domingo, 3 de janeiro de 2010

ANITA

ANITA – EPISÓDIO XLII

(Ficção baseada em factos reais)

Depois ouvi-o sair, batendo com a porta, e a minha mãe a desfazer-se em soluços.

FIM DO EPISÓDIO XLI
EPISÓDIO XLII

Mantive-me no meu quarto, assustado com aquelas revelações, sem saber que atitude tomar.
Algum tempo depois a minha mãe deixou de soluçar e saiu do quarto. Eu fiz o mesmo uns minutos depois, quando a ouvi falar com a cozinheira. Esgueirei-me para o jardim, e depois apareci como tendo acabado de chegar a casa.

A minha mãe tinha os olhos inchadíssimos, como eu nunca lhe vira.
Jantamos em silêncio, o que não era usual, mas eu não me atrevia a falar.

À sobremesa a minha mãe disse-me:
- Humberto, quando acabarmos de jantar gostaria que ficasses em casa, em vez de ires lá para fora brincar com os teus amigos.
Acenei que sim.
Depois de jantar a minha mãe levou-me para o meu quarto e disse-me:
- Meu filho, já não és nenhum menino pequeno. Já tens idade para ouvir o que tenho para te dizer.
Fiquei em suspenso, e aguardei.

- Antes de tu nasceres apareceu na cidade um turista, que se manteve por cá cerca de dois meses.
Era um homem encantador, que acabou por ser convidado para lanchar nas casas de algumas pessoas cá da terra, tendo feito amizades que ainda hoje se mantêm.

Por coincidência eu estava presente na maioria desses convívios; os teus irmãos estavam a estudar na Inglaterra, por isso eu tinha muito tempo livre, que passava na companhia das minhas amigas.
Ao tomar conhecimento o teu pai resolveu fazer uma cena de ciúmes, dizendo que me proibia de voltar a frequentar lugares onde estivesse ‘esse senhor’.

Eu sempre fui rebelde por natureza, e se ele me tivesse apenas pedido, talvez eu lhe fizesse a vontade. Mas não podia admitir que me proibisse. E continuei a ir. Mas não fui muito mais vezes, porque o homem em breve se foi embora.
Pouco tempo depois destes acontecimentos, fiquei grávida, e tu nasceste.

O teu pai começou a acusar-me de lhe ter sido infiel, dizendo que tu não eras seu filho.
A partir daí a nossa vida transformou-se num verdadeiro inferno.

Um dia eu estava em casa a chorar, depois de mais uma violenta discussão, quando chegou a minha melhor amiga, que, ao ver-me assim descontrolada, e tendo-lhe eu contado o motivo, disparou:
-Ele faz isso para aliviar a consciência dos seus pecados!
- Quais pecados? perguntei.
- Sabes que eu não gosto de intrigas, mas a ver-te nesse estado, não posso ficar calada. O teu marido tem uma amante, que mantém numa casa dos arredores, onde vai quase todas as noites, e que cobre de presentes. Pronto, já disse! E se ele souber que eu te disse, e disser que eu menti, eu apresento testemunhas.

Eu é que não precisei de testemunhas para compreender tudo: as ausências do teu pai noites inteiras, pretextando negócios, a sua agressividade e impaciência sempre que eu mostrava interesse por saber como ele ocupava o seu tempo, tudo se tornou claro para mim.
Custa-me até pensar nisto, mas a partir desse dia todo o amor que eu sentia pelo teu pai desapareceu completamente.
Hoje, o único sentimento que ele me inspira é desprezo. E raiva, também.
Eu não devia dizer-te estas coisas, mas sei que já notaste que entre mim e o teu Pai o relacionamento não é muito bom. Por isso prefiro que saibas, da minha boca, toda a verdade, e que não venhas a tirar conclusões erradas por partes de discussões que possas ouvir.

Apesar de tudo quero que respeites o teu Pai, como é dever de qualquer filho.
Infelizmente, como marido não merece o meu respeito. De qualquer modo nunca o desrespeitei, nem nunca o farei”.

Enquanto o ouvia Anita pensava:
- Estou a reviver o passado. Um passado que não é meu, mas não deixa de ser “passado”. Dizem que quando isto acontece é sinal de que se está prestes a morrer. Aqui está mais uma prova de que o meu fim se aproxima…
E aquela visão que eu tive do Padre João – será que foi mesmo visão? – não será também um sinal?

Humberto fez uma ligeira pausa, olhando atentamente para Anita, tentando descobrir se ela se encontraria demasiado cansada.
A seguir continuou:

FIM DO EPISÓDIO XLII

22 comentários:

RENATA CORDEIRO disse...

Olá, Mariazita!
Momentos revividos. Gosto da postura da Anita. O respeito ao marido, apesar de. Não creio que seja só para que o filho respeite o pai. É intrínseco ao caráter da mulher.
Momentos que antecedem à morte. Ainda há suspense.
Aguardo.
Amei*
Loira Lindona na foto*****
Beijos,

São disse...

Sem tempo para mais, só te venho desejar um feliz 2010 junto de quem amas.

Ah, gostei muito da foto nova.


Um abraço amigo, nena.

Unknown disse...

Querida amiga Mariazita,
revelações demasiado tristes para quem está tão doente, mas enfim, fazem parte da vida dos seus entes queridos.

Beijinhos,
Ana Martins

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Querida amiga,

A história da Anita está cada vez mais perto do fim, assim parece.
Gostei que ela tivesse revelado tudo, em forma de desabafo, mesmo que tenha deixado sequelas no Humberto. A verdade acima de tudo.

Vamos ver o que virá a seguir...ainda há muito suspense...

Beijinhos

Meg disse...

Mariazita,

Com o suspense sempre presente, vamos a caminho do fim. Ou não?
É essa dúvida que me assalta em cada episódio...
Parabéns pela história tão bem urdida, Mariazita!

Beijinho

Zé do Cão disse...

Pecados, pecados de quê? de Amar?
Isso não é pecar. Pecar é fingir que se ama...


Um jinho minha amiga e que o este ano nos traga coisas boas, já que o anterior foi o que se sentiu. Mas o Presidente anunciou que este pode ainda ser pior. Estamos tramados, não fosse estes convívios e não sei o que seria de mim.

Vicktor Reis disse...

Querida Mariazita

Belíssimo no enredo e na forma de ires desfazendo o novelo...

Curioso...

A vida é assim mesmo, um novelo que se enrola e desenrola, conforme vamos pelo tempo passando.

Beijinhos.

Cândida Ribeiro disse...

Queridinha,

Sinto que Humberto ainda vai ter muito que contar.
Ambos sabem que o fim de Anita está próximo e por isso já não é preciso esconder mais nada.

Cá fico à espera de mais revelações.

Beijinho grande

Vitor Chuva disse...

Olá Mariazita!

Parece ter chegado a altura de alguns personagens acertar contas com o passado, como se sentissem que pouco tempo já terão para o fazer. E também me parece que ainda estarão para surgir importante revelações: Haverá certamente algo mais para contar, para que toda esta história possa ter um final bem dramático...

Beijinhos!
Vitor

Quanto à nova foto, devo dizer que a princípio pensei ter mais um seguidor ... só depois percebi que era a Mariazita!

Alvaro Oliveira disse...

Olá amiga Mariazita

Estou de visita a este belo espaço, mas hoje não consegui ler
o episódio de ANITA. Mas espero que no dia em que tal seja possivel, ainda encontro no blog os episódios não lidos.

Beijinhos

Alvaro

Daniel Costa disse...

Mariazita

As teias da vida que o mundo tece. As infelidelidades que se pressentiam, mas agora a serem reveladas.
Aguademos novo episódio.
Beijos
Daniel

Mª João C.Martins disse...

Pois, minha amiga, Anita vê o seu passado também revisitado, assim nas palavras de Humberto. Um passado diferente do seu, mas semelhante em muitos aspectos.
Não sei porquê, continuo com a esperança que os dias de Anita não acabem já.
Aguardemos...

Beijinho grande

Francisco Sobreira disse...

Querida Maria,
Interessante nesse episódio é essa sofrida Anita se "envolver" num passado que não é dela, mas da mãe de Humberto e deste. Vamos ver o que o enteado tem mais a dizer. Um beijinho.

com senso disse...

Boa noite Mariazita

O pobre Humberto tem uma vida praticamente tão complexa e sofrida quanto a Anita.
Porque será que o passado sempre volta nos momentos em que o futuro parece querer extinguir-se?
Um beijinho com amizade e sinceros votos de um excelente 2010 com muita saúde.

o que me vier à real gana disse...

Mariazita, desejo-lhe um excelente 2010. O mesmo para a família e amigos.
Bem, como tem vindo a acontecer, quando se trata da "anita" não comento, pois não sei o k está para trás... O que só pode ser bom! Tb já disse, assim k saia em livro - papel -, compro logo.
Bjs, Mariazita

Luis disse...

Olá Mizita,
As verdades são para ser ditas ainda que por vezes possam magoar!
No caso presente o Humberto apanhou um forte choque mas, já que ele coitado tinha ouvido o seu Pai a dizer o que disse, foi melhor assim. Ficou esclarecido com a Verdade! Apesar de tudo e do suspense existente acredito que a Anita irá sobreviver. A ver vamos...
Um beijinho amigo.

Pena disse...

Maravilhosa Amiga:
Um texto delicioso que surpreende pela realidade e óbvia sensação de que a fidelidade, os direitos humanos nas decisões que tomamos, vêm à baila.
Mais um capítulo apaixonante e extraordinário de uma imaginação desperta, sóbria e plena de lucidez.
Possui uma sensibilidade perfeita.
Beijinhos amigos de parabéns sinceros.
Com imenso respeito.
Sempre a admirá-la

pena

Bem-Haja, bela escritora genial.
Adorei.

Desnuda disse...

Nossa, Mariazita! Que situação triste. E infelizmente comum em homens com falhas graves de caráter esta inversão. E ainda temos mais emoções por vir!

* Você está linda na nova foto do perfil, Mariazita! Adorei!!!


Beijãooooooooo, amiga!

Deusa Odoyá disse...

Olá minha doce amiga.
Desejo um ano de muitas realizações e paz.
Que Deus possa sempre guiar seus caminhos.
Beijinhos doces.
Regina Coeli.

xistosa, josé torres disse...

Continua a saga ... se bem que poderá não ser lenda.
Poderá muito bem serem vidas reais.
Não queria comentar, mas aparecer, dizer bom dia ou boa noite e esgueirar-me não se coaduna com o que penso.
Dei uma "vista de olhos", uma espécie de sabatina dos velhos tempos.

Cumprimentos e um bom fim de semana.

Pena disse...

Extraordinária Amiga Escritora Perfeita:
Há realidades que custam ouvir, por claudicarem na significação do amor.
Um texto fabuloso feito pela sua pena de ouro.
Um fluidez e cristalina atitudes num interessante sentir pleno de emoções.
Qual o desfecho?
Seguirei atentamente.
Excelente a sua sensibilidade e eloquência escrita de encanto.
Parabéns sinceros.
Beijinhos de uma amizade que prezo imenso.
Com respeito e admiração pelo seu harmonioso talento.

pena

Adorei, ao reler!

Táxi Pluvioso disse...

As amantes é uma inevitabilidade do estado de desenvolvimento sexual dos/as portugueses/as. Nada demais.