domingo, 5 de julho de 2009

ANITA

ANITA – EPISÓDIO XXIX

(Ficção baseada em factos reais)

Lembrava-se de como o seu próprio pai procedera com Tiaguinho, quando ele era bebé – os mesmos gestos, o mesmo sorriso enternecido, o mesmo ar de encantamento…

FIM DO.EPISÓDIO XXVIII
EPISÓDIO XXIX

Por vezes Anita punha – se a pensar se Vicente saberia quem era o pai de Eduarda. Porém nunca conseguiu chegar a uma conclusão. Se Vicente sabia, ou mesmo se desconfiava, nunca o demonstrou, tratando sempre o padre João com respeito e deferência, sem nunca mostrar aborrecimento com as idas do padre a sua casa, para “visitar a sua comadre Anita e dar um beijo na afilhada”.
Até ao fim dos seus dias Vicente jamais revelou o mínimo indício que pudesse levar a supor ser ele conhecedor da verdade.

Eduarda tinha dois meses quando, finalmente, Humberto apareceu na ilha.
Por muito magoado que estivesse não pôde evitar a comoção ao envolver Anita num forte abraço, enquanto uma lágrima traiçoeira assomava aos seus olhos.
Anita sentiu-se no céu, ao sentir os braços de Humberto envolvendo-a com tanto carinho. Não pôde nem tentou reprimir as lágrimas, deixando-as rolar livremente pelo rosto. Nunca um abraço de Humberto a fizera tão feliz!

Vicente observava-os em silêncio, com um sorriso contrafeito; e quando o filho se lhe dirigiu, abraçou-o, comovido, o que muito poucas vezes fizera na sua vida..

Humberto não pôde deixar de pensar que o pai estava mesmo a envelhecer. Aliás já o pensara quando Anita lhe contara a forma como reagira à notícia da sua gravidez.

Depois de passada a comoção dos primeiros momentos, Humberto disse:
- Onde está a princesa? Estou ansioso por conhecê-la.
Anita foi buscar o carrinho de Eduarda, que entretanto acordara. Levantando-a, entregou-a a Humberto, de braços estendidos para a receber.
Estreitando-a de encontro ao peito, novamente sentiu que as lágrimas queriam assomar-lhe aos olhos. Reprimindo-as, apertava Eduarda de encontro a si, enquanto pensava:
- Devias ser minha filha. Eu, sim, eu, é que devia ser o teu pai.

De olhos fechados tentava transportar para a bebé todo o amor que sentia por Anita.

Durante a semana que passou na ilha Anita pô-lo ao corrente do estado de saúde do pai. Nada lhe contara por carta, para não o afligir, mas agora sentia que o devia pôr a par de tudo.
Vicente estava doente, não se sabendo exactamente qual a sua doença.
Ia fazendo uma vida mais ou menos normal à custa de muita medicação, que o mantinha de pé, e também devido à vigilância de Anita, que não o deixava cometer excessos.
Nunca o impedia de sair, pois sabia que o marido precisava ausentar-se de casa, não só por causa dos seus negócios, mas também para ir visitar a amante.
Mas recomendava-lhe sempre que levasse os medicamentos e não se esquecesse de os tomar.
Algumas vezes Vicente dormia fora; quando regressava, Anita cuidava para que nada lhe faltasse, ajeitando-lhe as almofadas no sofá para onde ele se dirigia logo que entrava em casa.

Humberto observava tudo em silêncio, sentindo uma estranha gratidão pela forma como Anita estava tratando o seu pai.
Pensava, consternado, que o pai envelhecera muito nos quase dois anos em que o não vira. E perguntava a si mesmo quanto tempo lhe restaria de vida.
- Será que volto a vê-lo vivo? – pensava, com uma certa amargura.
Não lembrava, ou, pelo menos, tentava esquecer, todos os agravos que o pai lhe infligira ao longo dos anos. Sentia que o momento era de perdão, de esquecer possíveis rancores escondidos no fundo do seu sentir.

Rapidamente se esgotaram os dias que destinara para passar na ilha.
Sentia uma dor muito funda por ter de, mais uma vez, separar-se de Anita; mas ao mesmo tempo via a sua partida com um certo alívio.
Afastando-se era mais fácil não pensar tanto no seu amor por Anita; não vendo Eduarda não era forçado a lembrar-se que ela era fruto do amor de Anita por outro homem.
Foi, pois, com um misto de vários sentimentos que regressou a Inglaterra, onde acabou por começar a trabalhar no local onde fizera o seu estágio, e onde se conservou largos anos sem regressar à ilha.
Mantinha com Anita correspondência frequente, e assim se inteirava de tudo o que se ia passando.

FIM DO EPISÓDIO XXIX

23 comentários:

Paula Raposo disse...

Ao longo dos episódios tens retratado lindamente todas as emoções. Fico à espera do que se segue. Muitos beijos.

Anónimo disse...

Querida Má,
sempre torci para que Anita ficasse junto com Humberto. Ele tem tanto amor por ela, mas enfim cada história toma um rumo ...
Comos empre mal posso esperar para ler o próximo capítulo.
Beijos e lindo domingo

RENATA CORDEIRO disse...

É, a Anita está dividida. Quem escolherá?... Quero ler logo o próximo capítulo tão lindamente escrito pela Mariazita, que domina por completo a arte de escrever.
Agora, falo de mim.
Publiquei no Galeria e, modéstia à parte, está lindo.
Apareça.
Um beijo,
Renata

Alvaro Oliveira disse...

Olá Mariazita

depois deste episódio,
cresce a ansiedade pelo
próximo. Continue com a
brevidade possível, a
deliciar seus amigos com
mais...mais...e mais.

Um bom Domingo

Um beijo

Alvaro

com senso disse...

Amiga Mariazita

Permito-me desejar que Humberto e Anita, que tanto têm em comum, venham no final a ficar juntos...
Embora tenha de reconhcer que se isso acontecer e se viessem a ter filhos a família iria ficar uma verdadeira salada....
Um beijinho

Pelos caminhos da vida. disse...

Que essa semana seja repleta de gdes realizações e muita paz.

beijooo.

Fenix disse...

Amiga Mariazita

Atrasei-me a vir ler e li os dois últimos episódios de seguida.
Lindo!
Que talento tens para a escrita e para contar histórias!
Estou encantada!
Fico à espera da continuação.

Beijinhos
São

Luis disse...

Adorei este episódio e como os restantes que aqui vieram comentar vou ficando à espero do próximo episódio pois estou ficando preso ao fio da meada.
Um resto de bom domingo e um beijinho.

o que me vier à real gana disse...

Olá Mariazita!

Desculpa, hoje é mesmo só para dizer olá!... Não ficas chateada?
Um olá tb à tua protagonista e ao pessoal a quem aqui, na tua casa, serves uns cházinhos e umas minis!

Bj

Cândida Ribeiro disse...

O Humberto lá arranjou coragem para vir...que pena não estarem juntos! Acredito que Anita também gosta dele...mas a vida prega destas partidas.
Vamos lá ver o que acontece quando o Vicente morrer.
Parece-me que passados dois anos o pai de Eduarda já devia ter pensando em deixar a vida de padre...qual será a sua verdadeira intenção?
Fico aguardar novo capítulo, cheia de curiosidade.

Mil beijinhos da tua manita

Pena disse...

Amiga fabulosa:
Coisas da vida que ainda acontecem hoje em dia.
Um poderoso, sensível e maravilhoso aspecto delicioso e lindo descrito com profundeza literária perfeita e harmoniosa.
Adorei! Revela uma grande e deslumbrante escritora.
Segui do início ao fim, lendo atentamente pela facilidade comunicativa e beleza expressivas.
Aguardo o seu evoluir com ansiedade.
Beijinhos de imenso respeito e pasmo pela pureza e encanto desta narração.

pena


Excelente. Bem-Haja, amiga notável!

Mariazita disse...

Meu caro Luís
Tenho por hábito ir aos blogs dos meus comentadores, retribuir e agradecer as visitas que me fazem.
No seu caso, com não tem blog onde possa visitá-lo, sirvo-me deste espaço para expressar o meu agradecimento pela sua visita e pelas suas amáveis palavras.
Alegra-me que tenha gostado deste episódio e, embora já não faltem muitos para o final, gostaria de poder continuar a contar com a sua presença.
Um "bem haja", e uma semana feliz.

Beijinhos
Mariazita

lili laranjo disse...

Passei e deixo um beijo


CHEGUEI...

Cheguei aqui e parei...
Cheguei aqui e sorri...
Sorri com muita força...
Pois sei que aqui sou eu...

Aqui paro e escuto...
E sei que escuto o que eu gosto
E sinto o carinho que me cerca
E sei que é um querer de verdade...

Porque aqui...eu estou...eu fico...eu sou!...
E quando a amizade é de verdade...
Eu cresço e fico muito maior...

É por isso...
Que eu sou pequena...
Mas muitas vezes...
Me sinto "grande"-

Lili Laranjo"Reticências Apenas"

Unknown disse...

Queria Mariazita,
tenho que te felicitar pela forma como tão bem escreves esta história verdadeira.
Conhecedora dela consegues transmitir-nos com rigor os sentimentos e valores que uniam esta família.
É uma história de vida que embora tenha alguns desgostos e contratempos, (como a vida de todos nós) dava um lindo romance.

Beijinhos,
Ana Martins

José Leite disse...

A mestria uma vera escritora...
quem sabe se nobelizável!...

Agora está na moda...

Elvira Carvalho disse...

Fico ansiosa à espera do próximo episódio. Penso que a Anita seria bem mais feliz se o seu amor fosse Humberto. Porém como a história é baseada na vida real, e nela quase sempre as coisas são diferentes daquilo que desejamos.
Um abraço e as melhoras.

Francisco Sobreira disse...

Pois é, querida Maria, aqui estou de volta, depois das curtas "férias". Tal como o anterior, este episódio revela como o marido de Anita mudou nos últimos tempos, o que não passou despercebido a Humberto. Este, coitado, segue o seu calvário de amar uma mulher que não o ama. Mas como você vive nos pregando surpresas, quem sabe se no final?... Um beijo grandoso.

Vicktor Reis disse...

Querida Mariazita
Estes teus escritos... esta vivência da Anita é profundamente tocante. Fazes-me sentir um aperto grande no peito de emoção...
Extraordinária qualidade!!!
Beijinhos.

Mª João C.Martins disse...

Amiga...

Fiquei a saber que falta pouco para acabares de nos contar a história de Anita, mas muitas coisas poderão ainda acontecer...
não tento imaginar, não vale a pena.. tu irás, ou melhor, a vida da Anita irá surpreender-nos, estou certa!

Beijinhos com muito carinho

PS - Irei ao "salão de chá" conversar.

Pena disse...

Bem-Haja, genial amiga.
Não me canso de dizer que narrou um belo texto.
Quanto à votação?
Deixe lá, não se preocupe, o que prevalece é a sua simpática intenção.
Beijinhos

pena

OBRIGADO!

lili laranjo disse...

Mariazinha

A vida é um corre corre mas quando queremos o sol brilha mesmo...


agora vou dar uma volta pelos seus selos...adoro ver a beleza...


beijos

Laila Braga disse...

tenho que ler outro episódios... ando meio que perdida...

Táxi Pluvioso disse...

Foram umas férias rápidas. Bem que ele poderia aproveitar para fazer-lhe outro filho...