domingo, 28 de março de 2010

CENAS DA VIDA REAL

A COMICHÃO

O episódio que vos vou contar passou-se num inverno.

Com uma filha médica, a D. Elvira, depois de passar um dia desesperada com comichão nas costas, resolveu telefonar à filha que morava distante:
- Ai, minha filha, preciso da tua ajuda. Tenho uma coceira nas costas que é um verdadeiro desespero…
- E apareceu-te só hoje, mamã? Comeste alguma coisa que te possa ter provocado alergia?
- Não, minha filha, comi a minha dieta habitual. Sabes que sou muito cuidadosa com a boca…
- Sim, eu sei, normalmente até és… Tens alguma borbulhagem nas costas? Sentes a pele como lixa?
- Não, não sinto nada. E pedi ao teu pai para me ver as costas e ele diz que não nota nada de anormal, excepto os vermelhões que faço ao coçar-me.
- Bom, então vais experimentar a pomada “x”. Aplicas à noite, antes de deitar, e amanhã de manhã, depois do banho.
- Obrigada, minha filha. Vou já à farmácia.

Depois das despedidas a D. Elvira foi à farmácia comprar a pomada e, antes de se meter na cama, pediu ao marido para lha aplicar nas costas. Passou uma noite muito descansada, sem sentir qualquer prurido.
No dia seguinte, depois do banho, repetiu-se a cena da pomada nas costas. No imediato sentiu algum alívio, mas depressa a comichão voltou. E a D. Elvira passou o dia a coçar as costas.

À tardinha telefonou novamente à filha:
- Ai, minha filha, a pomada que me receitaste não deu resultado. Passei o dia a coçar-me como uma desesperada…
- Então, mamã, se continuas com a pele limpa, sem nenhuma borbulhagem, vais experimentar esta outra pomada - a “y”. Com esta de certeza que passa; só não quis receitar-ta ontem porque tem antibiótico, e estava a evitar… Depois levo-te a receita para entregares na farmácia.

A D. Elvira lá foi de novo à farmácia, sua conhecida, e trouxe consigo a nova pomada.
Tal como fizera com a anterior, o marido aplicou-lha nas costas, ao deitar e, no dia seguinte, depois do banho.

O dia seguinte foi novamente um dia de coceira. D. Elvira dizia mal da sua vida. Mal podia esperar pela hora de encontrar a filha em casa para lhe telefonar, o que fez, logo que eram horas para isso.

A filha mostrou-se admiradíssima, e disse-lhe:
- Olha, mamã, nada mais te posso fazer assim à distância. O melhor é ires consultar o médico.
A D. Elvira concordou. No dia seguinte iria ao médico.

À noite, quando estava a despir-se, a D. Elvira deixou cair ao chão a camisola interior que usava naqueles dias tão frios.
Ao apanhá-la reparou numa quantidade enorme de cabelos agarrados à parte de dentro da camisola interior. E comentou para o marido:
- Meu deus, está me a cair imenso cabelo!
E de repente fez-se luz no seu espírito. A comichão!!! Era provocada pelos cabelos!

Sem pensar duas vezes agarrou no telefone e ligou para a filha:
- Minha filha, não imaginas a quantidade de cabelo que me está a cair.
A filha, com voz ensonada:
- Ó mamã, tu acordas-me a estas horas para me dizeres que te anda a cair o cabelo???
- A comichão, minha filha, a comichão! Está descoberto o mistério…
Não obteve qualquer resposta. O único som que veio do outro lado foi um clic do telefone a desligar-se.

Mariazita, Fevereiro de 2010
Imagem da Net

domingo, 21 de março de 2010

DESISTA VOCÊ TAMBÉM

Para tudo, na vida, há um tempo certo: nem antes, nem depois.

Do mesmo modo que há um tempo certo para lutar e outro para recuar, também existem coisas pelas quais é imperioso lutar e outras que mais vale ignorar e delas desistir.
Veja o que, a este respeito, pensa Thais Cadorim

EU DESISTO...
por Thais Cadorim

“É isso mesmo, entreguei os pontos, não dá mais, acabou.”
Essa frase soa com tanta força, não é?
Mas é verdade, eu desisti mesmo.
De um monte de coisas.

Desisti de reclamar de quem não quer aprender. Decidi me concentrar em quem quer...
E se você olhar bem direitinho, perto de você tem um monte de gente sedenta de conhecimento.


Desisti de tentar emagrecer para ser igual a todo mundo.
Resolvi ter o peso que eu devo ter, por uma questão de saúde, por uma questão de bem estar.
Só isso

Desisti de tentar fazer com que as pessoas pensem do jeito que eu gostaria que elas pensassem.
Achei melhor buscar respeitar o outro do jeito que ele é.
Imagina se o mundo fosse feito de milhões de pessoas iguais a mim...
Ah, isso ia ser um tormento.

Desisti de procurar um emprego perfeito e apaixonante.
Achei que estava na hora de me apaixonar pelo meu trabalho e fazer dele o acontecimento mais incrível da minha vida, enquanto ele durar.

Desisti de procurar defeito nas pessoas.
Achei que estava na hora de colocar um filtro e só ver o que as pessoas têm de melhor.
Defeito todo mundo acha, quero ver achar qualidades em quem parece não tê-las…

Desisti de ter o celular mais “psico-tecno-cibernético” do mercado. Agora eu só quero um telefone pra falar.
É muito frustrante comprar o mais novo modelo e dias depois ver que ele já foi superado. É pra isso que a indústria trabalha.
Aproveitei o gancho e apliquei o conceito também a outros produtos: relógio, computador, máquina fotográfica, carro.

Desisti de impor minha opinião sobre tudo.
Decidi que de agora em diante vou ouvir todas as opiniões, mesmo as contrárias, e vou tentar tirar proveito de cada uma delas.
É mais barato compartilhar as opiniões do que brigar pra manter só uma.

Desisti de ter tanta pressa. Tudo na vida tem seu tempo, e se não acontecer, não era pra acontecer.
Não quer dizer que eu vou “deixar a vida me levar” e parar de correr atrás do que eu acredito, mas não vou me desesperar se eu perder o vôo.
Sei lá o que vai acontecer com o avião...

Desisti de correr da chuva.
Tem coisa mais bacana que tomar banho de chuva?
Há quanto tempo você não sente aquele cheiro de terra molhada?
E se o resfriado chegar, qual o problema? Não vai ser o primeiro nem o último.

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Desisti de estudar por obrigação. Agora eu faço da leitura um momento de prazer...
Cadeira confortável, pezão pra cima, um chocolate quente, minha gata ronronando do lado.
Os livros agora ficaram menores e mais fáceis, mesmo que seja a CLT ou a NBR 9004.

Desisti de buscar uma planilha de indicadores toda verdinha.
Os índices são assim mesmo, às vezes melhoram, às vezes pioram. Isso é o mundo real.
Eu não vou deixar de fazer a gestão sobre eles, mas decidi que não vou mais sofrer por isso.
Bons ou ruins eles devem gerar aprendizado e isso é o mais importante.

Desisti de trabalhar para fazer o meu sistema da qualidade ser perfeito.
Eu prefiro mantê-lo sob controle, funcionando, ajudando as pessoas, ajudando os processos, dando resultados, mesmo que aos poucos.
Com essa filosofia eu ganhei um monte de parceiros, ao invés de cultivar inimigos.
Se eu fosse você, desistia também...

Tem um monte de coisas que você faz, carrega e sente, que não precisa.

Pense nisso!!!

Thais Cadorim


domingo, 14 de março de 2010

SAUDOSA ÁFRICA DISTANTE (2/01)


DESEMBARQUE INESQUECÍVEL

Naquele tempo, princípio dos anos 60 do século passado, não havia ali porto de mar. Do navio os passageiros eram transportados, em lanchas, para a ilha, e desta para o continente, em barcos que faziam a travessia, transportando pessoas e bagagens.
O marido tinha formalidades a cumprir no Comando, onde deveria apresentar-se.

Por isso eu esperei, na praça, com os dois filhos pequenos: o mais velho ainda não completara os três anos e a mais nova tinha apenas um ano e uns dias.
De súbito, sem qualquer aviso prévio, começou a chover. O céu havia-se toldado, ficando completamente encoberto. E de seguida surgiu a chuva, que caía em bátegas fortes, formando verdadeiros rios que corriam pelas pedras mal alinhadas das ruas.
Sem local à vista onde pudesse refugiar-me, segurando os filhos pela mão, ‘enfiei-me’ rapidamente pela primeira porta que encontrei aberta. Tratava-se do armazém onde eram guardadas as bagagens descarregadas dos barcos, que ali aguardavam envio para o seu destino.
Era um espaço enorme, todo amplo, onde fardos, caixotes e outros tipos de embalagens eram empilhados pelos indígenas que as traziam do cais, num constante vaivém, de dentro para fora e de fora para dentro.
Se lá fora chovia a cântaros cá dentro o calor era infernal. Sem lugar para me sentar, encostei-me a uns caixotes para descansar um pouco as pernas cansadas de tantas horas em pé. As crianças agitavam-se, inquietas, queixavam-se com fome e com sede.
Procurar um café, se é que o havia, com aquela chuva, estava fora de questão. Vasculhei na minha bolsa e encontrei algumas bolachas, meio partidas, que sempre transportava comigo para uma emergência. Distribuí-as pelos filhos; quanto à sede é que nada podia fazer, pois naquele tempo não havia garrafas de água como hoje se encontram em qualquer estabelecimento. Fiz um esforço para distrai-los. Eu própria sentia uma sede enorme, mas não o podia confessar.
E o marido que não aparecia! As horas passavam, uma, duas, três, e ele continuava ausente. Apareceu, por fim, já escurecia lá fora. Entretanto parara de chover.
A ligação da Ilha ao Continente era assegurada por lanchas, com horário regular. A hora da última lancha já passara, pelo que não havia transporte. Na Ilha não havia hotel onde se pudesse passar a noite.
Começávamos a desesperar sem saber como resolver aquele problema quando apareceu um homem que se tinha apercebido do que se passava, e nos disse que ele ia alugar uma lancha para o transportar para o Continente; “se quiserem, podemos ‘rachar’ a despesa e vêm comigo”.
Foi como se um milagre tivesse acontecido. Agradecemos calorosamente, arranjamos um carregador para levar as bagagens para a lancha, e fizemos a travessia.
Chegados ao continente dirigimo-nos ao hotel onde queriamos pernoitar, para no dia seguinte continuarmos viagem de comboio para o nosso destino.
O hotel estava lotado. Não havia um único quarto vago. Entramos novamente em desespero.
O marido insiste: “que lhe arranjem um cantinho qualquer onde possa pernoitar com a mulher e os filhos, um sofá serve, qualquer coisa onde possam sentar-se e descansar um pouco, não podem ficar na rua com as crianças…”
O recepcionista do hotel de repente teve uma ideia: o dono do hotel tinha ido para a ilha e ainda não regressara. Às vezes ele dormia na Ilha, numa casa de praia que tinha lá…
Telefonou para o patrão que o informou que, nessa noite, ficaria na Ilha, e que “podia dispensar o seu quarto ao senhor capitão e família”.
Um novo milagre acontecera!
Acabamos por ficar instalados no melhor quarto do hotel e passamos uma noite finalmente tranquila.
No dia seguinte de manhã dirigimo-nos à estação do caminho-de-ferro.
Ao chegar ao cais da estação tive uma visão assombrosa, que quase me pregou um susto: as mulheres autóctones tinham o rosto negro e o pescoço cobertos duma pasta branca.

Mais tarde vim a saber tratar-se de uma máscara de beleza, feita com farinha misturada com outros ingredientes que só elas conhecem.

Metemo-nos no comboio que nos levaria para mais uma etapa antes do nosso destino final.

segunda-feira, 8 de março de 2010

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Sei que há algumas pessoas que não concordam e, consequentemente, não gostam que haja “Dia de…”
Alegam que “essa é mais uma forma de consumismo que só favorece os comerciantes”, que “passado o dia tudo volta à mesma e nada foi alterado”… e que, por isso, “não vale a pena festejar seja o que for”.
Não deixo de lhes dar razão, mas… se não houvesse um “Dia de…” muitos dos “homenageados” NUNCA seriam lembrados.
De resto, o consumismo somos nós mesmos que o fazemos. Não adianta camuflar o nosso “pecado” atribuindo as culpas aos “Dias de…”

Sem querer alongar-me, dado que o tema é vasto e daria origem a várias conjecturas, direi apenas que respeito todas as opiniões, mas penso que “os discordantes” estão em minoria.
A verdade é que a maioria de nós gosta de festajar, ou pelo menos lembrar, o Dia da Mãe, o Dia do Pai, o Dia dos Avós, o Dia Mundial da Criança (para não falar no Dia de Páscoa ou no Dia de Natal, logicamente com significados diferentes…).
Portanto, as minorias, que respeito, que me desculpem, mas as maiorias vão, com certeza, apreciar este brinde com que prettendo assinalar o “Dia Internacional da Mulher”, e que partilho convosco.

MULHERES

Certo dia parei para observar as mulheres e só pude concluir uma coisa: elas não são humanas!
São espiãs; espiãs de Deus, disfarçadas entre nós.

Pare para refletir sobre o sexto sentido.
Alguém duvida de que ele existe?
E como explicar que ela saiba exatamente qual mulher, entre as presentes, em uma reunião, seja aquela que dá em cima de você?
E quando ela antecipa que alguém tem algo contra você, que alguém está ficando doente ou que você quer terminar o relacionamento?
E quando ela diz que vai fazer frio e manda você levar um casaco?
‘Rio de Janeiro, 40 graus, você vai pegar um avião para São Paulo. Só meia hora de voo’ – Ela fala p’ra você levar um casaco porque “vai fazer frio”. Você não leva. O que acontece?
O avião fica preso no tráfego, em terra, por quase duas horas - depois que você já entrou - antes de decolar.
O ar condicionado chega a pingar gelo, de tanto frio que faz lá dentro!
“Leve um sapato extra na mala, querido, Vai que você pisa numa poça…”
Se você não levar o “sapato extra”, meu amigo, leve dinheiro extra para comprar outro, pois o seu estará, sem dúvida, molhado…
O sexto sentido não faz sentido. É a comunicação direta com Deus! Assim é muito fácil…

As mulheres são mães!
E preparam, literalmente, gente dentro de si.
Será que Deus confiaria tamanha responsabilidade a um resles mortal?
E não satisfeitas em gerar a vida, elas insistem em ensinar a vivê-la, de forma íntegra, oferecendo amor incondicional e disponibilidade integral.
Fala-se em “praga de mãe”, “amor de mãe”, “coração de mãe”…
Tudo isso é meio mágico…
Talvez Ele tenha instalado o dispositivo “coração de mãe” nos “anjos da guarda” de Seus filhos (qua, aliás, foram criados à Sua imagem e semelhança).
As mulheres choram.
Ou vazam?
Ou extravazam?
Homens também choram, mas é um choro diferente.
As lágrimas das mulheres têm um não sei quê que não quer chorar, um não sei quê de fragilidade, um não sei quê de amor, um não sei quê de tempero divino, que tem um efeito devastador sobre os homens...
É choro feminino. É choro de mulher…

Já viram como as mulheres conversam com os olhos?
Elas conseguem pedir uma à outra para mudar de assunto com apenas um olhar.
Elas fazem um comentário sarcástico com outro olhar.
E apontam uma terceira pessoa com outro olhar.
Quantos tipos de olhar existem? Elas conhecem todos…
(Parece que frequentam escolas diferentes das que frequentam os homens!)
E é com um desses milhões de olhares que elas enfeitiçam os homens.
En-fei-ti-çam!
E tem mais. No tocante às profissões, por que se concentram nas áreas de Humanas?
Para estudar os homens, é claro!
Embora algumas disfarcem e estudem Exatas…
Nem mesmo Freud se arriscou a adentrar nessa seara.
Ele, que estudou, como poucos, o comportamento humano, disse que a mulher era “um continente obscuro”.

Quer evidência maior do que essa?
Qualquer um que ama se aproxima de Deus.
E com as mulheres também é assim. O amor as leva perto d’Ele, já que Ele é o próprio amor.
Por isso dizem “estar nas nuvens” quando apaixonadas.
É sabido que as mulheres confundem sexo e amor.
E isso seria uma falha se não obrigasse os homens a uma atitude mais sensível e respeitosa com a própria vida.
Pena que eles nunca verão as mulheres-anjos que têm a seu lado.
Com todo esse amor de mãe, esposa e amiga, elas ainda são mulheres a maior parte do tempo.
Mas elas são anjos depois do sexo-amor.
É nessa hora que elas se sentem o próprio amor encarnado e voltam a ser anjos.
Algumas até voam…
Mas os homens não sabem disso. E nem poderiam…
Porque são tomados por um encantamento que os faz dormir nessa hora.

Luis Fernando Veríssimo

domingo, 7 de março de 2010

VOCÊ PRECISA DE ESTÍMULO?

Tenho duas plantas de flores de cera. Conhecem? São lindíssimas.
Hoya carnosa – seu nome técnico – faz-nos lembrar que a sua folhagem é, de facto, carnuda, sem qualquer atractivo especial para além daquele que possuem todas as plantas. A grande beleza reside nas flores.

É muito interessante acompanhar o ciclo de floração, desde que aparece um pequenino cacho de pecíolos com botões, até que se apresentam em todo o seu esplendor, lembrando um guarda-chuva florido.
São flores que se aguentam bastantes dias, e, quando começa a aproximar-se o fim, formam, a partir do centro, umas gotas de um líquido transparente semelhantes a lágrimas, que escorrem depois pelas pétalas e caiem para o chão.
Diz a minha empregada, Lina, que na terra dela lhes chamam “lágrimas de Nossa Senhora”.

Eu tinha apenas uma destas plantas.
Trouxe-a para casa – comprei-a – há já uns anos, não posso precisar quantos.
Pelo aspecto viçoso das folhas e pequena estatura – teria uns trinta cinco a quarenta centímetros de altura – via-se que era uma planta muito jovem.
Adaptou-se lindamente à sua nova casa, e a breve trecho erguia os ramos em direcção ao céu. Era altura de começar a guiá-la por um fio que lá coloquei para o efeito.
Prontamente iniciou o seu ciclo de floração, mimoseando-me com flores belíssimas.

Esta orgia de flores manteve-se por alguns anos.
A determinada altura comecei a notar a sua falta de flores. Pura e simplesmente tinha desistido de me brindar com a sua linda prole.
Continuava com as folhas viçosas, em nada denunciando a sua provecta idade, excepto na falta de procriação.
Continuei a tratá-la com o carinho de sempre, conformada com a sua aposentadoria.
Um belo dia a Lina, trouxe-me uma flor de cera (planta) que ela reproduzira a partir de outra que tem em casa.
Colocamo-la ao lado da outra, distanciada cerca de 40 centímetros. Poucos dias depois a segunda planta começou a florir.
Surpreendi esta conversa da Lina com as plantas:
- Vês? Não quiseste dar mais flores e a tua mamã arranjou outra para o teu lugar.
Deduzi que ela falava com a planta mais velha.
Não denunciei a minha presença, mas fiquei a saber que ela também falava com as plantas. Afinal não era só eu… Senti-me um pouco mais “normal”.
Tenho por hábito todas as manhãs ir à varanda visitar as minhas plantas, regá-las se têm falta de água, retirar alguma folha seca e, confesso, também converso com elas. Até lhes acaricio levemente as folhas, enquanto converso.
Alguns dias passados a Lina foi à varanda e chamou-me, toda alvoroçada:
- Senhora, venha cá ver uma coisa.
Lá fui, e vi que a velha planta de cera estava em flor. Fiquei admirada, pois estava convencida que o seu período de floração havia terminado irremediavelmente. Senti-me muito feliz. A minha velha plantinha, afinal, ainda conseguia brindar-me com as suas lindas flores.
Acariciei-a ao de leve e agradeci-lhe a alegria que acabava de me proporcionar.
Do alto da sua sabedoria singela, a Lina falou:
- Sabe, senhora, no outro dia eu estive a envergonhá-la; disse-lhe que a senhora agora ia gostar mais da outra do que dela. De certeza ela entendeu, e com medo que a senhora a deitasse fora resolveu dar flores outra vez.
Será que foi isso mesmo que aconteceu?
A gente mais simples, por vezes, tem percepções que escapam ao mais comum dos mortais.

Há pessoas que, face a contrariedades que surgem, entregam-se ao desânimo e levam uma vida tristonha, sem objectivos…
Precisam ser incentivadas, ‘espicaçadas’, “metidas em brios”, para reagirem e voltarem a ter fé nas suas capacidades.
Eu sei que, com algumas pessoas, isto é assim mesmo, precisam ser estimuladas para mostrarem do que são capazes.
A dúvida que me fica é:
- Será que acontece o mesmo com as plantas?

Mariazita
Fotos minhas