domingo, 26 de julho de 2009

DIA DOS AVÓS

Queridas amigas, amigos, comentadores e visitantes em geral:

Por motivos alheios à minha vontade, a que não é estranho o aspecto de saúde, vou ausentar-me da blogosfera.

Dependendo de diversas questões, esta ausência pode prolongar-se por um período de tempo maior ou menor, mas que, imagino, nunca será inferior a dois ou três meses.

Estarei ausente, sim, mas ter-vos-ei sempre presentes no meu pensamento e, - porque não dizê-lo? – também no meu coração.

E para não ser uma despedida “a seco”, e porque hoje é o Dia Mundial dos Avós (Avô e Avó), deixem-me lembrar-lhes a origem deste dia:

Comemora-se o Dia dos Avôs e Avós em 26 de julho. E esse dia foi escolhido para a comemoração porque é o dia de Santa Ana e São Joaquim, pais de Maria e avós de Jesus Cristo.
História
Conta a história que, no século I a.C., Ana e seu marido, Joaquim, viviam em Nazaré e não tinham filhos, mas sempre rezavam pedindo que o Senhor lhes enviasse uma criança. Apesar da idade avançada do casal, um anjo do Senhor apareceu e comunicou que Ana estava grávida, e eles tiveram a graça de ter uma menina abençoada a quem batizaram de Maria. Santa Ana morreu quando a menina tinha apenas 3 anos.
Devido à sua história, Santa Ana é considerada a padroeira das mulheres grávidas e dos que desejam ter filhos. Maria cresceu conhecendo e amando a Deus e foi por ele a escolhida para ser Mãe de Seu Filho Jesus.
São Joaquim e Santa Ana são os padroeiros dos avôs e avós
Informação - Wikipédia.

E porque é que os Avós são Avós? Porque existem os Netos, naturalmente.
Homenageemos então os Netos, os principais responsáveis por existir o Dia Mundial dos Avós.


OS NETOS



O amor perfeito às vezes não vem até que chegue o primeiro neto
Provérbio Galês

Ninguém faz pelos netos, o que fazem os Avós: eles salpicam uma espécie de pó de estrelas sobre as suas vidas
Alex Haley

As Avós são Mães, com um monte de cobertura doce.
Autor desconhecido

A Avó, segura as nossas mãozinhas por um instante, mas os nossos corações, para sempre .
Autor desconhecido

Que baratos que são os netos ! Dou-lhes as minhas moedas e eles dão-me milhões de dólares de alegria.
Gene Perret

Se soubesse como é maravilhoso ter netos, te-los-ia tido, antes.
Lois Wise

Os meus netos acham que sou a coisa mais velha do Mundo. Depois de duas ou três horas com eles, eu também acho !
Gene Perret

Nunca tenhas filhos, só netos.
Gore Vidal

Os homens não se sentem velhos por terem netos, mas sim, por saber que estão casados com Avós.
C.Norman Collie

Quando os netos entram na nossa casa, a disciplina voa pela janela.
Ogden Nash

Uma Avó, é uma Mãe maravilhosa, com um “monte” de prática; Um Avô, é um velho por fora e um jovem por dentro.
Joy Hargrove

Os netos são a recompensa de Deus por termos chegado à velhice.
Mary H. Waldrip

Nunca entenderás realmente uma coisa, até que consigas explicá-lo à tua Avó.
Provérbio Galês



Os netos, são a sobremesa da Vida.
Anónimo

Uma hora com os netos, pode fazer uma Avó sentir-se jovem outra vez. Mais tempo que isso, fá-la sentir-se velha rápidamente.
Gene Perret

Desejaria ter a energia dos meus netos, nem que fosse para defesa pessoal…
Gene Perret

Os netos não se mantêm jovens para sempre, o que é bom, porque os Avós têm um limite de forças.
Gene Perret


Felicidades
Aos novos avós…
Aos avós experientes
E a todos que um dia o serão…


Obs. Publiquei no “Lírios” um poema alusivo a esta data, que considero lindíssimo, do grande poeta brasileiro Luiz-Poeta (Luiz Gilberto de Barros).
Agradeço a sua visita lá.

domingo, 19 de julho de 2009

ANITA

ANITA – EPISÓDIO XXXI

(Ficção baseada em factos reais)

- Claro que vou, Vicente, mas, por favor, acalma-te. O estado de nervos em que estás não te pode fazer nada bem…Além do mais, se tivesse vindo algum telegrama já o teriam vindo entregar, não achas?

FIM DO.EPISÓDIO XXX

EPISÓDIO XXXI

-Faz-me o que te peço, por favor. Pode ter chegado algum telegrama e não haver ninguém nos correio para o vir entregar já…
-Muito bem, Vicente. Vou já de seguida. Mas, peço que te acalmes, doutro modo não vou sossegada… O estado em que estás pode fazer-te mal
- Agora já nada me pode fazer mal, Anita. Só preciso receber telegrama do meu amigo Joaquim, a confirmar estas notícias que estão a dar na televisão…

Anita saiu de casa para se dirigir aos correios mas, antes de lá chegar, encontrou o carteiro que vinha precisamente entregar um telegrama a Vicente.

Só mais tarde Anita compreendeu o que, efectivamente, significava aquele telegrama para o marido.

Quando a vira com o telegrama na mão Vicente levantara-se tão de rompante que por pouco não caíra.
Abriu-o com mãos trémulas, leu avidamente as poucas palavras que continha, e, com um enorme sorriso, recostou-se no sofá.
Anita e os filhos olhavam-no em silêncio, receosos, sem saber que atitude tomar.
Por fim Vicente endireitou-se e, com um sorrio como nunca lhe tinham visto, declarou:
- Estou livre! Estou livre, Anita. Agora posso ir para onde quiser, livremente.
Eduarda, sem perceber o que se passava, mas apercebendo-se de que alguma coisa acontecera que tornara o “pai” extremamente feliz, correu a abraçá-lo.
Anita e Tiago acercaram-se também, e todos se uniram num longo abraço.
Finalmente Anita leu o telegrama que dizia apenas:
- Podes começar fazer malas. Abraço amigo Joaquim.

A partir daí tudo se desenrolou tão rapidamente que por vezes Anita sentia-se tonta.
Vicente parecia ter recuperado completamente a saúde; na realidade era apenas aparência, e a excitação de tudo que estava a acontecer.
Tinham decidido regressar à capital, com grande desgosto para os pais de Anita.

Esta sentia-se dividida. Por um lado, sentia-se desgostosa por ter de se separar do padre João que, logicamente, teria que continuar na ilha, pelo menos até que conseguisse transferência para uma paróquia do Continente; por outro lado via assim a hipótese de o marido poder consultar bons especialistas, fazer todos os exames que até aí lhe estavam vedados, e, finalmente, recuperar totalmente a saúde.
Depois de todos estes problemas ultrapassados, seria, finalmente a altura de pensar apenas em si própria, na sua felicidade, insistir com o padre João para tentar apressar a sua desvinculação da Igreja, e viverem, por fim, a vida a que tinham direito.

Depois de tratados todos os assuntos, que Vicente tentou abreviar o mais possível, passando para as mãos do sogro toda a parte de negócios de que ele próprio ainda se encarregava, rapidamente se aproximava o dia da partida.
Eulália mostrava-se inconsolável com a próxima partida dos netos e da filha, e só a promessa de que nas férias viriam visitá-la, tal como ela iria vê-los ao Continente, lhe dava alguma paz de espírito.
Para, até certo ponto, os compensar da falta que iriam sentir, Anita consentiu que os filhos fossem passar os últimos dois dias na casa dos avós.
Na antevéspera da partida Vicente teve uma atitude que deixou Anita sem palavras: informou-a (coisa que jamais fizera) de que iria passar aquelas duas noites fora de casa.
Anita limitou-se a murmurar, em voz um pouco embaraçada:
- Não há qualquer problema, apenas te peço que não esqueças os teus medicamentos.

Parecia que tudo se conjugava para facilitar o encontro entre Anita e o padre João, que desesperavam, pensando que não teriam oportunidade de despedir-se a não ser como se de dois amigos, apenas, se tratasse.
Mas o destino permitiu que pudessem passar juntos mais uma noite, antes da despedida, o que, ultimamente, poucas oportunidades tinham tido de fazer.

FIM DO XXXI EPISÓDIO

quinta-feira, 16 de julho de 2009

VAMOS LIMPAR PORTUGAL

"VAMOS LIMPAR PORTUGAL"
UMA INICIATIVA DO BLOG SEMPRE HOVENS

O Blog
SEMPRE JOVENS

iniciou uma louvável campanha com vista à limpeza (remoção do lixo) do nosso País.

Em sinal do meu total apoio criei este simples "selinho".



Convido-vos a levá-lo e colocá-lo na sidebar do vosso blog, procurando dar-lhe o maior destaque possível.

A acção VAMOS LIMPAR PORTUGAL
agora iniciada, é merecedora de todo o nosso apoio.

Aconselho uma visita ao blog a fim de se inteirarem da forma como todos podemos ajudar a levar avante uma acção tão meritória, e verificar como toda a ajuda pode ser importante.

O País agradecerá, com certeza.

Mariazita, 16.07.09

domingo, 12 de julho de 2009

ANITA

ANITA – EPISÓDIO XXX

(Ficção baseada em factos reais)

Foi, pois, com um misto de vários sentimentos que regressou a Inglaterra, onde acabou por começar a trabalhar no local onde fizera o seu estágio, e onde se conservou largos anos sem regressar à ilha.
Mantinha com Anita correspondência frequente, e assim se inteirava de tudo o que se ia passando.
FIM DO.EPISÓDIO XXIX
EPISÓDIO XXX

A vida ia decorrendo normalmente.
Anita manteve-se em casa até Eduarda completar um ano, e depois regressou à sua actividade na creche.
Raramente se encontrava a sós com o padre João, mas confiava que seria uma situação transitória, e, mais tarde ou mais cedo, tudo iria modificar-se de acordo com o que tinham planeado no início do seu relacionamento.

O padre João dissera-lhe que já fizera as primeiras diligências no sentido de deixar a batina, mas foi-a advertindo de que a solução poderia demorar anos. Havia muitos passos a dar até que a sua petição chegasse a Roma, onde seria tomada a decisão final.

Anita esperava pacientemente. A segunda gravidez dera-lhe uma grande serenidade. O seu principal objectivo, agora, era educar correctamente os filhos, auxiliar o marido na sua doença, e viver em paz.

A doença de Vicente parecia ter estacionado; continuava tomando uma quantidade enorme de medicamentos, e talvez por isso o seu estado de saúde não se agravara.
Com os meios de diagnóstico de que dispunha, o médico não chegara a nenhuma conclusão acerca da doença, já que os seus sintomas apontavam em várias direcções; mas, pelo menos, conseguira adequar a medicação de modo a que Vicente tivesse uma qualidade de vida aceitável.

Eduarda era já uma menina de onze anos, bastante precoce para a sua idade. Aluna excelente, simpática para toda a gente, nutria uma verdadeira paixão pelo “pai”, que a adorava e lhe fazia todas as vontades.
Anita tinha que intervir, muitas vezes, para refrear os exageros de Vicente, que parecia viver para satisfazer as vontades da “sua” menina.

A verdade é que Anita, talvez por recordar-se da educação severa que ela própria recebera, apesar do muito amor e carinho que dava aos filhos, não deixava de lhes ministrar ensinamentos de carácter digno e responsável.
Tiaguinho, quase a fazer quinze anos, era também um bom aluno.
Desde que fora a Inglaterra, havia dois anos, passar as férias com seu irmão Humberto, sonhava ir estudar para o Reino Unido.
Vicente achava que era uma boa ideia, e Anita, ainda que lhe custasse ter que se separar do filho, compreendia que seria bom para o seu futuro.
Estava, portanto, decidido que Tiaguinho iria para Inglaterra estudar, logo que terminasse o curso liceal.

Nos últimos dias Vicente tornara-se mais queixoso. Feitas novas análises, o médico mostrou-se preocupado com os valores apresentados, que se revelaram piores do que os anteriores.
Resolveu alterar a medicação, mas nem assim Vicente apresentou melhoras. Queixava-se com dores que até aí não o incomodavam.

Anita, que vivia para os filhos, continuando, contudo, a acalentar a esperança de “um dia” poder refazer a sua vida com o padre João, não deixava de se preocupar com o estado de saúde do marido.

Alguns dias depois chegou à Ilha uma notícia, que causou grande alvoroço: a princípio confusa, mas em breve perfeitamente clara - tinha havido, no Continente, uma revolução.
Toda a gente falava no assunto, ainda que a maioria das pessoas nem soubesse exactamente o que isso significava.
As poucas pessoas que tinham televisão não saíam da frente do pequeno ecrã, facilitando, como nunca, a quem quisesse ir assistir ao desenrolar dos acontecimentos.
Todos os outros não desgrudavam os ouvidos dos rádios, para se manterem a par do que se estava passando na capital.
A meio da manhã o padre João apareceu na creche e aconselhou o seu encerramento pelo menos até ao dia seguinte.
Anita, acompanhada pelos filhos, dirigiu-se a casa, indo encontrar Vicente numa grande excitação, sentado em frente ao televisor.
Levantando-se precipitadamente, dirigiu-se a Anita:
- Por favor, minha querida, vai já ao correio perguntar se chegou algum telegrama para mim.
- Claro que vou, Vicente, mas, por favor, acalma-te. O estado de nervos em que estás não te pode fazer nada bem…Além do mais, se tivesse vindo algum telegrama já o teriam vindo entregar, não achas?

FIM DO EPISÓDIO XXX

quinta-feira, 9 de julho de 2009

PRECE SOLITÁRIA

Venho, através desta prece solitária, pedir, do fundo do coração, que o mundo, de forma humanitária, possa encontrar uma espécie de união.

Rogo aos ventos e aos mares, imploro às matas e às florestas…

Peço aos animais e aos ares que o mundo amanheça em festa.

Escuta esta prece de quem te venera, oh Natureza Divina!

Ensina aos homens o valor da vida, oh Natureza Rainha!

Usa a força de teus sagrados raios e chuvas…

Alegra os céus com teus pássaros e cores…

Perfuma o mundo com as tuas flores….oh Natureza infinita!

Mostra ao Homem que a vida é sublime, que cada dia é único, que para ser feliz basta estar vivo.
E que o tempo passa levando com ele sonhos, amores e desarmonias.

Oh Natureza em cores! renova nos Homens a esperança de novos sonhos e a fé de um novo amor.

Oh Natureza! ensina também que a certeza de uma nova vida se faz evidente, presente a cada início de um novo dia.

E que o mundo acorde em paz.


Ângela Bretas
Do livro “Conversando som as Estrelas”


Ângela Bretas



Natural de Santa Catarina, no Brasil, Ângela Bretas desde muito jovem gostou de escrever, especialmente poemas e contos.
Estudante num rigoroso colégio de freiras, recebeu inúmeros certificados por suas composições, estando sempre entre as primeiras alunas do colégio.
Mudou-se para os Estados Unidos em 1985, tendo cursado língua inglesa no Lynn Community College, em Massachussetts.
Actualmente reside na Florida, trabalhando como colunista e cronista em diversos jornais brasileiros e americanos, actuando como free-lance.
Tem vários livros publicados, sendo do livro em verso e em prosa “CONVERSANDO COM AS ESTRELAS” a ‘Prece’ que apresento acima.

domingo, 5 de julho de 2009

ANITA

ANITA – EPISÓDIO XXIX

(Ficção baseada em factos reais)

Lembrava-se de como o seu próprio pai procedera com Tiaguinho, quando ele era bebé – os mesmos gestos, o mesmo sorriso enternecido, o mesmo ar de encantamento…

FIM DO.EPISÓDIO XXVIII
EPISÓDIO XXIX

Por vezes Anita punha – se a pensar se Vicente saberia quem era o pai de Eduarda. Porém nunca conseguiu chegar a uma conclusão. Se Vicente sabia, ou mesmo se desconfiava, nunca o demonstrou, tratando sempre o padre João com respeito e deferência, sem nunca mostrar aborrecimento com as idas do padre a sua casa, para “visitar a sua comadre Anita e dar um beijo na afilhada”.
Até ao fim dos seus dias Vicente jamais revelou o mínimo indício que pudesse levar a supor ser ele conhecedor da verdade.

Eduarda tinha dois meses quando, finalmente, Humberto apareceu na ilha.
Por muito magoado que estivesse não pôde evitar a comoção ao envolver Anita num forte abraço, enquanto uma lágrima traiçoeira assomava aos seus olhos.
Anita sentiu-se no céu, ao sentir os braços de Humberto envolvendo-a com tanto carinho. Não pôde nem tentou reprimir as lágrimas, deixando-as rolar livremente pelo rosto. Nunca um abraço de Humberto a fizera tão feliz!

Vicente observava-os em silêncio, com um sorriso contrafeito; e quando o filho se lhe dirigiu, abraçou-o, comovido, o que muito poucas vezes fizera na sua vida..

Humberto não pôde deixar de pensar que o pai estava mesmo a envelhecer. Aliás já o pensara quando Anita lhe contara a forma como reagira à notícia da sua gravidez.

Depois de passada a comoção dos primeiros momentos, Humberto disse:
- Onde está a princesa? Estou ansioso por conhecê-la.
Anita foi buscar o carrinho de Eduarda, que entretanto acordara. Levantando-a, entregou-a a Humberto, de braços estendidos para a receber.
Estreitando-a de encontro ao peito, novamente sentiu que as lágrimas queriam assomar-lhe aos olhos. Reprimindo-as, apertava Eduarda de encontro a si, enquanto pensava:
- Devias ser minha filha. Eu, sim, eu, é que devia ser o teu pai.

De olhos fechados tentava transportar para a bebé todo o amor que sentia por Anita.

Durante a semana que passou na ilha Anita pô-lo ao corrente do estado de saúde do pai. Nada lhe contara por carta, para não o afligir, mas agora sentia que o devia pôr a par de tudo.
Vicente estava doente, não se sabendo exactamente qual a sua doença.
Ia fazendo uma vida mais ou menos normal à custa de muita medicação, que o mantinha de pé, e também devido à vigilância de Anita, que não o deixava cometer excessos.
Nunca o impedia de sair, pois sabia que o marido precisava ausentar-se de casa, não só por causa dos seus negócios, mas também para ir visitar a amante.
Mas recomendava-lhe sempre que levasse os medicamentos e não se esquecesse de os tomar.
Algumas vezes Vicente dormia fora; quando regressava, Anita cuidava para que nada lhe faltasse, ajeitando-lhe as almofadas no sofá para onde ele se dirigia logo que entrava em casa.

Humberto observava tudo em silêncio, sentindo uma estranha gratidão pela forma como Anita estava tratando o seu pai.
Pensava, consternado, que o pai envelhecera muito nos quase dois anos em que o não vira. E perguntava a si mesmo quanto tempo lhe restaria de vida.
- Será que volto a vê-lo vivo? – pensava, com uma certa amargura.
Não lembrava, ou, pelo menos, tentava esquecer, todos os agravos que o pai lhe infligira ao longo dos anos. Sentia que o momento era de perdão, de esquecer possíveis rancores escondidos no fundo do seu sentir.

Rapidamente se esgotaram os dias que destinara para passar na ilha.
Sentia uma dor muito funda por ter de, mais uma vez, separar-se de Anita; mas ao mesmo tempo via a sua partida com um certo alívio.
Afastando-se era mais fácil não pensar tanto no seu amor por Anita; não vendo Eduarda não era forçado a lembrar-se que ela era fruto do amor de Anita por outro homem.
Foi, pois, com um misto de vários sentimentos que regressou a Inglaterra, onde acabou por começar a trabalhar no local onde fizera o seu estágio, e onde se conservou largos anos sem regressar à ilha.
Mantinha com Anita correspondência frequente, e assim se inteirava de tudo o que se ia passando.

FIM DO EPISÓDIO XXIX

quinta-feira, 2 de julho de 2009

PROVOCAÇÕES

PROVOCAÇÕES

Luís Fernando Veríssimo

A primeira provocação ele aguentou calado.
Na verdade gritou e esperneou.
Mas todos os bebés fazem assim, mesmo os que nascem em maternidade, ajudados por especialistas. E não como ele, numa toca, aparado só pelo chão.
A segunda provocação foi a alimentação que lhe deram, depois do leite da mãe. Uma porcaria! Não reclamou porque não era disso.
Outra provocação foi perder a metade dos seus dez irmãos, por doença e falta de atendimento.
Não gostou nada daquilo. Mas ficou firme. Era de boa paz.
Foram lhe provocando por toda a vida.
Não pôde ir à escola porque tinha de ajudar na roça.
Tudo bem. Gostava da roça.
Mas aí lhe tiraram a roça.
Na cidade, para onde teve de ir com a família, era provocação de tudo que era lado.
Resistiu a todas.
Morar em barraco.
Depois perder o barraco, que estava onde não podia estar.
Ir para um barraco pior. Ficou firme.
Queria um emprego, só conseguiu um subemprego.
Queria casar, conseguiu uma submulher.
Tiveram subfilhos. Subnutridos.
Para conseguir ajuda, só entrando em fila.
E a ajuda não ajudava.
Estavam lhe provocando.
Gostava da roça. O negócio dele era a roça. Queria voltar p’ra roça.
Ouvira falar de uma tal reforma agrária. Não sabia bem o que era. Parece que a ideia era lhe dar uma terrinha. Se não era outra provocação, era uma boa.
Terra era o que não faltava. Passou anos ouvindo falar em reforma agrária. Em voltar à terra. Em ter a terra que nunca tivera.
Amanhã. No próximo ano. No próximo governo.
Concluiu que era provocação. Mais uma.
Finalmente ouviu dizer que desta vez a reforma agrária vinha mesmo. Para valer. Garantida.
Animou-se. Mobilizou-se. Pegou a enxada e foi brigar pelo que pudesse conseguir.
Estava disposto a aceitar qualquer coisa. Só não estava mais disposto a aceitar provocação.
Aí ouviu que a reforma agrária não era bem assim.
Talvez amanhã. Talvez no próximo ano…
Então protestou.
Na décima milésima provocação, reagiu.
E ouviu, espantado, as pessoas dizerem, horrorizadas com ele:
- Violência, não!