domingo, 10 de maio de 2009

AS MULHERES DA MINHA GERAÇÃO

Hoje têm quarenta e muitos anos, inclusive cinqüenta e tal, e são belas, muito belas, porém também serenas, compreensivas, sensatas e sobretudo diabòlicamente sedutoras, isto, apesar dos seus incipientes pés-de-galinha ou desta afetuosa celulite que capitaneia as suas coxas, mas que as fazem tão humanas, tão reais.
Formosamente reais.
Quase todas, hoje, estão casadas ou divorciadas, ou divorciadas e casadas, com a intenção de não se equivocar no segundo intento, que às vezes é um modo de acercar-se do terceiro e do quarto intento.
Que importa?

Outras, ainda que poucas, mantêm um pertinaz celibatarismo, protegendo-o como uma fortaleza sitiada que, de qualquer modo, de vez em quando, abre as suas portas a algum visitante.

Que belas são, por Deus, as mulheres da minha geração!

Nascidas sob a era de Aquário, com influência da música dos Beatles, de Bob Dylan, de Lou Reed, do melhor cinema de Kubrick e do início do boom latino-americano, são seres excepcionais.

Herdeiras da revolução sexual da década de 60 e das correntes feministas, elas souberam combinar liberdade com coqueteria, emancipação com paixão, reivindicação com sedução.
Jamais viram no homem um inimigo, apesar de lhe cantarem algumas verdades, pois compreenderam que a sua emancipação era algo mais do que pôr o homem a lavar a louça .

São maravilhosas e têm estilo, mesmo quando nos fazem sofrer, quando nos enganam ou nos deixam.

Usaram saias indianas aos 18 anos, enfeitaram-se com colares andinos,

cobriram-se com suéteres de lã e perderam a sua parecença com Maria, a Virgem, numa noite de sexta-feira ou de sábado, depois de dançar El Raton com algum amigo que lhes falou de Kafka, de Neruda e do cinema de Bergman.

Falaram com paixão de política e quiseram mudar o mundo, beberam rum cubano e aprenderam de cor as canções de Sílvio Rodriguez e de Pablo Milanez, conhecerem os sítios arqueológicos, foram com seus namorados às praias, dormindo em barracas e deixando-se picar pelos mosquitos, porque adoravam a liberdade e, sobretudo, juraram amar-nos por toda a vida, algo que sem dúvida fizeram e que hoje continuam a fazer na sua formosa e sedutora madureza.

No fundo das suas mochilas traziam pacotes de rouge, livros de Simone de Beauvoir e fitas de Victor Jara, e, ao deixar-nos, quando não havia mais remédio senão deixar-nos, dedicavam-nos aquela canção, que é ao mesmo tempo um clássico do jornalismo e do despeito, que se chama "Teu amor é um jornal de ontem".

Souberam ser, apesar de sua beleza, rainhas bem educadas, pouco caprichosas ou egoístas.
Deusas com sangue humano.

O tipo de mulher que, quando lhe abrem a porta do carro para que suba, se inclina sobre o assento e, por sua vez, abre a do seu companheiro por dentro.

A que recebe um amigo que sofre às quatro da manhã, ainda que seja seu ex-noivo, porque são maravilhosas e têm estilo, ainda que nos façam sofrer, quando nos enganam, ou nos deixam, pois o seu sangue não é suficientemente gelado para não nos escutar nessa salvadora e última noite, na qual estão dispostas a servir-nos o oitavo uísque e a colocar, pela sexta vez, aquela melodia de Santana.

Por isso, para os que nascemos entre as décadas de 40 e 60, o dia da mulher é, na verdade, todos os dias do ano, cada um dos dias com suas noites e seus manheceres, que são mais belos, como diz o bolero, quando está você.

Que belas são, por Deus, as mulheres da minha geração!


(Santiago Gamboa-escritor Colombiano)



Santiago Gamboa

O escritor colombiano Santiago Gamboa nasceu em Bogotá, em 1965.
Estudou literatura na “Universidade Javeriana de Bogotá” e licenciou-se na “Complutense de Madrid”.
Publicou o seu primeiro livro em 1995.
Com um livro adaptado ao cinema, é considerado um dos mais notáveis autores da sua geração.
“A Síndrome de Ulisses” é um dos quatro livros de sua autoria traduzidos para português, e publicados no nosso país.

28 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Aqui está um homem admirável. Porque nunca conheci nenhum que descrevesse assim a mulher, pese as belas descrições de Vinicius e Drummond.
Um abraço e bom fim de semana

Desnuda disse...

Mariazita!

Que espetáculo este texto! Alias venho aprendendo muito aqui e te agradeço felizzzzzzz! Saio daqui toda faceira rsrs. Levantou moral! Agora amiga...Psiu...para que ninguém nos ouça....Sou bem casada, mas caso com este escritor se o conheço! rsrsrs

Beijos e lindo domingo!

RENATA CORDEIRO disse...

Mariazita:
Lendo o texto me identifiquei com tudo, exceto com uma figura desconhecida cujo nome não me lembro. Afinal, estou quase com 50 anos. Não nasci entre 40 e 60, mas bem no começo de 60, por isso nada me soou estranho. Gostei muito. ótimo post, como sempre.
Querida:
Hoje publiquei no meu blog Galeria, em que faço a análise de um filme muito bom. De resto, há os meus selos, um poema e rosas, muitas rosas para homens e mulheres com ou sem filhos.
Resolvi publicar hoje, pois fui achincalhada num e-mail, ao qual não respondi, de uma menina que deve ter a metade dos meus anos. Não deveria, mas fiquei abalada pelo modo como me tratou. Quanto resolvi fazer o meu primeiro Blog, que é o Galeria, achei que só faria amizades, e não compreendo a agressividade com a qual por vezes me deparo. Mas vou seguindo, afinal, é uma menina.
Um beijo,
Renata

Unknown disse...

Parabéns ao poeta e escritor!
Parabéns a minha amiga querida Mariazita.
E parabéns a nós Mães por nosso dia.
E a todas as Mães do Planeta.

Abraços e carinhos da Jady

PS: Amiga, volto com mais tempo pra falar sobre um fantasminha bem humorado que anda rondando nossos bloguitos rss.
Deixei lá um comentário...humm deve estar nalgum lugar saltitante e esquecido, se não apagaste, ele volta he he.
Muita graça isso.

Beijitos alegres pra essa amiga que eu gosto de gostar.

Tua amiga Jady

Daniel Costa disse...

Mariazita

Está excepcional o texto de Santiago Gamboa. Não sei se é por ter passado os cinquenta, como sempre gostei de mulheres mais velhas, acho que a mulher de 50, fica maravilhosa.
À libertação da mulher, correspondeu a de próprio homem.
Ambos hoje é como se tivessem direito a, pelo menos três experiências matrimoniais. Disse matrimoniais!...
Noutro tempo, ainda no meu, era assim: sofrer e depois: "até que a morte nos separe"!
Beijinhos
Daniel

Meg disse...

Mariazita,
Em falta contigo, não por desinteresse mas, minha amiga, porque de novo estou sem tempo, vim , antes de ir trabalhar... sim, aos fins de semana também...

E adorei este texto, afinal eu sou dessa geração, passei por todas as transformações sociais que ela atravessou e hoje pertenço ao grupo das que, depois de cumprida a sua missão de mulher e mãe, dei comigo workaholic.
Não conhecia o autor mas acho o texto lindíssimo e uma bela homenagem às mulheres. Irei tentar saber mais sobre ele.

Mariazita, não vou poder ser tão assídua nos comentários, mas virei sempre por aqui... e não me esqueci do selo...
Se não conseguir antes, talvez na próxima 4ª feira tenha tempo para o publicar.

Um bom domingo para ti.

Um beijo

Zé do Cão disse...

Gostei, e a ti Mariazita, envio-te um beijo repenicado. Mereces.
Eu sempre gostei delas em todas as épocas, com fita na testa, mini-saia, vestidos à indiana, ou mesmo de calças à "camboyada".
Considero-as todas mesmo todas umas fores neste jardim terreno.
Eu sei bem por experiência, que algumas dessas flores têm cada espinho e que outras são feias mesmo feias e deviam era estar plantadas atrás das barracas dos "canitos" em vez de fazer uma má apresentação na estufa fria.

Confesso, confesso, gosto delas, como são....

Bj

Francisco Sobreira disse...

Querida Maria,
Fui lendo o texto como se fosse da sua autoria, no final descubro que é de um escritor colombiano. Seu, ou dele, gostei do texto, uma forma diferente de homenagear a mulher. E aproveito para lhe desejar um feliz Dia das Mães. Agora me responda: é você que está na foto? Gostei também muito da foto. Um beijo especial.

com senso disse...

Um belo texto.
De facto as mulheres da minha geração tiveram ideais e lutaram por eles.
Não se limitaram a crescer como seres humanos, deram a mão aos seus companheiros e souberam encontrar um caminho que rompia com tradições muito antigas e complexas.
Lutaram para ser independentes e respeitadas e fizeram da beleza algo de mais intenso e profundo.
As mulheres da minha geração não são apenas lindas de corpo, transportam também muita beleza na alma e ajudaram-nos a nós homens a ser seres humanos melhores.
Tenho muito orgulho em ter pertencido a uma geração que tanto ajudou a mudar o mundo!

o que me vier à real gana disse...

Olá Mariazita!

Há quanto temp+o!!!

Bem, ao que importa!: um canto de excepção às mulheres da "sua" geração!
Nunca li nada do escritor, tenciono ler.
Que bem conhece as mulheres da sua geração!... As algumas que tb conheço, nascidas naqueles tempos, são em tudo assim... mesmo as menos urbanas.

Yolanda
Yolanda
eternamente, Yolanda...
Te amo, te amo
eternamente, te amo...

Por muito que admire Ney Mato Grosso, noto mais "pauta" no sr. Milanez. Dedico-ta!

Bjs

Vicktor Reis disse...

Querida Mariazita
Senti-me a percorrer todos essas veredas da vida lado a lado com uma dessas tão belas mulheres. Beleza de corpo inteiro, fisíco e do sentir.
Que maravilhosa partilha nos ofereceste, querida Mariazita.
Beijinhos muitos.

João Paulo Cardoso disse...

Estou atrás de um estilo literário fluido como o deste escritor colombiano, ao lado do Santiago Gamboa na exaltação dos valores femininos e na linha da frente no que toca a elogiar a beleza das mulheres.
De todas as gerações.

Beijos.

Oliver Pickwick disse...

Um perfil meticuloso, bem-humorado e verdadeiro dessas mulheres. Certos "modelos", Mariazita, acho que são para sempre.
Um beijo!

Darwin disse...

Este texto de Santiago Gamboa presta a devida homenagem às mulheres da minha geração, que ousaram afirmar-se numa época em que não era fácil assumirem-se como tal.
"Elas ousaram escrever um livro de ruptura com um tempo histórico de clausura para as mulheres e para o país.
Elas afirmaram-se como feministas apesar dos riscos.
Elas falaram da dominação masculina, do papel da educação, da emancipação da mulher e da igualdade de oportunidades.
Elas trouxeram para o debate público a contracepção e falaram dos tabus sexuais
Elas procuraram tornar visível a violência sobre as mulheres".

Os anos 70 foram para as mulheres da minha geração um tempo de intenso protesto e activismo e de "luta contra a iletracia, a ignorância e a cultura misógina"
Quarenta anos passaram e há uma certa nostalgia desses tempos. Cabe-nos a nós explicar aos jovens de hoje, o que foram esses tempos, onde Joan Baez, Bob Dylan, Jim Morrison, B.B. King e Jethro Tull, José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Mário Branco, o Woodstock e a cultura hippie da paz e do amor, nascida em San Francisco uns anos atrás, que estava a espalhar-se pela Europa, nos marcaram os dias.

Son Unha Xoaniña disse...

Moito me gustou este texto, é unha descripción ben acertada das mulleres desa xeneración, as nacidas nas décadas dos 40 aos 60, seino porque me atopo entre elas, xa que nací no 61 e polo tanto nada do que descrebe Gamboa me é descoñecido.
Saúdos.

In Cucina disse...

Querida Mariazita, sou dessa geração felizmente.

Já conhecia esse magnífico texto do colombiano Santiago Gamboa!

Como sempre tens muito gosto ao escolher os seus posts! Parabéns.

Um grande e carinhoso beijo bem brasileiro, Teresa

Cândida Ribeiro disse...

Mariazita Querida,

Que belo texto e bela escolha.
Adorei...uma forma linda de Santiago Gamboa homenagear as mulheres da nossa geração.
E que saudades das saias indianas e dos colares!
Beijinhos de luz e amor
Tua manita

Mª João C.Martins disse...

Que posso eu dizer mais, depois de tão detalhada e justa descrição desta geração de mulheres? Eu estarei lá, pelo menos com um pézinho e por isso sei muito bem do que fala Santiago Gamboa.
Conheço muitas dessas mulheres, cresci com algumas delas, e com todas aprendi a ser mulher, também.
Mulheres de grandes lutas e nobres virtudes. Mulheres de rara beleza cujo brilho não ofusca nínguém, antes engrandece e fortifica quem o recebe!
Adorei o texto, escrito por um homem de extraordinária sensíbilidade.

Um beijinho grande de agradecimento por todos os momentos prazerosos e de aprendizagem que proporcionas.

Um abraço apertado pela amizade. Sempre!

Moacy Cirne disse...

Um texto perfeito, o de Santiago Gamboa.
As mulheres de 50 anos também são maravilhosas... docemente maravilhosas.

Um abraço.

Mariazita disse...

Meu caro Darwin
Foi longo e difícil o caminho percorrido por essas mulheres que tanto lutaram pelos seus direitos e contra as injustiças de que eram vítimas.
A juventude de hoje não sabe o que foi para a mulher não poder votar, por exemplo; não poder viajar sozinha, se casada, sem autorização expressa do marido; e tantas, tantas outras coisas, de que pouco se fala, e que hoje custa a crer que alguma vez tenham existido.
É bom que, quem o sabe, lhes transmita esse conhecimento.
Gostei muito do seu comentário. Obrigada.

Um beijinho
Mariazita

Alvaro Oliveira disse...

Olá Mariazita

Adorei ler este texto
muito interessante.

Parabéns

Abraços

Alvaro Oliveira

MENSAGENS AO VENTO disse...

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Concordo com o Santiago!
As mulheres dessa geração( a que eu pertenço), são interessantes, pensantes e ainda...Românticas!


Beijos de luz e o meu carinho...


Zélia ( MUndo Azul)

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Rafeiro Perfumado disse...

Toda a mulher é adorável, independentemente da idade. Claro que há honrosas excepções, mas prefiro não falar delas, depois ainda tinha pesadelos à noite!


Beijo!

a d´almeida nunes disse...

Apetecia-me dizer, muito simples e cândidammente: faço minhas as palavras do autor deste fantástico texto.
Concordo plenamente.
Ai, as mulheres dos anos 60! Ainda hoje as vejo e aprecio com o mesmo espírito com que me apaixonei e fiz versos como "quando de entre as nuvens/a Lua aparece no firmamento/acolitada por mil silfos volúveis/com graça passeias no meu pensamento. E saíu um soneto...Que eu entreguei em envelope à minha namorada. A primeira reacção. Não acreditou que eu o tivesse escrito. Não sei se alguma vez a consegui convencer. O namoro não foi muito longo. Tive que vir para Leiria e do Lis surgiu uma outra sereia, pela qual me enfeiticei perdidamente. Até hoje. Estávamos em 1968.
Beijinho, Mariazita
António

stériuéré disse...

E um grande viva às mulheres dos anos 60... heheh é que a minha mãe nasceu no ano 1960 logo é das mulheres mais bonitas, inteligentes , divertidas e amiga que eu já conheci.
Adorei o tema! Adoro este cantinho da Mariazita, só tenho é andado meia desorientada e nem tenho visitado os amigos, ( que mereciam esta minha parte fraca que eu fiz)
Mas , amiga não me esqueci não!!! Nem esqueço... vocês foram as minhas mãezinhas do blog ( Mariazita e Ana Martins)

ai ai se não fossem vocês, já tinha ido embora há muito tempo!
Beijões amiga , aqui da sté!

Unknown disse...

Obrigada minha amiga querida!

É minha mãezinha sim que desencarnou ha 3 anos.

Tentei trazudir em versos o seu ultimo olhar a sua filha que tanto trabalho lhe deu e tantas lágrimas lhe fez rolar.

Abraços meus.
Tua amiga Jady

Prof. Israel Lima disse...

O blog é simplesmente lindo!!!

Parabéns!

Táxi Pluvioso disse...

É pena o espelho contrariar o texto, mas enfim é preciso manter o engano ou o peso da vida se torna insuportável.