domingo, 24 de janeiro de 2010

ANITA

ANITA – EPISÓDIO XLV

(Ficção baseada em factos reais)

Pouco depois de a enfermeira ter trazido o lanche, ouviram-se umas pancadas suaves na porta.

FIM DO EPISÓDIO XLIV
EPISÓDIO XLV

Ao convite de Eduarda dizendo “entre”, apareceram os rostos sorridentes das amigas de Anita que vinham acompanhadas de Arnaldo.
Depois de Eduarda ter telefonado, de manhã, para uma delas, juntaram-se, como habitualmente, na pastelaria, onde compareceu também Arnaldo.
Postas ao corrente do que se estava passando com Anita, decidiram ali mesmo ir visitá-la, para o que convidaram Arnaldo, que não se fez rogado.
Anita ficou de tal modo comovida ao vê-los que as lágrimas saltaram-lhe involuntariamente dos olhos.
Eduarda estava quase a arrepender-se de ter telefonado. Admoestou-a, fingindo rispidez:
- Então, Mãezinha, o que se passa? Isso são maneiras de receber as tuas amigas e o teu amigo??? Vão pensar que não gostaste de os ver…
- Gostei, sim, minha querida, gostei muito, embora preferisse vê-los noutro sítio, que não aqui…Mas…já que hoje não posso ir à pastelaria, – acrescentou com um ligeiro sorriso -agradeço muito que tenham vindo vocês até cá.
Sentem-se todos aqui ao pé de mim, quero ver os vossos rostos como se nunca os tivesse visto… ”para os levar bem gravados na memória – pensou, com amargura.
Todos a rodearam e acarinharam, falando em tom ligeiro, como se não soubessem quão grave era o seu estado de saúde.
Em breve uma lágrima começou a deslizar-lhe pelo canto do olho.

Notando-o, a que era a sua melhor amiga levantou-se, convidando todos os outros a retirarem-se, sob o pretexto de que ainda tinham que ir fazer um trabalho conjunto para a escola.
Arnaldo, depois de a ter beijado na face, como habitualmente fazia, pegou-lhe na mão dando-lhe um beijo – que pressentia ser o último – em que depositou todo o seu antigo amor.
Depois que todos saíram Anita manteve-se em silêncio, prostrada, de olhos fechados, reflectindo o esforço enorme que acabara de fazer.
Eduarda e Humberto entreolharam-se, respeitando o seu silêncio.
A tarde começava a cair. Eduarda falou:
- Mãezinha, eu vou a casa tomar um banho e trocar de roupa, e venho de seguida para passar a noite contigo.
- Não vou mentir e dizer que não me agrada a ideia – respondeu Anita.
Mas não queria obrigar-te a ficares desconfortável…
- Vou ficar até muito bem, Mãezinha. Já estive a apalpar o colchão do divã, e parece-me que até é melhor do que o da minha cama – disse Eduarda, com um sorriso.
Humberto interveio:
- Vai, Eduarda, e procura não te demorares. Eu fico a fazer companhia à tua Mãe, e logo que voltes vou eu a casa. Preciso fazer um telefonema e tomar um banho. Depois voltarei, e passarei a noite aqui, convosco.
Anita olhou para Humberto com um sorriso enternecido, de agradecimento, dizendo:
- Calculo que não adiantará nada eu dizer que me parece um disparate o que queres fazer…
Mas…o divã é estreito, não cabem lá duas pessoas. Vais dormir onde?
- Já reparaste, por acaso, na comodidade deste sofá em que estou sentado? Até se pode estender um pouco e puxar o descanso para os pés. Vai ser uma noite em beleza!
A não ser que estejas com medo que eu ressone… -acrescentou Humberto, em tom que pretendia ser de brincadeira.

Com a recomendação de que resolvessem as coisas da melhor maneira, Eduarda saiu.
Humberto chegou-se para junto da cama e, segurando a mão de Anita, comentou:
- Deves estar exausta! Foi um dia muito cansativo para ti. Primeiro, eu a massacrar-te com a história da minha vida…Depois a visita das tuas amigas… A propósito, gostei bastante do ar do Arnaldo. Tem um aspecto de pessoa séria. Acredito no que ele te contou, acerca de não ter recebido as tuas cartas…
Reparando que Anita fechara os olhos, acrescentou rapidamente:
- Como te sentes?
- Noutras circunstâncias eu diria que foi o dia mais feliz da minha vida – respondeu.
E passando suavemente a mão sobre os olhos de Humberto, continuou:
- Hoje eu descobri que passei uma vida inteira sem saber o que era o Amor.
Os homens que passaram pela minha vida não souberam amar-me, e eu também não os amei.
Pelo Arnaldo eu tive uma paixoneta de juventude, que na altura se revestiu com a capa do Amor. Éramos ambos muito jovens, sentíamo-nos apaixonados – e talvez existisse mesmo paixão, uma paixão juvenil. Mas não era Amor. Se fosse ter-se-ia reacendido quando nos reencontramos.

FIM DO EPISÓDIO XLV

30 comentários:

Luna disse...

Por vezes são nos momentos mais críticos que fazemos descobertas importantes, fica a aguardar a continuação
beijinhos

RENATA CORDEIRO disse...

Tem dó da gente, querida. Primeiro este olho verde chorando, quase morro. Depois, sem Amor este tempo todo, pobre Anita. Fala sério, ninguém merece. Muito menos ela que tanto deu.
Estou curiosa demais. Ainda fala no "lanche". Que fome!
Quase morro de novo, e de novo...

Obrigada por secar as minhas lágrimas.
Eu amo você*
Ofereço-lhe este poema.

*DE LÍQUIDOS E EMOÇÕES

Poema da Renata à querida Loira Mariazita*


Do espinho do dedo
correu a gota de sangue
Do rosto de cera
rolou a lágrima
Do corpo tinindo
brilhou o pingo de suor
De gota a gota
aflorou um poema menor*

Beijos Renata**********

Luis disse...

Minha Querida Mariazita,
Momentos muito difíceis mas reveladores de situações de grande intensidade e beleza para a Anita, agora que se encontrava à beira do fim, segundo o seu pensamento!
Continuo esperançado que ela recuperará agora mais fortalecida com o Amor e Carinho que descobriu nas palavras de Humberto! Será assim?
Um beijinho amigo.

EDUARDO POISL disse...

Que a minha solidão me sirva de companhia,
que eu tenha coragem de me enfrentar,
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir, como se
estivesse plena de tudo".

Clarice Lispector


Desejo um lindo domingo para você.
Abraços com todo meu carinho

com senso disse...

Amiga Mariazita

Consegue transportar-nos para os momentos mais intimos de uma família e de um ser humano, cuja vida acompanhamos desde há muitos anos.
Consegue fazer-nos olhar para Anita como se de uma amiga nossa se tratasse e fazer-nos partilhar estes momentos dificeis com ela e com a Eduarda, o Humberto, o Arnaldo e com todos os que a rodeiam.
Consegue fazer-nos sentir por ela a mesma empatia e os mesmos sentimentos de tristeza como se se tratasse de alguém muito real e muito importante das nossas vidas!
É dificil não nos sensibilizarmos com este conto belíssimo e extraordináriamente bem escrito!
Por isso, para além dos meus votos de um bom domingo, o meu muito obrigado e os meus parabéns por este trabalho fantástico que nos oferece!
Um beijinho com amizade.

Paula Raposo disse...

Uma história que tenho seguido com ternura. Beijos.

Francisco Sobreira disse...

Pois é, querida amiga. Nesse episódio você reforça a situação daquela pobre mulher. Não bastasse estar ela às portas da morte (ao que tudo indica), ela, ao rever Arnaldo, dá se conta de que não houvera amor entre os dois, apenas uma paixão de jovens. Um beijo.

Pelos caminhos da vida. disse...

Um ótimo domingo pra vc amiga.

beijooo.

Tite disse...

Meu Deus,

Uns com tanto e outros sem nada...
Realmente, isto é emoção a mais para um ser em ocasião tão debilitada!!!!

Agora é que só falta um bocadito, deste tamanho, para chegarmos ao fim desta linda história de muitos amores

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Amiga Marizita,

Se, e eu acredito nas suas palavras, esta é uma história verídica, pobre Anita, não queria ter nunca estado na pele dela.
Mas a vida é mesmo assim...

Estará o fim próximo??? Começa a ser doloroso tanto sofrimento.

Beijinhos

Vitor Chuva disse...

Olá Mariazita!

O drama, o suspense e as surpresas parecem não ter mais fim, quando se pensava que o mesmo estaria já próximo.Com tantos pessoas a marcar a sua vida, não foi fácil gerir a mesma, e mesmo às "portas da morte", ainda assim Anita não está sgura de que o terá feito da melhor maneira - carga pesada para quem merecia um fim mais tranquilo, menos sofrido.
E eu, depois de ter redondamente errado quanto ao que parecia ser o fim provável desta longa história, não o voltarei a fazer; não voltarei a arriscar - com a Mariazita a desenrolar o que ainda resta do novelo ... o melhor será mesmo aguardar!

Bom domingo.
Beijinhos.
Vitor

Cândida Ribeiro disse...

Minha Querida,

Anita está a viver dias dolorosos mas, ao mesmo tempo rodeada de muito amor....amor que tanta falta lhe fez durante tantos anos.
Resta-lhe a alegria de ter sabido que foi muito amada.
Sinto que está para breve a sua partida.

beijinhos da tua manita

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Querida Mariazita,

Muito obrigada pela sua consideração em fornecer-me dados que desconhecia.

Beijinhos e boa senana,

Vicktor Reis disse...

Querida Mariazita

Sempre um continuado interesse em cada novo episódio.

Uma linha narrativa muito interessante, suave e ao mesmo tempo intensa de sentires.

Beijinhos.

Zé do Cão disse...

No fundo todos os visitantes que acompanharam desde o principio esta belíssima história, estão em desespero porque adivinhamos para muito breve o seu fim.
Já não há histórias destas? Há e muitas, podem crer.
Para a Mariazita, com sinceridade
um grande beijo, por nos fazer estar a sofrer todo este tempo.

Lilá(s) disse...

gosto, e vou continuar a acompanhar com interesse.
Bjs

São disse...

A vida é bem complicada, não?
Sê feliz, nena.

xistosa, josé torres disse...

Uma carta de amor pode ser um tónico para o dia ... semana ... em suma, para uma vida.
E quando só as enviamos em pensamento, mas no destino, são "recebidas"?
Sucede amiúde e não é sexto sentido.
É amor.
O amor é assim e prolonga-se para além da vida.
Será?

Cumprimentos e uma óptima semana.

Daniel Costa disse...

Mariazita

Mais um episósdio: tudo por amor!
Pela leitura, questiona-se: amor... amor, terá mesmo existido?
A aguardar as cenas do próximo capítulo.
Beijos
Daniel

Mª João C.Martins disse...

Querida amiga

Tenho andado a ver se consigo "esticar" o tempo...
Já tinha lido mais este capitulo, mas não comentei na altura.
Não consigo imaginar o futuro de Anita, simplesmente porque não quero acreditar que a sua vida esteja no fim..
Ficarei à espera, satisfeita, no entanto, por saber que a pouco e pouco todos as pontas soltas da sua vida se vão unindo, serenamente, dentro de si!

Um beijinho, com toda a amizade

Deusa Odoyá disse...

Minha querida amiga.
estou aguardando qwue ela se recupere ,e veja que alí nunca houve um amor verdadeiro e sim paixão de jovens enamorados.
Beijinhos doces, minha linda amiga.Fique na paz.
Obrigado por suas visitas ao meu cantinho.
Regina Coeli.

SAM disse...

Mariazita!

Olha que coisaaaaaaa! Anita está passando tudo a limpo nas suas reflexões... Esta claro quando ela disse a frase: "Os homens que passaram pela minha vida não souberam amar-me, e eu também não os amei." Tanto amor ela tinha e tem no coração... E na vontade de amar e ser amada, criou ilusões. Acontece. E agora, diante da situação em que ela mesmo frágil, mas com extrema lucidez e num quadro de realidade, pela circunstância... Ela pode se analisar. Que ela não se entristeça disso. Mas que sinta-se realizada.

Beijão amiga!

Unknown disse...

Querida Mariazita,
poderá não ter sido amor o que Anita viveu com os Homens que como ela disse passaram pela sua vida. Mas foram sentimentos bonitos e puros, que embora de uma forma ou de outra lhe tenham provocado desilusão e sofrimento, lhe proporcionaram certamente momentos inesquecíveis e a ajudaram a crescer e fortalecer.

Beijinhos,
Ana Martins

Pelos caminhos da vida. disse...

Desejo que em sua vida...

Não exista cara feia,
Não exista bolso furado,
Não exista tempo apressado,
Muito menos grãos de areia.
Não exista tempo fechado,
Não exista problema dobrado,
Não exista sonho frustrado,
Muito menos amor acabado.
Não exista amigo esquecido,
Não exista negócio falido,
Não exista boato mexido,
Muito menos dinheiro sumido.
Não exista tempo nublado,
Não exista ambiente abafado,
Não exista corpo dobrado,
Muito menos bom senso abalado.
Não exista mágoa engolida,
Não exista emoção reprimida,
Não exista alma sofrida,
Muito menos felicidade perdida...
Só desejo que você seja feliz!!!

(Desconheço o autor).

beijooo.

Pena disse...

Doce e Terna Amiga:
Linda narração feita com o sabor belo do amor. Maravilhosa.
Que delícia de descrição adorável.
Vida e doença, unidas lado a lado Um texto sublime de encantar.
Bem-Haja, fabulosa amiga.
Adorei.
Não me apercebi do final deste sentir doce que é o seu.
Beijinhos amigos de imenso respeito.
Sempre a admirá-la pela magia literária do que concebe com encanto e beleza ímpares.

pena

Parabéns.
Adorei.

Sofá Amarelo disse...

Não há nada inventado na Vida... o real está sempre por base do que julgamos imaginário...

Muitos beijinhos!!!

Sandra disse...

Já estou bem melhor amiga.

MUITO OBRIGADA PELA SUA VISITA.

Cada um que passa, POR LÁ, não passa sozinho deixa um pedacinho do seu coração..
Fico muito feliz com a sua presença. muito obrigada.
VOCÊ, que traz flores e deixa os perfumes.
Assim eu trago para vc, este perfume que fica no ar, é com certeza, de que a sua presença, é muito amavél no blog.
Muito obrigada pela sua companhia.
Não ando mais sozinha, Porque tenha a sua companhia. Minhas manhãs, tardes e noites, são muito mais alegres...
Pois tenho VOCÊ, que caminha lado a lado. Mesmo muito distante. Mas tão perto do coração...
Obrigada, por vc estar sempre aqui...COMIGO!
Sandra

poetaeusou . . . disse...

*
que Best Seller,
meu Deus !!!
,
conchinhas.
,
*

Bergilde disse...

Olá,navegando pelo Google acabei descobrindo seu blog e me encantei tanto com os conteúdos de suas postagens que pretendo acompanhá-la por aqui também.Abraços da Itália,Bergilde

Táxi Pluvioso disse...

O amor não existe, é uma criação para vender postais, em datas determinadas, talvez por termos a tendência de recusarmos quem gosta de nós, e nos aproximarmos de quem não gosta.

Por isso, tenho alguma dificuldade em perceber a "violência domestica", então, por regra, ela (ou ele) exclui o moçoilo que gostava dela (ou dele) e escolhe um javardola, e depois reclama, como se não fosse responsável pela sua escolha. Um mistério. boa semana