quinta-feira, 30 de abril de 2009

ANITA

ANITA – EPISÓDIO XXI

(Ficção baseada em factos reais)

Anita olhou atentamente para a mãe, pensando:
- A minha mãe é tão inteligente, tão conhecedora da vida, e quando mais precisei dela, quando estava apaixonada por Arnaldo, falhou-me.

FIM DO EPISÓDIO XX



EPISÓDIO XXI

E de repente apercebeu-se de que tinha pensado na sua paixão por Arnaldo…como uma coisa passada.
Sentiu-se completamente confusa quanto aos seus sentimentos.
Disse:

- A mãe deve ter razão. Afinal, tem mais experiência do que eu. Já passou por isso, quando eu tinha a idade do Tiaguinho.
Vou ter que me habituar à ideia de que ele está a crescer, e a não precisar tanto de mim…
Mas de qualquer maneira hoje ele não dorme cá. Nem sequer trouxe pijama…
- Não seja por isso. Há cá roupas dele…
- Deixe, mãe. É melhor assim. Outro dia ele vem já preparado para ficar – respondeu Anita, já com uma certa mágoa na voz.

Decorreram alguns dias, até que chegou carta de Humberto, respondendo àquela onde Anita relatara o “quase abraço” do padre João.
Com enorme prudência o enteado aconselhava-a a ter muito cuidado para evitar situações que pudessem tornar-se comprometedoras, o que acabaria por ser desagradável, tanto para ela própria como para o pároco.
E terminava a sua longa missiva, dizendo:

- Por favor, Anita, promete-me que vais ser muito prudente quanto a este assunto. Ainda faltam uns meses para eu regressar e podermos falar de viva voz. Portanto, tens que me prometer o que te estou a pedir. Conta-me tudo o que for acontecendo. Sabes como vivo preocupado contigo, não sabes?
Anita, não te esqueças que só te tenho a ti e ao Tiaguinho neste mundo. Sim, porque para o meu pai…basta-lhe pagar-me os estudos e a estadia aqui para sentir a consciência tranquila.
Anita, confio em ti.

Anita sentiu um aperto na garganta e uma enorme vontade de chorar ao ler a carta do enteado.

Como se apegara a Humberto, a ponto de sentir tanta dificuldade em relatar-lhe o que entretanto sucedera!
Não podia esconder-lhe nada. Isso não! Mas sabia que, ao contar-lhe que beijara o padre, e que isso a fizera muito feliz, ia fazer com que Humberto ficasse ainda mais preocupado, e não queria que isso acontecesse…
Mas como poderia evitá-lo? Se Humberto estivesse ali seria tudo muito mais fácil. Não teria nenhuma dificuldade em contar-lhe, e ele, vendo-a tão feliz, iria deixar de se preocupar e ficar muito contente por ela.

Enchendo-se de coragem, escreveu ao enteado relatando-lhe tudo, com o maior número de pormenores de que se lembrava.
E rematava:

- Não quero que fiques preocupado comigo, meu querido enteado. Isto pode parecer-te uma loucura, e o mais certo é até ser, mas não quero, por agora, pensar em nada.
Desde há muito tempo que não me sentia assim.
Deixa-me viver a minha loucura. Deixa-me não ser ajuizada nem convencional uma vez na vida.
Sempre obedeci a tudo e a todos, calcando os meus sentimentos bem fundo. Agora vou viver este sonho.
Sim, eu sei que é um sonho, apenas, que não passa disso. Mas sonhar faz parte da vida, e os meus sonhos há muito que me tinham abandonado. Cortaram-mos, impediram-me de os realizar. Este também não vai realizar-se, eu sei, mas enquanto durar vou ser feliz.
Deixa-me ser feliz, meu querido Humberto, e sê tu também feliz, por mim.

Os dias decorriam calmamente, Anita indo para a creche de manhã, com Tiaguinho pela mão, e regressando à tardinha para casa.

Como sempre, sem alteração, o padre ia todas as tardes receber de Anita o relatório do dia, trocando com ela, a medo, olhares carregados de amor, sentindo um frémito de desejo quando, por acaso, ou propositadamente, as suas mãos se tocavam ao entregar os papeis.

E, também como sempre, desde há muito tempo, Anita encontrava, ao chegar a casa, apenas as empregadas.
Vicente agora raramente aparecia antes de jantar, e, quando o fazia, era por breves momentos, para ir buscar alguma coisa que lhe fazia falta.

Dava um beijo de fugida em Anita e no filho, e nem perdia tempo com qualquer explicação.

Saía novamente, para aparecer no dia seguinte, muitas vezes já depois de Anita ter saído de casa. Passavam-se dias que mal trocavam meia dúzia de palavras.
Anita não se sentia nada incomodada com isso, pelo contrário, até agradecia que assim fosse, dado que não tinha qualquer interesse em conversar com o marido.

Alguns dias mais tarde, e antes que chegasse carta de Humberto, sucedeu o que seria de esperar.


FIM DO EPISÓDIO XXI

sábado, 25 de abril de 2009

25 DE ABRIL – DIA DA LIBERDADE

25 DE ABRIL – DIA DA LIBERDADE


A VOLTA DOS MOSQUETEIROS


(Agora, cumprindo a História, com o 4º Mosqueteiro, D'Artagnan)

Eugénio de Sá Carmo Vasconcelos Joaquim Marques Humberto Neto

Ah! PORTUGAL, PORTUGAL
Eugénio de Sá (Athos)

Ah! Portugal, Portugal,
como podes continuar
a eleger e aturar
quem te afoga em tanto mal?

Quisera eu conhecer
que a gente do meu país
vivia alegre, feliz
sem fome, sem padecer.

Que os velhos fossem achados
figuras a resguardar
protegidos e cuidados;

E que olhariam o mar
com sorrisos estampados
de quem o voltou a amar.


AH! PORTUGAL, PORTUGAL
Carmo Vasconcelos (Aramis)

Ah! Portugal, Portugal
quisera eu ver também
que acabasse o arraial
dos inflados zés-ninguém

Falsos donos da verdade
verdade que lhes convém
falam com tanta vaidade
mas não convencem, porém

Gastos já estão seus discursos
duma melhor progressão
não passam d'inchados ursos
com penas vãs de pavão

E as crianças sem escolas
aquecidas no Inverno
carregam gelo e sacolas
pra aprenderem num inferno

E os velhos que foram braços
construtivos no passado
recebem trocos escassos
em pensões de mel-coado

Haja fé e paciência
futebol e eurovisão
pra calar a incongruência
que envergonha esta Nação

Somos de costumes brandos
reclamamos em gemidos
urge que os surdos nefandos
ouçam brados destemidos

Que voltem Athos e Porthos
Aramis e D'Artagnan
espadeirando ventos tortos
para brisas de amanhã


Ah! PORTUGAL, PORTUGAL
©Joaquim Marques (Porthos)

Ah! minha Pátria querida
Onde tens os amigos afinal?
Uns parecem estar de partida
Para irem foliar no Carnaval!...

Será que os vindouros são iguais?
Serão teus amigos de coração?
Ou serão os futuros carnavais...
Que vais ter, Portugal, nobre nação?


Em que confusão estás metida...
Tantas promessas, sem ter solução
E tantos portugueses sem ter pão!


Venham mosqueteiros, nobres, leais!
Bradai ao Mundo vossos ideais...
Portugal é pequeno mas é nação!


AH! PORTUGAL, PORTUGAL
Humberto Rodrigues Neto (D'Artagnan)


O peito sinto repleto
de sentimentos soezes,
pois também sou filho e neto
de pai e avós portugueses!

Me espanta ver Portugal
transformado num covil
de mandantes sem moral,
tais e quais os do Brasil!

Que diriam Vasco da Gama,
Serpa Pinto, Afonso Henriques,
desse imenso mar de lama,
de conchavos e trambiques?

Que adiantou Sancho II
varrer o dominio mouro,
se hoje reina um vagabundo
que esbulha o pátrio tesouro?

Cambada de mafarricos,
que em raivas mil me consome:
canalhas ficando ricos
e a plebe morrendo à fome!

Mosqueteiros de alma acesa,
será vosso o meu afã!
Juntai, pois, à vossa empresa
a espada de D'Artagnan!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

ANITA

ANITA – EPISÓDIO XX

(Ficção baseada em factos reais)

Mantiveram-se assim por um momento, em suspenso, olhando-se nos olhos, sem saber que atitude tomar.

FIM DO EPISÓDIO IXX
div style="text-align: justify;">Obs.
Receio que, daqui em diante, o relato da vida de Anita possa ferir algumas susceptibilidades, dado que trata do amor entre ela e um padre.
Como tenho o cuidado de mencionar sempre, no início dos episódios, esta história é baseada em factos reais. Não posso, portanto, omitir estas passagens, aliás das mais importantes na vida de Anita.
Pensei na hipótese de interromper a publicação. Pareceu-me, no entanto, que não seria muito correcto para com os leitores interessados na continuação.
A quem sentir que o relato vai colidir com os seus princípios ou sentimentos, ou a sua maneira de pensar, aconselho não continuar a acompanhar a história.
Pessoalmente devo dizer que este tema (o amor entre uma mulher e um padre) não me perturba minimamente. São apenas dois seres humanos que se amam – o padre não deixa de ser homem quando faz os seus votos, estando, por isso, sujeito às tentações da carne como qualquer outra pessoa.
Não tenho qualquer preconceito em relação a isso. Mas, como respeito todas as opiniões…fica o aviso feito.

EPISÓDIO XX

Lentamente, o padre João segurou o rosto de Anita e beijou-lhe levemente os lábios, com uma ternura contida.
Anita sentiu-se desfalecer, não opondo resistência.
Ajudando-a a pôr-se de pé, o padre João envolveu-a num abraço ansioso, esforçando-se por se acalmar e não deixar extravasar a sua ânsia de a apertar nos braços, apaixonadamente.
Anita deixou-se envolver, retribuindo com a mesma intensidade. Deixou de pensar no que estavam fazendo, não lhe interessando nada além do momento maravilhoso que estava vivendo.

Pouco depois, Anita sentiu se ruborizar ao ouvir o padre João dizer, num tom emocionado:

- Anita, eu lutei com todas as minhas forças. Deus é testemunha do quanto eu Lhe pedi que me ajudasse a arrancar-te do meu peito. Mas foi tudo em vão.
Há muito tempo que te amo, Anita; penso mesmo que comecei a amar-te a primeira vez que te vi…porque desde esse dia muitas vezes me surpreendia a pensar em ti e a desejar que aparecesses.

Enquanto pronunciava estas palavras, o padre olhava Anita nos olhos, segurando o seu rosto entre as mãos, docemente.
Anita sentia-se incapaz de pronunciar uma palavra. Estava demasiado emocionada e feliz; queria apenas viver em pleno o momento presente, sem pensar no certo e no errado.
Isso surgiria mais tarde.

Estendendo os lábios beijou ao de leve a boca do padre João e desprendeu o rosto das suas mãos, afastando-se em seguida.

- É muito tarde, tenho que ir para casa…

O padre não tentou retê-la, concordando que era, de facto, tarde, e o atraso de Anita poderia suscitar suspeitas em casa.

Depois de ter jantado sozinha, Anita dirigiu-se a casa dos pais para ir buscar Tiaguinho.

Encontrou-o felicíssimo, brincando com o avô, trocando “figurinhas”.
Quando a mãe lhe lembrou que eram horas de ir para a caminha, Tiaguinho pediu:

- Mãe, posso dormir aqui em casa dos vôs?
- Claro que não, Tiaguinho. Mas que ideia é essa agora?
- A vó disse que tem muitas saudades minhas, que só o jantar não chega, precisa mais tempo para matar as saudades…

Anita voltou-se para Eulália:

- O que é que a mãe anda a meter-lhe na cabeça? Que disparate é esse de dormir cá em casa?
- Não é disparate nenhum. Até parece que não tens confiança em mim para tomar conta do teu filho… - retorquiu Eulália, em tom de amuo.

- Oh mãe! Claro que tenho em si toda a confiança do mundo! Não é nada disso, é que não estava nada à espera dum pedido destes… Apanhou-me mesmo de surpresa…
- Eu entendo-te muito bem, minha filha. Estás a passar pelo mesmo que eu passei: o teu filho está a crescer, a querer ganhar asas, e tu não estás preparada para isso. Mas tens que te habituar.

Quando perguntei ao Tiaguinho se ele queria dormir cá, porque eu tinha muitas saudades, ele pôs-se aos saltos e disse logo que sim.
Se lhe tivesse feito a mesma pergunta há tempos atrás, possivelmente pensaria numa desculpa para recusar. Vinha logo com a conversa de que não queria deixar-te sozinha, ou qualquer outra coisa que não me magoasse. Sempre foi um menino muito amoroso.

Anita olhou atentamente para a mãe, pensando:

- A minha mãe é tão inteligente, tão conhecedora da vida, e quando mais precisei dela, quando estava apaixonada por Arnaldo, falhou-me.

FIM DO EPISÓDIO XX

PRÉMIO AMIZADE E INFORMAÇÃO

A minha amiga Ana, do blogue AVE SEM ASAS honrou-me com este prémio que muito me alegrou.

REGRAS A SEGUIR PARA QUEM RECEBE O SELO

1 - Exibir a imagem
2 - Postar o link do blog que o premiou
3 - Publicar regras
4 - Indicar 10 blogs para receber o selo
5 - Avisar os blogues nomeados.

Passo então a citar a minha lista de premiados:

ZÉLIA
RENATA
MEG
SÃO

ZÉ CARLOS
VÍCTOR
CALADO
LUNA
CARLOS

domingo, 19 de abril de 2009

Faxina na Alma

Aproveitando os últimos perfumes da Páscoa que ainda se sentem no ar, convido-vos a apreciar este belo texto de Carlos Drummond de Andrade, que nos fala de Recomeço, Renovação, Reinício…

Faxina na Alma

Não importa onde você parou, em que momento da vida você cansou. Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo, é renovar as esperanças na vida e o mais importante, acreditar em você de novo.
Sofreu muito nesse período? Foi aprendizado.
Chorou muito? Foi limpeza da alma.
Ficou com raiva das pessoas? Foi para perdoá-las um dia.
Sentiu-se só por diversas vezes? É porque fechou a porta até para os anjos.
Acreditou que tudo estava perdido? Era o início de sua melhora.
Pois é... agora é hora de reiniciar, de pensar na luz, de encontrar prazer nas coisas simples de novo.

Um corte de cabelo arrojado, diferente?
Um novo curso, ou aquele velho desejo de aprender:
pintar, desenhar, dominar o computador, ou qualquer outra coisa.
Olha quanto desafio, quanta coisa nova, nesse mundão de meu Deus te esperando.

Está se sentindo sozinho? Besteira...
Tem tanta gente que você afastou com o seu "período de isolamento".
Tem tanta gente esperando, apenas um sorriso teu, para "chegar" perto de você.

Quando nos trancamos na tristeza, nem nós mesmos nos suportamos; ficamos horríveis, o mal humor vai comendo nosso fígado, até a boca fica amarga.
Recomeçar...
Hoje é um bom dia para começar novos desafios. Onde você quer chegar? Ir alto, sonhe alto. Queira o melhor do melhor. Queira coisas boas para a vida.
Pensando assim trazemos para nós, aquilo que desejamos...

Se pensamos pequeno, coisas pequenas teremos.
Já se desejarmos fortemente o melhor e principalmente lutarmos pelo melhor, o melhor vai se instalar na nossa vida.

E é hoje o dia da faxina mental. Joga fora tudo que te prende ao assado, ao mundinho de coisas tristes: fotos, peças de roupa, papel de bala, ingressos de cinema, bilhetes de viagens, e toda aquela tranqueira que guardamos quando nos julgamos apaixonados... Jogue tudo fora.
Mas principalmente, esvazie seu coração, fique pronto para a vida, para um novo amor!
Lembre-se somos apaixonáveis, somos sempre capazes de amar muitas e muitas vezes. Afinal de contas, nós somos o "Amor"...

Porque sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura.

Carlos Drummond de Andrade

Itabira do Mato Dentro [Itabira] MG
1902/10/31 - 1987/08/17

quinta-feira, 16 de abril de 2009

ANITA

ANITA – EPISÓDIO IXX

(Ficção baseada em factos reais)

- Porquê nos afastamos precipitadamente, como se o contacto mútuo pudesse queimar-nos?
- Porquê? Porquê? Porquê?

FIM DO.EPISÓDIO XVIII

EPISÓDIO IXX

Como uma luz que, de repente, se acende na escuridão, Anita lembrou-se de Arnaldo.
- Não, não pode ser! Eu não estou a apaixonar-me pelo padre João!

Pôs rapidamente no chão a criança que tinha no colo, e levantando-se precipitadamente, gritou: NÃO!
Todas as cabeças se voltaram para ela.
Balbuciou um rápido “desculpem, preciso ir já a casa, não me demoro”, - e saiu quase a correr para a rua.

Por cerca de meia hora caminhou sem destino, tentando acalmar aquela verdade que lhe martelava o cérebro: estou apaixonada!

Não queria acreditar, mas a sensação que tinha era exactamente igual à dos tempos em que amara Arnaldo.
Sentiu-se horrorizada.

Encaminhou-se para a Igreja, que não distava muito da creche, ajoelhou-se e, com os olhos fechados e as mãos apertadas convulsivamente, apenas conseguiu murmurar:



- Meu Deus, por favor! Faz com que isto não seja verdade. Isto não pode acontecer. Ajuda-me, Senhor!

Silenciosamente engoliu as lágrimas que teimavam em assomar aos seus olhos. Manteve-se assim uns minutos.
Mais calma dirigiu-se à creche, onde se notava uma ligeira agitação, motivada pela sua saída intempestiva.

À hora da saída não esperou a habitual chegada do padre. Pediu a dona Teresinha que a desculpasse junto dele por não lhe fazer o habitual relatório do dia, mas tinha urgência em sair.
- Amanhã falarei com ele - rematou.

Em casa voltou a sentir-se muito angustiada, e lamentou não ter Humberto junto de si, para poder desabafar e aconselhar-se.
Depois de jantar resolveu escrever-lhe.
Contou-lhe o sucedido nessa manhã; falou da desconfiança acerca dos seus próprios sentimentos, ao mesmo tempo que os repudiava; jurava que não queria apaixonar-se, e muito menos por um padre.

Toda a carta era um grito, um pedido de socorro!

Nos dias que se seguiram, Anita tentou proceder com naturalidade.
Com grande esforço conseguia, todas as tarde, esperar pelo padre, a quem fazia, como sempre, o relatório do dia. Mas agora tinha o cuidado de conservar Tiaguinho junto de si, ao contrário do que acontecia anteriormente. O menino começara por refilar mas, habituado a obedecer às ordens da mãe, rapidamente se aquietara.

Uma semana mais tarde Eulália apareceu na creche. Precisava falar com o padre – na realidade ia apenas entregar-lhe uma contribuição para as suas obras – e lembrara-se de passar por ali para ver a filha e o netinho.
Tiaguinho adorava a avó, que lhe fazia todas as vontades.
Logo que a viu atirou-se-lhe ao pescoço, beijocando-a, e pedindo: vovó, quero ir jantar contigo e com o vô.
Eulália olhou interrogativamente para Anita que, sorrindo, aquiesceu.

À hora habitual apareceu o padre João que se dirigiu a Eulália com o melhor dos sorrisos.
Chamando-o um pouco à parte, entregou-lhe o envelope que o marido mandara.
Dirigindo-se a Tiaguinho, segurou a sua mãozinha e encaminhou-se para a saída. Rapidamente Anita disse:

- Minha mãe, espere um pouco. Vou só apresentar o relatório ao padre João, e saio já convosco.

- Não, minha filha. Tenho que ir já para ultimar o jantar. Com o Tiaguinho lá preciso fazer aquela sobremesa que ele adora…

Anita foi, assim, forçada a aceitar a resposta da mãe.

Todos tinham saído. Anita encontrava-se, pela primeira vez desde há uma semana, a sós com o padre João.

Este sentia-se tão pouco à vontade e contraído quanto Anita que, falando precipitadamente, começou a contar-lhe como tinha decorrido o dia, ao mesmo tempo que lhe mostrava as facturas das contas para pagar, que o carteiro havia trazido naquele dia.

As suas mãos tremiam de tal modo que deixou cair ao chão parte dos papéis. Ambos se baixaram ao mesmo tempo para os apanhar, e, nesse movimento, ficaram muito próximos um do outro, quase a tocarem-se, e as mãos tão próximas que sentiam o calor dumas nas outras.
Mantiveram-se assim por um momento, em suspenso, olhando-se nos olhos, sem saberem que atitude tomar.

FIM DO EPISÓDIO IXX

terça-feira, 14 de abril de 2009

BEIJOS

Porque hoje é o dia Nacional do Beijo, no Brasil, apresento-vos um poema do meu amigo poeta brasileiro Humberto-Poeta



domingo, 12 de abril de 2009

PÁSCOA

PÁSCOA



Quando eu era criança não entendia muito bem a Páscoa. Só adorava procurar os ovinhos de chocolate que o coelhinho escondia.
Mas, o que tem a ver coelho com ovos, seus símbolos, com a ressurreição de Jesus ou a fuga dos hebreus do Egito comandada por Moisés?
Agora sei qual a relação de tudo isto. Os ovos são o símbolo do nascimento.
Ali dentro, uma vida por vir ao mundo.
É o eterno milagre da vida que renasce todos os dias.
O coelho é o animal que se reproduz com uma velocidade estonteante.
É uma ode à família, uma declaração de amor que a natureza faz todos dias.
Renascer é nascer, somos nós mesmos que renascemos nos nossos filhos, é a vida que se pereniza na prole.
A fuga dos hebreus é o fim da escravidão de um povo.
A escravidão equivale à morte; escravizar equivale a tirar a vontade e a alma de alguém, equivale a tirar a sua vida.
Libertar-se da escravidão é viver de novo, é renascer, é estar sempre começando tudo de novo.
Por fim, Jesus é a ressurreição.
Quer prova mais clara do que digo?
Este eterno milagre que nos encanta é o milagre da vida que a Páscoa nos relembra.
A Páscoa é a ressurreição das nossas almas.
Este é o dia de renascer, começar tudo de novo.
De nos libertamos do mal que corrompeu nossas almas e nos recobrirmos com o véu da pureza da alma que tivemos um dia.
Abandonar tudo o que é velho e antigo e olhar para a frente com coragem.
Dedicarmo-nos à vida como quem sorve o sumo de um fruto saboroso.
Hoje é dia de renascer.
Feliz Páscoa para todos.






sexta-feira, 10 de abril de 2009

9 DE ABRIL – DIA DO SOLDADO DESCONHECIDO

DEVIDO A DIFICULDADES DE ACESSO AO MEU BLOG NÃO PUDE PUBLICAR ONTEM, COMO TENCIONAVA, ESTE POST DE HOMENAGEM AO “SOLDADO DESCONHECIDO”.

APRESENTANDO DESCULPAS AO AUTOR PELA ANOMALIA A QUE SOU ALHEIA, PUBLICO-O HOJE.

Recebi por email, de Eugénio de Sá, e resolvi partilhar convosco.


Repasso aos meus amigos, com uma (desculpável) pontinha de orgulho português, esta bela e poética evocação histórica de Humberto Rodrigues Neto sobre factos reais que tiveram lugar nos primórdios do século XIX, quando quarenta mil soldados portugueses e uns poucos milhares de ingleses seus aliados de sempre, se confrontaram vitoriosamente com três sucessivas invasões francesas, cada uma delas muito superior em número de tropas ao exército luso-britânico, seu oponente no terreno.
Em nome de Portugal, os meus agradecimentos ao grande Poeta Humberto Rodrigues Neto.
Uma palavra ainda para felicitar e agradecer a minha esposa Olga Kapatti, pela sua magnifica e inspirada visualização e Arte.
Eugénio de Sá



O soneto que se publica abaixo, da autoria de Humberto Poeta, resulta numa elegia ao soldado português, e refere-se à heroicidade lusa, face às incursões militares de tropas francesas de Napoleão Bonaparte em território português, que tiveram lugar nos anos de 1807-1808, 1809 e 1810-1811, sob o comando directo respectivamente, dos marechais de França; Junot, Soult e Massena. (imagens seguem a ordem)

A propósito da expressão atribuída a Bonaparte que resultou numa censura aos sucessivos fracassos dos seus marechais face aos objectivos por ele definidos para Portugal, informa-nos Humberto Poeta: "Não há menção a este episódio nas enciclopédias. Foi-me relatado por um intelectual português do Minho, que também viveu longos anos em Goa, a lecionar Português e Matemática. Disse-me que o fato era contado de boca em boca por seus avós e demais contemporâneos da célebre resistência, devendo, pois, ser verídicas as explosões de cólera de Napoleão e a célebre frase com que procurou espicaçar os brios da infantaria francesa."

Eugénio de Sá



EPICÉDIO AO SOLDADO PORTUGUÊS
Humberto Rodrigues Neto
Há flagrantes que fogem ao registo

dos fatos que marcaram a humana História;

um deles ainda guardo na memória,
por isso animo-me a falar-vos disto.

Pra arruinar o comércio da angla terra,
impondo-lhe o Bloqueio Continental,
não cria Napoleão que Portugal
se mantivesse aliado da Inglaterra.

Pra se impor à arrogância dos bretões,
tomar resolve, então, a Portugal;
com cem mil homens e um forte arsenal
declara guerra à pátria de Camões!


A terra lusa havia de ser tomada
em poucos dias, como então pensara,
mas os quarenta mil que ali depara
opõem-lhe resistência encarniçada!


Contrariado em seus planos e iracundo,
dá breve trégua aos seus cem mil soldados

e em rosto lança-lhes, em rudes brados:

“Com cem mil destes conquistava o mundo”!

Notas:

A razão imediata das invasões relacionou-se com a recusa portuguesa em aderir ao Bloqueio Continental decretado por Napoleão em relação à Inglaterra, no ano de 1806. Para agravar a situação, em Agosto do ano seguinte, a França apresentou um ultimato ao governo português: ou este declarava guerra à Inglaterra até dia 1 de Setembro ou as fronteiras nacionais portuguesas seriam cruzadas pelos soldados franceses.
Na medida em que a aliança anglo-lusa não foi quebrada, a ameaça foi cumprida em meados de Novembro.

Nas várias batalhas que tiveram lugar, os franceses foram sempre derrotados pelo exército luso-britânico comandado pelo General Sir Artur Wellesley (doravante conhecido como Lord Wellington), e obrigados a retirar-se do território português.

Em 1810, os franceses perderam a batalha do Buçaco. O exército napoleónico foi depois obrigado a suster o seu avanço ante as linhas de Torres(a), acabando por se retirar definitivamente na Primavera de 1811, uma vez mais derrotado.


(a): As Linhas de Torres Vedras eram um sistema defensivo de fortificações mandado construir em 1809 por Wellesley, comandante do exército anglo-luso, para defender Lisboa das tropas napoleónicas. Localizadas na baixa Estremadura, pretendiam barrar todos os acessos à capital, num eixo que ia do Tejo à costa atlântica.

Concluídas apenas em 1812, subdividiam-se em duas linhas mais avançadas e uma mais recuada, todas pontuadas por fortes estrategicamente situados (como os de São Julião da Barra, Sobral, Torres Vedras, Mafra, Montachique, Bucelas e Vialonga ).

Após a derrota na batalha do Buçaco (1810), a terceira invasão francesa, liderada por Massena, não conseguiu transpor as fortificações das linhas de Torres, confirmando-se assim a utilidade das obras levadas a cabo pela engenharia aliada.



quinta-feira, 9 de abril de 2009

ANITA

ANITA – EPISÓDIO XVIII

(Ficção baseada em factos reais)

Sem que nenhum deles se apercebesse estava surgindo uma grande cumplicidade entre ambos, e, a cada dia que passava, tornavam-se mais agradáveis os momentos que passavam juntos, os quais, inconscientemente, tentavam prolongar o mais possível.

FIM DO.EPISÓDIO XVII

EPISÓDIO XVIII

Anita continuava a manter a mesma correspondência de sempre com Humberto, a quem relatava tudo o que ia acontecendo.
O enteado respondia-lhe com a regularidade habitual, manifestando o seu contentamento por ver como Anita se sentia feliz e quase realizada.
Notava, contudo, nas entrelinhas, que havia momentos em que o espinho chamado Arnaldo ainda a magoava.

De facto, ultimamente, nas suas cartas, Anita aludia muitas vezes, embora de forma velada, ao que fora o grande amor da sua vida.

Isto devia-se ao facto de, nos últimos tempos, especialmente depois das conversas com o pároco, ela se lembrar de Arnaldo com mais frequência.
Quando chegou o final do ano escolar Humberto regressou à sua ilha, e, como de todas as vezes, ele e Anita uniram-se num forte abraço, cheio de ternura.

Como na época de verão havia menos crianças na creche porque as mães gozavam as suas licenças e ficavam com os filhos em casa, Anita e as duas companheiras dividiam os dias de forma a poderem, também elas, terem os seus dias de férias.

Não recebendo qualquer remuneração pelo seu trabalho, Anita não queria, contudo, gozar de qualquer privilégio, e assim, o seu período de férias era igual ao das suas duas companheiras.

Como acontecera no ano anterior, quando Humberto viera passar as suas férias escolares à ilha, também agora davam belos passeios, sempre na companhia de Tiaguinho.
Anita sentia-se verdadeiramente feliz, como não o era desde há muitos anos.

Humberto achou-a diferente, mais madura, mais segura de si, ao mesmo tempo que sentia que Anita, por vezes, se alheava enquanto conversavam. Ao fazer-lho notar, apercebeu-se de um ligeiro rubor na sua face, e um certo constrangimento ao responder:

- Não sei porque dizes isso…Eu ouço-te com a mesma atenção de sempre.
O que notas é talvez um certo cansaço. Bem sabes que eu não estava habituada a trabalhar ao ritmo a que trabalho agora. E ao fim do ano escolar todos os professores, e também os alunos, se sentem cansados. Não se passa o mesmo contigo?

Humberto, olhando-a muito sério, retorquiu:

- Anita, sabes que a minha amizade por ti não me deixa mentir-te. O que noto em ti não tem nada a ver com cansaço. Tu estás diferente;
sinto-te distante, como se alguma coisa se nos tivesse entreposto, causando-te um certo afastamento…
Por favor, confia em mim, como sempre fizeste. Diz-me o que se está passando.

- Mas o que queres que te diga? A sério, não se passa nada de especial. Sinto-me muito bem, realizada, agora que estou ajudando a construir um futuro melhor para aquelas crianças e as suas mães…
Acredita que não tenho nada, apenas me sinto um pouco cansada.
Eu não me tinha apercebido, mas estava mesmo a precisar de férias.

Humberto não insistiu, mas todo o tempo que esteve na ilha não serviu para dissipar a preocupação que manifestara à madrasta.
E regressou a Inglaterra convicto de que Anita estava a esconder-lhe algo.

Quando Anita retornou ao trabalho sentiu que, à medida que se aproximava da creche, o seu coração batia a um ritmo cada vez mais acelerado, e pensou consigo mesma:
- Mas que disparate. Pareço uma menina de 15 anos, que vai encontrar-se com o namoradinho. Tem juízo, Anita! És uma mulher com vinte e seis anos, casada, com um filho… porquê todo esse alvoroço? Vais apenas retomar o teu trabalho, nada mais.

Mas de nada valeu a auto admoestação. Com Tiaguinho pela mão, sentia-se a tremer interiormente, com as pernas a fraquejar. Resolveu sentar-se uns momentos no banco do jardim que havia perto da creche.
Foi Tiaguinho que a obrigou a levantar-se, puxando-a pela mão, excitado com a ideia de ir encontrar-se com os seus coleguinhas.
Ao aproximar-se viu que o padre João já a aguardava, junto à porta.

Sem pensar, encaminharam-se ambos para um abraço, que interromperam, contrafeitos, ao aperceberem-se de que não seria um procedimento muito correcto.
Ficaram ambos sem saber o que dizer, até que Tiaguinho salvou a situação, chamando a mãe para entrarem.

Anita passou todo o dia ansiosa e preocupada com o que acontecera nessa manhã.
Os seus sentimentos estavam num verdadeiro torvelinho; sentia-se incapaz de entender o se passava consigo.
Pensava, angustiada:
- Porquê me perturbou tanto a aproximação do padre João?
- Porquê não demos naturalmente um abraço como dois bons amigos que estiveram uma temporada sem se ver?
- Porquê nos afastamos precipitadamente, como se o contacto mútuo pudesse queimar-nos?
- Porquê? Porquê? Porquê?

FIM DO EPISÓDIO XVIII


quarta-feira, 8 de abril de 2009

PRÉMIO PAPO CALCINHA

Fui presenteada pela São, do blogue O RENASCER DA FÉNIX com o selo Papo Calcinha.



Agradeço a preferência. Agora resta-me seguir as regras e passar a outras.

Aqui estão as regras:
1- Escrever uma frase, citar um título ou contar uma história sobre seis assuntos nos seguintes segmentos: VIDA, CINEMA, LITERATURA, VIAGEM, AMOR E SEXO;
2- Convidar seis colegas de blogs que você realmente considere femininas e inteligentes;
3- Linkar o blog que a convidou;
4- Postar as regras para que outras as repassem;
5- Inserir o selo que se recebeu do Papo Calcinha.

As minhas respostas ao ponto 1:
VIDA – Um presente que nos é oferecido à nascença, que é preciso saber preservar até ao fim da viagem.

CINEMA – Já teve dias melhores… Prefiro teatro.

LITERATURA – Como em muitas outras coisas, gosto do que é bom, independentemente do género. Mas tenho as minhas preferências.

VIAGEM – Gosto muito de conhecer novas terras, suas gentes, seus usos e costumes.

AMOR – O sentimento mais nobre, base de todos os outros bons sentimentos.

SEXO – Feito com amor, aconselhável para uma mente sã num corpo são.

As minhas 6 nomeadas:

- Gi – Blog da Gi
– Mara - Crepúsculo
- Ana Siqueira – Pelos caminhos da vida
- Ana Maria - Quotidi-Ana-Mente
- Rebeca – Rebeca e Jotacê
- Sónia – Um vento na ilha

Uma boa semana e “bom seguimento”…

domingo, 5 de abril de 2009

TOQUE DE SILÊNCIO

Perde-se na memória dos tempos quem terá sido o autor da música “Toque do Silêncio”, da qual se diz:

O toque triste, que é a última nota do mundo, a ferir os umbrais da eternidade…” e

O toque de silêncio, com corneteiro ou clarim postado junto ao túmulo, será também executado ao baixar o ataúde à sepultura

Talvez porque esta música é tocada inúmeras vezes nos Estados Unidos (por exemplo, sempre que se realizam funerais militares), é vulgar pensar-se que ela é de origem americana, acabando por tornar-se conhecida no mundo inteiro.
Há, contudo, quem defenda que tenha sido composta por um soldado mexicano, obedecendo a ordens do General António Lopes de Santa Anna.

António de Pádua Maria Severino Lopez de Santa Anna y Perez de Lebron, foi um general mexicano que se autoproclamou ditador do México, ficando famoso por ter vencido a Batalha de El Álamo, em 1836.

Consta que, depois da Batalha da qual saiu vencedor, e ainda antes de prestar honras à bandeira mexicana, o General de Santa Ana ordenou ao seu “corneteiro” que compusesse uma melodia que prestasse homenagem aos soldados mortos em combate.

Conta a lenda (*) que, devido à bravura demonstrada pelos combatentes, o General Santa Anna ordenou ao seu corneteiro que compusesse uma melodia que prestasse homenagem aos soldados mortos em combate.
Ordenou que se guardasse silêncio enquanto a música era tocada, ameaçando com a pena de morte quem desrespeitasse esta ordem; e ordenou ainda que a bandeira mexicana fosse desfraldada durante a cerimónia.

Actualmente essa música é conhecida, em português, como “Toque de Silêncio”.

Desconhece-se o nome do soldado mexicano que compôs tão emotivo toque militar.
A única coisa que se sabe dele é o seguinte:

Quando o General Santa Anna regressou do exílio, em 1874, com 80 anos de idade, durante a madrugada do seu aniversário escutou-se um clarim à porta da sua casa, que interpretava uma série de toques militares mexicanos, que lhe provocaram uma grande emoção.
Era o, também já velho, corneteiro, que acompanhou o General em todas as batalhas em que este participou.
Vinha fazer-lhe uma serenata por ser um dia tão significativo para o velho, quase cego, meio surdo e mutilado general.
Depois de conversar um bom bocado e recordar as aventuras por ambos vividas em tantas acções de guerra, o corneteiro pediu a Santa Anna ajuda económica, pois encontrava-se na mais completa miséria.
Mas como Santa Anna já não tinha fortuna para ajudá-lo, convidou-o para ficar a viver em sua casa.
A fazer fé em depoimentos de investigadores estrangeiros, pode afirmar-se que o General participou em mais batalhas do que Napoleão e George Washington juntos.
É justamente considerado um dos militares de toda a história, a nível mundial, que participou em acções bélicas durante mais tempo, desde os 16 aos 61 anos de idade.

(*) – Chamo-lhe lenda porque não encontrei confirmação oficial.


Convido-vos agora a apreciarem o maravilhoso “Toque de Silêncio”, numa magnífica interpretação de Melissa Venema,



acompanhada pela orquestra de André Rieu.

NÃO ESQUEÇA DE DESLIGAR A MÚSICA DE FUNDO ANTES DE LIGAR O VÍDEO.

Il Silenzio - Melissa Venema and Andre Rieu


quinta-feira, 2 de abril de 2009

ANITA

ANITA – EPISÓDIO XVII

(Ficção baseada em factos reais)

Lá fora respirou fundo. Sentia o coração a transbordar de amor por Anita, e não queria que ela se apercebesse.
Pouco tempo depois regressou, já calmo, para passar o serão com a madrasta.

FIM DO.EPISÓDIO XVI

EPISÓDIO XVII

No dia seguinte Anita comunicou a Vicente o que planeara fazer relativamente à creche da igreja.
Falou num tom aparentemente seguro e convicto, disfarçando o receio que sentia pela reacção que ele poderia ter.
Mas, contra as suas expectativas, Vicente apoiou a ideia, até com certo entusiasmo, acrescentando:

- Acho que é uma óptima ideia. E podes dizer ao padre João que ajudarei em tudo o que for necessário. É urgente a abertura dessa tão prometida creche. A cidade ficará beneficiada, e as mães trabalhadoras poderão dedicar-se mais ao trabalho, sabendo que seus filhos estão bem entregues, e em segurança. O padre que me diga depois o que é que precisa.

E dando um beijo ao de leve na mulher, foi, como sempre, tratar dos seus negócios.

Anita, exultando de alegria, dirigiu-se de imediato à Igreja, para comunicar ao padre tudo o que seu marido dissera, expondo-lhe o seu plano para trabalhar na creche.

O padre, mal podendo acreditar no que ouvia, exultou, de alegria.

Cheios de entusiasmo começaram logo a traçar planos, anotando todos os materiais necessários para que, sem perda de tempo, pudessem começar as obras no edifício que viria a ser a creche, e que ficava em frente da casa paroquial, apenas separada por um estreito caminho.

Ao tomar conhecimento das decisões do pai, Humberto partilhou da alegria de Anita, e enquanto duraram as férias, empregou grande parte do seu tempo ajudando no que era possível.
Isso não os impediu de darem grandes e agradáveis passeios, sempre acompanhados por Tiaguinho, que crescia forte e saudável.

Mais rapidamente do que desejavam as férias chegaram ao fim, e impunha-se o regresso de Humberto a Inglaterra.
Mais uma triste despedida na vida de Anita!
Contudo, desta vez, o adeus foi menos doloroso, dado o entusiasmo com que via progredirem as obras da creche.

Em breve começou a comprar o mobiliário – alguns berços e caminhas, mesas, cadeiras, enfim, tudo o que era necessário para tornar confortável aquele que seria o espaço onde muitas crianças iriam passar a maior parte das horas do dia.
O pároco já conseguira contratar outra senhora para tomar conta das crianças que, juntamente com D. Teresinha e Anita, constituiriam o “corpo docente” da creche.

Finalmente, no início de Outubro, procedeu-se à inauguração.

O padre João, depois da missa na igreja, dirigiu-se para a creche, onde o aguardavam cerca de trinta crianças acompanhadas das mães e alguns, poucos, pais, que se notava serem-no pela primeira vez.
Depois duma breve bênção ao edifício, foram abertas as portas. Na sala encontrava-se uma mesa posta com pequenos bolos e copos de leite e café para oferecer às mães das crianças.
E assim, com uma cerimónia bem simples mas cheia de significado, foi inaugurada a creche paroquial.

A partir desse dia a vida de Anita adquiriu um novo colorido.
Acompanhada de Tiaguinho, todas as manhãs se dirigia para a creche, onde passava o dia tomando conta das crianças, nas quais se incluía o seu filho.

Era um trabalho que a encantava. Normalmente as suas companheiras tomavam à sua conta as crianças mais pequeninas, ficando à sua guarda as maiorzinhas, entre os três e os cinco anos.
Anita começava a orientá-las para as primeiras letras, dando, assim, uso aos ensinamentos que colhera no seu curso de professora.

Com danças de roda, cantiguinhas e lengalengas, os dias corriam serenos e felizes.
Podia dizer-se que Anita vivia para a creche e os seus meninos e meninas, que a adoravam.
Sem falhar um dia, à hora do almoço e ao fim do dia, o padre João passava pela creche.
Anita punha-o ao corrente de tudo o que acontecia com as crianças, transmitindo-lhe alguma chamada de atenção que fosse necessário dirigir aos paroquianos, principalmente quando se verificava alguma quebra nas habituais ajudas.

Talvez por haver um grande entendimento entre ambos, tudo funcionava lindamente.

Muitas vezes, depois de tratados os assuntos da creche, ficavam a conversar sobre os mais variados temas, esquecendo-se das horas que passavam. Aconteceu algumas vezes Tiaguinho “reclamar” que tinha fome, para se aperceberem de que eram horas de cada um seguir para sua casa.

Sem que nenhum deles se apercebesse estava surgindo uma grande cumplicidade entre ambos, e, a cada dia que passava, tornavam-se mais agradáveis os momentos que passavam juntos, os quais, inconscientemente, tentavam prolongar o mais possível.

FIM DO.EPISÓDIO XVII