quinta-feira, 9 de abril de 2009

ANITA

ANITA – EPISÓDIO XVIII

(Ficção baseada em factos reais)

Sem que nenhum deles se apercebesse estava surgindo uma grande cumplicidade entre ambos, e, a cada dia que passava, tornavam-se mais agradáveis os momentos que passavam juntos, os quais, inconscientemente, tentavam prolongar o mais possível.

FIM DO.EPISÓDIO XVII

EPISÓDIO XVIII

Anita continuava a manter a mesma correspondência de sempre com Humberto, a quem relatava tudo o que ia acontecendo.
O enteado respondia-lhe com a regularidade habitual, manifestando o seu contentamento por ver como Anita se sentia feliz e quase realizada.
Notava, contudo, nas entrelinhas, que havia momentos em que o espinho chamado Arnaldo ainda a magoava.

De facto, ultimamente, nas suas cartas, Anita aludia muitas vezes, embora de forma velada, ao que fora o grande amor da sua vida.

Isto devia-se ao facto de, nos últimos tempos, especialmente depois das conversas com o pároco, ela se lembrar de Arnaldo com mais frequência.
Quando chegou o final do ano escolar Humberto regressou à sua ilha, e, como de todas as vezes, ele e Anita uniram-se num forte abraço, cheio de ternura.

Como na época de verão havia menos crianças na creche porque as mães gozavam as suas licenças e ficavam com os filhos em casa, Anita e as duas companheiras dividiam os dias de forma a poderem, também elas, terem os seus dias de férias.

Não recebendo qualquer remuneração pelo seu trabalho, Anita não queria, contudo, gozar de qualquer privilégio, e assim, o seu período de férias era igual ao das suas duas companheiras.

Como acontecera no ano anterior, quando Humberto viera passar as suas férias escolares à ilha, também agora davam belos passeios, sempre na companhia de Tiaguinho.
Anita sentia-se verdadeiramente feliz, como não o era desde há muitos anos.

Humberto achou-a diferente, mais madura, mais segura de si, ao mesmo tempo que sentia que Anita, por vezes, se alheava enquanto conversavam. Ao fazer-lho notar, apercebeu-se de um ligeiro rubor na sua face, e um certo constrangimento ao responder:

- Não sei porque dizes isso…Eu ouço-te com a mesma atenção de sempre.
O que notas é talvez um certo cansaço. Bem sabes que eu não estava habituada a trabalhar ao ritmo a que trabalho agora. E ao fim do ano escolar todos os professores, e também os alunos, se sentem cansados. Não se passa o mesmo contigo?

Humberto, olhando-a muito sério, retorquiu:

- Anita, sabes que a minha amizade por ti não me deixa mentir-te. O que noto em ti não tem nada a ver com cansaço. Tu estás diferente;
sinto-te distante, como se alguma coisa se nos tivesse entreposto, causando-te um certo afastamento…
Por favor, confia em mim, como sempre fizeste. Diz-me o que se está passando.

- Mas o que queres que te diga? A sério, não se passa nada de especial. Sinto-me muito bem, realizada, agora que estou ajudando a construir um futuro melhor para aquelas crianças e as suas mães…
Acredita que não tenho nada, apenas me sinto um pouco cansada.
Eu não me tinha apercebido, mas estava mesmo a precisar de férias.

Humberto não insistiu, mas todo o tempo que esteve na ilha não serviu para dissipar a preocupação que manifestara à madrasta.
E regressou a Inglaterra convicto de que Anita estava a esconder-lhe algo.

Quando Anita retornou ao trabalho sentiu que, à medida que se aproximava da creche, o seu coração batia a um ritmo cada vez mais acelerado, e pensou consigo mesma:
- Mas que disparate. Pareço uma menina de 15 anos, que vai encontrar-se com o namoradinho. Tem juízo, Anita! És uma mulher com vinte e seis anos, casada, com um filho… porquê todo esse alvoroço? Vais apenas retomar o teu trabalho, nada mais.

Mas de nada valeu a auto admoestação. Com Tiaguinho pela mão, sentia-se a tremer interiormente, com as pernas a fraquejar. Resolveu sentar-se uns momentos no banco do jardim que havia perto da creche.
Foi Tiaguinho que a obrigou a levantar-se, puxando-a pela mão, excitado com a ideia de ir encontrar-se com os seus coleguinhas.
Ao aproximar-se viu que o padre João já a aguardava, junto à porta.

Sem pensar, encaminharam-se ambos para um abraço, que interromperam, contrafeitos, ao aperceberem-se de que não seria um procedimento muito correcto.
Ficaram ambos sem saber o que dizer, até que Tiaguinho salvou a situação, chamando a mãe para entrarem.

Anita passou todo o dia ansiosa e preocupada com o que acontecera nessa manhã.
Os seus sentimentos estavam num verdadeiro torvelinho; sentia-se incapaz de entender o se passava consigo.
Pensava, angustiada:
- Porquê me perturbou tanto a aproximação do padre João?
- Porquê não demos naturalmente um abraço como dois bons amigos que estiveram uma temporada sem se ver?
- Porquê nos afastamos precipitadamente, como se o contacto mútuo pudesse queimar-nos?
- Porquê? Porquê? Porquê?

FIM DO EPISÓDIO XVIII


18 comentários:

Anónimo disse...

Má,
ai ai o pobre da Anita estava crente que ela fosse se apaixonar pelo enteado e não pelo padre ...
Jesus Maria José, o que será dessa história, rs...
Como sempre, mal posso esperar para ler o próximo capítulo, novidades, né?
Um beijo imenso em seu coração minha linda,
com carinho, sua fã,
Gi

Mª João C.Martins disse...

Simplesmente, porque Anita está de novo apaixonada !

A vida dá tantas voltas, não é Mariazita?

Um beijinho

RENATA CORDEIRO disse...

Paixão por padre é ruim, heim?
A Anita não tem mesmo sorte. Mas sempre o que faz é às avessas. Casa-se com um homem que não ama. Perde a oportunidade de amar um que a ama, o enteado, e depois se apaixona pelo padre!
Um perfeito enrosco, cuja continuação aguardo ansiosa.
Mariazita,
recupero-me bem em casa e espero que me visite antes da Páscoa.
Um beijo,
Renata

Pelos caminhos da vida. disse...

Que a alegria da Páscoa
invada o seu coração
e o daqueles a quem ama,
irradiando luz para iluminar
e fazer brilhar o mundo em
que vivemos, enchendo-o de

AMOR SAÚDE PAZ

Feliz Páscoa.

beijooo.

Peter Pan disse...

Simpática Amiga:
Escreve deliciosamnte, com uma escrita cristalina e fluída ao sabor da pena.
Porque não um final previsível e sensível ao sentimento, mesmo tratando-se de um religioso/Homem.
Também sentem. Também têm pansamentos valiosos. Também têm Alma. São cultos e inteligentes.
Aguardo com interesse e ansiedade o desfecho final...
Um texto repleto de "suspense".
Próprio dos grandes escritores. Lindo porque é linda, sabia?
Uma descoberta da nossa entidade enquanto seres pensantes.
Um texto perfeito numa pessoa perfeita.
Fantástico. Adorei.
Bem-Haja, amiga de sonho.
Beijinhos amigos com todo o meu respeito e estima.
Sempre a admirá-la

P.P./Pena

Feliz Páscoa junto dos seus, lhe desejo do fundo da Alma, amiguinha genial.

Sonia Schmorantz disse...

Feliz Páscoa!
Que o renascer em Cristo, renove tua fé e esperança na vida, para que a conserve sempre feliz.
beijos

Paula Raposo disse...

As histórias de amor comovem-me sempre. Contas tão bem...muitos beijos, Mariazita.

Mª João C.Martins disse...

Mariazita

Voltei para te dizer que hoje também conto uma história e a minha intuição igualmente me diz que irás gostar.
Passa por lá, quando puderes...

Um beijinho
Feliz Páscoa

a d´almeida nunes disse...

Mariazita

Não sou muito de ler Romances, tenho-me atido a temas regionais, curiosidades, Natureza, alguma Filosofia, sei lá que mais. Gosto de coleccionar livros antigos, particularmente os que me digam algo, autores que me estejam ligados de alguma forma, que são da minha terra natal, da minha freguesia de residência, de poesia (agora, um tanto tardiamente talvez, dou comigo a gostar cada vez mais de poesia, a tentar escrever também).
Que passes uma Páscoa muito feliz.
Beijinho
António

Francisco Sobreira disse...

Também, querida Maria, pergunto eu: por que, por que, por que? Com tantos episódios já lidos, não me recordo se esse pároco é novo, ou velho. Será que a cumplicidade dos dois irá além do trabalho na creche? Será? Perguntas, perguntas, perguntas, que, pelo que você já me revelou, só serão respondidas, quando Anita já estiver na menopausa. Haja ansiedade. Um beijo carinhoso, menina malvada.

Sofá Amarelo disse...

História deliciosa que em nada fica a dever ao que se muito se escreve e vê na TV por aí - pelo contrário... Parabéns!

Uma excelente Páscoa!!! Muitos beijinhos!!!

Unknown disse...

Querida amiga,
parece que o amor nasceu entre Anita e o padre, e eu que tal como Giselle pensava que iria ser pelo enteado. Parece-me que assim o drama é bem mais complicado.

Aguardo ansiosamente pelo próximo capitulo.

Agradeço e retribuo votos de uma Santa Páscoa, e peço a Deus que seja o princípio do renascer da Paz no Mundo.

Beijinhos,
Ana Martins

Daniel Costa disse...

Mariazita

Pois é!... O Vicente que se cuide, porque acaba mesmo por ficar a ver ir Anita.
Estas tivergicações, são sinónimo de brisa novas, que se vão aproximando.
Não estamos na idade média, para recorrer a cinto de castidade.
Desejos de Feliz Páscoa!...
Beijinhos,
Daniel

com senso disse...

Boa tarde Mariazita

As partidas que o coração prega! Mas a vida é isso mesmo e no que diz respeito ao amor não vale a pena tentarmos perceber porque acontece... Acontece!
Cada vez mais interessante este magnifico conto, que se vai tornando num belo espelho da vida!
Votos de uma Páscoa muito Feliz, para si e todos os seus, com muita, muita saúde.
Um beijinho com amizade!

Desnuda disse...

Nossa, Mariazita! Anita está apaixonada! Ah, tadinha...Quanta confusão pressinto na cabecinha dela e dor no coração...Aff Maria!


Beijos

Táxi Pluvioso disse...

Sempre foi assim na terra dos lusos, o padre sacava-as todas... e ainda continua apesar da concorrência dos jogadores de futebol. Os padres são a única actividade intelectual no país. Um português não dá um passo sem o padre.

Fenix disse...

Pois é..., o amor não escolhe destinatário..., simplesmente acontece..., e os padres também são homens.

Estou a gostar. Fico à espera de mais.

Beijinhos
São

Elvira Carvalho disse...

Meu Deus pobre Anita depois de um casamento forçado com um homem que não amava, logo se foi apaixonar pelo padre?
Um abraço