresceu?

Ou o que acabo de ler não é mais do que um sonho?

Realmente a vida é bela, nós é que damos cabo dela.


jokitas boa amiga

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Querida amiga Marizita!

Este sim, é um exemplo de vida a seguir!
Quem assim encara a vida só pode prolongá-la!

A vida é uma constante luta pela sobrevivência...
Quando todo o sentimento, todo o propósito, toda a orientação da mesma é realmente transformada no sentido do bem, da tolerância, da paciência e determinação; numa prática diária, constante e verdadeira, faz naturalmente com a alegria aumente, a paz aumente e consequentemente aumente a capacidade de viver a própria vida.

Obrigada por este texto.
Bom Domingo!

Beijinhos e abraços.

Daniel Costa disse...

Mariazita

É já da tua condição escolheres e trazeres aqui aqui óptimos textos, como o presente conto de Silvio Schmidt.
Aproveito para agradecer a tua preciosa ajuda. Hoje consegui postar na margem direita do blog, simples para sorrir, como havias dito.
Digo isto aqui porque a Clix, mudou a minha entrada na mail e mandou o ficheiro às malvas. Asim pedia-te o favor de enviares Mail para: danielcosta@optimus.clix.pt - e já agora se não te importares também para: fozmiguel@hotmail.com
Evito fazê-lo, mas pedia-te para passares pelo meu blog.
Beijos

In Cucina disse...

Olá querida amiga portuguesa!

Aqui estou de volta ao meu querido país e voltando a visitar os meus blogs preferidos.

Como sempre um belo texto para refletir! Na maioria das vezes só damos valor quando perdemos ou estamos para perder algo importante, mas a vida nos dá oportunidade através de sinais para perceber, o importante é saber ler os sinais e tomarmos consciencia!

Esses textos são bons para refletirmos e valorizarmos mais a vida na sua simplicidade! Perdemos muito tempo nos preocupando com bobagens, não é mesmo?

Beijos brasileiros, Teresa

Pelos caminhos da vida. disse...

Passando rapidinho só pra avisar que estou de volta.

Senti tantas saudades desse mundo fascinante da blogsfera, dos amigos, é muito bom estar de volta.

beijooo.

Vitor Chuva disse...

Olá Mariazita!

Desta história lindamente contada, é inevitável a vontade de tirar algumas conclusões.
- A primeira é a de que o tempo não tem sempre o mesmo valor para nós - nem para todos vale o mesmo - daí que se diga que que em boa parte o desperdiçamos com assuntos menores, - o que em parte será verdade - enquanto não pensamos nele como algo que um dia vai acabar.
- A segunda é a de que quando nos damos conta de que temos um tempo de vida com prazo marcado, o aproveitamos melhor, atribuimos-lhe mais valor: Algumas pessoas passam mesmo a ser melhores seres humanos durante esse tempo emprestado, algumas delas talvez como forma de compensar algum "mal" que terão feito, numa tentativa, talvez calculista ... de melhorar o curriculum a apresentar lá no lugar para onde vão.

A história contada é um bonito exemplo de reacção perante uma suposta morte a prazo, uma corajosa atitude perante o inevitável, e a forma de lá chegar, com muito para reflectir sobre a nossa condição de seres humanos que aqui estamos de passagem, embora só muito tarde - felizmente - pensemos nessa realidade.

Beijinhos.
Vitor

poetaeusou . . . disse...

*
os Médicos
são uns enganadores !!!
Haja Deus . . .
srsrsrsr,
,
brisas serenas.
deixo,
,
*

Lilá(s) disse...

MUITO LINDO ESTE TEXTO! GOSTO DE REFLECTIR SOBRE ESTAS COISAS. OBRIGADA;
bJS

Nilce disse...

Oi, Mariazita

Adorei ser o número 101 de seus seguidores.
Ufa! Até que enfim cheguei. Problemas de conexão por aqui. Consigo aos poucos...

Adoro este texto e a autora. Uma verdadeira lição de vida.

Ah, comeei a seguir teu outro blog também.

Bjs no coração!

Nilce

Diamantino disse...

Nas questões de saúde, nem sempre as coisas têm a gravidade que parecem ter e nem medicina é uma ciência infalível, por isso não devemos aceitar o fim sem o fim ter chegado (não sei como há pessoas a favor da eutanásia). O fim, inevitavelmente chegará um dia, quase sempre sem avisar, por isso devemos fazer como a senhora da história, talvez isso retarde esse dia.
Obrigado por ter visitado «O tempo que passa» e por ter deixado um comentário.

Um beijo
Diam...

Pelos caminhos da vida. disse...

Adoro os textos de Silvia, esse é um deles, uma verdadeira lição de vida.


Estou tão feliz com a recepção da minha volta que quero dividir essa alegria com todos os meus amigos.

Obrigado, obrigado.

beijooo.

Adelaide disse...

Querida Mariazita,
A história é linda e, mesmo sem sabermos que temos só alguns dias ou meses de vida, acho que é um lindo exemplo a seguir. Escolher a estrada do amor e obter a recompensa da saúde.

Beijinhos

Saozita disse...

Querida amiga Mariazita, e a senhora viveu mais 23 anos! Há casos assim de pessoas desenganadas pelos médicos e que depois vivem muitos anos. Os milagres existem, sobretudo se tivermos fé.

Tem uma boa semana, amiguinha.
Beijinhos

São disse...

Um bom texto a apontar que o mais importante é encontrar o sentido de viver.

Uma excelente semana, nena querida.

Natural.Origin disse...

Algo para pensar bem:)

Saozita disse...

Olá minha querida amiga,passei para te deixar um beijinho com muito carinho,e que tudo esteja bem contigo

Lourdes disse...

Mariazita
É pena que nem todos tenhamos coragem para enfrentar a morte desta forma. Sabemos que vamos morrer um dia, mas quando nos sentimos a morte de perto temos dificuldade em aceitar o desenlace.
No entanto, o texto é óptimo para reflectir e ainda há milagres...
Beijinhos
Lourdes

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Mariazita amiga querida!

Estou cá ...depois do jantar :)))
para lhe deixar beijinhos.
Vou ver se ainda publico o início de um novo conto lá no novo Blog.
Obrigada pela sua visita e comentário.

Abração.

lis disse...

Muito bonito conto Mariazita , uma forma de encarar a realidade e torce-la, modificá-la com nossa postura e atitude.
Auda refletir e querer essa energia.
Voltei do descanso e pensei que estivesse de férias, li por aqui que nao colocaríamosmos olhos em voce no mes de agosto, rsrs
mas resolvi dar uma chegadinha pra deixar meu abraço.
fique bem , boas férias

Zélia Guardiano disse...

Que maravilhosa lição, Mariazita!
Gosto muito de textos assim, construtivos, que nos enriquecem a alma...
Você, minha amiga, tem uma sensibilidade extraordinária, que faz com que nos contemple com verdadeiros tesouros, como é o caso deste...
Grata, querida!
Imenso abraço!

Anónimo disse...

Maravilhoso.
Valeu a pena ter vindo aqui.São ações positivas que nos curam.
Ameiiiiiiiiiii.
Obrigado pelo prazer da leitura.
Te agradeço de coração.
Beijokas minha flor.

Diamantino disse...

Olá Mariazita!
Voltei aqui, para lhe agradecer a visita e o comentário ao meu artigo em «O tempo que passa» Quero que saiba que tenho um imenso prazer nos seus comentários. Quando escrevo, bem ou mal, é para minha própria satisfação, mas como escrever é uma descoberta recente, todos os comentários me incentivam e me ajudam a aperfeiçoar a forma. Saiba que escrevo ao sabor da pena directamente no blogue, às vezes em computadores alheios, onde não posso guardar arquivos no disco, assim é no blogger que tenho tudo. Quando escrevo tudo me parece uma trapalhada, com muitos erros e pontuação incorrecta depois vou corrigindo, compondo melhor as frases e cortando o que me parece ser desnecessário à história. Por vezes, para ver como ficou, clico em publicar e acontece o texto ser lido por uma visita. Isto aconteceu neste último, se o ler outra vez, notará que foi suprimida a parte em que refiro a velhice.
Também gostava que lê-se «O Aquiles»

Um beijo
Diamantino

Maria Rodrigues disse...

Um texto absolutamente divinal. adorei!
Bom fim de semana
bjs do tamanho do tamanho do infinito
Maria

Táxi Pluvioso disse...

Todos temos uma doença incurável: chama-se vida.

Unknown disse...

Um beijo carinhoso na Silvia por sua sensibilidade em expressivas palavras de reflexão...
Em meio a tantas barbaries a nossa volta, ela nos mostra o quanto somos fortes e como é possivel a mudança partindo do nosso interior, podemos Sim e devemos deixar rastros positivos em cada caminho percorrido, rastros que beneficiarão quem por ele passar, podemos ser pessoas melhores, basta querermos.
Abraço carinhoso pra tí minha amiguita amada, beijos e saudades.
Com carinho,
Jady